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Sistema de Inteligência da Concorrência: Honduras e Nicarágua

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 11/05/2009

27 MIN DE LEITURA

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No passado, Honduras e Nicarágua formaram junto com Guatemala, Costa Rica e El Salvador as Províncias Unidas da América Central. Hoje, os cinco são os principais países produtores de café da região. Porém, ao contrário do que ocorre nos três demais, não há em Honduras e na Nicarágua um foco tão direcionado para a agregação de valor ao produto via produção de cafés especiais e/ou certificados. Juntos, os dois países produzem cerca de 5,5 milhões de sacas (de 60 quilos) por ano, das quais a maior parte é comercializada como commodity.

Honduras e Nicarágua são vizinhos em 922 quilômetros de fronteira, cuja delimitação foi objeto de definição na Corte Internacional de Haia, apenas em outubro de 2007. Há um histórico de turbulências nas relações bilaterais, o qual teve seu ápice na década de 1980 quando o grupo armado de oposição nicaragüense conhecido como Contras, apoiado pelos EUA, utilizava o território hondurenho como base para atacar o governo dos sandinistas, de orientação comunista.

Por outro lado, os dois países compartilham as dificuldades enfrentadas pela ocorrência de fenômenos naturais como terremotos e furacões, que muitas vezes assolam ambos na mesma oportunidade. Um exemplo recente foi furacão Mitch, que, em 1998, causou forte devastação ao passar por Honduras e cuja decorrente circulação atmosférica causou chuvas muito intensas as quais levaram à ocorrência de severas inundações e deslizamentos de terra na Nicarágua, principalmente no norte do país.

Honduras

Descoberta por Cristovão Colombo em 1502, Honduras foi colônia espanhola, teve parte de seu território como protetorado britânico, fez parte do México, das Províncias Unidas da América Central, e, finalmente, se estabeleceu com país independente em 1840. Na segunda metade do século 19, o país iniciou um crescente alinhamento político e econômico com os Estados Unidos.



Depois de seguidos governos ditatoriais e golpes de estado, Honduras passou a contar com um processo democrático para escolha do chefe de governo em 1986, com a eleição de Jose Azcona del Hoyo, segundo civil a ocupar o cargo e primeiro a governar com plenos poderes. Ainda assim, o país continuou a passar por turbulências políticas, também causadas pelo apoio aos Contras, além de ainda existirem relatos de desrespeito aos direitos humanos, da atuação de gangues juvenis e de forte crescimento do narcotráfico que utiliza o país na rota de envio de drogas para os Estados Unidos.

O atual presidente, Manuel Zelaya, do Partido Liberal, originalmente de centro, tem pendido para a esquerda e, contrariando a tradição hondurenha, buscado aproximação tanto com Cuba quanto com o governo venezuelano de Hugo Chávez. Zelaya alega que a falta de apoio internacional para o enfrentamento da pobreza em Honduras motivou a busca de suporte junto à Venezuela.

Honduras é o terceiro país mais pobre da América Central, a frente apenas da própria Nicarágua e do Haiti. Sua renda per capita de 1.600 dólares (pelo método do Atlas do Banco Mundial) apresenta má distribuição e há alto nível de desemprego. Mas, ao contrário de que ocorria no passado, a economia hondurenha não é mais tão dependente de produtos agrícolas de exportação. O principal destes é o café que hoje contribui com apenas 5,75% do PIB, sendo superado por outras atividades, principalmente as chamadas maquilas (manufaturas que prestam serviços a marcas internacionais) que são responsáveis por 20,9% do PIB. Remessas de divisas feitas por hondurenhos vivendo no exterior atingem a casa de 2,7 bilhões de dólares anuais e equivalem a quase 22% do PIB do país que fechou 2007 em 12,3 bilhões de dólares.

De 2005 a 2007, a taxa de crescimento do PIB hondurenho variou de 6,1 a 6,4% ao ano. A inflação manteve-se relativamente controlada, chegando a apenas 4,8% em 2006 e tendo um repique para 6,8% ao ano, em 2007. Mesmo havendo certo controle, entre janeiro de 2005 e dezembro de 2007 a inflação acumulada em Honduras foi de 20,1%.

Entre o início de 2003 e julho de 2008, o lempira, moeda hondurenha, se desvalorizou nominalmente pouco mais de 11%. Como houve inflação maior do que a desvalorização, o que aconteceu foi uma valorização real da moeda no período. De qualquer forma, esta foi bem menor que a ocorrida em outros países produtores, como Brasil e Colômbia, possibilitando aos cafeicultores auferir maiores benefícios com a concomitante alta em dólar das cotações internacionais do café.

