Especialistas apontam queda entre 14 e 21% na safra brasileira 2020/2021

A equipe de pesquisas agrícolas do Itaú BBA analisou que a produção de café do Brasil para a safra 2021/2022 deve recuar entre 14 e 21%, em função das chuvas inferiores à média e do ano de baixa no ciclo bienal de produção do grão arábica.

Com a queda já esperada na produção brasileira, o banco projeta que o balanço de oferta no mercado global de café passe de um excedente de 9,8 milhões de sacas em 2020/2021 para um déficit de 1,7 milhão de sacas, a 6,5 milhão de sacas em 2021/2022.

A equipe de pesquisas agrícolas do banco vê a produção de café do Brasil em um intervalo de 53,6 milhões a 58,3 milhões de sacas de 60 kg em 2021/2022 (julho-junho), ante 67,9 milhões de sacas projetadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a atual temporada.

Apesar do retorno das chuvas na maior parte das regiões cafeeiras desde o início de outubro, fundamentais para a fixação das floradas abertas anteriormente e também para amenização do déficit hídrico, comum no período, os volumes de chuvas têm desapontado.

A Fundação Procafé e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) já alerta sobre efeitos irreversíveis dessa condição adversa para o próximo ano. Vale destacar que, apesar das previsões relativamente positivas desde o início de outubro, os volumes efetivos têm sido menores que os previstos além de mal distribuídos.

No Sul de Minas encontra-se a maior área de café entre as regiões (538 mil hectares), equivalente a 35% da área de café arábica do Brasil. Na região de Varginha, por exemplo, choveu cerca de 20 mm em outubro, enquanto que na Baixa Mogiana choveu 35 mm, contra médias históricas acima de 100 mm nestas localidades. Já no Cerrado mineiro e Alta Mogiana, a condição hídrica é menos crítica, mas também apresenta anomalia negativa. No Espírito Santo, onde estão áreas de canéfora, ocorreu o contrário, com as chuvas de outubro superiores à média histórica.

Além da falta de água, o excesso de calor também prejudicou os cafezais. As temperaturas médias acima de 23°C já fogem das condições ideais para o café arábica, sendo que, no final de setembro e início de outubro, por exemplo, estas foram entre 5°C e 7°C superiores ao normal nas áreas de café em Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

Os cenários desenhados sugerem um déficit global entre produção e consumo no próximo ano (2021/2022) entre 1,7 e 6,5 milhões de sacas, ou seja, supondo que a safra brasileira cairá entre 14% e 21%, vindo de um superávit global de 9,8 milhões de sacas estimados para o ano safra 2020/21.

Produção mundial

Além da questão do consumo, outro ponto que tem permeado o mercado cafeeiro são as fortes chuvas no Vietnã neste período que precede a colheita, lembrando que em anos de La Niña a Ásia costuma receber chuvas em excesso, o que pode prejudicar a qualidade e o fluxo de exportações do país, com possível atraso da comercialização da safra. Já na América Central, o deslocamento do furacão Eta nos próximos dias coloca em atenção as áreas de café em Honduras, Nicarágua, El Salvador e Guatemala.

Apesar dessas questões que deveriam dar suporte às cotações em Nova Iorque, os preços do arábica e do canéfora (robusta) no mercado internacional têm se mantido pressionados, embora, em Reais, o câmbio desvalorizado tem oferecido suporte. Do ponto de vista das margens aos produtores brasileiros, o alto nível de fixações já ocorridas a bons preços até setembro ameniza a necessidade de vendas aos preços atuais um pouco mais baixos.

Um ponto de atenção será o cumprimento dos compromissos assumidos dado que alguns produtores podem eventualmente ter excedido nos volumes fixados para entrega em 2021 e serem surpreendidos com menor produtividade em relação ao esperado.

As informações são do Itaú BBA.