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A Retórica da Reação

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 08/06/2015

5 MIN DE LEITURA

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Em 1991, Albert Hirschman, talvez o economista mais influente na produção teórica sobre questões pertinentes ao desenvolvimento das nações retardatárias, publicou: “The Rethoric of Reaction”1 cuja hipótese consistia em compreender o estabelecimento de reações decorrentes das ações sob o pretexto de que o agir é perverso, fútil e custoso. Tal discurso de natureza conservadora/reacionária, criticada pelo autor, sedimentou bases para o neoliberalismo que se espraiou globalmente, especialmente na iberoamérica, a partir das diretrizes políticas adotadas por Thatcher (RU) e Reagan (EUA) ao final dos oitenta e início dos noventa.

Foto ilustrativa: Carol Da Riva/ Café Editora
 
Foto ilustrativa: Carol Da Riva/ Café Editora

Paralelamente, também nos anos 80, nos países sulamericanos esgotaram-se as orientações políticas visando a substituições de importações pautada na autarquia dos mercados (olhar para dentro), que associada a crise do endividamento externo e a escala da inflacionária, obrigou completo redirecionamento das ações públicas destinadas a propagar o crescimento econômico.

O alicerce que moldou a política de substituição das importações2 foi a premissa da deterioração dos termos de intercâmbio3, construída por economistas latino-americanos que flertaram com o pensamento de Hirschman, dentre os quais Prebisch, Furtado, Cardoso, Faletto e Fajnzylber – vulgo cepalinos. O fundamento básico da teoria consistia na constatação de que países periféricos produtores de matérias primas básicas (agrícolas e minerais), no longo prazo, exibiam declínio do valor real dos produtos de sua pauta exportadora, enquanto os produtos industrializados provenientes dos países centrais, comparativamente, possuíam maior nível de apuro tecnológico e, consequentemente, maiores valor agregado e estabilidade de seus preços, estabelecendo-se assim, por meio do comércio internacional, crescente descolamento dos retardatários das possibilidades de superarem seu subdesenvolvimento. Industrializar, portanto, consistia na chave de ignição para fazer girar o motor do desenvolvimento rumo a superação da dependência.

Ainda que a substituição de importações tenha perdido sua consistência enquanto política desenvolvimentista (estrangulada pela baixa taxa de poupança interna com crescente expansão do déficit púbico) foi sobrepujada tanto pela necessidade de maior abertura comercial quanto pela inserção em blocos econômicos dinâmicos, a tendência de longo prazo de deterioração dos termos de intercâmbio persiste, mantendo sua clássica orientação (sempre negativa). Entremeados por poucos picos, a linha e tendência da trajetória dos preços das commodities é acentuadamente negativa (Figura 1).

 
Figura 1 – Preços reais ponderado de cesta de commodities, 1913-2014
Fonte: Passos, 20154.

A partir dos anos 90, adotou-se modelo de desenvolvimento alternativo a substituição de importação, que porém, não se refreou a tendência de deterioração dos termos de intercâmbio. Tampouco logrou superar a polaridade centro-periferia na medida que o fluxo de capital que se destinava aos países ibero-americanos, tradicionalmente, se concentrava nos segmentos dos produtos exportáveis (matérias-primas básicas), não estabelecendo vínculos locais capazes de romper com os enclaves de excelência desconectados do resto do país.

De certa maneira, o recente debate sobre o precoce processo de desindustrialização brasileira remete ao contexto acima explicitado. A crescente preponderância de matérias primas agrícolas na pauta exportadora associada, em sua maior parcela, ao limitado avanço na cadeia de valor, voltariam a condenar o país a um regime de dependência e de subdesenvolvimento inaceitáveis na atualidade. Assim, constituem-se nos principais desafios aos policy makers o estabelecimento de bases para a retomada do investimento industrial e o apoio aos esforços que agreguem valor as commodities (agrícolas e minerais).

Por sua vez, a tendência para os preços no mercado de café arábica é irmã siamesa da trajetória geral delineada pela Figura 1. Efêmeros momentos de picos contra longos períodos de baixas (Figura 2).

Contratos para entrega em julho próximo sobem 895 pontos
Figura 2 – Preços médios reais5 recebidos pelos cafeicultores paulistas, 1994-2014
Fonte: Instituto de Economia Agrícola6

A deterioração dos termos de intercâmbio esparramará vítimas. Os cafeicultores terão que se empenhar muito no aumento de produtividade com qualidade, certificar a produção e, eventualmente, verticalizar a produção para se manter viáveis economicamente. Porém, a não ser que ocorra um milagre produtivo, similar a clonagem do robusta capixaba para o arábica, todo esse empenho ainda assim será insuficiente para garantir a rentabilidade do empreendimento a longo prazo.