De 31 de julho de 2008 a 23 de março de 2009, período em que a crise financeira internacional se expressou mais intensamente, o lempira se valorizou 0,24%, ao contrário de outras moedas, dentre elas o real. Tal valorização implicaria em compressão dos preços internos do café em Honduras, já que as cotações em dólar na Bolsa de Nova Iorque caíram mais de 15% no período. No entanto, nesse mesmo período, ocorreu o aumento no ágio para o café hondurenho sobre o contrato C de Nova Iorque (ver seção disponibilidade de café), o que acabou por manter o seu preço em dólar praticamente estável.

O principal parceiro comercial de Honduras são os Estados Unidos com quem o país centro-americano, assim como a Nicarágua, tem acordo de livre comércio no bojo do CAFTA, Tratado de Livre Comércio Estados Unidos-América Central. A economia hondurenha guarda forte dependência em relação a seu parceiro, podendo ser prejudicada em 2009 por uma possível retração na demanda devido à crise financeira nos EUA.

Nicarágua

A Nicarágua foi descoberta em 1522 pelo explorador Gil Gonzalez e tornou-se plenamente independente em 1838, quando deixou as Províncias Unidas da América Central. Houve, então uma sucessão de períodos ditatoriais, iniciada por Jose Santos Zelaya, deposto em 1909 por tropas norte-americanas. Os Estados Unidos estabeleceram bases militares no país e, entre 1927 e 1933, enfrentaram uma guerrilha comandada por Augusto Cesar Sandino.



Sandino foi assassinado em 1934 por ordem do comandante da Guarda Nacional, General Anastasio Somoza Garcia, eleito presidente em 1937, dando início a 42 anos de ditadura de sua família. Após seu assassinato, em 1956, Somoza foi sucedido por seu filho Luis Somoza Debayle, que teve como sucessor, a partir de 1967, seu irmão, também de nome Anastacio Somoza, cujo governo teve fim em 1979, numa renúncia forçada pela guerrilha estabelecida pela Frente Sandinista de Libertação Nacional, liderada por Daniel Ortega.

A guerrilha sandinista tinha sido deflagrada em 1978, quando do assassinato do líder oposicionista Pedro Joaquin Chamorro. Uma vez no poder, a FSLN alinhou o país à União Soviética, nacionalizou e transformou em cooperativas as terras que eram de propriedade da família Somoza e de muitos produtores tradicionais de café. Os Estados Unidos reagiram ao estabelecimento de mais um país caribenho ligado à URSS, decretando um embargo econômico à Nicarágua, patrocinando o grupo paramilitar oposicionista conhecido com Contras, que utilizava o território hondurenho como base, e chegando a instalar minas marinhas na costa nicaragüense. O conflito entre os Contras e o governo sandinista perdurou até 1988, quando foi assinado um acordo de paz.

Apesar de ainda haver crises políticas e algumas manifestações populares descambarem em violência, tem havido certa estabilidade democrática na Nicarágua, desde 1990. Houve eleição seguida de 3 governantes mais alinhados com os EUA e, desde o início de 2007, a volta ao poder, desta vez por meio de eleições, de um Daniel Ortega bem mais moderado. Mesmo o acordo de livre comércio com os Estados Unidos (no âmbito do CAFTA) aprovado pelo congresso em 2006 continua sendo respeitado pelo governo Ortega.

Em 2004 a Nicarágua conseguiu equacionar seus problemas de dívida externa, primeiro com o perdão pelo Banco Mundial de 80% da dívida do país com a entidade e, em seguida, com o perdão, por parte da Rússia, da bilionária dívida acumulada pelo país centro-americano junto à URSS.

De 2005 a 2007, a taxa de crescimento do PIB nicaragüense variou entre 3,7 a 4,3 % ao ano. Tais taxas, ainda que não fossem muito elevadas, possibilitaram aumento da renda per capita num país onde a taxa de crescimento populacional se mantém estável em 1,3%.

Ente janeiro de 2005 e dezembro de 2007, o córdoba-ouro, moeda nicaragüense, se desvalorizou 14,83%, enquanto a inflação taxa acumulada no período foi de 30,56%. O fato da inflação no período ser maior que a desvalorização nominal do câmbio significa que na verdade houve valorização da moeda. Tal valorização ficou abaixo das ocorridas no Brasil e na Colômbia, mas certamente limitou os benefícios da alta nas cotações internacionais, ocorrida concomitantemente.

