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Sistema de Inteligência da Concorrência: Peru

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 03/12/2008

13 MIN DE LEITURA

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Contexto

O Peru vive um processo de revitalização nesta década. Especialmente nas maiores cidades, como a capital, Lima, há um clima de modernidade com aumento da disponibilidade de bens de consumo e da oferta de serviços, inclusive cafeterias, além da diminuição da criminalidade e de melhorias nos aspectos de conservação e limpeza.

Em tal período ocorreu também o arrefecimento da atuação de grupos terroristas como o Sendero Luminoso e o Tupac Amaru, os quais desestabilizavam a atividade econômica do país, com o primeiro sendo responsável até pela morte de lideranças cooperativistas.

O país ainda enfrenta os desafios de levar o desenvolvimento às regiões mais remotas e melhorar a distribuição de renda, tendo uma parcela significativa da população abaixo da linha de pobreza. No entanto, desde o ano 2000, o Peru atravessa uma fase contínua de intenso crescimento econômico, com aumento de 9% de seu PIB, em 2007, e projeção de mais de 10% para 2008. A inflação está controlada, tendo fechado ao ano de 2007 em 2,6%, apesar de ter tido um repique em 2006, quando fechou o ano com taxa de 7,6%.

No governo de Alejandro Toledo, foram realizadas reformas macroeconômicas e tomadas medidas de liberalização da economia, que foram aprofundadas na atual gestão, de Alan García. Ainda nesse sentido, foi ratificado pelo congresso americano, em dezembro passado, o tratado de livre comércio entre o Peru e os Estados Unidos. A eliminação de tarifas alfandegárias pode favorecer as exportações peruanas, ao passo que deve também desonerar as importações do país, das quais 52% são compostas de bens de capital e insumos industriais.

Além de dos ajustes macro-econômicos, a vitalidade da economia peruana também guarda forte relação com a elevação nos preços mundiais das commodities minerais, especialmente cobre e ouro, cuja exportação contribui expressivamente para a balança comercial do país.

Por outro lado, o novo sol, moeda peruana, valorizou-se fortemente em relação ao dólar, da mesma forma que o real e o peso colombiano. A moeda peruana sofreu apreciação de 24,8% de janeiro de 2003 a julho de 2008. Desde então, no período que coincide com o agravamento da crise mundial, se desvalorizou apenas 9,49%, o que implica no achatamento dos preços internos do café já que a bolsa de Nova Iorque caiu quase 20%.

A cadeia produtiva do café no país

De 1,5 a 2 milhões de pessoas estão direta ou indiretamente envolvidas com a cadeia produtiva do café no Peru. A maior parte do cultivo se dá nas chamadas zonas altas de selva, na encosta leste da cordilheira dos Andes, em altitudes entre 1.000 e 1.800 metros acima do nível do mar, propícias para a obtenção de cafés de boa qualidade. São basicamente três zonas produtoras, norte, sul e a chamada selva central. Esta última, situada mais próxima a Lima, tem maior tradição cafeeira, contando com melhor infra-estrutura e maior tecnificação.

Figura 1 - Mapas (político e cafeeiro):



A cafeicultura é um fator de melhoria da qualidade de vida em algumas das regiões menos desenvolvidas do país e, assim como na Colômbia, uma alternativa à produção de coca. Além dos cultivos ilegais, a cafeicultura também compete com o garimpo, que por sua vez apresentou forte incremento nos últimos anos, graças à valorização do ouro.

Após a reforma agrária realizada no final da década de 60, o tamanho das glebas de terra é restrito, com área média de 3 hectares. Principalmente nas áreas mais distantes da capital, ocupadas por população com ascendência indígena, não há regularização do direito de posse das terras e mesmo seu direito de uso é difusamente regulado, condições que impedem muitos produtores de ter acesso a financiamento bancário. Esse problema é menos grave na selva central, que não foi incluída na reforma agrária e na qual há inclusive fazendas de café com área plantada de mais de cem hectares, apesar da grande maioria ser de pequenos produtores como no restante do país.

