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Um teste decisivo para a agenda ESG

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 31/03/2021

2 MIN DE LEITURA

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Nos últimos anos, a sigla ESG parece ter ganhado definitivamente as atenções do mercado financeiro. Para quem não conhece a sigla, ESG se refere ao conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa, sendo utilizadas para guiar as decisões de investidores preocupados com tais agendas.

Apesar de sua relevância, muitos debates sobre as práticas ESG transparecem uma certa superficialidade. Mais especificamente, parece predominar a ideia de que a adoção de práticas ESG é uma decisão que necessariamente levará a lucros mais altos. Ao menos é essa a mensagem subliminar que pode ser tirada das apressadas conclusões de tantos influencers do mundo dos negócios.

A realidade, porém, é mais complexa. Fosse a adoção de práticas ESG um atalho óbvio para maiores ganhos, certamente seria maior a ambição das empresas no tratamento de temas ambientais e sociais. Portanto, não deveria surpreender a conclusão de que, no curto prazo, a adoção de práticas ESG pode levar a custos de produção e de governança mais altos – e, portanto, menores dividendos aos acionistas.   

Querem um exemplo? Recentemente, diversas empresas multinacionais decidiram suspender a compra de algodão produzido na região de Xinjiang (China). O motivo: as denúncias de que o governo chinês utiliza o trabalho forçado de milhares de uigures – uma minoria ética que tem sofrido intensa perseguição por parte do regime de Beijing – nos campos de algodão da região.

A reação do governo chinês não tardaria. Medidas de retaliação às empresas incluem campanhas de boicote, a retirada dos produtos de plataformas chinesas de comércio on-line e a exclusão dos endereços das lojas de mecanismos de busca. Assim, a louvável decisão de suspender a compra de algodão colhido com trabalho forçado acarretará dificuldades para empresas multinacionais que certamente gostariam de acessar um mercado com mais de 1 bilhão de consumidores potenciais. É mesmo possível que, pressionadas por acionistas, algumas empresas decidam reverter a decisão.     

Por isso, antes de falarmos sobre a relação entre práticas ESG e lucros, convém falarmos da influência mútua entre uma agenda ESG ambiciosa e a consolidação de um conjunto de valores coerente para cada empresa. Afinal, quando falamos de valores, temos em mente algo que não será mudado mesmo que tal decisão implique menores lucros no curto prazo. Por exemplo, empresas que decidem privilegiar a compra de insumos produzidos de acordo com regras ambientais e sociais mais estritas deveriam manter a decisão mesmo que isso signifique maiores custos de produção ou dificuldades de acessar determinados mercados.

Antes que alguém argumente que a única função de uma empresa é a de “maximizar o lucro”, convém um lembrete. Muitas vezes nos esquecemos, mas o “lucro” é um resultado – e, portanto, sua materialização deriva tanto de fatores que podemos controlar quanto de fatores que não podemos controlar. Dessa maneira, dizer que o objetivo de uma empresa é “maximizar o lucro” é uma afirmação vazia. Empresas buscam oferecer um determinado produto ou serviço demandado por consumidores, seguindo, para isso, uma série de rotinas que refletem os valores de seus acionistas e colaboradores.

Em resumo, embora seja possível que o estabelecimento de uma agenda ESG coerente acarrete ganhos financeiros no longo prazo, a adoção de práticas ambientais, sociais e de governança não deveria ser vista como um meio, mas como um fim em si mesmo. O grau de ambição com que um conjunto de práticas ESG é adotado demonstra a firmeza do compromisso daqueles que influeciam a forma como uma empresa decide produzir – e, portanto, tal agenda deveria ser protegida de pressões circunstanciais de acionistas.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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