ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

A voz dos produtores: gargalos e tendências para os próximos anos

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 06/09/2006

7 MIN DE LEITURA

1
0
A observação do mercado é um útil instrumento para traçar tendências e buscar antecipar os fatores que mais influenciarão a cafeicultura nos próximos meses. Mais do que isso, ouvir as vozes diretamente envolvidas com a rotina do setor é um exercício dos mais válidos, pela riqueza de informações colhidas.

Em discussão conduzida durante a última semana, foi perguntado a diversos cafeicultores e figuras atuantes no setor quais os principais gargalos e tendências existentes no agronegócio do café. As respostas, focadas em diferentes aspectos desta atividade tão complexa, são bastante úteis para traçarmos um quadro mais amplo da cafeicultura no Brasil, ainda quando levamos em conta as peculiaridades observadas entre distintas regiões produtoras ou nichos de mercado explorados.

Preços em alta

Por estarmos vivendo um período relativamente favorável para o setor cafeeiro, uma das principais questões levantadas diz respeito ao comportamento dos preços internacionais nos próximos anos. Nesse sentido, os produtores consultados coincidem no raciocínio de que a tendência favorável continuará a ser observada ao menos nas duas próximas safras, sendo uma queda posterior bastante provável.

Contribuirá para isso o aumento da área colhida em decorrência das melhores cotações, assim como a introdução de novas tecnologias capazes de garantir melhor produtividade. No que se refere ao consumo, é previsto um crescimento anual dos dados brasileiros (4,3% ao ano) a uma taxa maior que as observadas para o mundo (1,1% ao ano). Tal fato evidência o sucesso de iniciativas realizadas nos últimos anos para a promoção do consumo de café em nosso país.

Apesar de estar melhorando em relação aos últimos anos, o market share do Brasil no mercado mundial de café verde nunca atingirá níveis muito maiores que os atuais na opinião dos produtores. Segundo os mesmos, as peculiaridades do clima brasileiro, caracterizado por fenômenos periódicos nocivos para a lavoura de café, faz com que uma dependência exagerada da indústria pelo café brasileiro seja arriscada.

Da mesma forma, o crescimento da demanda por café robusta tende a beneficiar os produtores dessa espécie, como o Vietnã. A utilização da espécie arábica para a produção de café solúvel, observada em alguns casos, é pouco comum, devido às características mais adequadas do café robusta. Esse fato é sempre salientado em discussões acerca da cafeicultura brasileira, produtora principalmente de café da espécie arábica.

Principais gargalos: insumos e financiamento

Em relação às demandas dos produtores, foram muitas as reclamações dirigidas aos fornecedores de insumos para a produção, um elo da cadeia caracterizado por grande concentração de mercado.

Nas mãos de poucas empresas, esse segmento acaba possuindo enorme poder de determinação de preços, frente ao pequeno poder de barganha dos milhares de cafeicultores distribuídos pelo Brasil.

Nesse sentido, as queixas dos produtores se dirigem aos altos preços praticados por estas empresas, bem como o caráter ilusório dos planos de compra de insumos com café, aparentemente, mais vantajosos.

Finalmente, a existência de diversas barreiras à importação de insumos provenientes de países com preços mais competitivos, como a Argentina, é apontada como mais um empecilho para os produtores, afinal a reversão de tal quadro poderia contribuir para a mudança do panorama nacional. Ao quadro desfavorável se une a gestão capenga por grande parte dos cafeicultores que evitam colocar na ponta do lápis seus custos, impedindo um gerenciamento adequado das compras dos insumos e vendas do café.

A participação governamental também foi questionada, principalmente no que se refere ao papel do mesmo no auxílio aos cafeicultores. Isso se deve, principalmente, pela falta de regras claras para o jogo, ou seja, as ações governamentais são descontínuas e em muitos casos desorganizadas, o que traz insegurança aos produtores.

Avanços, como os obtidos com o anúncio das medidas de apoio à comercialização da safra de café, apesar de serem importantes para a consolidação de um plano contínuo de apoio aos cafeicultores brasileiros, ainda geram alguma desconfiança de vozes do setor, afinal o fato de estarmos em um ano eleitoral certamente faz com que o governo esteja mais aberto a concessões momentâneas.

É importante salientarmos que a relação entre cafeicultores e o governo de nenhuma maneira deve ser encarada com os mesmos parâmetros do passado, e disso o setor parece estar convencido.

Ou seja, de Brasília é esperado um parceiro, capaz de auxiliar os produtores a administrarem melhor a oferta do produto, porém sem o grau de intervenção prevalecente até o início da década de 90.

A autonomia do setor é apontada como uma necessidade, sendo reservado ao governo o papel de financiador e criador de regras estáveis para a cafeicultura brasileira. Principalmente no que se refere ao aporte de recursos para o financiamento do setor, tal medida é vital para um melhor controle da oferta, afinal com isso os produtores ganham fôlego extra para esperar momentos mais favoráveis para a venda.

