Por Thais Fernandes
A falta de chuvas e os altos índices registrados nos termômetros do sudeste brasileiro no início de 2014 foram responsáveis por uma queda vertiginosa na produção cafeeira da safra 2014/2015. Agora, toda a cadeia se volta para os danos que já podem ter sido causados no próximo ciclo. Para saber de que forma os cafeicultores sentiram este problema, o CaféPoint entrevistou Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da maior cooperativa cafeeira do mundo, a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda). Confira, abaixo, o que Paulino nos contou sobre este ano e as expectativas para a próxima safra.
CaféPoint - Quantas sacas foram produzidas pelos associados da Cooxupé na safra 2014/2015? Qual a quebra de produção da Cooperativa em relação à safra 2013/2014?
Carlos Paulino - Na safra 2014/2015 foram produzidas 3,6 milhões de sacas pela Cooxupé. Aqui, registramos 18% de quebra na produção dos cooperados. Temos cooperados no Sul de Minas e no Cerrado Mineiro, por isso esse porcentual variou. No Cerrado Mineiro a queda foi menor. É importante ressaltar que na minha avaliação o levantamento feito pela Fundação Procafé para este ano (20% de quebra), foi o que mais se aproximou da realidade.
CaféPoint - De que forma você dimensiona os impactos da seca deste ano na produção dos cooperados da Cooxupé?
Carlos Paulino - A seca de 2014 atingiu a cadeia de foram muito injusta, porque o Cerrado Mineiro, por exemplo, quebrou pouco, mas no Sul de Minas em algumas regiões o problema foi sério. A recuperação dos preços muitas vezes não compensou a quebra destes produtores. Enquanto algumas regiões puderam aproveitar os preços que chegaram a subir cerca de 80% no mercado, outras delas não estão conseguindo pagar suas contas.
CaféPoint - Como foi o andamento das floradas referentes à safra 2015 nas propriedades da região?
Carlos Paulino - A florada foi boa, em geral, com as chuvas recentes. No entanto, algumas cidades que fazem parte da cooperativa, Campos Gerais Alfenas e Três Pontas, por exemplo, as chuvas não chegaram com boa intensidade. Em alguns municípios a chuva ficou abaixo da média. O que se pode dizer é que, os produtores que tiveram chuvas em suas regiões puderam fazer seus tratos culturais. Muito fertilizantes foram vendidos.
CaféPoint - Qual a sua expectativa de produção para a safra 2015/2016?
Carlos Paulino - Nós realizamos, com o trabalho de 60 agrônomos no campo, um levantamento de safras que usa os dados de cerca de 3.800 cooperados. A margem de erro é pequena: 2%. No levantamento para 2015 temos chegado a números variados, exatamente por conta de Cerrado e Sul de Minas. Se fizermos o balanço das duas regiões, a produção deverá se igualar a da safra 2014/2015.
CaféPoint - O que esperar do mercado cafeeiro no ano que vem em relação a quanto café vai circular? Você acredita que o preço do arábica irá acompanhar a realidade do volume produzido pelo Brasil?
Carlos Paulino - Eu acho que é difícil fazer uma previsão do mercado de café. Este ano, o Brasil deve exportar 35 milhões de sacas, somando ao consumo interno, teremos utilizado cerca de 55 milhões de sacas. Se o ano que vem for da mesma maneira, em 2 anos teremos consumido 110 milhões de sacas de 60kg. A questão é que nós não vamos conseguir produzir estes 100 milhões de sacas.
Os estoques da Cooxupé devem ser divulgados após assembleia da Cooperativa, no final de março de 2015.
CaféPoint - Algum outro fator – seja ele climático ou econômico -, neste momento, pode prejudicar a safra corrente (2015/2016)?
Carlos Paulino – O fator climático pode influenciar sim, porque a seca de 2014 influenciou exatamente durante os meses de janeiro e fevereiro. Até aqui, se tudo correr bem, a previsão é a de que a produção se repita, agora se repetir a seca os danos serão ainda maiores.