A imprensa brasileira especializada na cobertura dos acontecimentos vinculados à cafeicultura, recentemente, deu ampla divulgação ao fato dos dois vencedores do 12º Concurso de Qualidade dos Cafés da Minas Gerais desenvolverem suas atividades cafeeiras na Região Matas de Minas. A cafeicultura regional, de alma lavada e enxaguada no sucesso dos dois cafeicultores vitoriosos, comemorou muito o acontecimento.
Não era para menos! Afinal, uma região que até há pouco tempo não se destacava na produção de cafés de ótima qualidade, de repente, é alçada ao primeiro lugar do pódio na produção de cafés naturais e de cafés cereja descascado no estado maior produtor de café do Brasil. As comemorações são decorrência natural do sucesso conquistado pelos cafeicultores João da Silva Neto, do município de Araponga, e Clayton Monteiro, do município de Alto Caparaó.
Obviamente que, além do reconhecido mérito pessoal dos cafeicultores citados, existe um trabalho institucional anônimo que apoia o sucesso alcançado. Contrariando essa afirmativa, pode-se alegar que estes são fatos isolados e não representam o que vem acontecendo nas Matas de Minas. Alguém pode argumentar, por exemplo, que são dois cafeicultores extremamente cuidadosos com a sua produção que, sediados em regiões favoráveis à produção de café, elaboraram os lotes de café que foram vencedores. Portanto, suas conquistas são decorrência de méritos pessoais e não representam a revolução de qualidade que vem se processando nas Matas de Minas.
No entanto, estas conquistas são a ponta de um iceberg enorme. Elas são a parte mais visível dos avanços que estão acontecendo na qualidade dos cafés das Matas de Minas. Isso nos leva a chamar atenção para outras informações menos divulgadas do concurso, ou seja, para a parte submersa do iceberg. Inicialmente, destacamos que, das 1300 amostras inscritas no 12º Concurso, 554 tinham como origem as Matas de Minas, 592 o Sul de Minas, 126 do Cerrado e 28 da Chapada de Minas. E o que é mais importante: das 117 amostras finalistas, 59 foram das Matas de Minas, de 16 municípios diferentes. Ou seja, a região que responde por cerca de 25% da produção mineira, inscreveu 43% do total de amostras e teve 50% das amostras finalistas. Isso indica que existem muitos outros cafeicultores elaborando cafés de ótima qualidade em uma ampla abrangência geográfica.
Portanto, fica comprovado que as conquistas dos primeiros lugares não são fatos isolados. Não aconteceram por mero acaso. Elas fazem parte do avanço conseguido na melhoria de qualidade dos cafés em toda Região das Matas de Minas. Por trás desses resultados coletivos encontra-se um empenho institucional da maior relevância. O Conselho das Entidades do Café da Matas de Minas (entidade formada por cooperativas de produção de café, cooperativas de crédito, sindicatos de produtores e de trabalhadores rurais, associação de cafés especiais e das mulheres do café sediadas na Região) tem sido o catalisador para as atividades conjuntas das instituições de apoio aos trabalhos de capacitação, treinamento, assistência técnica e gerencial e de pesquisa situados na região. Em torno do Conselho, o Sebrae Minas, a Emater, o Senar, a Epamig e a Universidade Federal de Viçosa, dentre outros, vêm exercitando um trabalho integrado de grandes proporções e impacto na produção e na qualidade do café regional. Nos últimos anos estas instituições têm feito exercícios para realizarem trabalhos conjuntos e com objetivos comuns e sincronizados focando a melhoria da qualidade do café na Região.
A atual visibilidade e valorização da marca “Região das Matas de Minas” mostra que os esforços conjuntos estão gerando resultados relevantes, e mais, que a estratégia das instituições, com base na unicidade de objetivo, é o caminho certo. Tá bom, mas pode melhorar.