O aumento nos custos de produção, que além da questão dos insumos são atingidos pela instabilidade nos preços do petróleo e pelos aumentos no salário mínimo superiores aos observados nas cotações da saca de café também foi citado por diversos cafeicultores como um problema a ser enfrentado.

Como não poderia deixar de ser, o câmbio também foi lembrado, como costuma ser regra em todo o agronegócio. A solução, conforme se mostrará abaixo, passa não apenas pela busca constante de redução de custos e aumento da produtividade, como também por um esforço mais amplo, destinado a garantir uma melhor gestão de todo o setor.

Do ponto de vista do produtor, evidentemente ainda há muito a ser feito para a melhoria dos resultados. Em geral, as impressões dos participantes evidenciam a importância de uma gestão adequada por parte dos cafeicultores. O investimento em educação, seja dos gerentes ou ainda dos empregados, apesar de, em um primeiro momento, representar um custo importante para o cafeicultor, se reflete em melhores resultados no médio e longo prazo, conforme diversos testemunhos comprovaram. Dessa forma, é possível dizermos que a certificação dos processos passará a ser seguramente uma das principais tarefas a serem realizadas por produtores em todo o Brasil.

Rastreabilidade e certificação: imposição do mercado

Tampouco as evidências do mercado podem ser ignoradas. Recentes experiências vêm mostrando a importância de um maior cuidado no cultivo e na escolha dos insumos para a produção do café.

A rastreabilidade já é uma realidade e passará a ser uma palavra cada vez mais escutada pelos cafeicultores brasileiros, que terão que se preocupar com cada detalhe da produção, em busca de consumidores cada vez mais exigentes. O discurso da qualidade, que durante algum tempo foi considerado um pré-requisito para a inserção em determinados nichos de mercado, é cada vez mais uma obrigação para qualquer cafeicultor.

Alguns produtores chamaram a atenção para o fato de perceberem uma relação inversa entre preços e qualidade no setor do café. Ou seja, em geral os produtores estão mais preocupados em diferenciar sua produção em tempos de vacas magras, abandonando os cuidados em anos de demanda aquecida.

Essa realidade, prevalecente em muitos casos nos últimos anos, provavelmente será revista nos próximos anos pelos fatores expostos acima, relacionados a uma maior cobrança dos compradores internacionais. Levará tempo até que este argumento convença todos os cafeicultores brasileiros; no entanto, se nos lembrarmos da mentalidade prevalecente em tempos de IBC e pouca preocupação com a diferenciação do café brasileiro, é inegável que já se observam avanços.

Logística foi uma palavra bastante citada durante todo o encontro, e por um motivo bastante simples: o Brasil ainda não possui qualquer coordenação entre as regiões produtoras e os agentes envolvidos na cadeia, o que faz com que a venda do café se dê em um clima de desorganização que se reflete em perdas para os produtores.

Avanços na logística aliada a estatísticas mais precisas da produção garantiriam ao setor cafeeiro uma melhor gestão da oferta. Evidentemente, para isso é necessário também que os produtores possuam meios de esperar o melhor momento para vender o seu café; daí a importância de parceiras com o governo.

A existência de iniciativas de marketing com vistas a promover o café brasileiro no exterior foi defendida por muitos dos presentes. Como não poderia deixar de ser, o exemplo da Colômbia foi lembrado, ainda que neste caso seja necessário fazermos a ressalva de que os produtores pouco se beneficiaram das iniciativas de marketing que fazem do café colombiano uma referência mundial nos dias atuais. Nesse sentido, o fortalecimento de uma estratégia nessa direção deveria fazer parte de um plano bem estruturado e sistemático, moldado de modo a garantir que os produtores brasileiros se beneficiem diretamente desses ganhos.

Como podemos observar, os próximos anos deverão ser caracterizados por um quadro favorável para a cafeicultura brasileira, com cotações internacionais favoráveis e demanda crescente. Sem dúvida, esse bom momento deve ser aproveitado, e isso de diversas formas. Primeiramente, é necessário um esforço no sentido de conscientizar o governo da necessidade de consolidação de um quadro normativo e de um mecanismo de financiamentos mais adequados e com regras claras.

Além disso, o período favorável deve ser utilizado para a realização de investimentos em marketing e na gestão das fazendas, assim como na qualidade do café produzido. Seguramente, a diferenciação deixará de ser uma opção nos próximos anos para transformar-se em uma obrigação, ao menos para aqueles que almejarem os mercados mais atraentes.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

1

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe CaféPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

JOSÉ ANTONIO PADIAL POSSO

MONTE CARMELO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 26/10/2007

Gostei muito do artigo. Seria muito interessante a divulgação periódica de análises como essa. E com a participação de gente que realmente está inteirada do assunto como nesse caso.

Parabéns. Abraços.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do CaféPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

CaféPoint Logo MilkPoint Ventures