Em palestra na Ficafé, Nathan falou sobre o milagre da qualidade, que aumenta o consumo de café e permite ajuste no preço do produto. Entretanto, Nathan admitiu que o agronegócio café no Brasil vive um paradoxo: "produzimos mais, com maior qualidade, temos o consumo interno que mais cresce no mundo. Por outro lado, o preço pago pelo café a produtores e indústrias não melhorou, está estagnado há no mínimo 4 ou 5 anos", desabafou.
De acordo com o diretor-executivo da Abic, uma alternativa para inverter esta situação seria aumentar o consumo de café e melhorar sua qualidade, agregando valor. "É exatamente isso que a Abic vem priorizando. Todas as ações contra cafés de má qualidade do Ministério Público e Vigilância Sanitária são motivadas por denúncias da Abic", disse.
Nathan pediu uma salva de palmas para o café, que venceu a crise. Segundo ele, o consumo no Brasil segue aumentando em ritmo satisfatório e quase 60% das sacas de café que a indústria compra estão dentro do programa de qualidade da Abic, uma adesão voluntária das empresas. "A agregação de valor em cafés envolve três etapas: qualidade, diferenciação e inovação. Há 10 anos não havia oferta de café de qualidade no mercado. Com o Programa de Qualidade da Abic, hoje 50% dos cafés do programa são considerado "tradicional", 25% "superior" e 25% "gourmet", concluiu.
Oportunidades
De acordo com Carlos Brando, consultor da P&A Marketing, a crise está trazendo oportunidades interessantes para a cafeicultura, mas por outro lado, uma pressão negativa. Explica: o poder de varejo continua crescendo, absorvendo uma parte maior do mercado, o que força todo mundo a baixar o preço do café. Por outro lado, o consumo de café está aumentando. "Quem irá suprir a nova demanda? Arábica ou conilon?", indaga.
"Há três polos dinâmicos hoje no mundo, que podem aumentar oferta de café: o Brasil, com o conilon; o Vietnã, com robusta; e a Colômbia, com arábica. A expansão do conilon no Brasil se dará nas atuais regiões produtoras, Espírito Santo e Rondônia, Leste de Minas, Oeste de São Paulo e até mesmo no Vale do São Francisco, na Bahia", apresentou.
"O Vietnã produz 20 milhões de sacas, mas pode chegar a 25 ou até 30 milhões, pois tem custo baixo de produção e apoio governamental muito grande. A Colômbia teve quebra de produção este ano por problemas climáticos, falta de fertilizantes e consequências do programa de renovação das lavouras, mas pode aumentar sua oferta. E a produção de arábica no Brasil? Será preciso uma reengenharia da produção, pois o desafio neste caso é mais gerencial que tecnológico", afirma.
"O arábica pode crescer no Peru, que mais que dobrou a produção de café nos últimos dez anos, e na Índia, cujos cafés podem substituir os brasileiros. A política cafeeira no Brasil está voltada para o passado, é preciso mudar. A América Central promove sua origem, aproveita as certificações. O Brasil oferece o maior volume de cafés certificados e sustentáveis 4C e Utz Certified do mundo, mas não faz marketing suficiente", admite. "Os cafés diferenciais refletem qualidade, disponibilidade no mercado e marketing. Há 14 regiões produtoras de café no Brasil, mas será que o mundo sabe disso? Será que o brasileiro sabe disso?"
Segundo Carlos Brando, a marca "Café do Cerrado", que tem o único selo de origem de café do Brasil, envolve 55 municípios, 155 mil ha de lavouras e 3500 cafeicultores. Em contraste, o Norte Pioneiro envolve 45 municípios e 7500 pequenos cafeicultores, numa área bem menor, o que também abre oportunidade para a região de explorar as vantagens do selo FairTrade ou Comércio Justo.
Para Paulo Henrique M. Vicente Leme, também da P&A Marketing, são inimigos do produtor brasileiro o alto custo de produção, tanto de insumos como mão-de-obra, com tendência de aumentar cada vez mais, principalmente nas regiões montanhosas, e para o médio produtor; e o uso irracional de insumos, principalmente da água, o bem mais precioso que existe. "A irrigação corta o efeito cumulativo da seca, promove saltos de produtividade, além de permitir a fertirrigação", contempla.
Paulo insiste no gerenciamento da propriedade, viável com organização, planejamento e controle financeiro. "Para inovar é preciso mudar. A tecnologia já existe, está aí. O gerenciamento é igual a menor custo, maior produtividade e maior lucratividade", conclui.
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Equipe CaféPoint