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Revisitando as "Estatísticas" de Consumo Interno

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 01/12/2010

5 MIN DE LEITURA

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No espaço dessa coluna já houve ocasião em que pude analisar a problemática dos números envolvendo o consumo interno de café (torrado e moído, torrado em grãos e solúvel). No artigo sob o título: "O castigo da opulência", trouxe a tona divergência entre os dados levantados pela NIELSEN e os contabilizados pela ABIC, tratando por enfatizar que a diferença nas metodologias de apuração dos números era a causa, em parte, das divergências observadas. Todavia, também questionei se não poderia haver algum erro de estimativa numa das fontes uma vez que os sinais das tendências eram, naquela altura, trocados 1

A metodologia empregada ABIC na geração de suas estimativas contabiliza a quantidade processada pelas torrefadoras sócias da entidade (informados por meio de levantamentos internos) somada a industrialização efetuada pelas solubilizadoras. Esses dois componentes da equação aparentemente são os menos distorcidos, embora o procedimento declaratório utilizado possa introduzir severos vieses na estimativa. A essas duas estimativas, os técnicos da entidade agregam arbitrariamente a quantidade industrializada pelas torrefadoras não-associadas, acrescida pelo processamento ocorrido em âmbito das propriedades rurais.

O número gerado pela entidade de classe tem uma linearidade invejável. A evolução do consumo doméstico é algo que exibe trajetória ascendente quer os preços vigentes no mercado, conjunturalmente, subam ou caiam. Trata-se de uma trajetória verdadeiramente luminosa e apolínea. Excetuando-se o período novembro de 2002 a outubro de 2003, desde 1990 o consumo interno exibe expansão positiva (Figura 1).


Figura 1 - Consumo interno de café, novembro de 1990 a outubro de 2009, Brasil - Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Café2.

As estimativas da ABIC parecem que são paridas com o sacrossanto consentimento do "mercado". Desconheço analista do agronegócio café brasileiro que não utilize sem qualquer crítica tal estimativa na preparação de balanços entre a oferta e demanda visando a construção de cenários para os preços e abastecimento. Quando se percebe alguma inconsistência nos resultados obtidos, invariavelmente, o desvio somente pode vir da estimativa da previsão de safra e jamais da bendita e imaculada estimativa produzida pela associação. A adulação reverbera ainda mais quando as famigeradas metas de consumo são apresentadas para o debate como as: 15 milhões de sacas em 2000 (iniciada em 1995 se não me engano) e 20 milhões de sacas em 2010 (desencadeada por volta de 2006). A história pregressa mostra que nenhumas das previsões se concretizaram dentro do horizonte imaginado, revelando que o empenho visava exclusivamente à atração do interesse da mídia especializada, fato absolutamente legitimo em se tratando de associação de classe.

Em parceria entre PNUD/CONAB-IEA/CATI3, desenvolve-se no Estado de São Paulo o projeto de previsão de safra de café. Valendo-se de questionários estruturados, 40 agrônomos da Secretaria da Agricultura e Abastecimento efetuam entrevistas com 620 cafeicultores sorteados segundo procedimento amostral probabilístico, ou seja, como erro conhecido e possibilidade de expansão dos resultados para toda a população de cafeicultores paulistas.

No levantamento de agosto de 2010, foi deliberadamente introduzida questão sobre o autoconsumo e industrialização para a venda realizada da "porteira para dentro" nas propriedades rurais (Tabela 1).

Tabela 1 - Cópia Fax Símile da Pergunta do Questionário, Previsão de Safra de Café, Estado de São Paulo, jul.-ago./2010


Fonte: Questionário da pesquisa.

As duas questões sobre as quantidades e a relativa aos preços recebidos pelos cafeicultores (para o caso daqueles que exibiram resposta na questão 7.2), exibiram os seguintes resultados (Tabela 2).

Tabela 2 - Quantidade e valor do café autoconsumido e/ou processado comercializado pelos cafeicultores paulistas, ago.2010


Fonte: Questionário da pesquisa.