Recentemente, lideranças do segmento produtivo se arvoraram contra a importação de café arábica7. A inciativa compunha tópico de tratativas efetuadas pelo governo de Minas Gerais e de transnacional líder no segmento de cápsulas, visando atrair para seu território empreendimento agroindustrial. O apoio na facilitação das importações concretizou a meta de implantação da empresa pois garantiria a constituição de suas ligas.

O êxito das lideranças em bloquear a entrada de café importado, indiretamente, condena os cafeicultores a permanecerem reféns do declínio de longo prazo dos preços recebidos. Por outro lado, o avanço do processamento por meio da agroindustrilização do produto, estabelece modalidades alternativas de comercialização, ainda que não tenham garantia de trazer vantagens imediatas aos cafeicultores, constituem-se em passo importante em transformar o país em plataforma global para negócios em café, objetivo que deveria ser obcessivamente perseguido diante da tendência de deterioração dos termos de intercâmbio8.

A manutenção da reserva do mercado brasileiro ao produto nacional torna-se mais anacrônica ainda diante do boom de importações de cápsulas que, recentemente, receberam tratamento tributário diferenciado. Ademais, ao se fechar ao exterior o segmento reforça a imagem dos demais países fronteiriços de país imperialista, incapaz de estreitar laços econômicos de tipo ganha-ganha com seus vizinhos.

A ciência econômica não tem capacidade em estabelecer resultados perfeitamente predizíeis, entretanto, fechar-se ao exterior já provou ser política que não resulta em ganhos de bem estar e de avanço no processo de desenvolvimento. Lamentavelmente, os políticos misturam teoria econômica com retórica destinada a combater as novas ações (retórica da reação). Os cafeicultores, por sua vez, precisam perceber que o sedutor discurso político contra as importações é um verdadeiro tiro no pé.

1 HIRSCHMAN, A. O. The Rhetoric of Reaction. perversity, futility, jeopardy. Cambridge (Mass.): Harvard University Press. 1991.
2 Ver: CARDOSO, E & HELWEGE, A. A economia da América Latina. Editora ática, São Paulo, 1993. 336p.
3 PASSOS, A. Tendência ao declínio secular está de volta às commodities? Jornal Valor Econômico, 14/05/2015. Disponível em: https://www.valor.com.br/opiniao/4048960/tendencia-ao-declinio-secular-esta-de-volta-commodities
4 Também, alicerçou-se na premissa do crescimento induzido pela demanda, elemento crucial na arquitetura política sob as presidências de Cardoso I e II, Lula I e II e Dilma I.
5 Base 1 = 1994. Disponível em: https://web.ipead.face.ufmg.br/site/atualizacaoAtivos
6 Disponível em: https://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=2
7 É errôneo o sedimentado conceito de que, o Brasil, possui cardápio de origens e bebidas que cobrem todo o espectro de sabores e aromas existentes dentre a diversidade de origens produzidas no mundo.
8 Prefere-se repetir a cantilena de que a Alemanha fatura mais que o Brasil sem ter um único pé de café, do que se emprenhar ativamente em mudar esse fato por meio de mais e melhores indústrias processando nossas matérias primas e a elas adicionando mais valor.

Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng. Agr. Pesquisador Científico do IEA
celvegro@iea.sp.gov.br

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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JOSE MARCOS VIEIRA

ESTUDANTE

EM 13/06/2015

A Retórica da Reação

Prezado Celso, a economia e agricultura são arena de gigantes, pois envolvem vários fatores que estão a sua margem ,mas neste comentário,não os cabe.Faço apenas uma sinalização a respeito da importância do teu comentário, pois ele situa a postura dos países que se destacam no mundo em termos do conhecimento e ação . Infelizmente isso falta aqui no Brasil conciliar o saber e a ação .No Brasil temos sempre um comportamento critico, reacionário,mas sem resultados práticos. Finalizo com  a máxima: um agricultor ou pecuarista ou industrial, acorda já com um plano para uma ação deliberada para se chegar a um resultado enquanto os políticos e alguns pensadores da sociedade levantam a deriva e suas cadeiras para se discutir temas sociais e políticos que travam a ação dos primeiros ," sempre estão vazias".
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 12/06/2015

Prezado Ourique



Certamente que os instrumentos precisam ser bem calibrados para avançar com a agregação de valor em território nacional. Em algumas será preciso uma dose de coragem como no drawback ainda que tenha vantagens pouco palpáveis. Compete aos técnicos e a burocracia pública dosar os mecanismos disponíveis e corrigir as distorções que surgirem ao longo de sua implementação.



Grato pelo esclarecimento.



Abçs.



Celso Vegro




FRANCISCO OURIQUE

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO

EM 12/06/2015

Celso,

Em nenhum momento do meu comentário sobre os assuntos tocados por você eu disse que não há vantagens em escalar na cadeia. Evidente que esse é o caminho. O Brasil não pode ficar em toda a cadeia agrícola exportando matéria prima.

A questão é qual ou quais serão os instrumentos que deverão ser utilizados. Cada segmento e seu mercado é que vai determinar o arsenal necessário.

