ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Nathan Herszkowicz, da Abic: os novos aromas do café

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 03/08/2010

9 MIN DE LEITURA

0
0
Os baixos preços do café nas lavouras e nas prateleiras dos supermercados favoreceram os consumidores brasileiros nos últimos anos e devem levar as vendas a mais de 19 milhões de sacas em 2010, número recorde segundo a projeção da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

O campeão do mercado ainda é a tradicional bebida preparada no coador, o famoso pingado de aroma irresistível e acompanhado de pão e manteiga na chapa na padaria. Mas o consumo cada vez mais frequente de cafés mais sofisticados, como o expresso e seus variados blends, o capuccino, o mocha, entre outros, ampliou a rede de cafeterias nas grandes cidades.

"A melhoria do poder aquisitivo, com migração dos consumidores mais pobres para a classe C, têm contribuído para o aumento de consumo de produtos em geral, como alimentos e bebidas. Eles estão tomando mais café, as pesquisas mostram que 97% dos brasileiros acima dos 15 anos tomam café diariamente, isso é um número muito elevado se comparado com os EUA, onde 58% da população bebe café", diz Nathan Herszkowicz, diretor da Abic.

Em entrevista à revista Síntese Agropecuária, Nathan Herszkowicz fala sobre oferta, preços, qualidade e as tendências para os próximos meses, anos.

Síntese Agropecuária: Alguns analistas do mercado apostam que vai faltar café nesta safra. Qual é a sua avaliação?

Nathan Herszkowicz: Não deve faltar café. Existia o risco de falta de café no final deste primeiro semestre, que coincide com o pico da entressafra. Os estoques físicos de café em armazéns privados e do governo estão em níveis baixos, os mais baixos das últimas décadas, mas a safra brasileira, que está sendo colhida agora, deve ser recorde, entre 49 e 50 milhões de sacas, ou seja, safra grande nunca é sinal de falta de produto. Acontece que a exportação brasileira de grão verde e de café solúvel tem crescido ano a ano. Nos últimos 12 meses, ficou em 32 milhões de sacas, e é provável que este número se repita ou que aumente, enquanto o consumo interno de café está em crescimento, e deve subir em torno de 6 ou 7% este ano, atingindo seguramente 19 milhões de sacas este ano. A soma de 32 milhões com 19 milhões dá 51 milhões, praticamente o número previsto para safra de café.

S.A.: Os preços estão estáveis?

N.H.: Estão estáveis. Os preços para o produtor estão um pouco acima do nível mínimo decidido pela CONAB, R$ 261,00 a saca. Como nós estamos na época de inverno, e o mundo ainda se assusta com o risco de geadas no Brasil, vivemos uma época de volatilidade. Mas é preciso lembrar que o café migrou para fora da região da geada. A última geada que houve no Paraná praticamente não afetou os preços. O Paraná hoje tem uma participação em torno de 4 a 5% de toda a safra brasileira. Ou seja, o frio é mais o efeito remanescente e psicológico do que real. Não devemos ter problemas com geada.

S.A.: Quais são as causa do forte crescimento do consumo interno?

N.H.: Há uma combinação de motivos. Sem dúvida, a melhora do poder aquisitivo, com migração dos consumidores mais pobres para a classe C, tem contribuído para o aumento de consumo de produtos em geral, como alimentos e bebidas. Eles estão tomando mais café, as pesquisas mostram que 97% dos brasileiros acima dos 15 anos tomam café diariamente, isso é um número muito elevado se comparado com os EUA, onde 58% da população bebe café.

S.A.: E nós também melhoramos o nosso café. Estamos tomando um café de qualidade superior.

N.H.: Este é o segundo motivo, a melhoria da qualidade do café oferecido ao consumidor. E além de beber mais café, os consumidores bebem tipos de cafés diferentes. Começam com café filtrado, puro ou com leite, pingado com pão e manteiga na chapa na padaria, que é uma instituição nacional, e prosseguem com café expresso, que hoje é muito comum em padarias, bares, restaurantes, nas máquinas nas empresas. Também tem o capuccino, ou seja, a forma de beber café tem melhorado no Brasil.

