Recentemente em 05/03 a Tristão divulgou uma estimativa em torno de 53 milhões de sacas e em 14/03 uma trading, que não me lembro o nome, divulgou uma previsão em torno de 53,9 milhões de sacas. Segundo as previsões do IBGE a safra de café a ser colhida nesse ano deve ser algo em torno de 44 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado. E a CONAB estima que a produção de café deste ano de 2008 deve ficar entre o intervalo de 41,288 e 44,174 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado.
O resultado dessa primeira pesquisa representa um crescimento entre 22,4% e 30,9%, quando comparado com a produção de 33,740 milhões de sacas obtidas na temporada anterior segundo dados da CONAB. Se levarmos em conta os números apresentados pelas empresas privadas acima citadas, com a safra colhida no ano de 2007, o acréscimo será respectivamente de 47,89%, 57,08% e 59,75%. A diferença entre os números apresentados pelo IBGE/CONAB e as empresas privadas gira em torno de 10 milhões de sacas, ou seja respectivamente 12,96%, 19,98% e 22,01% a mais.
As discrepâncias dos números são enormes. Percebe-se claramente que o objetivo dessas divulgações é criar um clima de desconfiança em relação as estimativas divulgadas pelos órgãos oficiais, no caso, o IBGE e a CONAB. Ao tomar conhecimento pela mídia dessas previsões tão tendenciosas, que não mostra a sua metodologia de pesquisa e sua pesquisa de campo, me endoido, fico estarrecido em perceber que no setor produtivo não há nenhuma liderança e se há ou quer ser, ela é tímida, e se cala ou emudece diante de tamanha excrescência de algumas empresas exportadoras.
Está na hora do setor ligado à produção de café começar a gritar. Por a boca no trombone. Lembrar da história do ovo da pata e da galinha.
Visando refrescar a memória dos envolvidos na cadeia café, pergunto: Será que mesmo com todo o problema climático de déficit hídrico bem acima de 200 mm, produtores de café descapitalizados e endividados e com a absurda elevação dos preços dos insumos e da mão-de-obra, ainda assim, o Brasil terá uma safra tão estrondosa?
Em relação a aspectos fisiológicos da planta do café afirmo com absoluta certeza que plantas muito desfolhadas e muito estressadas, na tentativa de perpetuar a espécie, flori ao máximo, mas a florada não se traduz em frutos, pois a planta não tem folha em condições aptas para fazer fotossíntese. Além desses aspectos há de se ressaltar que café armazena carboidratos nas folhas e se não tiver folha adulta, ou pelo menos num tamanho de ¾ do seu tamanho final, ela não está pronta para fazer fotossíntese em quantidade suficiente para que a fotossíntese líquida seja positiva, aí estas folhas passam a ser um dreno ao invés de ser uma fonte.
Em resumo, o que interessa é fotossíntese líquida. De nada adianta a planta ter uma florada espetacular se a relação de folhas viáveis para fazer fotossíntese no somatório da planta não for suficiente para no equilíbrio geral ter uma fotossíntese líquida positiva. Outro aspecto a ser observado e é importante de se ressaltar é que numa planta muito desfolhada a ilusão de ótica de uma grande florada fica muito evidente, pois nas lavouras muito desfolhadas se tem uma impressão de que a quantidade de flores é muito grande.
Assim uma grande parte da florada abortou e os ramos produtivos (plagiotrópicos), também secaram no sentido da ponta para o tronco (ortotrópico). Mas, mesmo onde há irrigação, o longo período seco combinado com as altas temperaturas durante o dia associado à baixa umidade relativa que se teve no inverno, além da alternância de dias muito quentes e noites muito frias e umidade relativa muito baixa, certamente, afetou também estas lavouras altamente bem cuidadas e privilegiadas.
Mesmo estes produtores que utilizam de irrigação e produziram café com altas produtividades no ano passado e como suas produções não oscilam muito, as suas produções não serão de forma nenhuma maiores nesta safra a ser colhida em 2008 assim estatisticamente a suas produções não influíram no tamanho da safra deste ano.
