Por Thais Fernandes
Os problemas climáticos que atingiram as lavouras cafeeiras em 2014 chegaram primeiro a ponta produtora da cadeia, mas o setor já avalia quais serão os impactos disso nas demais frentes em 2015.
Para falar sobre as expectativas cafeeiras para o próximo ano do ponto de vista da indústria, o CaféPoint conversou com Américo Sato, atual presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), entidade criada em 1973 e que desenvolve um trabalho que integra indústrias, varejo e pontos de consumo. Além do papel na instituição, Américo também é sócio da Indústria e comércio Café Floresta, empresa de São Paulo. Confira a entrevista, na íntegra:
CaféPoint - Em agosto de 2014, a Abic informou ao CaféPoint que o consumo nacional deveria alcançar 1,03 milhão de toneladas de café industrializado em 2014. Esse número segue como estimativa da Abic para este ano?
Américo Sato - De acordo com dados da Nielsen, o consumo nacional de café cresceu 4% em volume, no período de outubro de 2013 a outubro de 2014. Levantamento feito pela Abic também indica que o consumo nacional vai crescer, podendo até superar a taxa da Nielsen, quando forem computados os dados finais deste ano da entidade. Com esse avanço da demanda, o Brasil deverá terminar o ano com o consumo de 21 milhões de sacas de café.
CaféPoint - De que forma a seca de 2014 atingiu a cadeia cafeeira industrial, no Brasil? E como a quebra de produção na safra 2014/2015 será sentida pelo consumidor, se é que já não está sendo sentida? Já podemos falar de um aumento no valor do produto final nas gôndolas? Quantos % a mais?
Américo - A seca interferiu na qualidade em algumas regiões produtoras. Mas o maior problema deverá ocorrer no próximo ano, cuja safra ainda é uma incógnita. Os estoques serão menores e a indústria vai contar com suprimento mais apertado. Prevemos alta de preços já nos primeiros meses de 2015.
CaféPoint - Ainda em agosto de 2014, a Abic informou que o consumo dos cafés de qualidade tem tido desempenho superior ao próprio consumo geral. A expectativa era de que em 2014, a parcela de cafés gourmet tivesse incremento de 15% no País. Até aqui, a projeção se confirmou?
Américo – O consumo fora do lar em crescimento, inovações com a aceitação crescente de monodoses e cápsulas, novos players nesse mercado e o avanço da preparação de cafés gourmet no lar, tudo tem contribuído para o crescimento desse segmento, que ainda é uma parcela menor no grande consumo de massa, mas que evolui bastante a cada ano. A projeção deve se confirmar.
CaféPoint - Qual o impacto que problemas climáticos como o de 2014 devem ter sobre a indústria nacional? Na sua avaliação, qual a influência disso na industrialização de cafés de qualidade superior?
Américo - Não houve impacto negativo na qualidade como resultado da seca. O mercado continuou a operar em regime de volatilidade alta, preços com suporte no nível atual, e muitas regiões produzindo cafés de excelente qualidade, apesar da seca. O PQC – Programa de Qualidade do Café da Abic continua certificando e monitorando cafés de qualidade superior, sem registrar problemas. No PQC, que monitora cerca de 560 marcas, nos três níveis de qualidade, há 130 marcas de cafés Superiores e 155 marcas de cafés Gourmet, que mantiveram sua qualidade ao longo do ano 2014, segundo as análises feitas nos laboratórios especializados.
CaféPoint - Por fim, qual a sua expectativa para o consumo de café no Brasil em 2015, ele deve continuar a crescer? E o café especial?
Américo - A Abic mantém expectativa de crescimento entre 3% e 4% em 2015, segundo pesquisas da Nielsen que apontam intenção do brasileiro continuar consumindo café diariamente. Além disso, a Abic está promovendo o consumo através de campanha de marketing, que vem impactando milhões de consumidores, e pode continuar a fazê-lo em 2015. Os cafés gourmet e especiais devem manter seu ritmo de aceitação e crescimento em 2015.