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Ricardo Lindenberg Thomé: Fiquei confuso a respeito do artigo sobre Ibiraci/MG que avalia a influência do La Niña sobre a possível ocorrência de geadas. Afinal de contas, o frio intenso será a partir de maio/junho ou apenas no segundo semestre?
Celso Oliveira: Obrigado pela consulta, Sr. Ricardo.
A atmosfera comporta-se de formas muito diferentes se as águas do Oceano Pacífico estão mais quentes ou mais frias (El Niño ou La Niña, respectivamente).
Se há uma condição de El Niño, as frentes frias são barradas na altura da Região Sul do Brasil e as massas de ar frio praticamente não chegam ao Sudeste (vide 2002, ou mesmo o que aconteceu desde o carnaval deste ano).
Se a condição é de La Niña, as frentes frias avançam pela costa do Brasil. Com isto, as massas de ar frio também avançam pelo Oceano, trazendo pouco risco ao café.
Então, qual é a situação mais perigosa para geadas? A neutralidade climática.
No artigo de Ibiraci, afirmei que a resposta para a pergunta sobre geadas já havia mudado três vezes, de dezembro para cá. Isto aconteceu porque as rodadas climáticas feitas nos EUA indicaram três cenários diferentes, em três meses.
Até dezembro, afirmei que o El Niño persistiria até o final do primeiro semestre de 2007. Com isto, o risco de onda de frio era muito baixo.
Em janeiro, os resultados dos modelos mudaram e mostraram a formação de uma La Niña, a partir da metade de 2007. Diante desta situação eu afirmei que poderia ter frio "no tarde". Isto porque para passar de El Niño para La Niña, as águas do Pacífico teriam que ficar com temperaturas neutras em algum momento, condição favorável para entrada de massas de ar frio.
Em fevereiro, os modelos mudaram mais uma vez e já indicaram a formação da La Niña, a partir de abril. Isto significa que o frio deve vir mais cedo, ainda no primeiro semestre, entre maio e junho.
"Ué, mas você não afirmou que apenas a situação neutra favorece a entrada de massas de ar frio?"
Sim!
"Mas como, então, podemos ter frio intenso em plena La Niña? (que vai começar no mês que vem)"
É sempre importante lembrar que a atmosfera demora a responder as mudanças das temperaturas do Pacífico. O El Niño acabou, recentemente (mês retrasado), porém ainda vimos seus efeitos no Brasil. A volta das chuvas no Sul e a volta da seca e do calor no Nordeste e Sudeste foram efeitos do El Niño. Por isso mesmo que, apesar da Niña começar em abril, estimamos que os efeitos neutros sejam sentidos entre maio e junho e os efeitos da La Niña propriamente dita serão sentidos apenas no segundo semestre.
Não é possível afirmar, com maior precisão, quantas ondas de frio chegarão (e se elas realmente chegarão) ao sul de Minas Gerais. Isto vai ser possível monitorar apenas através dos boletins semanais e dos mapas de corrente de jato, que o CaféPoint publica regularmente. Mas, de qualquer forma, já estamos passando o possível cenário para este Outono/Inverno.
Agora, realmente, é questão de monitorarmos.
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