A imigração pioneira
Foi em busca do sonho cafeeiro, que 781 japoneses desembarcaram no porto de Santos, do navio Kasato Maru, no dia 18 de junho de 1908. Abrigados na Hospedaria de Imigrantes, em São Paulo, foram aos poucos conduzidos às fazendas de café. Antes disso, no final do século XIX, o café também havia sido o motivador de iniciativas de imigração japonesa, com a viagem cancelada na última hora em virtude da crise que enfrentava o produto e que perduraria até 1906. Com a retomada do mercado, em 1907, o governo brasileiro publica a Lei da Imigração e Colonização, permitindo que cada Estado definisse a forma mais conveniente de receber e instalar os imigrantes.
O Estado de São Paulo firma então um acordo para a introdução de três mil imigrantes japoneses num período de três anos. Foi desta iniciativa que hoje o Brasil concentra a maior comunidade nipônica fora do Japão. Contudo, nas fazendas cafeeiras, os imigrantes de costumes tão diferentes sofreram um duro período de adaptação. Aos poucos, os conflitos entre trabalhadores japoneses e colonos brasileiros foram diminuindo, as lavouras prosperaram e foram incentivadas novas imigrações. Através de um sistema de parceria com o fazendeiro, muitos japoneses conseguiram comprar seus primeiros pedaços de terra. Tal ascenção social no Brasil resultou, para a grande maioria dos imigrantes, a permanência definitiva no páis.
O Japão é o quarto maior mercado consumidor de cafés do Brasil, adquirindo mais de dois milhões de sacas de café por ano. A primeira remessa ocorreu também há 100 anos, com registro de embarque de aproximadamente 600 sacas de café para o Japão. Depois da imigração pioneira, a influência japonesa pode ser vista em importantes regiões produtoras, no trabalho organizado de seus descendentes e na perseverança para condução de estudos e pesquisas.
Contribuições à pesquisa
Masako Toma Braghini, bolsista do CBP&D/Café ligada ao IAC, é uma imigrante que chegou ao Brasil em 1961, ainda menina, acompanhando a família no sonho de conquistas no grande continente. Parte da família já estava instalada em Campinas, com investimentos na produção hortícola. Assim como o café foi o grande motivador da primeira grande imigração, o produto também despertava o interesse dos jovens que se formavam no Brasil. Conhecida entre seus pares por Mako, formou-se em Biologia em 1979 e integrou a grande equipe de pesquisadores contra a temerosa ferrugem do cafeeiro.
Bolsista do Consórcio (CBP&D/Café) desde sua fundação, ela empresta suas características nipônicas de persistência e organização aos programas de melhoramento genético do cafeeiro, coordenados por Luiz Carlos Fazuoli, diretor do Centro de Café 'Alcides Carvalho', do IAC. Atualmente focaliza a linha de pesquisa no melhoramento visando à qualidade do café e resistência à ferrugem. Com forte tradição familiar, já contagiou a filha, também bióloga, nos estudos sobre a composição química do café. Mako também recebe os japoneses em suas visitas cada vez mais freqüentes ao Centro de Café para conhecer as tecnologias e variedades brasileiras. E acrescenta: "Acredito que o consumo no Japão vai aumentar. O café está em moda por lá".
Também pesquisador do IAC, Emílio Sakai é descendente de japoneses que imigraram para o Brasil após a I Guerra Mundial. Desde 1998, desenvolve estudos financiados pelo CBP&D/Café, na área de irrigação e drenagem. Com a perseverança característica de seus antecedentes, busca o desenvolvimento de tecnologias de fertirrigação do cafeeiro visando uma atividade mais econômica e sustentável.
Masako Toma Braghini, pesquisadora do IAC