S.A.: O que precisava melhorar também são os baristas das cafeterias, que ainda não sabem servir alguns tipos de café, como o café curto.

N.H.: Este é um problema mundial, não só no Brasil. As pessoas não têm a cultura adequada da correta preparação do café. Portanto, o Sindicato da Indústria de Café de São Paulo, em 1996, 14 anos atrás, inaugurou um centro de treinamento e capacitação chamado Centro de Preparação de Café, cujo objetivo era exatamente ensinar as pessoas a fazer o café direito. Não deixar a água ferver, não misturar o açúcar na água, saber o que é um espresso curto, normal ou carioca, fazer um drink de café. As pessoas não sabem fazer isso, e a solução para isso é a educação, oferecer cursos e treinamentos, isso acontece não só no Centro de Capacitação em São Paulo, mas em inúmeras cafeterias que hoje oferecem também treinamentos. Vamos formando um exército de baristas e de jovens, que entende mais sobre café e consegue nos servir um café melhor. Hoje, nós bebemos um café muito melhor do que bebíamos há dez anos. A qualidade do grão melhorou muito. A cafeicultura brasileira hoje ocupa espaço no mercado mundial, onde antes existiam somente os cafezinhos da América Central. Agora, os cafés brasileiros ocupam esta parte do mercado, por causa da qualidade.

S.A.: Qual a tendência? Hoje em dia você senta para tomar um café no Otávio's e é maravilhoso. O que vai acontecer com o café, vai ser como vinho. O preço vai subir?

N.H.: O café é uma bebida fantástica, fabulosa, ela é complexa. Infinitas combinações podem fazer gostos, sabores, fragrâncias diferentes em cada café que você toma. E o Brasil tem regiões produtoras de café completamente diferentes umas das outras. O café segue a mesma trilha do vinho, os cafés tradicionais, como o vinho de mesa, que têm uma qualidade razoável e preços mais baixos até os vinhos finos, que são os nossos cafés gourmets, raros, excelentes, de altíssima qualidade que conferem um prazer fantástico quando a pessoa tem oportunidade de provar. A tendência é continuar este consumo ampliado de cafés, formas diferentes de consumir café, as pessoas bebendo mais café, porque inclusive faz bem à saúde, os benefícios são comprovados, até essa ampliação do consumo de café de alta qualidade, gourmet, porque cresce o número de cafeterias. Hoje, de cada dez restaurantes, dez têm máquinas de café para servir um bom café no final das refeições, de maneira que o futuro nos traz uma ampliação crescente do consumo de café tradicional, o melhor da qualidade e um aumento anual e consistente do consumo de café de alta qualidade.

S.A.: Voltando ao café top. Hoje uma xícara varia entre R$ 1,50 até quanto? Qual o máximo de preço numa cafeteria de luxo?

N.H.: Os cafés normais, muito bons, que estão à venda em cafeterias altamente sofisticadas, chegam a custar R$ 6,50, mas algumas destas casas de café vendem uma edição limitada, pouca quantidade de xícaras de cafés premiados e excepcionais que podem chegar a R$ 25 por xícara. A xícara mais cara do mundo é servida em Londres, café que provém da Indonésia, muito raro. Ele é resultado de uma espécie de animal, gato, que come os frutos de café puros, depois digere e expele e as pessoas recolhem o que ele defecou, higienizam e transformam num café que tem pouca produção anual e dizem que é um café diferente, sofisticado e por isso custa 30 euros por xícara. Este é o universo do café especial, sem limite, sofisticado, que pode atingir sabores e bolsos e valores absolutamente inesperados. No mercado normal, aqui em São Paulo, na prateleira, os cafés tradicionais custam em média R$ 5 por pacote de 500 gramas. E os cafés gourmets chegam a custar R$ 35 por quilo, já aí existe uma diferença gritante e mesmo assim os cafés gourmets têm uma demanda crescente, têm público que gosta, que não se importa com preço e que consome pelo prazer.

