Entre as reivindicações estão a fixação de um preço mínimo para a saca do produto de R$ 320 e o pagamento das dívidas dos produtores em produto, isto é, em sacas de café. Na visão dos organizadores, a crise do café pode ter seus efeitos espalhados para além do próprio setor, refletindo em toda a economia das regiões produtoras, criando um grande problema social.
Concentrados na Concha Acústica da praça, o deputado federal Mário Heringer (PDT) arrancou aplausos da multidão ao defender que "o Banco do Brasil, que deveria ser um banco de fomento, torna-se o banco do tormento para os cafeicultores, lembrando que o banco peca pela falta de compromisso com a parte social, preocupando-se apenas com os lucros. Para o coordenador regional do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Varginha, Paulo Sebastião, os juros praticados pelos bancos são impagáveis.
O deputado federal Carlos Melles (DEM), criticou o fato de Lula receber com apreensão a demissão de quatro mil trabalhadores da Embraer, enquanto segue indiferente à demissão de 400 mil trabalhadores do campo. "Esse movimento aqui não é contra ninguém, é a favor do trabalhador", disse. Já o deputado federal Marcos Montes (DEM) criticou o que chamou de portas fechadas do Governo para receber e ouvir os cafeicultores. Para ele, apenas o Ministério da Agricultura vem se preocupando com a causa.
O produtor Rafael da Silva, 35 anos e a esposa, Rosinéia Alves, 38, contam que trabalham juntos em uma lavoura no bairro rural da Mutuca, no município de Alpinópolis. Os dois viajaram 190 quilômetros para participar da Marcha em Varginha. Rafael concorda que o café realmente precisa ter uma cotação mínima. "Assim, quem achar que é muito pouco, muda de profissão. O que a gente vive é a ilusão do ano que vem, de que as coisas vão melhorar", disse. Segundo a polícia militar, a Marcha reuniu cerca de 15 mil pessoas.
Propostas
As estimativas do presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Gilson Ximenes, são de que o volume de café resultante da conversão da dívida poderia atingir de 13 milhões a 14 milhões de sacas, que seriam utilizados para recompor os estoques oficiais do governo, que atualmente atingiram os menores níveis da história. "Nossa reivindicação continua a mesma, a transferência da dívida em produto, além da formulação de uma política de renda para o setor."
Desde a apresentação da proposta, o governo federal criou um grupo de trabalho para analisar as reivindicações. "O governo fala que vai fazer e não faz", disse ele. Ximenes reiterou ainda que os cafeicultores vão manter o pleito para a realização de leilões de opções públicas de venda, que faria parte da política de renda para o setor, com a liberação de R$ 1 bilhão para a comercialização de 3 milhões de sacas, que poderiam ser divididos em três leilões ao longo do ano, sendo que o primeiro poderia ocorrer já no mês de maio.
O governo aceita receber as sacas, mas faz uma ressalva. "A conversão da dívida em café se mostra viável e está aprovada pelo governo federal desde que convertido o valor da dívida pelo preço de garantia da saca no momento de vencimento da dívida", esclareceu Manoel Bertoni, secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura. A dívida da cafeicultura está estimada em aproximadamente R$ 4 bilhões.
As informações são do Jornal Hoje em Dia/MG, resumidas e adaptadas pela Equipe CaféPoint, com excertos do jornal O Estado de São Paulo e Globo Rural em "propostas".