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Resposta ao artigo 'Naufrágio Orgânico'

PAULO HENRIQUE LEME

EM 18/01/2013

2 MIN DE LEITURA

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Para conferir o artigo Naufrágio Orgânico e respectivos comentários de leitores, clique aqui.

Nestes últimos anos uma questão vem me fazendo refletir bastante: a formação e a relação dos mercados de produtos certificados, seja qual for a certificação.

Digo isso pois existe uma relação clara na comercialização de cafés certificados entre as diversas certificações, origens e qualidades. Por isso, precisamos olhar para o comportamento dos consumidores e para o marketing para compreender porque alguns volumes de cafés exportados crescem e outros nem tanto.

A relação mais óbvia é a “certificação de práticas sustentáveis + qualidade gourmet”. Não está claro em nenhuma pesquisa de mercado e em nenhuma pesquisa científica qual a correta percepção e comportamento do consumidor no que se refere a estas características. Compro porque é sustentável e tem qualidade gourmet ou compro só porque é sustentável?

Para nós produtores de café isso faz toda a diferença. Produzir um café orgânico requer uma mudança completa na filosofia de trabalho e nas práticas agronômicas dentro da porteira. Além do custo da mudança e do custo mais alto devido à mão-de-obra e insumos diferenciados (?), existem os problemas relativos à produtividade, fator chave de competitividade no agronegócio brasileiro hoje. Sim, é possível obter produtividades altas com a cafeicultura orgânica (basta conversar com alguns produtores de orgânicos para constatar isto), porém, isto é para poucos.

Outro detalhe muito importante: fazer um café orgânico é uma coisa, fazer um café orgânico gourmet é outra, e aí mora o gargalo, gargalo este que se repete também na produção de cafés de comércio justo. Ou seja, além de resolver questões referentes à produtividade, o segundo estágio está em melhorar a qualidade da bebida em lotes significantes.

Os compradores internacionais por sua vez são categóricos: quero certificação sustentável, mas com qualidade acima de 82 pontos na escala SCAA. Opa! Aí complica... Os volumes de cafés orgânicos produzidos com esta qualidade em uma lavoura são pequenos. Se para um cafeicultor mediano brasileiro, fazer café com qualidade é um desafio, imagina somar a isto às condições e mudanças estruturais da cafeicultura orgânica.

Isto gera outra distorção de mercado. Antes podíamos classificar os produtores orgânicos como uma categoria única e homogênea no agronegócio como um tudo. Hoje isto não é mais a realidade. Temos grandes agroempresas produzindo produtos orgânicos e que conseguem altos índices de produtividade e qualidade. E do outro lado da moeda, pequenos produtores, cuja única vantagem competitiva é a mão-de-obra familiar.

Do lado dos compradores algumas outras questões referentes à interligação de mercados e percepção dos consumidores afloram. O Peru é uma fonte de quantidade e qualidade razoável neste mercado, a preços muito melhores que os brasileiros. Fontes informais nos dizem que o Peru exporta hoje algo em torno de 500 e 700 mil sacas de café, enquanto que o México exporta algo em torno de 500 mil sacas. Aí vem a dobradinha cruel para nós brasileiros. Quem tem mais apelo aos olhos do consumidor? Os cafés peruanos, mexicanos e africanos orgânicos ou os brasileiros?

Estes fatores, atuando de forma conjunta nos mercados de produtos certificados, geram para os cafés orgânicos brasileiros o “nicho do nicho de mercado”, se não tiver alta qualidade, prefiro comprar dos concorrentes.

Temos portanto gargalos na lavoura, na comercialização, e principalmente, na mente dos consumidores.

No mais meus amigos Celso Vegro e Eduardo Heron, iniciadores do debate, obrigado pelo excelente artigo e pela reflexão!

Esta matéria é de uso exclusivo do CaféPoint, não sendo permitida sua cópia e réplica sem prévia autorização do portal e do autor do artigo.

PAULO HENRIQUE LEME

Professor na Universidade Federal de Lavras na área de marketing e empreendedorismo, mestre e doutor na área de Estratégia, Marketing e Inovação. Consultor em marketing e estratégia no agronegócio, especializado em café, certificações e origem.

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ARNALDO KRAUSE

ITAGUAÇÚ - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 06/02/2013

Artigo interessante e oportuno, se hoje o custo da mão-de-obra da cafeicultura tradicional está em torno de 40 a 60% (lavoura não mecanizada), acredito que o custo para estar mexendo com o composto não será reduzido, deverá ser elevado mais ainda. Produzir e fazer o composto  com orientação técnica adequada não é o difícil, entrar na certificação e conseguir a mesma também não. O grande gargalo hoje é, quanto a mais receberei por saca, será viável, no final compensará o custo, e a mudança do tradicional para orgânico levará tempo, e com certeza diminuição da produção e quem cobrirá os custos durante a mudança quando o café for sua única fonte de renda? Todo mundo sabe que os benefícios para o meio ambiente serão diretos. Agora por outro lado nós da produção somos sempre muito cobrado em relação ao meio ambiente.



