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Ano novo, preocupações de sempre

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 12/01/2021

3 MIN DE LEITURA

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O ano de 2021 herda uma série de dúvidas do passado. Novos ares na esfera internacional e a contínua incerteza “da fronteira para cá” devem testar os limites do chamado “bolsonarismo”. Está em jogo muito mais do que as chances de reeleição de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil. Não seria um exagero dizer que os meses a seguir nos revelarão tendências que influenciarão os rumos trilhados pela sociedade brasileira ao longo da próxima década.

A primeira dúvida diz respeito às consequências da ascensão de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos. Supondo que as instituições do país resistirão às pressões de Donald Trump, teremos em breve uma administração “globalista” na Casa Branca. Em outras palavras, voltará o interesse pelo multilateralismo – ainda que retoricamente – e pela conservação das organizações que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, têm fornecido uma ponte para a cooperação e um freio para a competição na esfera internacional.

No entanto, o retorno do “globalismo” à Casa Branca não encerra o período de pressões “soberanistas”. Pelo contrário, o movimento político que catapultou Trump ao comando dos Estados Unidos seguirá influente nos próximos anos. Ao mesmo tempo, a rivalidade crescente com a China continuará a ditar os rumos da política externa estadunidense. Embora Biden demonstre uma maior predisposição a utilizar os canais oficiais existentes para discutir as diferenças com os rivais, a existência de uma forte oposição – leia-se, milhões de eleitores descontentes com o resultado das eleições – limitará a sua habilidade de buscar consensos com Beijing. Ao menos nas aparências, serão anos de postura firme.

O relacionamento com a China não será o único tema a ocupar as atenções da administração Biden. A agenda ambiental ocupará um papel central na política externa estadunidense nos próximos anos, levando a desdobramentos que podem afetar a habilidade das empresas brasileiras de competir no mercado internacional.

Ainda que Biden quisesse “esquecer” a agenda ambiental, seria difícil fazê-lo. Afinal, os triunfos eleitorais futuros do Partido Democrata dependem da motivação dos membros de uma coalizão heterogênea. Entre os potenciais apoiadores do partido estão grupos que defendem políticas ambientais ambiciosas. Bernie Sanders, por exemplo, defende o estabelecimento de um Green New Deal, investimentos de US$ 16,3 trilhões durante um período de 10 anos com o objetivo de transformar a matriz energética dos Estados Unidos e incentivar a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Embora seja improvável que Joe Biden leve adiante tais planos ambiciosos, algum aceno certamente será feito aos defensores de um Green New Deal. Por isso, a administração Biden deverá perseguir uma redução ambiciosa das emissões de GEE. O que não está claro é como concretizar tal redução. Sendo os Estados Unidos responsáveis por enormes emissões de GEE, conflitos derivados da distribuição dos custos da transição energética fatalmente emergirão se Biden buscar entregar resultados apenas em terras estadunidenses. Por isso, é possível que Biden busque no exterior parte da redução nas emissões que teria dificuldade de conseguir “em casa”.

Em outras palavras, aumenta a probabilidade de que o Brasil seja pressionado a conter o desmatamento da Amazônia. Com o seu discurso, a administração de Jair Bolsonaro apenas contribui para aumentar tal probabilidade – e, quem sabe, para potencializar eventuais ameaças. O distanciamento entre o governo brasileiro e a China tampouco ajuda, já que elimina um possível trunfo a ser utilizado caso a pressão aumentar rapidamente.      

A segunda dúvida diz respeito às consequências da pandemia da Covid-19. Pandemias afetam a economia de qualquer sociedade. Entretanto, os efeitos negativos tendem a ser maiores naqueles países incapazes de estabelecer uma resposta coordenada ao desafio. Nesse quesito, o Brasil continua devendo. É provável que o “negacionismo” do governo de Jair Bolsonaro apenas prorrogue a agonia, estendendo a incerteza por todo o ano de 2021.

Resta saber como tal dificuldade em apontar um plano coerente para enfrentar a crise da Covid-19 afetará a nossa capacidade de endereçar outras questões igualmente urgentes. Na gestão da política econômica, Paulo Guedes demonstrou ser um ótimo propagador de “boatos”, mas um péssimo produtor de “fatos”. Diante de uma possível melhora da situação em outros países, os erros acumulados ao longo dos últimos meses ficarão ainda mais evidentes, semeando o descontentamento em uma população já cansada.

Durante boa parte de 2020, o governo Bolsonaro deu a impressão de “chutar os problemas para frente” na esperança de que eventualmente desaparecessem. Eis que chegamos a 2021 com todos os desafios intactos e uma margem limitada de atuação – leia-se, pouco dinheiro. Se os últimos 12 meses servem de exemplo, as perspectivas não são as melhores.

A todos(as), um feliz ano novo!

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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