A existência de muitos pequenos produtores favorece o estabelecimento de cooperativas, que são a base da cafeicultura peruana, algumas delas chegando a contar com mais de 2.000 associados. As organizações associativistas e as cooperativas também passaram por um renascimento nesta década, após as turbulências causadas pelo terrorismo. Nesse processo boa parte delas desenvolveu um íntimo relacionamento com organizações não-governamentais internacionais.

O ano safra peruano vai de abril a março, com o pico da colheita concentrando-se entre maio e julho. É produzido apenas café arábica e, como no Brasil, se verifica o fenômeno de bienalidade da produção, típico dessa espécie. Mesmo com a flutuação entre os anos de baixa e de alta no ciclo bienal, o Peru é um dos países produtores de café arábica que têm apresentado taxa de crescimento da produção mais sustentada nos últimos oito anos.

A média das safras 2008/09 e 2007/08 foi 37% maior que a média das safras 1999/00 e 2000/01. Houve aumento de mais de 25% na área cultivada com café no país, desde 2000. A estimativa de produção é de 4,3 milhões de sacas na safra 2008/09, cerca de 100 mil destas produzidas em áreas novas ou recentemente renovadas. A produtividade média de duas safras fica na casa de 13 sacas por hectare por ano.

Figura 2 - Evolução da cafeicultura peruana



Diferentemente do que se dá no Brasil, a maior parte do café é cultivado sob sombra e processado por via úmida. A maioria dos produtores tem pequenos despolpadores, tanques de fermentação para remover a mucilagem e faz a secagem em terreiros ou mesmo bandejas suspensas. Devido à alta umidade freqüente nas regiões de altitudes elevadas, tais equipamentos têm capacidade de secagem restrita e estão, também por conta das exigências de melhoria de qualidade, sendo lentamente substituídos pelo uso de secadores, cuja carência ainda limita o potencial de crescimento da produção peruana.

Dado à pequena escala de produção ainda predomina o comércio de café em pergaminho, quer seco ou mesmo ainda úmido, com a secagem sendo feita pelo comprador. O beneficiamento do pergaminho é feito por prestadores de serviço, exportadores e pelas cooperativas, as quais têm participação relevante na comercialização do café do Peru. Apesar da atuação das cooperativas, também fazem parte do sistema de comercialização do café peruano os chamados "coiotes", intermediários que se aproveitam das brechas geradas pelas dificuldades logísticas e de organização para reter parte dos ganhos que os produtores obteriam caso vendessem diretamente aos exportadores.

A dificuldade de acesso a crédito diretamente pelos produtores faz com que algumas das maiores cooperativas financiem seus associados e mesmo com que haja a prática de financiamento também por parte de empresas compradoras, mesmo multinacionais, as quais chegam a fornecer até secadores aos produtores, para posterior recebimento em café.

O café é o principal produto agrícola de exportação do Peru, com cerca de 20% do valor, seguido de perto pela exportação de aspargos, que são produzidos nas áreas costeiras. O principal destino do café peruano é a Alemanha, com parcela de 32%, seguida de perto pelos Estados Unidos, com 30% das vendas, as quais se situam na casa do meio bilhão de dólares por ano.

A pequena escala levando à especialização

Apesar de ocupar a nona colocação no ranking da produção mundial de café, o fato da cafeicultura do país ser basicamente de pequena escala acaba por talhar o Peru para um foco preferencial no mercado de cafés diferenciados, principalmente certificados, como orgânicos, fairtrade (comércio justo) ou outros.

O país é líder mundial em exportação de café orgânico, com previsão de venda de mais de 400 mil sacas de café com essa certificação em 2008. Tal fato é favorecido pela baixa tradição de uso de fertilizantes e defensivos na cafeicultura peruana, motivada inicialmente por falta de capital e deficiências logísticas e, posteriormente, assumida como opção de sistema de cultivo.


Fonte: Cecovasa - Central de Cooperativas Agrárias dos Vales de Sandia

Por ocupar áreas menos desenvolvidas, em regiões de floresta, e pela forte tradição associativista, a cafeicultura do Peru apresenta grande potencial para a aplicação dos conceitos de comércio justo e produção sustentável e/ou orgânica. Por tais motivos a atuação de organizações voltadas para estes tipos de certificação é muito forte no país.

