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Bem aventurado seja o guarda-chuvas alheio

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 15/08/2023

4 MIN DE LEITURA

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Por Celso Vegro*

Com o passar dos anos, vamos perdendo a memória de ocorrências que trouxeram gigantesco aprendizado. No agronegócio café, a mais relevante delas foi o término do Acordo Internacional do Café (AIC), celebrado em 1962 e encerrado em 1989. Ao longo desse período, os países signatários se comprometiam a exportar mediante cotas distribuídas entre os membros produtores participantes, tendo como contrapartida preços internacionais administrados pela organização dirigente do acordo. Tal arranjo funcionava mediante a participação de países consumidores que validavam os preços acordados e, com isso, todo o mercado da bebida era regulado.

A premissa por trás desse arranjo se pautava na importância de prover saldo cambial aos países produtores que os permitisse saldar as importações necessárias na pavimentação do percurso de seu desenvolvimento. Portanto, havia nesse acordo uma perspectiva bem-intencionada e legítima, ainda que por conta disso os apreciadores da bebida estivessem desembolsando mais pelo hábito de consumo do produto.

Entretanto, os preços favoráveis aos cafeicultores (e também aos governos que se beneficiavam de impostos de importação e de confiscos sobre a cotação registrada no contrato de exportação), estimularam a expansão desenfreada da lavoura em centenas de países com exponencial aumento de oferta. O Brasil, que possuía cerca de 50% do mercado mundial de café nos anos 60, foi obrigado, para manter a fidelidade dos membros do acordo as cotas estipuladas, a ceder parcelas de seu mercado aos demais países concorrentes. Em 1989, com o fim do AIC, o país detinha menos de 30% desse mercado.

Outra consequência muito danosa a manutenção do acordo foi o crescente número de países, não signatários (chamados free riders), que se aproveitavam do conluio para comercializar seu produto obtendo vantagens sem qualquer ônus na regulação de sua produção. Enfim, a tentativa de regular os preços praticados no mercado de café foi suportada exclusivamente pelo Brasil e para essa postura se cunhou o termo “abertura do guarda-chuvas”, ou seja, competia a um único país (o Brasil) arcar isoladamente com os custos da política de regulação do mercado.

O abrupto fim do AIC sem uma fase de transição causou imenso custo social aos cafeicultores. As cotações internacionais vieram na lona (abaixo de US$40,00/sc) produzindo pobreza e endividamento nos cinturões cafeeiros do Brasil e de todos os demais países produtores. Não foi a saída mais inteligente, mas vem produzindo ao longo das décadas resultados importantes.

Em primeiro lugar, o Brasil vem paulatinamente recuperando seu protagonismo no mercado internacional de café, seja nos quesitos quantidade, como de qualidade. O mercado interno também se desenvolveu muito inserindo plenamente o país na terceira onda das tendências de consumo da bebida (conquista da primeira colocação no recente campeonato mundial de baristas confirma isso). O salto tremendo na produtividade das lavouras (aproximadamente uma saca de incremento a cada três safras), as inúmeras regiões demarcadas (IG’s e DOC), o amplo acesso a produtos de alta qualidade nas redes supermercadistas e o espraiamento das cafeterias por todos os cantos do país, denotam o quão salutar foi a desregulamentação do mercado e o quanto o segmento se modernizou, preparando-se para competir em patamar que outros países sequer sonham.

Procedendo com um grande salto histórico, no primeiro semestre de 2023 observa-se um avanço exponencial das exportações de café canéfora (conilon). Relatório do comércio exportador de café aponta que nos primeiros sete meses do ano, os embarques de conilon + robusta somaram 1,26 milhão de sacas, com crescimento de 33,7% frente a igual período do ano anterior. Em realidade, a colheita mais portentosa do produto permite quantidade vigorosa para os embarques, mas para além disso outros fatores contribuem para esse melhor resultado.

O súbito aumento dos prêmios de exportação para os cafés vietnamitas e indonésios redirecionou o interesse internacional pelo produto brasileiro. Mesmo que esse interesse ainda não se reflita em mais justa remuneração ao cafeicultor, foi aberto um novo guarda-chuvas pelos concorrentes em favor daquele que sempre se prejudicou com essa política no passado.

Certamente que os preços recebidos pelos cafeicultores irão melhorar a partir dessa alavancagem inicial. A missão dos exportadores e de nossas cooperativas especializadas em conilon e robusta será em fidelizar esses clientes para com o produto brasileiro se apoiando no protocolo ESG (Ambiente, Social e Governança) que os oligopólios da torrefação firmaram em seus compromissos estratégicos tão amplamente divulgados. A oportunidade sendo bem trabalhada pelas nossas lideranças resultará em mais e melhores contratos de comercialização, favorecendo a lavoura (por meio de investimentos produtivos) e o bem-estar das famílias que na cafeicultura encontram seu meio de vida.

O Brasil reúne inteligência comercial e capacidade competitiva para se firmar como país líder também na produção de canéfora (robusta+conilon). O guarda-chuvas aberto confere um empurrão a mais para que o hub mundial em Cafés do Brasil se consolide. A concentração da produção é tendência inelutável nos mercados livres e abertos, pois, dessa forma, opera a lógica capitalista.

*Celso Luis Rodrigues Vegro é Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico do IEA.

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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