Para se aferir o grau de consistência da informação obtida pelo levantamento, efetuou-se cálculo estimado a partir da população de cafeicultores em atividade no estado. Em São Paulo, exploram comercialmente a cafeicultura 17.000 produtores. Adotando como tamanho médio das famílias quatro pessoas e que são consumidas quatro doses por dia por todos os membros da família e em todos os dias do ano, e ainda, que cada saca de café verde renda 48kg de T&M (quebra de 22% em peso) suficiente para preparar 5.000 doses, a quantidade de café necessária para suprir essa população seria de 25,4 mil sacas de café verde, ou seja, pouco mais de 5 mil sacas acima do dado obtido pela pesquisa objetiva.

Tomando-se o consumo rural dos cafeicultores paulistas como 20 mil sacas de café verde ao ano e assumindo que a produção no estado represente apenas 10% da oferta nacional do produto; o consumo rural por parte dos cafeicultores deva se situar próximo das 200 mil sacas ao ano, ou seja, 800 mil a menos do que o número adicionado na estimativa elaborada pela entidade de classe dos torrefadores.

Cinturões produtores como do cerrado baiano e na amazônia rondoniense, a dificuldade em acessos associada as nucleações urbanas ainda pouco desenvolvidas, permite-se inferir que o consumo rural por parte dos cafeicultores seja algo maior do que o contabilizado entre seus congêneres paulistas. Ainda assim, não se deve esperar saltos espetaculares no consumo dessas populações mais isoladas.

A sobre-estimativa originada no consumo rural de café T&M pode não ser caso isolado dentro do número elaborado pela ABIC. As quantidades produzidas pelas torrefadoras não associadas e os torrefadores que atuam na informalidade também são estimadas e acrescentadas ao valor global apurado. Nesse capitulo as distorções podem ser ainda maiores.

Já se tornou lugar comum o ataque histriônico aos números contabilizado pelas previsões de safra, especialmente a de café. Os "analistas" do mercado fazem suas continhas (produção, exportação, consumo, estoques) e percebem que falta café no Brasil. Buscar outras fontes de distorção está fora do script! Santa ingenuidade. Por isso estava certa minha avozinha portuguesa quando dizia: "está metade do mundo a enganar a outra metade". A pena é que só agora, mais velho, sou capaz de perceber a lucidez desse provérbio.

1Nos levantamentos declaratórios sobre desempenho industrial existe tendência para se superestimar os resultados numa tentativa de sacar uma imagem mais atraente da empresa do que aquilo que realmente está se passando.

2 disponível em www.abic.com.br

3Estudo integrante do projeto CONAB/CATI/IEA, Carta Acordo n.10.971/2010. Os autores agradecem a equipe da CATI que ativamente colabora com o êxito desse projeto. A metodologia para obtenção dos dados primários foi baseada em desenho de amostra probabilística estratificada dos informantes do Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agropecuária 2007/08 (Projeto LUPA).

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 20/12/2010

Prezado Fernando de Souza Barros Jr.
Grato pelo prestígio que concede a este escriba.
Na verdade o artigo não pretende comprar nenhum tipo de conflito. São resultados de pesquisa pública que precisam ser disponibilizados aos interessados e ao que me parece você é um deles.
Meu sonho e de uma imensa multidão é que um dia alcançarmos estatísticas confiáveis nesse país. Estou trabalhando nisso e creia ela hão de melhorar.
Abçs
Celso Vegro
FERNANDO DE SOUZA BARROS JR.

SÃO PAULO - SÃO PAULO - TRADER

EM 19/12/2010

Prezado Celso
Muito bom seu estudo!
Sabemos que a Industria além de se vangloriar pelo pseudo aumento de nosso consumo,pega as verbas lá do Funcafé, vários milhões de reais que são do produtor(com vários projetos). Agora inchando o número do consumo só ela teria condições de imaginar e ter o Estoque final de passagem. Como este estoque de passagem tambem não é verificado por conveniencia das Cooperativas e seus financiamentos a ABIC fica por cima da carne seca manipulando os números!
Exemplo: O cafecultor tem financiamentos no Banco e precisa de uma safra de 5000 sacas na árvore para o ano que vem para justificar seu crédito! Ocorre que a safra não será de 5000 e sim de 3000 e agora? A CONAB avalia a safra em 37 a 41 milhões por exemplo! Vem a ABIC diz que o consumo é crecente que é X e nada bate com nada!
Abraço e vamos em frente!
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 17/12/2010

