Na época do manifesto do movimento SOS Cafeicultura, de cujos pleitos tenho plena consciência, pois entendo a necessidade de solução ao que foi solicitado, não havia compreendido, tendo até mesmo criticado firmemente, o fato de alguns usarem o "nariz de Palhaço". Achei tal atitude indigna a produtores de café ou a qualquer outro que não fosse profissional de circo.

Rotular-se como palhaço, fora do picadeiro, fere a dignidade profissional. Mas, infelizmente muitos assim se consideraram. Hoje, percebo que me enganei e não apenas o nariz deveria ser usado, mas sim toda a fantasia, por estarem se passando por palhaços. A seguir, gostaria de transcrever alguns trechos da notícia "MP eleitoral acusa ABIC entre 15 empresas e associações de doação ilegal", de autoria de Luciana Nunes Leal, publicada pela Agência Estado:

"RIO - Além da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), 15 empresas e associações foram denunciadas pelo Ministério Público Eleitoral do Rio por terem ultrapassado em pelo menos R$ 100 mil o limite legal para doações a candidatos nas eleições de 2006. As ações estão no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e, se condenados, os doadores terão de pagar multas de cinco a dez vezes o valor excedente. (...)

A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) doou R$ 332 mil em 2006. Entre os que receberam doações está o deputado peemedebista Silas Brasileiro (MG), com R$ 70 mil. Ele ocupou até abril deste ano a secretaria-executiva do Ministério da Agricultura. No Parlamento, é um importante interlocutor dos produtores de café, assim como o petista Odair Cunha (MG), que recebeu R$ 40 mil da Abic. (...)"

Este fato é extremamente grave e comprometedor. O Deputado Federal Silas Brasileiro, intitulado e considerado pelos representantes dos cafeicultores como articulador e defensor dos legítimos pleitos da atividade produtiva cafeeira fica potencialmente comprometido com tal denúncia, por colocar em dúvida sua isenção para com os demais segmentos relacionados ao agronegócio café.

Será que os cafeicultores preferem acreditar que os interesses da ABIC sejam os mesmos que os seus? Acreditariam possuir os mesmos propósitos? Se algum cafeicultor, ou representatividade pensar assim, seria mais que simples ingenuidade.

Observando ter o referido deputado ocupado recentemente o cargo de secretário executivo do MAPA e sob sua gestão ter sido criada a Agenda Estratégica do Agronegócio Café, coloca sob suspeição o conteúdo da mesma no que se refere a benefícios diretamente relacionados à atividade produtiva, devendo esta ser impugnada ou desconsiderada, entre outras ações e proposições passadas e presentes.

O Deputado Odair Cunha, na condição de interlocutor dos produtores de café, também fica comprometido com tal denúncia sob os aspectos de isenção em defesa dos interesses dos cafeicultores e até mesmo da atividade produtiva cafeeira. Após estas gravíssimas denúncias, os deputados citados deverão mais do que esclarecimentos prestar aos cafeicultores, pois o comprometimento dos mesmos para com a indústria de café se caracterizou.

Existiriam esclarecimentos justificáveis? Havendo ou não, logo terão a oportunidade de comprovarem suas reais intenções para com a atividade produtiva cafeeira, contrariamente a outros interesses. Chega deste conceito do vale tudo, existem leis, princípios e regras, que necessitam ser cumpridos. Seria esta uma das surpresas contidas na caixa preta da cafeicultura?

Teria sido esta uma das justificativas aos produtores terem usado o nariz de palhaço?
Necessitariam os cafeicultores vestir toda a fantasia de palhaço, para não apenas aplaudir este tipo de espetáculo, mas sendo os próprios palhaços deste circo macabro? Não bastaria se considerarem palhaços e ainda desejariam se comportar como tal? Seria esta a rotulação que desejam, ou seria apenas alguns que os utilizam como tal, para assim manterem o circo em funcionamento?

Até quando e quantas surpresas mais sairão desta caixa preta? Passou da hora de darem um basta nisto tudo e resgatarem a condição básica de dignidade, princípios, ética e moral, se refazendo das constantes espoliações a que são submetidos.