Outro dia li um artigo em que um "Tarzinho" dizia que as chuvas que estão acontecendo agora iriam contribuir para aumentar a produção de café no Brasil. É brincadeira...Será que agora, praticamente no final do ciclo produtivo essas chuvas regulares irão influir tanto assim na produção? Onde estão os agrônomos que conhecem a cultura do café? Estão todos mudos? Pelo que sei o que se transforma em fruto é flor, ou não? Será que mudou? Ôh Rena "ensina nóis outraveis" ramo e folha agora se transformam em frutos (café)?
Está certo que neste momento as chuvas contribuem para aumentar a porcentagem de frutos com tamanho de peneira maiores e contribuem para melhor uniformização da maturação. Mas aumentar a produção, pelo amor de Deus, è muita bobagem.
A fim de exercitar a respeito da nossa próxima safra vale lembrar que segundo a CONAB (2007) a área cultivada com café é estimada em 2,303 milhões de hectares. Sendo que desse total, 92,6%, (2,134 milhões de hectares) estão em produção e os 7,4% (169,7 mil hectares) estão em formação. Em relação a área plantada com café no Brasil segundo a EMBRAPA (2007), no período em que era responsável pela estimativa de safra, a área cultivada com a cultura do café é em torno de 2,3 milhões de hectares.
Vários outros órgãos de pesquisas tais como CECAFÉ (2007), ABIC (2007) e AGRIANUAL (2007), também relatam que o Brasil possui em torno 2,3 milhões de ha plantados com a cultura do café. Se considerarmos os números de previsão de safra de café para o Brasil divulgados para o ano de 2008 pelas empresas privadas e dividirmos pela área ocupada com lavoura de café em produção teremos respectivamente 22,45 sacas de 60 quilos de café beneficiado por hectare; 24,73 sacas de 60 quilos de café beneficiado hectare; e 25,26 sacas de 60 quilos de café beneficiado por hectare.
No gráfico 1 tem-se a produção de café no Brasil por estado da federação. Nele observa-se que o maior estado produtor é o estado de Minas Gerais e o segundo estado produtor de café do Brasil é o estado do Espírito Santo. Segundo a CONAB a produção do café arábica no país representa 76% do total estimado, entre 31,515 e 33,659 milhões de sacas, tendo o estado de Minas Gerias como o maior produtor (50,1% da produção nacional) com uma produção estimada entre 20,694 e 22,039 milhões de sacas.
Em relação a produção de café robusta (Conilon), com uma participação de 24% da produção total de café no país, apresenta em sua primeira estimativa uma produção entre 9,773 e 10,515 milhões de sacas de 60 quilos, tendo o estado do Espírito Santo com a produção estimada entre 6,936 e 7,514 milhões de sacas, como o maior estado produtor de robusta. Uma participação de 35,9% da produção nacional.
Como se pode observar no gráfico 1 a participação de produção de café em cada estado da federação tem-se em primeiro lugar o estado de Minas Gerais seguido pelo estado do Espírito Santo. Que possuem em sua maioria pequenos cafeicultores.
Gráfico 1 - Produção de café no Brasil por unidade da federação
Fonte: CONAB, 2008. www.conab.gov.br
Visando enriquecer a argumentação, pode-se observar no quadro 1 a estrutura fundiária de café do Brasil. Percebe-se segundo esse quadro que a cafeicultura do Brasil é principalmente de produtores pequenos e médios, que normalmente, em sua maioria, têm dificuldades de acesso ao crédito oficial e pouco acesso a assistência técnica.
Outro aspecto a ser levado em consideração é que a maioria das lavouras do nosso parque cafeeiro está velha e depauperada. Há ainda uma grande área de lavouras plantadas em espaçamentos largos. Estes espaçamentos dão menores produtividades e têm menor estabilidade de produção que as lavouras mais adensadas.
Levando-se em conta as argumentações acima, se torna difícil acreditar em uma produtividade média para o Brasil nos níveis das produtividades encontradas pelas empresas supracitadas.
