A partir de 2006, o documento ficou mais completo e estruturado. Isso porque a empresa passou a adotar as diretrizes internacionais da Global Reporting Initiative (GRI) para a elaboração de seus relatórios financeiros, sociais e de sustentabilidade.
Os protocolos do modelo GRI estão entre os mais conhecidos e aceitos no mundo. O relatório oferece informações completas sobre o perfil das empresas, traz indicadores de produção, mercado e como as práticas sustentáveis vêm sendo trabalhadas em todas as áreas e ações de uma companhia.
No caso de uma indústria de alimentos, por exemplo, são levantadas informações sobre segurança dos produtos, destinação de resíduos, transparência dos ingredientes, acessibilidade dos alimentos, uso de embalagens e origem das matérias-primas, controle sobre as práticas sustentáveis dos fornecedores, condições de trabalho, impacto social e muitos outros.
Para Michel Santos, gerente de sustentabilidade para a Bunge no Brasil, de 2006 para cá muitas mudanças aconteceram e a adoção do GRI contribuiu para isso. “Hoje somos uma empresa muito melhor, temos um posicionamento mais claro e nossos colaboradores têm consciência do nosso papel no mercado”, diz.
A primeira empresa brasileira a adotar o modelo GRI em seus relatórios de sustentabilidade foi a Natura, em 2001. A partir daí, o número de companhias brasileiras que passou a integrar esse grupo cresceu de maneira exponencial. Atualmente, já são cerca de 150, de variados setores.
No âmbito do agro e do segmento de alimentos, além da Bunge, Unilever, JBS e BRFoods são exemplos de empresas que já utilizam o relatório GRI. “É a maneira mais eficaz de mostrar aos mercados internacionais como estamos trabalhando a sustentabilidade em nossas atividades no Brasil”, explica Souza.
Acesso ao crédito
Seja no mercado externo ou interno, a adoção de pactos e metodologias para reportar a sustentabilidade pesam e muito na hora de as empresas terem acesso a créditos e financiamentos. “Nos últimos cinco anos, há uma mudança gradual nos bancos, que consideram a sustentabilidade um fator decisivo na hora de avaliar pedidos de créditos. Por outro lado, os clientes também nos avaliam na hora de escolher um banco”, explica Denise Hills, superintendente de sustentabilidade do Itaú Unibanco.
Ela explica que o resultado financeiro deixou de ser a única coisa que importa na aprovação de um crédito ou negociação. Hoje, ao estudar a concessão de crédito os bancos avaliam muito bem os aspectos sustentáveis da empresa, o que acaba tendo peso considerável na aprovação ou não do pedido. “As empresas que já tem práticas sustentáveis consolidadas, têm mais facilidade no acesso ao capital e com preços melhores”, diz Hills.
O outro lado
Não só as empresas e instituições financeiras estão atentas às práticas sustentáveis. Cada vez mais, as pessoas voltam atenções para o assunto. Hills conta que aos poucos, alguns clientes pessoas físicas já começam a questionar sobre a destinação de seus investimentos e buscam saber se o dinheiro que aplicam em fundos ou previdência está indo para empresas socialmente responsáveis. “O que percebemos como indivíduos, nós levamos para o trabalho e para o mercado, não dá pra separar esses valores”, explica.
Na opinião da economista Maria Eugênia Buosi, essa mudança da mentalidade também já é percebida no consumo de varejo. Ela cita os casos de denúncias sobre uso de trabalho análogo à escravidão em confecções terceirizadas que produziam peças de roupas para lojas e marcas famosas. “Além de prejudicar a imagem, o quanto essas empresas não perderam em vendas, pelo menos por um período? Isso impacta diretamente na relação com investidores também”, diz.
Souza considera fundamental reportar as ações e o trabalho da empresa com o máximo de transparência ao mercado e à sociedade, já que isso gera uma aproximação maior com investidores e consumidores, que passam a dar ainda mais crédito para a companhia. “Quando uma empresa atua desde o campo até a mesa, como é o caso da Bunge, a exposição na sociedade é muito maior. E a responsabilidade também”, diz.