ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Brasil de vários cafés e exemplos

POR RODRIGO CASCALLES

ESPAÇO ABERTO

EM 25/07/2008

3 MIN DE LEITURA

0
0
Tenho viajado por muitos lugares, divulgando a certificação Rainforest Alliance. O mais interessante são as muitas histórias que ouvi, além de exemplos de criatividade para solucionar problemas envolvendo a cultura do café. A intenção deste artigo é apenas dividir algumas atitudes que me marcaram, sem mais pretensões. Portanto, não citarei onde, quando, nem com quem ocorreram.

Uma delas envolve um projeto de desenvolvimento regional que proporcionava melhores condições de vida aos cafeicultores, por meio de trabalho e oportunidades. Um programa de cultivo de espécies crioulas de milho e feijão, nas entrelinhas do café, foi criado junto a órgãos competentes de pesquisa e extensão. Muitos produtores já desenvolvem outros cultivos nas entrelinhas do café, mas a grande sacada deste caso foi buscar espécies mais rústicas, adaptadas à região. Isso possibilitou uma menor dependência de insumos externos, em tempos de alta nos preços. As sementes, neste caso, eram também multiplicadas em cada colheita e disseminadas na região. Como resultado, controle de mato, fonte de alimentos e incremento de renda.

Neste mesmo local, os funcionários públicos recebem um vale que pode ser utilizado numa feira local. Nesta feira, formada apenas por produtores regionais, estão os cafeicultores que produzem, além do café, frutas, hortaliças, condimentos, pães, manteiga, artesanatos, enfim, tudo aquilo que suas aptidões e recursos permitirem. Os baixos preços do café atingem menos esses produtores e a cidade toda ganha. A feira tomou tamanha proporção que não apenas os funcionários públicos a freqüentam, como também os demais moradores da cidade.

Em outra ocasião, um grupo de pequenos cafeicultores - média de 4 hectares cada - conseguiu apoio para construir um centro de beneficiamento comunitário. Neste local, coordenado pelo produtor mais treinado para tal função, é recebida a colheita, feita a secagem e beneficiamento do grão, que depois volta ensacado para cada sítio, onde é guardado em locais simples, porém adequados. Esta mesma comunidade, bem organizada e comprometida, recicla e vende o lixo produzido, direcionando a receita obtida para obras e compra de equipamentos para a escola local. Já conseguiram também apoio para construir uma biblioteca, alguns computadores com internet e fossas sépticas para todos. Como resultado, redução de custos pelo trabalho em conjunto, redução de doenças pela coleta do lixo e melhor qualidade de vida para a comunidade.

Estive uma vez em um sítio de 5 hectares, onde além do café e do leite produzidos, havia ali toda a sorte de plantas cultiváveis. A biodiversidade era tanta que se ouvia uma sinfonia de pássaros, atraídos para tal paraíso. Uma vida simples, sem dúvida, mas a riqueza alimentar era tanta que seu proprietário precisava ir poucas vezes à cidade comprar comida. Ao contrário, quando ia, era para vender seus diversificados excedentes. A alta dos preços dos alimentos não lhe causava dor de cabeça, enquanto seu vizinho reclamava dos preços no supermercado.

Casos de aumento de maior disponibilidade de água pela conservação de nascentes e rios também não são raros. No entanto, entre muito o que venho aprendendo em minhas viagens, se tivesse que eleger o caso mais marcante, diria que foi o de um produtor de 2 hectares de café, afastado 30 km da cidade por estrada de terra entre as montanhas, que em sua sábia humildade agradecia diariamente o pouco que possuía. Conseguiu com força de vontade e trabalho mobilizar a vizinhança, construir uma pequena igreja, uma escola e pretendia restaurar toda uma faixa de rio até a nascente, pois dizia ser a água a maior riqueza deste mundo. Já havia convencido seus vizinhos à empreitada. Sua casa era pequena, aconchegante e bem cuidada.

No fundo, o que marcou mesmo foi café oferecido, selecionado e torrado ali mesmo. Entre uma xícara e outra, ouvi o cafeicultor dizer que, longe de qualquer ilusão, não pretendia um dia se tornar um grande produtor. Ele tinha a certeza que devia fazer o melhor, trabalhar muito, não culpar ninguém por suas dificuldades, mas procurar superá-las. Ele tinha a certeza de ser feliz com o que tinha: segundo suas palavras, seguiria vivendo honestamente, junto a Deus e à natureza.

RODRIGO CASCALLES

Eng. Agrônomo (ESALQ/USP) e Executive Coach (Sociedade Brasileira de Coaching). Tem por objetivo contribuir no aumento da sustentabilidade e dos resultados positivos na agricultura.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe CaféPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do CaféPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

CaféPoint Logo MilkPoint Ventures