Ora bolas, além de uma situação climática adversa que tivemos no ano passado, há ainda o fato da enorme alta nos preços dos insumos e da elevação do preço da mão-de-obra, que com certeza obrigou a maioria dos produtores de café a reduzirem o seu nível tecnológico, já baixo.
Na produção de café percebe-se que há três níveis tecnológicos distintos: os produtores que utilizam alta tecnologia, os produtores que utilizam tecnologia mediana e os produtores que praticamente não utilizam tecnologia. Um número reduzido de produtores utiliza-se de alta tecnologia de produção, independentemente do tamanho de sua propriedade, são bem informados. A gerência é baseada em conceitos modernos de administração, eles conseguem utilizar as ferramentas da administração onde o planejamento, a organização, a direção e o controle da sua propriedade são postos em prática e conseguem altas produtividades.
Quadro 1 - Estrutura fundiária da cafeicultura nos principais estados produtores em mil ha
Clique na imagem para ampliá-la.
Um segundo número de produtores, em número maior que anterior, utilizam um nível intermediário de tecnologia de produção. Tal qual no parágrafo anterior, independentemente do tamanho de sua propriedade, são mais ou menos informados. A gerência não é nenhuma "Brastemp" e não utilizam as ferramentas e os conhecimentos modernos de administração em sua totalidade. O planejamento, a organização a direção e o controle são utilizados de forma mais light. Esses produtores sabem o que estão fazendo e o que está acontecendo em sua propriedade, mas a produtividade alcançada é razoável e é bem menor que do grupo de produtores anteriormente citados.
Para grande maioria dos produtores a utilização de tecnologia é de baixo nível. Independentemente do tamanho de suas propriedades, são aqueles produtores que possuem quase informação nenhuma, não utilizam de nenhuma ferramenta e conhecimento de administração e portanto a sua produtividade é baixíssima.
Gráfico 2 - Produção de café do Brasil em milhões sacas de café beneficiado
Clique na imagem para ampliá-la.
Desde a queda de preço do café em 2002, quando uma saca de café chegou a valer em torno de U$ 50,00 os produtores estão amargando prejuízos e grande número de produtores estão endividados e descapitalizados.
No gráfico 2 pode-se observar as produções de café do Brasil a partir do ano 2000. Observa-se que na safra 2002/2003 foi a maior do período. Essa grande produção se deve ao fato de nos anos 1996, 1997 e 1998 os preços da saca de café recebidos pelos produtores eram altamente remuneradores. No ano de 1998 cheguei a comercializar uma saca de café bica corrida com 20% de catação e bebida dura, pelo preço de R$ 280,00. Nesse ano de 1998 o salário mínimo e os preços dos insumos eram bem menores que os atuais.
Sabe-se que ao se estimar uma curva de oferta de café em uma série temporal encontra-se uma relação direta entre a oferta de café com o estoque remanescente e o preço da saca de café de anos anteriores. Em vários estudos de estimativas de curva de oferta de café, inclusive a minha tese de mestrado em Economia Rural, a equação obtida é de uma relação de oferta diretamente proporcional a uma constante que representa o estoque e uma relação de preço defasado de um tempo em torno de 5 anos. Explicando melhor:
Qs = C + XPt-5 onde: Qs = Oferta de café no tempo t; C = Estoque remanescente e Pt-5 = Preço da saca de café defasado de cinco anos e X = Coeficiente de regressão que dá o aumento da oferta em razão da elevação do preço.
Em razão do elevado preço da saca de café nos anos anteriormente citados, os produtores tanto cuidaram melhor de suas lavouras quanto plantaram lavouras novas, resultando em safras crescentes, até atingir o patamar histórico da safra de 2002/2003. A partir daí, os preços caíram com uma grande oferta de café naquele ano no mercado e as produções foram diminuindo. Tanto é verdade que os estoques, tanto do governo quanto da iniciativa privada, vieram diminuindo a partir daquela data estão em níveis muito baixos na atualidade. Os mais baixos da história.