Prezado Samuel
É sempre um prazer receber suas sugestões e comentários sobre aquilo que penso e escrevo. Saiba que é disso que vive o escriba metido a pesquisador que deste lado de cá lhe agradece.
Não sou o superhomem da cafeicultura mas tento trazer algumas contribuições para fazer com quem me leia saia da zona de conforto em que articula suas visões de mundo e do café. Penso que as vezes alcanço esse meu intento, noutras só faço atravessar.
Quanto aos suas sugestões, creio que em breve teremos tudo aquilo que precisamos para estabelecer cenários fiáveis. Eu creio na inteligência de nossas equipes de trabalho e na seriedade em que movimentam. Como os recursos começam a irrigar essas equipes o trabalho irá surpreender. Aguarde.
Abçs
Celso Vegro
SAMUEL HENRIQUE FORNARI

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 16/12/2010

Celso,

Complementando com mais uma dúvida que pode ajudar a explicar esse erro nas contas, não poderia estar nos estoques privados?? Vimos nesse segundo semestre, nesse processo de alta, vários negócios de safras anteriores, e pelos números da conab chegariamos a junho/julho com estoques extremamente baixos.

Abçs
SAMUEL HENRIQUE FORNARI

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 16/12/2010

Celso,

Excelente artigo, poucos questionam os números da Abic, pois se pegarmos as continhas como vc bem disse, com números da conab de produção e estoques, e números da Abic de consumo, ja teríamos estoques negativos(rs).. alguns anos atrás.
Pelo caminhar das exportações e se considerarmos Abic e conab veremos números furados novamente.
Por outro lado, vimos erros da ordem de 5 milhões de sacas, coisa que talvez se repita esse ano( Por isso muitas empresas trabalham com 53 milhoes, jogando o peso somente para a conab). Tenho algumas dúvidas: seria justo atribuir esses erros somente a Abic?? Estariamos consumindo só 12,4 milhôes?? Ou seria mais justo dividir esse encargo?? Creio que não, mas existe alguma possibilidade de erro nos números de exportação??
Novamente, parabéns por levantar esse tema!!!

Abçs


CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 15/12/2010

Prezado Gustavo
Leitores como você são um formidável incentivo para que este pesquisador mantenha um olhar perspicaz para com os fatos e cenas do agronegócio café. Inclusive vou sugerir a Natália que nossa administradora que mude o tal dos Relatórios Mensais para Fatos e Cenas do Negócio Café. Que tal?
Abçs
Celso Vegro
GUSTAVO VIEIRA

MINAS GERAIS - TRADER

EM 12/12/2010

Celso,

Arquivo mais um excelente artigo sobre o mercado de café para minha coleção.
Parabéns pela sua luta em desvendar alguns fatores pouco questionados pelos analistas.
Acredito que atitudes como essa possam despertar o interesse de mais pessoas em pesquisar assuntos tão sérios para a nossa cafeicultura.
Ainda é muito difícil avaliar o mercado de café com os dados que temos a disposição, por falta de credibilidade e porque não dizer por influência de interesses próprios de cada entidade.
Espero que isso melhore no futuro próximo.
Obrigado pelo artigo.

Gustavo
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 02/12/2010

Prezado Fabio Scatolin
Sua pergunta é a minha e de muitos outros também. Na verdade não temos um bom número do consumo interno e isso precisa ser objeto de investigação conduzido por instituto de pesquisa com isenção e apoiando-se em metodologia apropriada. O problema é que não existem financiadores para um estudo sério desse tema, então fica valendo o imperfeito número gerado pela ABIC.
Abçs
Celso Vegro
FABIO DORIA SCATOLIN

CURITIBA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 01/12/2010

Caro Celso
Muito bom artigo. Ajuda a responder parte das dúvidas sobre o destino da demanda de cafe brasileira e mesmo do balanço de oferta e demanda. Só faltou refazer os dados geraes de consumo interno. Qual seria o novo consumo domestico?

Prof. Fabio Scatolin

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