Apesar de a greve dos cafeicultores da Colômbia – que durou 12 dias – ter chegado ao fim com a promessa do Governo de um incentivo de 900 bilhões de pesos (US$ 498,6 milhões) para pagar mais subsídios aos produtores durante esse ano, tudo leva a crer que as causas que originaram essa crise seguem intactas.

O próprio ministro da Fazenda, Mauricio Cárdenas, reconheceu que “o Governo terá que se esforçar para cobrir essas ajudas”, enquanto seu colega da Agricultura, Juan Camilo Restrepo, disse que “historicamente, nunca tinham sido destinados recursos dessa natureza a um setor em particular”.

Isso significa que a Colômbia terá que fazer um sacrifício fiscal milionário para atender aos 560.000 produtores, ou seja, que terá que utilizar no setor cafeeiro parte do recolhimento da última reforma tributária. No entanto, para 2014, não há previsão de recursos adicionais, segundo Cárdenas. Por isso, a solução ao protesto – que provocou perdas de 30 bilhões de pesos (US$ 16,6 milhões) nas economias de Valle, Cauca, Nariño, Huila, Tolima, Caldas, Antioquia, Quindío e Risaralda pelo bloqueio das estradas – deixou um sabor agridoce.

“Como cafeicultor, fiquei muito contente com o novo subsídio de 145.000 pesos (US$ 80,33) por carga de 125 quilos, porque os custos de produção são parcialmente cobertos, mas como dirigente, sigo preocupado”, disse Mario Gómez Estrada.

Ele citou como o exemplo a desvalorização do peso, que levou à redução de 1,5 bilhão de pesos (US$ 831 mil) aos exportadores do grão, que ficou sem solução. Estrada disse que “esse ano, o Governo preencherá o vazio, mas o verdadeiro problema é a rentabilidade, porque a produção vem melhorando. Essa rentabilidade se perdeu com um dólar muito barato”.

Os cafeicultores confiam que o câmbio suba para 1.950 pesos para frear a queda nos rendimentos. Porém, não se sabe se isso ocorrerá, porque na semana passada, o valor do dólar ficou em 1.818 pesos, mas, caiu para 1.800 pesos, revivendo a incerteza.

Por isso, dirigentes como Carlos Albeiro Ocampo, representante dos pequenos cafeicultores de Valle, disseram que “o Governo não considerou a valorização como outro fator responsável por parte da crise”. Durante as negociações, buscou-se inclusive uma desvalorização do peso em 30%, para o dólar chegar a 2.300 pesos, mas o Governo descartou essa hipótese.

“Quando chegarmos a esses níveis de taxa de câmbio, não teremos porque pedir dinheiro ao Governo”, disseram Estrada e Ocampo. Por outro lado, o presidente da Sociedade de Agricultores da Colômbia (SAC), Rafael Mejía, considerou que “a greve foi injustificada”, após dizer que “as medidas devem ser para todos os setores agrícolas”. Ele disse que o caso dos cafeicultores não é isolado e que outros setores como produção de cacau, leite, açúcar, arroz, estão sendo afetados por diversos fatores, como clima e valorização do peso.

Apesar do acordo, o comportamento dos preços é imprevisível. Hoje, a libra do café no mercado internacional é de US$ 1,44 e, ainda que tenha permanecido estável nos últimos dias, a distorcida dos preços tem sido dura desde fevereiro de 2012, quando estava em US$ 2,50.

Por isso, o preço interno da carga caiu de 873.000 pesos (US$ 483,65) em janeiro de 2012 para 513.000 pesos (US$ 284,21) um ano depois, o que levou a alarmes que levaram à greve. Frente a isso, o dirigente de Risaralda, Óscar Gutiérrez, disse que “o ideal é que tivesse chegado aos 800.000 pesos (US$ 443,21) por carga, incluindo o novo subsídio de 145.000 pesos (US$ 80,33). Conseguiu-se um preço para atender algumas necessidades”. Em sua opinião, a cafeicultura hoje não é sustentável e, por isso, o Governo deverá manter os subsídios.

Da maneira como estão as coisas, o panorama do setor seguirá sendo complexo, já que os subsídios – apesar de seu alto custo fiscal – serão um alívio e uma mudança no atual esquema cafeeiro gera muitas dúvidas.

A reportagem é do Larepublica.com.co, traduzida e adaptada pelo CaféPoint.