No início do mês de março os preços do café estavam se elevando para níveis razoáveis, mas ainda baixos comparativamente com outras commodities agrícolas. O café é a única commoditie que ainda não ajustou o seu preço para patamares mais elevados. Em razão dos diversos reajustes dos preços dos insumos, que por conseqüência elevou os custos de produção de praticamente todas os produtos agrícolas e com um aperto da oferta e com o crescimento da demanda de vários produtos agrícolas no mundo e também o enfraquecimento do dólar, houve um aumento de preço generalizado das commodities agrícolas.
Vários relatórios semanais do Escritório Carvalhaes (www.carvalhaes.com.br), um dos mais tradicionais escritórios de corretores de café do Brasil e empresa idônea, por várias semanas vem chamando a atenção para o fato de que se não houver um alinhamento de preço do café, haverá redução de área da cafeicultura brasileira, haja visto que outras opções de cultivos são mais rentáveis e menos trabalhosas que o café.
Em razão dos problemas de liquidez nos Estados Unidos e também com uma enxurrada de divulgação de que a safra de café no Brasil será acima de 50 milhões de sacas houve uma queda mais do que proporcional nos preços da saca de café na Bolsa de Nova Yorque. Ao permanecer tal situação de preço no mercado de café por mais algum tempo haverá uma assimetria entre os preços de café nas bolsas de mercadoria e futuros e o mercado físico.
No relatório do Escritório Carvalhaes de 20/03/2008 assim está escrito: "Fica claro no meio desta enorme crise, que o segmento do café, apesar de contar com um dos menores estoques da história, também está sujeito à insegurança geral e forte volatilidade dos preços, o que, nos próximos meses, dificultará enormemente o trabalho do mercado físico".
Vale lembrar para todos os envolvidos na cadeia café que o quadro fundamental do setor não mudou. Aliás, com os atuais níveis de preços o futuro da cafeicultura no Brasil está muito comprometida.
Visando ilustrar o argumento de que produzir café nessa base de preço é para a maioria dos produtores péssimo negócio, tanto no curto quanto no longo prazo, calculei os custos de produção para uma propriedade média, representativa da maioria das propriedades produtoras de café para as regiões montanhosas.
Para efeito de cálculo, os preços do quadro 2 e quadro 3 foram considerados. É lógico que há variação do preço da terra, pois o seu valor está associado a sua localização geográfica. Também há uma variação na qualidade do café produzido. Mas de modo geral a composição do preço da saca de café segue o quadro 3. É lógico que em determinadas regiões, em razão do clima e cuidados pós-colheita, a composição de qualidade seja pior ou melhor. Para exemplificar, pode-se citar o município de Araponga/ MG, situado nas Matas de Minas numa altitude acima de 1000m onde até café de chão e seco sem o mínimo de cuidado bebe duro para melhor e no município de Viçosa/MG, também situado nas Matas de Minas, com altitude em torno de 700m, com todos os cuidados pós-colheita, não se consegue produzir um café bebida dura para melhor facilmente.
Quadro 2 - Investimentos necessários para se produzir café
Quadro 3 - Composição do preço de uma saca de café
Nos quadros 4 e 5 observa-se os devidos custos de produção e as receitas oriundas com a comercialização do café para as produtividades de 30 e 40 sacas por hectare respectivamente. Foi considerado que a estabilização da produção só irá ocorrer a partir do ano quatro.
No cálculo dos custos foi considerado o valor do salário mínimo vigente a partir de 01 de março de 2008, ou seja, uma remuneração de R$ 415,00 por mês e os outros fatores de produção o preço normal de mercado.
Quadro 4 - Capacidade de pagamento para uma produtividade de 30 sacas por ha
Clique na imagem para ampliá-la.
Quadro 5 - Capacidade de pagamento para uma produtividade de 40 sacas por ha
Clique na imagem para ampliá-la.
Com o objetivo de demonstrar que até mesmo os cafeicultores mais eficientes e organizados estão se descapitalizando quando se leva em conta os custos fixos, elaboraram-se os quadros com os custos fixos e sem os custos fixos para as produtividades de 30 sacas por hectare e para 40 sacas por hectare.