Apesar de haver cafeicultores obtendo produtividades até três vezes maiores que a média nacional, a busca de prêmios de preço por diferenciação e/ou certificação é enxergada por muitos como o melhor caminho para melhoria de sua renda. Há prêmios significativos, de 30 dólares sobre Nova Iorque por saca para orgânicos até 80 dólares para orgânicos/fairtade gourmet. Isto pode representar um incremento de renda desde 240 dólares/ha/ano para um produtor de orgânico com 8 sacas/ha/ano até 1600 dólares para um produtor de orgânico/fairtade gourmet com 20 sacas/ha/ano. Vale lembrar que em ambos os casos o aporte de insumos é mínimo, o que pode explicar, juntamente com custos de oportunidade também baixos, o entusiasmo demonstrado pelos produtores peruanos.

Atuação dos governos peruano e norte-americano

O enfoque dado pelo governo peruano ao café é bastante relacionado com a questão da tentativa de inibição do cultivo de coca. Não há agência governamental voltada para o café e são quase inexistentes programas estruturados de apoio à produção. O principal suporte à cafeicultura acaba por vir da DEVIDA, que é a agência governamental de combate à produção de narcóticos.

Na mesma linha, a USAID (agência dos EUA para desenvolvimento internacional) apóia cerca de 10% dos produtores peruanos, com o objetivo de propiciar uma alternativa viável à produção de matéria-prima para drogas ilícitas. A fim de manter a atratividade da cafeicultura, é feita capacitação dos produtores e se busca desenvolver oportunidades de negócio para os cafés peruanos nos mercados de especiais e de cafés certificados. Há ainda apoio aos produtores nos processos de obtenção de títulos de suas terras.

Estimativas de produção

A safra peruana 2008/09, cuja colheita terminou em setembro passado, é estimada em 4,3 milhões de sacas. O crescimento em relação às pouco menos de 3 milhões de sacas colhidas em 2007 deveu-se ao ano de alta produção no ciclo bienal do café arábica, a melhorias nos tratos culturais e uso de fertilizantes e à entrada em produção de algumas áreas renovadas e alguns novos plantios.

A Junta Nacional do Café do Peru chegou a estimar a safra 2008/09 em 4,9 milhões de sacas, porém o excesso de chuvas em março passado e a falta de mão-de-obra de colheita motivaram a redução nas expectativas, apesar de tal entidade ainda manter sua previsão acima de 4,5 milhões de sacas.

No geral, os agentes da cadeia produtiva do café peruano estão satisfeitos com seu desempenho e há expectativas positivas para o futuro, com menção de possível aumento da produção para a casa dos 5, e até 6, milhões de sacas, num período de três anos à frente. Este crescimento se basearia mais em aumento da produtividade do que em renovação e aumento da área cultivada, que parecem um tanto restritos.

No sentido contrário, a elevação dos custos de fertilizantes e a escassez de mão-de-obra já começam a ser citados como problemas a ser enfrentados, além de que, o foco na diferenciação, especialmente nos cafés orgânicos, não corrobora a perspectiva de obtenção de aumentos tão significativos na produtividade. Além disso, as deficiências logísticas quase que impossibilitam a chegada dos insumos a algumas regiões produtoras. E, mesmo que se obtenham tais aumentos de produtividade o gargalo seguinte seria a falta de instalações de beneficiamento com capacidade para processar a produção adicional.

O principal desafio para a cafeicultura peruana pode ser romper o paradoxo de que o baixo uso de insumos e a preponderância da mão-de-obra familiar que, hoje, aliviam a pressão da alta dos custos de produção e favorecem sua competitividade também fazem com que um aumento significativo de produtividade tenha que vir acompanhado de mudança radical no sistema de produção.

Disponibilidade de café

O Peru exporta 95% da sua produção de café, já que o seu consumo doméstico é extremamente baixo e se mantém estagnado na casa dos 450 gramas per capita, totalizando algo em torno de 200 mil sacas de café verde por ano. Em geral não há estoques de café verde no Peru após o escoamento da safra, cuja maior parcela ocorre até o mês de janeiro posterior à colheita.

