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Vai um Canephora?

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 27/10/2021

5 MIN DE LEITURA

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Por Celso Vegro*

Os principais cinturões produtores de arábica no Brasil foram afetados por sequência de distúrbios climáticos que combinaram: prolongado déficit hídrico (acima de 200mm.); elevadas temperaturas médias e consecutivas geadas de variadas intensidades em termos de piso mínimo de temperaturas registradas nas madrugadas e tempo de permanência sobre as lavouras.

Conjuntamente, esses fenômenos climáticos trazem diversidades de danos fenológicos para as plantas que, em geral, são apenas percebidas no definhamento da parte aérea (ramos secos, queda das folhas, encurtamento dos internódios). Entretanto, também eliminadas raízes e radicelas que, após deslocarem nutrientes e umidade armazenadas em suas estruturas vegetativas para outras partes da planta, que se encontram ainda mais estressadas são perdidas.

O reflexo sobre as plantas do efeito combinado dos distúrbios climáticos induz a prevalência de estratégias vegetativas sobre as reprodutivas, ou seja, mais brotações do que florescimento assim que ocorre a normalização das precipitações. As geadas observadas, ainda que leves e moderadas, são letais para as gemas apicais (tanto ortotrópicas como plagiotrópica) que ao dessecarem por congelamento produzem a perda de dominância, favorecendo ainda mais brotos ladrões e espalmamento nos ramos plagiotrópicos.

A repercussão desses efeitos (área foliar prejudicada, raízes menos volumosas e esgotamento de reservas armazenadas) não permite a construção de cenários otimistas para a próxima safra, mesmo reconhecendo que as imagens de floradas tragam sempre aquela sensação de abundância produtiva vindoura.

Nada mais falso! Sem contar com estimativas fiáveis sobre os danos ocasionados pela estiagem seguida por geadas nos principais cinturões de arábica do país¹ (inclusive nos talhões conduzidos sob irrigação), perspectivas conservadoras sinalizam que, aproximadamente, entre 1/4 e 1/3 do parque de arábica² terá que passar por procedimentos agronômicos que reconstituam a parte aérea (podas, erradicação com replantio, defesa fitossanitária para garantir uma recomposição sadia da parte aérea) em concomitância com o sistema radicular (adubações com dosagens maiores em número maior de parcelas).

A estrutura de governo, reconhecendo a gravidade das perdas na cafeicultura, acionou financiamento emergencial para o segmento a com recursos depositados no Funcafé destinados ao decote, esqueletamento, recepa e arranquio, totalizando R1,318 bilhão³.

Em contrapartida, os operadores do mercado de café, reagindo a um possível colapso no suprimento de produto, para os processadores no país e no exterior, promoveram uma escalada exponencial das cotações. Segundo dados do IEA, os preços recebidos pelos cafeicultores do cinturão francano incrementaram-se em 91,78% entre a média dos preços de janeiro (R$638,50/sc) e os vinte primeiros dias de outubro de 2021 (R$1.224,55/sc)4.

Tanto a sinalização dos agentes de mercado como a tempestividade da tomada de ações da esfera pública atestam, ainda que carecendo de estudos técnicos abalizados, que as perdas na cafeicultura são significativas. Levantamento efetuado pela CONAB no transcurso da estiagem, porém antes da geada (maio/21)5, estimou que a safra de arábica em pouco mais de 33,4 milhões de sacas, declinando para cerca de 30,7 milhões de sacas na estimativa seguinte (set./21)6, ou seja, concordando ou não com os números informados, o percentual de queda de 8,1% é consiste com os efeitos do déficit hídrico suportado pelas lavouras.

Torrefadores brasileiros apreensivos com a escalada de preços do suprimento agroindustrial (café verde), orquestraram boicote as compras de conilon quando em setembro de 2021 as cotações superaram os R$810,00/sc com intuito de pressionar pela redução desses preços. Essa orquestração (inédita) denota que o mercado está tenso7.

Em novembro sairá a primeira estimativa da safra 2022 contemplando todos os efeitos dos distúrbios climáticos sobre as lavouras. Caso houvesse contexto de normalidade para o andamento da safra a produção seria de ciclo de alta, que em pelos anos anteriores se situaria-entre 43 a 46 milhões de sacas de arábica.