Quando se analisa a produtividade de 30 sacas por hectare com a inclusão dos custos fixos obtêm-se um custo de R$ 272,00 por saca de café beneficiado e a Taxa Interna de Retorno (TIR) é igual a -3%. Isso significa que além do investimento não se pagar há ainda uma perda de 3% ao ano ao se investir na produção de café mesmo com essa produtividade e produzindo café de qualidade superior.
Quando se analisa a produtividade de 30 sacas por hectare sem a inclusão dos custos fixos obtêm-se um custo de R$ 253,40 por saca de café beneficiado e a Taxa Interna de Retorno (TIR) é igual a zero. Isso significa que investimento não se paga ao se investir na produção de café mesmo com essa produtividade e produzindo café de qualidade superior. Nessa situação os custos operacionais são parcialmente cobertos e os custos fixos não são remunerados.
No item anterior analisou-se o custo de produção e a Taxa Interna de Retorno para a produtividade de 30 sacas por ha. Nesse item, a análise será focada na produtividade de 40 sacas de café beneficiado por hectare.
1. Análise econômica do empreendimento incluindo os custos fixos para uma produtividade de 30 sacas por hectare
Clique na imagem para ampliá-la.
Clique na imagem para ampliá-la.
Ao analisar o custo de produção com a produtividade de 40 sacas por hectare com a inclusão dos custos fixos obtêm-se um custo de R$ 252,40 por saca de café beneficiado. Como o preço líquido obtido pelo produtor é de R$ 249,00 há uma perda para o produtor de R$ 3,40 por saca de café produzido. Nessa condição o custo variável e a quase totalidade do custo fixo é coberto.
A Taxa Interna de Retorno é igual a 2%, significa, que a remuneração do investimento é de 2% ao ano. Para se ter uma idéia de remuneração de capital, ou seja, custo de oportunidade, pode-se comparar a remuneração recebida com a produção de café e a remuneração da caderneta de poupança que tem sido em torno de 8,5 % ao ano.
2. Análise econômica do empreendimento sem os custos fixos para uma produtividade de 30 sacas por hectare
Clique na imagem para ampliá-la.
Clique na imagem para ampliá-la.
1. Análise econômica do empreendimento incluindo os custos fixos para uma produtividade de 40 sacas por hectare
Clique na imagem para ampliá-la.
Clique na imagem para ampliá-la.
Ao analisar o custo de produção com a produtividade de 40 sacas por hectare sem os custos fixos obtêm-se um custo de R$ 246,48 por saca de café beneficiado. Como o preço líquido obtido pelo produtor é de R$ 249,00 há um ganho para o produtor de R$ 2,52 por saca de café produzido. Nessa condição o custo variável é pago em sua totalidade, mas o custo fixo não é coberto.
A Taxa Interna de Retorno é igual a 3%. O raciocínio é análogo ao comentário feito anteriormente.
2. Análise econômica do empreendimento sem os custos fixos para uma produtividade de 40 sacas por hectare
Clique na imagem para ampliá-la.
Clique na imagem para ampliá-la.
O site www.agnocafe.com.br divulgou no dia 12/03/2008 que o custo de produção de café irrigado fica em torno de R$ 179,08 por saca e o custo de produção sem irrigação está em torno de R$ 247,44. A informação do site que poderia ser um balizador e ao mesmo tempo referencial, perde a sua importância como um formador de opinião ao não informar para qual produtividade foi calculado tal custo de produção.
A análise comparativa entre irrigação ou não deve levar em conta com qual produtividade se está trabalhando. No cálculo de custo de produção, a produtividade é essencial. Falar em custo de produção sem mostrar para qual produtividade ela foi calculada é o mesmo que nada dizer. É muito importante que os diversos setores que trabalham na informação e prestam serviços de informação, ao pretenderem formar opinião, o façam de maneira correta, caso contrário haverá deturpação da informação.