De 31 de julho de 2008 a 23 de março de 2009, o córdoba ouro, moeda da Nicarágua, se desvalorizou apenas 3,09%, o que, assim como em Honduras, deveria implicar em pressão negativa sobre os preços internos do café, por conta da queda de mais de 15% das cotações em dólar na Bolsa de Nova Iorque no período. Mas, o ágio para o café nicaragüense sobre o contrato C de Nova Iorque (ver seção disponibilidade de café) também aumentou, mantendo o seu preço em dólar praticamente estável.

A cadeia do café em cada país

Honduras

Honduras é um país predominantemente montanhoso com áreas mais baixas apenas nas regiões costeiras. O café, somente da espécie arábica, é cultivado em 15 dos 18 departamentos (regiões administrativas) do país, em altitudes desde 900 metros até acima de 2.000 metros. As principais regiões produtoras são Copán, Opalaca, Montecillos, Azul Meambar e Asalta Tropical. A zona de Marcala, no departamento de La Paz, é considerada a melhor área produtora do país, dotada de uma cultura cafeicultora bem estabelecida e onde o processamento do café é feito com mais apuro. O genuíno café Marcala SHG (Strictly High Grown) é vendido com bons prêmios e se busca o reconhecimento de denominação de origem controlada para o produto da região.

Figura 1. Mapa cafeeiro de Honduras


Fonte: Jobin.

Mais de 80% das áreas de produção hondurenhas têm menos de 10 hectares e 98% do cultivo é feito sob sombra, apesar de haver tendência de diminuição na densidade do sombreamento visando aumento de produtividade. As lavouras de café são mais adensadas que as brasileiras com, em média, cerca de 4.000 plantas por hectare. Segundo o IHCAFE (Instituto Hondurenho do Café), 270 mil hectares são cultivados com café no país, com produtividade média na casa de 14,5 sacas por hectare. As variedades mais cultivadas são tipica, bourbon, catuaí, caturra, parainema e lempira.

Figura 2. Lavoura de café sombreada em Honduras


Foto: Philippe Jobin

A cafeicultura hondurenha é forte demandadora de mão-de-obra, gerando mais de 1 milhão de empregos diretos e indiretos, o que significa mais de 8% do total de postos de trabalho do país. A mão-de-obra tem participação de 62% nos custos de produção e sua disponibilidade vem se reduzindo na medida em que outras atividades econômicas vão se desenvolvendo, já que os salários rurais são mais baixos que os urbanos.

A colheita do café em Honduras se estende de outubro a março e é manual e seletiva, apesar do período de safra não ser tão extenso como em outros países onde a prática é adotada. A época de colheita concentra 50% da demanda de mão-de-obra da cafeicultura hondurenha e, a despeito de não ter havido aumento significativo no custo, os produtores têm enfrentado dificuldades crescentes para captar trabalhadores e a qualidade do serviço tem sofrido queda significativa.

O processamento do café é feito predominantemente por via úmida e pelo próprio produtor. O café, em pergaminho úmido, é comprado por intermediários e destinado às instalações de secagem e beneficiamento pertencentes, em sua maioria, às firmas exportadoras. Nas unidades de secagem é feita a recepção de lotes de pergaminho de diferentes produtores os quais acabam sendo misturados, dificultando a uniformização dos lotes de café para exportação.

De acordo com a altitude, e hoje também com resultados de provas de xícara, o produto é classificado em CS (Central Standard), produzido em regiões com altitude abaixo de 1.000 metros, HG (High Grown), entre 1.000 e 1.500 metros e SHG (Strictly High Grown), acima de 1.500 metros. Este último tipo, que representa pouco mais de 10% da produção, é reputado como um café mais fino e obtém os melhores preços. O HG, tipo no qual se enquadra a maior parte da produção, se caracteriza por ter certa acidez e ser vendido a preços competitivos internacionalmente, sendo uma alternativa mais barata aos cafés colombianos. Já o CS, também na casa de 10% do total, apresenta bebida mais neutra e é o primeiro a ser disponibilizado no mercado devido a sua colheita ser mais precoce.

A política cafeeira hondurenha é definida pelo Conselho Nacional do Café (CONACAFE), sendo executada pelo Instituto Hondurenho do Café (IHCAFE), que atua nas áreas de pesquisa e difusão de tecnologia, é responsável pelos registros dos agentes da cadeia e gere o Fundo Cafeeiro Nacional (FCN).