Com a modernização das maiores cidades do país, aumenta também o número de cafeterias e se inicia o processo de incremento do consumo de café fora de casa. Mas o grosso do consumo peruano ainda é de café solúvel, adquirido em mercearias e supermercados. A indústria de café do país é incipiente e mesmo a Nestlé fechou sua fábrica no Peru e abastece o mercado a partir de suas planta na Colômbia usando café peruano como matéria-prima.

À medida que aumenta o reconhecimento da qualidade do café do Peru, diminuem os deságios em relação ao contrato C da bolsa de Nova Iorque, cujo padrão é o produto colombiano, para o qual o café peruano se posiciona como um substituto bom e mais barato, já que tem características semelhantes de bebida. O deságio para café peruano commodity está atualmente na casa dos 8 centavos de dólar por libra peso em relação a Nova Iorque. Vale ressaltar que há exportação de cafés peruanos de qualidade inferior para suprimento do mercado interno da Colômbia e da indústria de solúvel do Equador, notadamente voltada para exportação.

O Peru é o maior exportador mundial de café orgânico, cujas vendas atingiram 93 milhões de dólares, em 2007. Seu faturamento com cafés especiais também tem crescido vigorosamente, totalizando 120 milhões de dólares no ano passado. A soma destes valores corresponde a mais de 40% do valor das exportações de café do país, na casa dos 500 milhões de dólares.

Oportunidades para a cadeia produtiva brasileira

O café peruano tem características de bebida semelhantes às do colombiano, o qual é reconhecido e demandado por muitos consumidores como um padrão de qualidade. No entanto, parte deste reconhecimento advém do forte e duradouro programa de marketing do café da Colômbia e não estritamente da identificação dos atributos de qualidade por parte dos consumidores.

A demanda por café colombiano faz com que seja oportuno para indústrias brasileiras importar cafés daquele país para utilizar em ligas com café brasileiro. No entanto, para o caso do café do Peru tal oportunidade só se configuraria se, além das semelhanças com a bebida colombiana, também fosse mais generalizado seu reconhecimento como produto de qualidade. Esta não é a realidade atual. Mesmo sendo o café peruano um bom substituto para o colombiano, ainda são necessárias mudanças no seu posicionamento no mercado mundial para que sua importação para re-exportação em ligas com cafés brasileiros se torne interessante.

Ameaças à cadeia produtiva brasileira

O Peru vem apresentando tanto crescimento contínuo na sua produção como melhoria na qualidade do seu café, que continua sendo produzido a custos competitivos, os quais praticamente não foram afetados pela inflação dos preços de fertilizantes e de mão-de-obra. O café peruano é semelhante ao colombiano e não ao brasileiro e o avanço do consumo de espresso enfraquece o conceito de que os suaves lavados possuem qualidade superior. Mas, ainda assim há ameaças à participação brasileira no mercado mundial, por conta do quadro de estagnação da produção brasileira de arábica, fortemente pressionada pelos custos de produção.

O foco da cafeicultura peruana está no mercado de cafés certificados, dos quais o Brasil é a principal fonte mundial, e nos cafés especiais, cujas exportações brasileiras já não avançam na mesma proporção que outrora. Tal fato pode trazer dificuldades para os produtores brasileiros que enxergarem os prêmios por diferenciação como um caminho para contornar a falta de competitividade de seus custos de produção. Mercados de produtos diferenciados são mercados de nicho. O volume demandado pode crescer, até que deixem de sê-lo, mas isso implica na diminuição dos prêmios. E se a demanda se mantiver limitada pode haver saturação do mercado. Uma estratégia mais coerente pode ser buscar a competitividade já a níveis de preço de commodity, encarando os prêmios por diferenciação exatamente como tal e não como objetivos principais.

Outra força que teria que ser encarada pela cadeia produtiva brasileira é o poderio das ONG´s internacionais e dos programas de ajuda dos países desenvolvidos, que têm financiado boa parte da expansão da cafeicultura peruana a juros baixos ou mesmo a fundo perdido. Mesmo que não consigam contrapor tão fortemente a produção de coca ou mesmo não mudem tão substancialmente a condição de vida dos pequenos produtores daquele país, tais ações têm certamente o potencial de alavancar, de forma até certo ponto artificial, a competitividade do café peruano. As informações são do Centro de Inteligência do Café - CIC.

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