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Como utilizar de forma racional a água e a energia na cafeicultura irrigada

POR ANDRÉ LUÍS T. FERNANDES

E EVERARDO C. MANTOVANI

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 11/08/2006

9 MIN DE LEITURA

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Para que um projeto de irrigação do cafeeiro atinja seus objetivos, é necessário que, além de um projeto adequado (dimensionamento e implantação), haja também um manejo eficiente da irrigação. O conceito de manejo eficiente da irrigação é complexo, podendo assumir diversas faces, e, no seu sentido mais amplo, relaciona tanto o aspecto do manejo da água como também o manejo do equipamento, com o objetivo de adequar a quantidade de água a ser aplicada e o momento certo desta aplicação.

O manejo adequado da irrigação tem por um lado o compromisso com a produtividade do cafeeiro, e por outro o uso eficiente da água e da energia, promovendo a conservação do meio ambiente.

Para ilustrar o cálculo da quantidade de água necessária para cafeicultura irrigada, vamos considerar o caso da região Oeste da Bahia. Atualmente a cultura ocupa uma área aproximada de 12.000 ha. A região caracteriza-se por alta demanda evapotranspirativa, o que resulta no consumo médio da cultura do cafeeiro da ordem de 1600 mm por ano.

Considerando-se que as chuvas atendam 50% da demanda da cultura (800 mm), a quantidade de água a ser aplicada via sistema de irrigação atinge a cifra de 800 mm. Sabendo-se que 1 mm representa 1 L/m2ou 10 metros cúbicos (m3)/ha, é fácil concluir que será necessário aplicar 8.000 m3 por cada hectare irrigado, ou 96.000.000 m3 (ou 96 trilhões de litros de água) na região como um todo.

Para permitir um melhor entendimento do volume de água necessário para irrigar o cafeeiro, no exemplo anterior, vamos compará-lo com o gasto de água para abastecer os habitantes de uma cidade. Tomando por base um consumo de 200 litros de água/habitante por dia, conclui-se que a quantidade de água gasta na irrigação do cafeeiro nesta região corresponde ao consumo de água de água de uma cidade de cerca de 1.315.068 de habitantes.

Os cálculos anteriores, apesar de simplificados, dão uma idéia do volume de água envolvido na agricultura irrigada, e reforçam a tese de que a gestão de recursos hídricos passa invariavelmente pela análise e conhecimento da irrigação. Um outro ponto a considerar é a necessidade de conhecimento das características dos diversos sistemas de irrigação utilizados. Cada sistema interagindo com uma determinada situação local promove uma maior ou menor eficiência de irrigação, o que irá afetar o consumo de água total.

Durante a evolução da cafeicultura irrigada no Brasil, diversos foram os enfoques adotados. Inicialmente a única preocupação era o aumento da produtividade. Atualmente, a modernização da agricultura mundial passa pelo conceito de agricultura sustentável, com a integração de todos os fatores que interferem na produção. Neste contexto é fundamental a utilização eficiente da água e conservação do meio ambiente, que vem sendo um dos grandes desafios da cafeicultura irrigada.

Outro desafio atual é a conscientização de que cafeicultura irrigada não significa a mesma coisa que cafeicultura tradicional mais água. Por traz deste simples jogo de palavras esconde-se uma questão, fundamental para o futuro da agricultura irrigada, e que vem sendo o motivo de vários insucessos na exploração agrícola.

É importante a conscientização da necessidade uma reavaliação geral de conceitos e definições quando se inicia a exploração de uma cultura irrigada em uma área qualquer. Devem ser questionados aspectos básicos como: melhor variedade, espaçamento mais adequado, níveis de adubação tratos fitossanitários etc.

Em síntese, é bem provável que uma série de atitudes e decisões adotadas sejam adequadas para a cafeicultura irrigada, mas não otimizem a produtividade e o lucro do produtor em condições irrigadas.

Assim, é necessário que haja maior disponibilidade de informações para a condução de uma determinada cultura em condições irrigadas, formando "pacotes tecnológicos". Para isso, é fundamental desenvolver um grande número de pesquisas que possam trazer informações confiáveis aos cafeicultores irrigantes.

Gerenciamento e manejo da irrigação

Em um programa de manejo de uma área irrigada, seja ela pequena, média ou grande, deve-se procurar maximizar a produtividade da cultura explorada, com eficiência do uso da água e da energia, mantendo-se as condições físicas, químicas e biológicas do solo e de fitossanidade favoráveis ao bom desenvolvimento da cultura irrigada.

No manejo da irrigação, deve-se considerar os parâmetros que dependem do tipo de sistema de irrigação e do próprio projeto em si, tais como: grau de automação, reuso da água, necessidade de sistematização, medição da vazão e conseqüentemente determinação do volume de água aplicado, custo e disponibilidade de água e de mão de obra, características da cultura irrigada, etc.