Considerando as lavouras em primeira safra que foram mais afetadas (arranquio, elevado percentual de replantio), comparativamente as lavouras em produção, pela estiagem seguida por geadas, a perda pode ser de até 3,0 milhões de sacas para a safra 2022. Soma-se a essa perda uma redução estimada de 8,0 a 10,0 milhões de sacas, resultando das podas e arranquio de lavouras em produção em que os danos foram de moderados a severos. Assim, considerando as adversidades sofridas, pode-se desenhar um montante próximo de 30 milhões de sacas (30% inferior à média do ciclo de alta).

Os exportadores e as principais cooperativas do segmento possuem contratos negociados para entrega futura na carteira de investimentos. Podemos estabelecer que entre 10% a 15% da próxima safra já se encontra compromissada com os clientes internacionais, ou seja, algo como 3,0 a 5,0 milhões de sacas.

Não se escorrega para o exagero desenhar cenário de que a disponibilidade de arábica (livre de contratos) para atender os mercados interno e externo alcance apenas 25 milhões de sacas, ou seja, disponibilidade sumamente restrita para a dimensão do negócio no país.

As previsões de safra de canéfora (conilon + robusta) elaboradas pelas entidades privadas (exportadores, consultorias, bancos), comumente preveem produção ao redor de 20 milhões de sacas no Brasil. Nos levantamentos da CONAB mencionados (maio e setembro de 2021) há variação positiva para a oferta de conilon de 4,60%, alcançando 16,11 milhões de sacas. Para a próxima safra esse salto poderá se multiplicar, pois, com as atuais cotações para o produto, o emprego de tecnologia nas lavouras será incrementado, alçando a produção, na estimativa oficial, cerca de 18 milhões de sacas em 2022.

Aspectos exógenos a temática da oferta de grão pode mitigar parcialmente o quadro de colapso no suprimento de arábica. Primeiramente o apagão logístico que elevou em cinco vezes o custo da exportação (container e espaço nos navios)9. Tal majoração pode deslocar para o mercado interno o que antes era previsto como exportação. Em seguida o grave contexto de insegurança alimentar para o qual foram empurrados dezenas de milhões de brasileiros. Desemprego, precarização, desalento, impedem a população menos favorecida de manter seus hábitos de consumo, deparando-se com a escalada dos preços no varejo do café torrado e moído. A combinação desses dois fatores deve produzir encolhimento do mercado, ainda, que apenas marginal.

Por último, temos a retomada dos debates sobre a importação de café verde. Nossa indústria de solúvel deverá ser a primeira a se mobilizar para manter operacionais suas plantas de solubilização, pois a disputa com torrefadores pelos lotes de conilon oferecidos ao mercado será intensa. O embate dessa vez terá todo apoio governamental imbuído que está de frear a aceleração da inflação e manter nossas exportações ao menos em ritmo de crescimento similar aos anos anteriores.

Consumir café além de se tornar um hábito custoso será acompanhado uma grande novidade: blend com dominância absoluta de canephora (talvez 100%). Felizmente, os apreciadores brasileiros já habituados a consumirem 60% de canéfora no blend não terão dificuldades em abraçar essa nova bebida ...Vai um Canephora?

*Celso Luis Rodrigues Vegro - Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico do IEA - celvegro@sp.gov.br

_____

¹Cinturões com menor incidência de danos nas lavouras foram a Zona da Mata e o Centro Oeste paulista.

²Estimativa para as perdas na cafeicultura paulista pode ser consultada no artigo: https://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=15972

³Resolução CMN n 4.94, de 21 de outubro de 2021. Disponível no Diário Oficial da União de 22/1/2021, Edição 200, Seção1, pg 36. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-cmn-n-4.954-de-21-de-outubro-de-2021-353961140

4Disponível para assinantes em: https://ciagri.iea.sp.gov.br/BancoDeDados/PrecosDiarios/Recebidos Acesso em 23/10/2021.

5Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/cafe Acesso em 25/10/2021

6Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/cafe Acesso em 25/10/2021

7Ver: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/cafe/300525-producao-x-industria-apos-atingir-precos-acima-de-r-800-00-saca-cafe-conilon-recua-e-gera-impasse-entre-os-setores.html#

9Ver: https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Infraestrutura-e-Logistica/noticia/2021/10/sem-conteiner-e-frete-maritimo-caro-pior-crise-logistica-da-historia-deve-durar-anos.html

 

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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