Para quem gosta muito da produção orgânica, de produtos saudáveis, acho que todos gostam, fora a produção, em casa você que é consumidor você faz a sua parte? Tem esgoto tratado, separa o lixo orgânico dos demais (latas, plásticos, vidros etc). Sua resposta acredito que é o da maioria não. Porque na minha cidade não tem coleta seletiva pode ser a resposta, mas cada um não tem que fazer a sua parte? É mais ou menos assim quando você sai do tradicional e quer mudar para orgânico ou obter alguma certificação. Os cafeicultores que dependem só do café  e conseguem obter produção orgânica são verdadeiros heróis. Diferente daqueles que tem outra renda e investem neste ramo que é um nicho de mercado.



Para mim o resumo disto tudo, nós cafeicultores queremos é ter lucratividade em nossa atividade, o que precisamos de uma vez por todas é saber o real custo da nossa saca de café produzido, seja o tradicional, orgânico etc, houve lucratividade venda, não podemos ficar esperando que governo sempre libere recursos, se analisarmos bem, tem dinheiro a vontade, porém para nós conseguirmos recursos temos que dar garantias, penhor, avalistas, ele o governo nunca perde, nós que dependemos exclusivamente do café, empregamos, temos nossas obrigações trabalhistas, que deveriam ser diferenciadas,  temos que preservar o meio ambiente (é nossa obrigação para as futuras gerações) etc, ele quer colocar o preço mínimo para o café a nível nacional, porém os custos de produção não são diferentes de uma região para outra? Aonde está há maior parte da mão-de-obra não é na cafeicultura de montanha? Há tratamento diferenciado? Não há. A verdade é que somos verdadeiros heróis, eu não sei até quando.

Mas o artigo publicado é bom e vale a pena discutir.
PAULO HENRIQUE LEME

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 02/02/2013

Caro amigo Diogo,



Seu comentário é perfeito, pois vem de quem vive no dia a dia as alegrias e as tristezas de trabalhar com um produto que demanda organização , investimentos de tempo e dinheiro e não necessariamente gera um retorno financeiro visível no preço da saca de café.



Já faz anos que digo que necessitamos compreender melhor os desejos e o comportamento dos consumidores de cafés certificados. Talvez algumas pessoas das cadeias de produtos certificados pensem, "mas o cliente direto de nossos produtores de cafés certificados é a indústria! Ela que deve fazer o marketing do selo em sua embalagem....".



Pois bem, você produtor, já parou para pensar se seus cafés certificados são realmente desejados pelos consumidores finais? Pelos "bebedores" de café? Ou se são usados como pretexto por alguma empresa para que ela possa dizer que é "socialmente" ou "ambientalmente" correta?



E isto faz diferença sim. Nas estratégias dentro de sua lavoura. Se você soubesse que iria vender com valor agregado apenas seus cafés certificados de alta qualidade, mesmo assim você investiria em certificação? Ou iria preferir vender diretamente para um torrador menor que necessite de seu café gourmet para seus clientes especiais?



Não existe certou ou errado. Existem estratégias adequadas à cada fazenda e produtor.



De qualquer forma, preferimos acreditar piamente no que dizem os compradores de cafés certificados. Não sabemos por exemplo, se atrelar uma valor de "origem" é mais importante no mercado europeu do que atrelar um valor "ambiental".... Ou se um valor "orgânico" tem mais apelo que um "fairtrade" no Japão... Suspeitamos.... E por "achismo" não existe gestão correta.



Um abraço,



PH
DIOGO DIAS TEIXEIRA DE MACEDO

SÃO SEBASTIÃO DA GRAMA - SÃO PAULO

EM 27/01/2013

Grande PH e Celso Vegro,


A "moda" da certificação é que está naufragando ... até concordo que para produtos orgânicos, temos mesmo que ter certificação de algum órgão, que poderia ser até mesmo ligada à Secretaria de Agricultura do Estado produtor. Mas os outros tipos de certificação, como as sócio ambientais é que estão naufragando ... porque não são sócio econômicas ambientais?

Falta muito por parte das próprias certificadoras que façam um trabalho de marketing de seus produtos. Pergunte ao consumidor se sabe o que é um produto UTZ ou Rain Forest? Garanto que menos de 5% dos consumidores sabem disso, e até acham que é orgânico!!!