O manejo correto da irrigação envolve três etapas distintas e complementares:

  • Definição correta das datas e das lâminas de água a serem aplicadas (parte básica);
  • Definição das metas de eficiência de aplicação da água para o sistema, e ajuste do funcionamento do mesmo para atingir esses limites;
  • Manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos e sistemas, para que tenham condições adequadas de funcionamento.
As características, funcionamento e potencialidades de um sistema de irrigação são aspectos que não podem ser negligenciados, pois eles influenciam no manejo. Por exemplo, o pivô central apresenta características de aplicação de águas distintas com relação à aspersão convencional, que, por sua vez, difere da irrigação localizada.

Os métodos de manejo da irrigação são tradicionalmente divididos em três grupos:

  • Os que se baseiam unicamente no conhecimento do estado hídrico do solo, ou seja, no manejo da água útil do solo.
  • Os que se baseiam no conhecimento do estado hídrico da planta.
  • Os que se baseiam na variação do clima.
Aspectos básicos do manejo da irrigação

O solo funciona como um reservatório para as plantas, retendo água que precipita durante as chuvas ou irrigações para que seja, posteriormente, absorvida pelas plantas. Na Figura 1, é representada esquematicamente a capacidade de armazenamento de água nos poros do solo, usando como símbolo, um reservatório com saídas.

De maneira simplificada pode-se afirmar que água disponível para as plantas é a retida entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente. Antes de qualquer programa de manejo da irrigação, é aconselhável que se retire amostras de solo, para que, em laboratório, se elabore a curva de retenção da água no solo, em camadas de 20 em 20 cm, até a profundidade efetiva do sistema radicular da cultura.



Figura 1 - Esquema representativo da capacidade de armazenamento de água nos poros do solo.

Quando esse reservatório (o solo) está cheio significa que todos os poros estão plenos de água e diz-se que o solo está saturado ou com umidade de saturação. Se a reposição de água ao solo não for contínua, a água contida nos macroporos vai se movimentar e o reservatório-solo vai perder água até atingir um equilíbrio. Essa água é conhecida como gravitacional e é facilmente drenada do perfil do solo.

Nesse ponto de equilíbrio, de tensão entre 1/10 (solos arenosos) a 1/3 de atm (solos argilosos), o solo atinge a umidade de "Capacidade de campo" (CC), onde o movimento descendente da água no solo é sensivelmente reduzido. Existindo um extrator de água nesse solo, tal como as raízes das plantas, a umidade do solo também vai diminuir, até que as plantas não mais consigam absorver água em quantidade suficiente para atender a demanda das plantas, murchando de forma irrecuperável, embora o solo ainda contenha água.

Nesse ponto, cujo valor da tensão da água retida é, aproximadamente, 15 atm, o solo apresenta uma umidade que é denominada de "Ponto de murchamento permanente" (PMP). Assim a água absorvida pelas plantas e que está retida com tensão entre 1/10 e 15 atm para solos arenosos e entre 1/3 e 15 atm para solos argilosos é conhecida como água disponível. A água contida no solo e retida com tensão superior a 15 atm é conhecida como água não disponível.

Métodos de manejo da irrigação

Como citado anteriormente, a determinação da época da irrigação e da quantidade de água a ser aplicada pode ser feita com o monitoramento da planta, do solo ou do clima. Nos itens a seguir, vamos discutir cada um deles.

Monitoramento da planta

O monitoramento da planta é o controle ideal, sob o ponto de vista do rigor científico, mas as implicações técnicas e operacionais de tal prática dificultam sua utilização nas condições de campo. Diferentes métodos permitem o monitoramento das plantas: o método das medições do potencial hídrico, o da resistência estomática e o da temperatura das folhas, entre outros.

Cada uma dessas técnicas apresenta limitações de aplicabilidade em campo, em razão da pequena disponibilidade de informações dos limites e dos índices recomendáveis para a maioria das culturas e dos problemas operacionais. De forma indireta, o monitoramento das plantas pode ser feito utilizando-se critérios qualitativos, tais como a coloração da folhagem para o feijoeiro, a flexibilidade da folha do trigo e outros aspectos ou controles externos citados na literatura.

Monitoramento do solo

O monitoramento do solo constitui uma metodologia usual para o manejo da irrigação, de modo independente ou associado a outros métodos de controle. Uma vez definidos os limites da CC e do PMP e a estratégia de uso da água disponível (f), o momento de se irrigar e a quantidade de água a ser aplicada são determinados mediante avaliação do teor de água no solo. Esta determinação pode ser realizada de forma direta, com a retirada de amostras de solo, em várias profundidades e locais, definindo, posteriormente, a umidade existente pelo método padrão de estufa.