Eu, particularmente, duvido de tal diferença de custo de produção entre o sistema convencional e o irrigado. Está correto que ao irrigar se consegue produtividades maiores e uma maior estabilidade de produção. Por outro lado o investimento é muito maior, elevando assim em muito o custo fixo. Se tal fato for verdade não há nenhuma razão para se haver descontentamento nas regiões de cafeicultura irrigada com os preços da saca de café nos patamares atuais.
A teoria dos custos postula que no curto prazo as curvas do CVMe (custo variável médio), de CMe (custo médio) e do CMa (custo marginal) têm forma de U, conforme pode ser observado no gráfico 3.
Gráfico 3. Curvas dos custos médio e marginal
Clique na imagem para ampliá-la.
Essa forma reflete a lei dos rendimentos decrescentes. No curto prazo, com dado tamanho da planta, há uma fase de produtividade crescente (custos unitários decrescentes) e uma fase de produtividade decrescente (custos unitários crescentes) do insumo variável. Entre estas duas fases de operação da planta existe apenas um ponto no qual os custos são mínimos. Quando este ponto for encontrado, na curva de CMe, a planta estará sendo utilizada otimamente, isto é, ter-se-á encontrado aí a combinação ótima dos insumos fixos e variáveis.
O CVMe é parte do CMe posto que o CMe = CVMe + CFMe. Tanto o CVMe quanto o CMe têm forma de U, como já dito, reflexo da lei dos rendimentos decrescentes. O ponto mínimo do CMe ocorre à direita do ponto mínimo do CVMe, como pode ser observado no gráfico 3.
Isto se deve ao fato de o CMe incluir o CFMe (custo fixo médio), o qual decresce continuamente com o aumento da produção. Após o CVMe atingir seu ponto mínimo e começar a aumentar, este aumento estará ocorrendo numa faixa em que o decréscimo acentuado do CFMe o sobrepuja, o que faz com que o CMe continue a cair. Todavia, o acréscimo no CVMe torna-se maior que o decréscimo no CFMe, o que leva o CMe a aumentar e o CVMe aproxima-se assintoticamente do CMe, quando a produção aumenta.
O CMa por outro lado, corta as curvas do CVMe e do CMe em seus pontos de mínimo. Sabe-se que o CMa é a mudança no CT (custo total) quando se produz uma unidade a mais do produto. Pressupondo, portanto um nível de produção de n unidades do produto, se aumentar a produção de uma unidade, o CMa dessa unidade adicional será a mudança no CT resultante da produção da (n+1)-ésima unidade.
Saindo da teoria e voltando para a prática, no gráfico 3, se o produtor, produz a quantidade Q3 e vende ao preço P3 ele tem lucro normal e nessa condição todos os custos tanto o custo variável quanto o custo fixo são cobertos com a renda alcançada.
Noutra situação quando o produtor produz a quantidade Q2 e vende ao preço P2 a renda alcançada só é suficiente para cobrir o custo variável.
Visando ilustrar com mais clareza, o produtor de café mesmo com produtividade de 40 sacas, os seus custos são de R$ 252,40 e R$ 246,48 levando em conta, inclusão do custo fixo e sem a inclusão do custo fixo, respectivamente. Ao comercializar o café o produtor recebe por ele R$ 249,00. Dessa forma, o preço recebido está entre o Preço P3 e o Preço P2, dessa forma somente os custos variáveis estão totalmente coberto. No médio e no longo prazo há uma descapitalização e empobrecimento do produtor. A análise é análoga para a produtividade de 30 sacas. Só que ao produzir 30 sacas a perda será maior, ou seja o empobrecimento será mais rápido.
Para se produzir por um longo tempo uma produtividade média de 40 sacas o produtor de café deve ser um produtor diferenciado e que utiliza tecnologia de ponta. Não é fácil conseguir tal produtividade, pois além dos fatores controláveis existem os fatores da natureza que não são controláveis. Necessário se faz chamar atenção de que nos cálculos apresentados não se está trabalhando com irrigação, que com certeza os custos fixos seriam maiores.
Se com uma produtividade dessa, a situação é crítica para o produtor de café. Pode-se assim, imaginar o que está se passando com a maioria dos produtores, que com absoluta certeza, têm produtividade muito menor que 40 sacas.