Quanto aos compradores de café, quando estamos negociando também não querem saber se é ou não certificado, querem sim QUALIDADE. E o prêmio, quando tem, não cobrem os custos nem mesmo das auditorias.

A única vantagem de uma certificação é a organização e o gerenciamento da propriedade - empresa, ajudam até mesmo em melhorar processos e obter melhor qualidade, mas não garantem isso. Um exemplo é a região de Carmo de Minas, que produzem uns dos melhores cafés do Brasil e poucas propriedades são certificadas, e nem por isso deixam de vender bem seus cafés de qualidade.

Sei que vão me retrucar dizendo: os volumes de café certificados crescem a cada ano! Não tenho dúvidas disso, mas o que quero deixar claro é que a certificação por si só não agrega valor, mas sim as melhorias de processos que por consequência trazem uma melhora na qualidade do café produzido por propriedades certificadas.

Se as certificadoras não fizerem este trabalho de levar ao consumidor que, ao comprar um produto certificado estão levando um produto melhor socialmente e ambientalmemte, ou até mesmo as torrefações, daí todo o esforço desprendido será em vão, e a base econômica do tripé não terá forças para sustenta-lo.

Espero poder contribuir com a "discussão", não estou criticando o trabalho das certificadoras, sei que o processo de certificação é voluntário, certifica quem quer, mas como sempre é só o produtor que fica com todo o custo!!!
PAULO HENRIQUE LEME

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 25/01/2013

Caro Fábio,

Com certeza, a generalização neste caso não é válida.

Obrigado!

Um abraço,

Paulo
FÁBIO LÚCIO MARTINS NETO

VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/01/2013

Prezado Paulo,



Faria apenas uma correção à sua resposta: não devemos generalizar que apenas as grandes fazendas-empresas produtoras de café orgânico obtêm altas produtividades e que a vantagem dos cafeicultores familiares é a mão-de-obra. Nesta área há de tudo, inclusive cafeicultores familiares que adotam boas tecnologias e conseguem produtividades muito altas.



Abraços,
PAULO HENRIQUE LEME

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 23/01/2013

Caro Albino,

As produtividades as quais me referi são similares às produtividades obtidas com a cafeicultura convencional, ou seja, de 30 a 45 sacas/hectare. Ressaltando que isto só é possível com excelente manejo e tecnologia adequada ao cultivo orgânico.

O nível social dos cafeicultores em outros países, em geral, é muito baixo, sendo quase uma cultura de subsistência. Poucas são as exceções. A mão-de-obra é majoritariamente familiar. No Méxíco e no Peru, as condições de 90% dos produtores são estas.

As leis em si são rigorosas, a questão é a aplicação da lei trabalhista.

Obrigado pela participação.

Um abraço,

Paulo
PAULO HENRIQUE LEME

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 23/01/2013

Prezada Maria Pazetti,



Não podemos no esquecer nunca de que existe um consumidor na outra ponto e que toma suas decisões de compra em poucos segundos. Por isso, esclarecimento e políticas públicas são sempre bem vindas.


Obrigado pelo comentário.


Um abraço,


Paulo
MARIA SONIA SIGRIST PAZETTI

INCONFIDENTES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/01/2013

Sr. Albino- existe um especialista, para responder suas dúvidas, o qual tenho grande admiração- Com a permissão dele estou enviando tel. de contato - Adalto de Poço Fundo - MG. Caso queira, posso fornecê-lo telefone de contato
ALBINO JOÃO ROCCHETTI

FRANCA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/01/2013

Duas questões eu gostaria de ver esclarecidas, no artigo-respostas acima:


-quais seriam as altas produtividades citadas pelo autor, e se elas se referem a café?


-qual o nível social da mão de obra e dos produtores peruanos e mexicanos que produzem o café orgânico exportado pelos seus países,e, se eles têm as mesmas obrigações trabalhistas que os brasileiros?


No Brasil travamos uma intensa luta contra pragas, doenças e custos sociais e só consegue sobreviver com alta produtividade, algo que ainda não vi acontecernos projetos de produção orgânica de café, razão da mudança de rota daqueles que se propuseram a este tipo de produção.
MARIA SONIA SIGRIST PAZETTI

INCONFIDENTES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/01/2013

Essas consideraçoes acima fazem toda a diferença na hora da comercialização. O fator mais importante no preço do café é a qualidade do produto. Ser organico, sustentável é uma agregação de valor que compete a alguns consumidores, que ainda não é uma regra geral. Cabe a uma política de meio ambiente e sustentabilidade promover esses valores.

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