Por questões operacionais, a determinação do teor de água no solo, para efeitos de manejo da irrigação, pode ser de forma indireta, existindo diversos equipamentos disponíveis no mercado, os mais utilizados são o tensiômetros, os métodos eletrométricos, a sonda de nêutrons e o TDR (sigla, em inglês, para reflectometria de domínio do tempo), métodos amplamente utilizados na pesquisa e divulgados na literatura sobre irrigação.

Monitoramento do clima

A metodologia de monitoramento do clima é sem dúvida uma das maneiras mais simples e operacionais de manejar a irrigação de uma determinada área. Neste caso valores das variáveis meteorológicas são utilizados para determinar indiretamente as necessidades de água da cultura. Trata-se de um balanço hídrico, onde se avalia a entrada de água (irrigação e chuva) e a saída (evapotranspiracao, percolação e escoamento superficial).

Existem vários programas de computador que facilitam os cálculos necessários, como o Irriga, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa, que tem sido amplamente utilizado para manejo da irrigação do cafeeiro.

A evapotranspiração pode ser obtida por meio de medições diretas no campo ou por estimativas baseadas em dados climáticos ou da cultura. As medições diretas no campo são muito caras e são utilizadas principalmente para calibrar os métodos de estimativa de evapotranspiração baseados em dados climáticos.

Usualmente, calcula-se a evapotranspiração de cultura qualquer, por exemplo, o cafeeiro, multiplicando-se a ETo por um coeficiente Kc que incorpora os efeitos do tipo de cultura e sua fase de desenvolvimento, freqüência e forma de aplicação da água. A seguir, são apresentadas informações referentes ao cálculo da Eto. Existem vários métodos que podem ser utilizados para a estimativa da evapotranspiração, como os de Camargo, Penman, Penman-Monteith, Radiação Solar, etc.

ETc = ETo x Kc

Apesar da necessidade das informações meteorológicas completas para se obter um nível de precisão aceitável, ainda existem dificuldades operacionais e financeiras para a implantação de uma estação meteorológica automática em muitas fazendas cafeeiras. Assim, de forma provisória, pode-se utilizar metodologias simplificadas, destacando-se aquelas que utilizam a temperatura do ar e a evaporação de tanques.

ANDRÉ LUÍS T. FERNANDES

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ROBINSON GREGO

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 31/10/2010

GOSTARIA DE USAR MEDIDORES DE UMIDADE DE SOLO , ACOPLADOS A CENTRAIS DE AUTOMAÇÃO TIPO RAIN BIRD OU HUNTER
QUAIS APARELHOS MEDIDORES DE UMIDADE DE SOLO ,E ,COMO SE FAZ A TRANSMISSÃO DE DADOS ( VIA FIO OU WIRELESS) PARA A CENTRAL DE IRRIGAÇÃO

ROBINSON GREGO
FAZENDA ROBUSTA
PROPRIETARIO
RODOLFO BRACHINI BARBOZA

MIMOSO DO SUL - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 18/08/2009

Bom dia,

Gostaria de saber quais os procedimentos que devem ser adotados para conseguir licenciamento ambiental em um determinado projeto de irrigação.

Obrigado!
ANDERSON FAVALESSA OSS

ITAMARAJU - BAHIA - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 08/01/2009

Dr. André

Trabalho em lavoura de café, e tenho um controle de tensiometro fixo com profundidades de 0-20 cm e 20-40 cm e irrigação localizada (gotejo), gostaria de saber mais detalhes como monitorar esse equipamento, pois também faço fertirrigação, sendo assim tenho que ter muito cuidado no exercício da irrigação e fertirrigaçao para que não ocorra prejuízos com lixiviação e evaporação.

Obrigado

Anderson Favalessa Oss
RODRIGO MÁRCIO RIGO

SÃO GABRIEL DA PALHA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 27/11/2007

Dr. André

Qual a melhor maneira de melhorar minha captação de água para evitar entupimentos nos micro jets? Me sugeriram fazer uma caixa de 1,5 x 1,5 x 1,5, de madeira, com réguas de 10 em 10 cm envolvida com espuma. Existe outra solução também viável economicamente e que funcione bem? Se tiver fotos para visualização, gostaria de ver.

Obrigado

Rodrigo
ANDRÉ GUARÇONI M.

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 20/08/2006

Dr. André Fernandes,

O que você pensa sobre a aplicação de fertilizantes, e até mesmo de calcário, via irrigação por macro-aspersão? Esse tipo de "fertirrigação" vem sendo utilizado por alguns cafeicultores no norte do Espírito Santo.

Obrigado.

André Guarçoni Martins.

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