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O Vietnã é o de menos

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 01/03/2017

3 MIN DE LEITURA

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A controvérsia é antiga e as opiniões discrepantes já conhecidas. Ainda assim, o debate sobre a importação de café do Vietnã segue revelando detalhes interessantes sobre nossas potencialidades e fraquezas. Diante da impossibilidade de uma solução satisfatória no curto prazo para todas as partes envolvidas, talvez nos convenha sublinhar aspectos estruturais por trás da polêmica. Pensemos naquilo que permeia a dificuldade do Brasil em estabelecer estratégias consistentes para lidar com os muitos desafios enfrentados por seus pequenos e médios agricultores. Quem sabe, o exercício nos permitirá pensar além das atribulações das últimas semanas.

Primeiramente, o atual debate ilustra a forma errática com que a equipe de Michel Temer lida com questões polêmicas. Nada novo em um país viciado em ações focadas no curto prazo. Por um momento, abandonemos a defesa de uma decisão específica. Independentemente da solução preferida, o desfecho menos indicado é aquele em que o governo oscila entre posições opostas segundo o calor do momento. Pelo conjunto da obra, a atual administração sugere não possuir um conjunto bem definido de critérios para avaliar os efeitos de suas escolhas. Tudo o que importa é maximizar a posição relativa no tabuleiro político, garantindo a perspectiva de votações favoráveis em um futuro que tarda em chegar.

Somos todos prejudicados por tamanha desorientação. Compartilhamos a responsabilidade por tal desfecho, entretanto. Uma coordenação mais efetiva entre os distintos agentes privados envolvidos nessa história poderia gerar uma solução que atrelasse o alívio à indústria com a reivindicação conjunta de políticas capazes de melhorar a rentabilidade dos produtores em momentos de maior oferta. Ademais, devemos pensar sobre como incentivar um maior uso de mecanismos de proteção contra eventos climáticos extremos.

Por outro lado, falta clareza sobre como estabelecer esse diálogo. Em certa medida, o setor público vacila por desconhecer as preferências dos cafeicultores. Ao setor, falta uma agenda propositiva que vá além das questões emergenciais, identificando mecanismos de mercado que atenuem problemas estruturais enfrentados pela produção. Como definir tal pauta? Trata-se de uma pergunta sem resposta até o momento. Demandas existem, mas a impressão é a de que os mecanismos institucionais existentes são insuficientes para fomentar o debate.

A discussão sobre a conveniência de importarmos café do Vietnã também revela sua parcela de surrealismo. Na era dos “fatos alternativos”, a diferença entre o estoque de 2,1 milhões de sacas estimado pelo governo e os 4,4 milhões de sacas apontados pelo setor é digna de nota. Com tamanha discrepância nos dados disponíveis, não há política bem intencionada que resista. Se somos incapazes de estabelecer um sistema de estatísticas em que todos as partes envolvidas na polêmica confiem, uma solução consensual é impossível. Tampouco poderemos sugerir estratégias de longo prazo para o setor.

De fato, do tal “longo prazo” não escaparemos. E ele sugere o aprofundamento de importantes desafios. O principal deles não é a ameaça trazida pela importação de café vietnamita, mas o fator que nos levou a esse debate: a seca. Inúmeros estudos publicados desde a virada do século XXI alertam para os efeitos nocivos da mudança climática sobre a cafeicultura brasileira. Devemos levar a sério o debate sobre estratégias de adaptação e mitigação aos distintos cenários apontados por nossos pesquisadores. Por exemplo, precisamos rediscutir as regras de proteção e uso dos recursos hídricos no Espírito Santo. Da mesma maneira, faz-se necessário um debate maduro sobre o atual padrão de uso da terra em áreas afetadas pela escassez de água. Necessitamos conscientizar agricultores que eventuais mudanças buscam proteger valiosos recursos para que sigam produzindo. Finalmente, apoiemos o valioso trabalho realizado por instituições como o Instituto Capixada de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), tão castigadas em momentos de vacas magras como o atual.

A lista de desafios acima é incompleta, e não poderia ser diferente. Quantas páginas não precisaríamos para apontar todos as questões a serem discutidas na cafeicultura? Tal missão, porém, pertence a cada um de nós. Se há algo de bom em momentos de descontentamento, é o aumento da predisposição das pessoas a deixarem sua opinião. Suspeito, porém, que a atual estrutura de governança do setor tem sido incapaz de organizar tais preferências. Tampouco parecem dadas as condições para que os diversos interesses existentes sejam acomodados em uma visão estratégica mais coerente. Nem mesmo temos clareza sobre aquilo que poderíamos abrir mão para chegar a consensos.

De fato, a controvérsia das últimas semanas nos demonstra o quanto somos reféns do curto prazo e das consequências aparentes de uma decisão política. Mudanças reais requerem o estabelecimento de canais de comunicação mais eficientes e uma conversa franca sobre os aspectos estruturais por trás da atual polêmica. Se falhamos em estabelecer um diálogo mais produtivo, certamente não é por culpa do Vietnã.

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do CaféPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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ADELBER VILHENA BRAGA

CAMPESTRE - MINAS GERAIS

EM 02/03/2017

Realmente o problema não é o Vietnã. O problema é nossa incapacidade em gerenciar nossos próprios problemas. Além disso tem os políticos que usam tal discussão pra manipular seus currais eleitorais, as cooperativas que só se preocupam se vão conseguir honrar seus compromissos, nós produtores acostumados a esperar que os outros resolvam nossos problemas. A culpa parece ser sempre de São Pedro ou do governo. Será mesmo?



Att: Braga
GINOAZZOLINI NETO

LONDRINA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/03/2017

Cafeicultores só reclamam quando a água bate na bunda. Porque agora estamos calados se temos enormes problemas para discutir? Onde estão as Associações, Cooperativas, Federações, Confederações, Exportadoras e principalmente, os políticos que dizem representar a classe. Esperando outra invenção deste Ministro incompetente? ( olhem os caminhões carregados de soja patinando há 10 dias nas estradas do Brasil. Que vergonha) E aí vem com a historinha de que se não fosse o agronegócio....conversa pra boi dormir. Até escola de samba goza na nossa cara. E não vaio faltar café, não. Pode arrancar que quem fica, com as novas tecnologias, produz o dobro.
NATÁLIA SAMPAIO FERNANDES

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

EM 02/03/2017

Parabéns pela análise!



Em momento que a cadeia produtiva precisa ser fortalecida, a mesma carece de políticas públicas efetivas e de decisões de um governo que realmente pensa em curto, médio e longo prazo.
JOSE ROBSON VESCOVI RAMOS

FUNDÃO - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/03/2017

Só sei de uma coisa, cada dia o numero de pé de cafe plantado vai diminuir, a produção cair, e vai faltar café em todo mundo, se o produtor não for bem remunerado, não vai ter quem plante, se o agricultor não tiver uma vida digna no campo, o mundo vai ficar sem comer e beber.
MARCOS ZAMPROGNO

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/03/2017

Somos todos reféns desses Brasil onde os políticos atuam em benefícios próprios.

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