Comentário Semanal - de 20 a 24 de julho de 2009

A bolsa americana negocia no nível mais alto desde novembro de 2008, quando Obama disputava as eleições dos Estados Unidos. O Dow Jones está acima de 9000 pontos, o S&P quase tocando 1000, e mesmo as bolsas européias todas trabalham no "azul" depois da forte queda vista no começo de 2009. Mercados emergentes são o destaque, com o Brasil acumulando ganhos de incríveis 77% até agora.

Uma nova onda de alocação de recursos em ativos de risco tomou conta dos mercados na última semana impulsionada pelos resultados melhores do que o esperado para a maior parte das empresas que compõe o índice S&P500. Nada menos que 74% empresas bateram (para melhor) as expectativas dos analistas.

A queda do inventário de imóveis disponíveis à venda nos EUA também deu um empurrãozinho para a melhora do humor, embora haja casas suficientes para atender a demanda de 9.4 meses no país, assumindo que o ritmo de compra continue igual. Apenas para referência o nível que demonstra estabilização de preços dos imóveis é de 7 meses de "abastecimento de casas".

Bem, o que importa é que os investidores estão animados (até quando, não se sabe) e como estão com menos medo, o dólar americano se desvalorizou e os ativos de risco se valorizaram, incluindo, claro, as commodities. O café pegou carona, para alívio dos comprados, e subiu significativos US$ 6.94/saca em Nova Iorque, US$ 5.15/saca em São Paulo e US$ 1.38/saca em Londres.

Apesar da performance positiva, o caminho foi tortuoso já que na quarta-feira NY escorregou 6.15 cents/lb para fechar com uma queda de 2.40 cents e na quinta teve um intervalo de negociação de mais de 5.00 cts. A volatilidade alta no "intra-day" (preços negociados no mesmo dia) se deve a distância de interesses de compra e venda dos participantes "naturais, como as origens e as indústrias torrefadoras. Compradores se interessam pelo mercado a níveis próximos de 115.00 cts enquanto as origens não se mostraram muito animadas mesmo com a ICE negociando acima de 125.00 cts na quinta e na sexta.

Fundos e especuladores dominaram a movimentação, com alguns deles que estavam vendidos cobrindo suas posições e outros montando novas posições compradas em função do cenário mais otimista.

Além dos fundos comprando e do dólar enfraquecendo, o mercado se mostrou leve em termos de pressão vendedora dos produtores. Com a escassez de cafés suaves, que só deve se normalizar a partir de outubro, e estando o Brasil, que potencialmente seria o grande vendedor do momento, retraído em função do sucesso de planos de ajuda como o programa de opções e do clima chuvoso, o mercado tem potencial de subir um pouco mais.

A conversa de qualidade prejudicada em função das chuvas aumenta no Brasil. Tudo o que não precisa acontecer no momento é se perder mais café de qualidade no mundo, principalmente por que o Brasil vinha ganhando espaço nesta área. Porém se a chuva de fato estragar ainda mais a qualidade, junto com o governo potencialmente recebendo 3 milhões de sacas de cafés bons - assumindo o exercício das opções pelos produtores - e eventualmente lançando um programa de Aquisição do Governo Federal (AGF), a coisa vai ficar complicada. O ministro da agricultura brasileiro deu a entender em uma entrevista que pode preparar mais programas de apoio a preços e alguns comentam que o governo poderá retirar mais café do mercado.

Se isto acontecer aqueles que estão vendidos diferenciais com bastante desconto vão se machucar bem. Lembramos que muito café da safra nova foi vendido entre 22 e 29 cts/lb de desconto, e que não foram todos que se protegeram comprando a arbitragem - comprando SP e vendendo NY. Pior para aqueles que venderam café semi-lavado ou lavado, cujo maior volume vem da Zona da Mata mineira, área onde as chuvas tem sido mais frequentes provocando a produção de cafés de bebida fraca.

A semana que se inicia marca o fim das férias no hemisfério norte e logo os importadores estarão de volta ao mercado para cobrir suas necessidades para o inverno. O sinal de firmeza dos diferenciais podem fazer com que o mercado futuro consiga consolidar acima de 120.00 cents desenhando um novo intervalo de preços a ser negociado, entre 120 e 130 cents. Se a economia mundial não sofrer uma nova deterioração, mais dinheiro pode voltar para as commodities e finalmente podemos esperar preços melhores, o que deve ajudar a alargar o diferencial para reposição. Será suficiente para cobrir os livros a preços mais baixos do se andou vendendo por aí?

As volatilidades implícitas nas opções estão atrativas para comprar proteção de preço, e neste momento tudo indica que é melhor proteger as posições vendidas, ou seja comprar estratégias de alta.

Tenham todos uma ótima semana e muitos bons negócios.

Obs.: este relatório, preparado pela Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda, é divulgado somente com o objetivo de prover informações e não representa, em nenhuma hipótese, uma oferta de compra e venda ou solicitação de compra e venda de qualquer instrumento financeiro ou serviço. As informações contidas neste relatório são consideradas confiáveis na data na qual este relatório foi publicado. Entretanto, as informações aqui contidas não representam por parte da Archer Consulting garantia de exatidão das informações prestadas ou julgamento sobre a qualidade das mesmas, e não devem ser consideradas como tal. As opiniões contidas neste relatório são baseadas em julgamentos e estimativas, estando, portanto, sujeitas a mudança.