S.A.: Nós já estamos vendendo café para a China ?

N.H.: Existem algumas cafeterias brasileiras na China, mas ainda é um movimento muito recente e pequeno pelo tamanho do mercado chinês e asiático em geral. Nós temos casos de café brasileiro no Japão, na Coreia do Sul e na China, mas são mercados novos, e a iniciativa brasileira é muito recente, tem só dois anos.

S.A.: São mercados difíceis. Eles preferem o chá.

N.H.: É difícil porque são as terras do chá, então para fazer as pessoas migrarem do chá para o café é preciso desenvolver o hábito, o gosto, a forma de preparo, que é diferente do chá. O café precisa de um coador, chaleira, água quente, e muitas vezes esses países não têm nem equipamento para preparo, portanto é um pouco mais difícil, mas está acontecendo. O bom é que nesses países, o café tem para o consumidor a percepção de que é a bebida moderna, diferente do chá que é antiga, os homens gostam do café porque é moderno beber café, por isso o consumo de café nesses países é impulsionado pelos homens e aí a coisa vai em frente.

S.A.: O produtor continua reclamando. Diz que o café não paga as despesas de produção?

N.H.: Isso é verdade. Os preços do café não tem sido compensadores para uma parte da cafeicultura brasileira, isso porque se você analisar qualquer estatística você vai ver que os preços da saca de café praticamente não subiram nos últimos cinco anos. O aumento foi entre 5 e 8% apenas. Nesses cinco anos, a inflação subiu muito mais e os custos de mão-de-obra, de defensivos explodiram. Os custos aumentando e o preço da saca não subindo, inclusive por causa do câmbio, o real valorizado em relação ao dólar, fazem com que, mesmo que a cotação lá fora aumente, os preços em reais recebidos pelo produtor na venda da saca continuam os mesmos. Essa combinação não dá certo: preço de venda fixo, e custo aumentando significa cada vez mais lucro menor. É isso que o produtor e a indústria reclamam. O problema para a indústria de café é que os preços nas prateleiras são os mesmos de quatro ou cinco anos atrás, não mudaram. O café ficou uma bebida muito acessível e barata para o consumidor.

S.A.: Por que o custo de produção de café é tão alto? Por causa da mão-de-obra?

N.H.: O principal componente do custo é mão-de-obra, que representa praticamente 50% do custo. É colheita manual. Quando a colheita é mecânica há uma compensação de custos, mas nas regiões de montanha, por exemplo: zona da mata de Minas, sul de Minas, Espírito Santo, a colheita ainda é manual.

S.A.: O café de qualidade hoje vem principalmente dos cerrados.

N.H.: A grande produção vem de Minas, 50%, e metade disso vem do sul de Minas, que produz mais do que os cerrados, mineiro e goiano. E hoje também o Espírito Santo, que produz 25% da safra brasileira, é o segundo maior estado produtor.

S.A.: Por que a Colômbia ainda é mais famosa que o Brasil?

N.H.: Porque investiu muito em marketing durante 30 anos, enquanto o Brasil não investiu em nada. Quando você está fora do marketing, está fora da publicidade e o público te esquece. Eles foram competentes, é verdade, na questão da qualidade. Os cafés colombianos tinham qualidade na década de 80 e começo da década de 90, uma qualidade diferenciada com relação ao café brasileiro. Somente depois que a cafeicultura brasileira acordou para a questão da qualidade é que hoje nós podemos ter cafés iguais ou melhores do que os deles. Mas sobrou a percepção que foi o resultado de um investimento competente em marketing e promoção.

As informações são da Síntese Agropecuária, adaptadas pela Equipe CaféPoint.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe CaféPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do CaféPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

CaféPoint Logo MilkPoint Ventures