O regime de drawback por si não representa estímulo estrutural para isso. Mesmo a Suíça, que utiliza em profusão o regime, por falta de insumo, calibra os fluxos em comum acordo com os segmentos envolvidos, tendo o governo uma cadeira e voto no conselho que trata do assunto.

O BNDES tem uma matriz insumo-produto, o MDIC no governo FHC fez estudos setoriais, o café teve seu lugar, enfim, temos levantamentos de várias fontes.

Como sempre, falta é disposição política de enfrentar o assunto, concordando com você dá ênfase da retórica e pouca ação.

Enfim, temos que ampliar esse debate e torcer para que as lideranças acordem para a questão.


CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 12/06/2015

Prezado Ourique



Boa lembrança da tese do colega da UFLA. Merecia tem sido mencionada e aqui corrijo meu lapso.

Reitero minha última consideração no artigo:



"A ciência econômica não tem capacidade em estabelecer resultados perfeitamente predizíeis, entretanto, fechar-se ao exterior já provou ser política que não resulta em ganhos de bem estar e de avanço no processo de desenvolvimento."



Em estudo que desenvolvi em 2006 a pedido da APEX já relacionava as dificuldades atualmente observadas na exportação do T&M. Nele conseguimos estabelecer a geração de empregos a partir da adoção do drawback estimado em 88 postos de trabalho para cada 100 mil sacas incrementais de produto processado. Portanto, quanto você aponta que não há vantagens, sou obrigado a confrontá-lo e dizer que há sim e decisivas na medida em que o contexto atual é o de encolhimento no mercado de trabalho formal.



Mais diálogos são necessários para que possamos produzir compreensão estruturada sobre a temática e me coloco na linha de frente para poder junto com cafeicultores e seus construir a trilha do desenvolvimento sustentável para o segmento.



Abçs



Celso Vegro
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 12/06/2015

Prezado Aguinaldo Lima

Fico enaltecido em possuir entre meus leitores esse meu amigo. Grato pelo elogio.

Att

Celso Vegro
FRANCISCO OURIQUE

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO

EM 12/06/2015

Prezado Celso,

Parabéns pelo artigo e sua vertente em analisar o desafio secular do Brasil em evoluir na cadeia de valor na produção de bens e serviços. A presença do país no comércio mundial tem sido por produtos de baixo valor agregado o que, evidentemente, sempre gera a possibilidade e esperança de que um dia esse quadro seja alterado.

No caso do café, seguindo recente tese de mestrado na UFLA, não temos evidências consistentes de que a mera importação do produto em regime de drawback possa estimular fortemente essa evolução.

Creio que a ABICS, agora na batuta do Aguinaldo Lima, poderá gerar novos estímulos ao crescimento do segmento do solúvel, produto que responde por cerca de 20 0/0 do consumo mundial e com alta taxa de crescimento.

Já no campo do produto torrado e moído, não temos notícia de nenhuma iniciativa. A despeito da consolidação do segmento na última década, não há nenhum grupo nacional com escala ou propósito de encarar o mercado mundial.

A complexidade e custos de uma empreitada dessa envergadura demanda estímulo governamental, o que não temos notícia nem de debates.

O resultado de tudo isso é que a marca cafés do Brasil continua com valor de mercado discutível enquanto o da Nestle daria para comprar a produção brasileira de café de alguns anos-safra.


JOSÉ HESS

CURITIBA - PARANÁ

EM 11/06/2015

Bom dia, acho que apesar da comparação ser de certa forma convergente e coincidente, mas uma coisa não tem nada haver com outra. Este discurso de imperialista é que anacrônico e sem sentido se pensássemos assim em ser imperialista seríamos uma potencia como os EUA,China, Rússia e Inglaterra. Como apesar de sermos o quinto maior pais do mundo em extensão e o melhor em recursos ainda agimos como se fôssemos um paizinho de baixa qualidade. O Brasil não precisaria importar nada se tivéssemos um governo que tivesse uma estratégia de sermos uma potencia e como os citados acima preservasse nossos interesses. Não temo que se preocupar com que os países vizinhos pensem de nós, mas eles sim que devem se preocupar se formos potencia. Temos de pensar em nosso país e no nosso povo. Quanto ao café deveríamos estar dominando o mercado e nós direcionarmos o mercado de acordo com os nossos interesses. Imagina o Brasil produz e a Alemanha é o maior exportador que piada, né? O cacau nós produzimos e a Suíça pasmem é o maior exportador produtor... Temos as maiores reservas de ferro do mundo e se submetemos aos Chineses e japoneses no preço. Se importarmos o café os países ao lado não tem as ONG´S,Ibamas, Leis anti escravidão e MST , além dos altos impostos, chega para nós um preço baixo e os nossos produtores como que ficam???
AGUINALDO JOSE DE LIMA

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 11/06/2015

Celso,  parabéns pela lucidez do artigo

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