O Fundo Cafeeiro foi constituído inicialmente por um empréstimo de 100 milhões de dólares captado no mercado e hoje é suprido por contribuições da cadeia na base de 10,70 dólares por saca comercializada oficialmente, seja para mercado interno ou exportação. No ano passado, foi acrescentada uma contribuição de 1,30 dólar por saca, a qual destina-se a amortizar empréstimo feito pelo governo ao setor cafeeiro em 2001. Além dos 13 dólares por saca que são depositados no fundo, ainda é feita a cobrança de 4,22 dólares para manutenção da estrutura das instituições cafeeiras, Fundo Cafeeiro, IHCAFE e as 4 organizações de produtores, AHPROCAFE, ANACAFE, Central de Cooperativas e UNIOCOOP. Ou seja, há uma retenção total de 17,22 dólares por saca vendida.

O fundo tem como função, além de amortizar dívidas dos produtores, financiar pesquisa e difusão de tecnologia, adquirir insumos, como adubo, e manter a infra-estrutura de produção e de escoamento da safra. Nos dois últimos anos, o IHCAFE adquiriu adubos que repassou aos produtores a preço de mercado, com a vantagem de que o pagamento poderia ser feito através das próprias contribuições previstas para ser descontadas do café a ser colhido. Como estabelecido no decreto de sua criação, o fundo devolve, mesmo antes do encerramento do ano safra, as contribuições aos produtores não beneficiados pelas amortizações de dívidas.

O IHCAFE tem como meta fazer com que Honduras assuma a liderança da produção na América Central, ultrapassando a Guatemala também em área plantada com café. Têm sido feitos esforços para criar um conceito de produção sustentável sob sombra, inclusive com adoção de unidades de benefício úmido com menor uso de água e com menos geração de resíduos. Também são feitos esforços no sentido da busca da qualidade de bebida. O programa Cup of Excellence, concurso de cafés especiais que culmina com um leilão via internet, é realizado em Honduras desde 2004 e recebe apoio do fundo cafeeiro.

Nicarágua

Na Nicarágua, o café, também apenas arábica, é cultivado nos solos vulcânicos da cadeia de montanhas que corta o país de Norte a Sul, em altitudes que vão de 600 a 1650 metros sobre o nível do mar. Há uma bienalidade bem mais definida que em Honduras, apesar de também preponderar o cultivo sob sombra e da produtividade estar em 12,7 sacas por hectare.

Figura 3. Lavoura de café sombreada na Nicarágua


Foto: Philippe Jobin

As principais regiões produtoras são Jinotega, Matagalpa, Segovias e Ocotal. A variedade predominante é a caturra, com 70% do cultivo, havendo 20% de bourbon e recentemente tem sido plantada a variedade catimor, principalmente graças à sua maior produtividade, apesar de haver questionamentos quanto à qualidade de sua bebida. A variedade maragogype está sendo abandonada, por ser inviável economicamente devido à baixa produtividade, mesmo com os excelentes prêmios de preço auferidos por conta da sua qualidade de bebida. Há, também em pequena escala, a produção da variedade maracaturra, resultante do cruzamento de maragogype e caturra.

Cafés das regiões de Jinotega e Matagalpa, produzidos respectivamente a 1.400 e 1.100 metros de altitude, foram utilizados pela Nespressso para produzir seu blend especial de 2008, o Jinogalpa, composto principalmente das variedades maragogype, maracaturra e catimor.

Há basicamente dois sistemas de produção na Nicarágua. Um formado por pequenos produtores que, em número, correspondem a 95% do total e muitos dos quais exploram parcelas de terra oriundas da re-divisão das fazendas que foram coletivizadas pelos sandinistas. O outro é composto de fazendas empresariais, algumas das quais detêm suas próprias estruturas de processamento, e que, via de regra, contam com áreas de produção maiores e obtêm produtividade bem acima da média do país. Tal discrepância faz com que 36% do café do país seja produzido por apenas 1% dos produtores.

Figura 4. Mapa cafeeiro da Nicarágua Honduras


Fonte: Jobin.

A colheita na Nicarágua, que vai de novembro a fevereiro, também é manual e seletiva. O café é lavado e fermentado nas fazendas e enviado na forma de pergaminho úmido para as unidades de beneficiamento e secagem, a qual é feita predominantemente ao sol. A grande maioria destas instalações é de propriedade de intermediários que vendem o produto já na forma de café verde para as empresas exportadoras. Há também unidades das próprias empresas exportadoras. Pouco mais de 10% do produto é beneficiado até o estágio de café verde nas próprias fazendas e parcela semelhante é processada em cooperativas que, tanto fazem venda direta para exportadores, como exportam elas mesmas.

Boa parte das cooperativas criadas no processo coletivização da produção, implantado pelo governo sandinistas, não resistiu à retirada do suporte governamental, quando da mudança de regime. Aquelas que persistiram ativas, e a maior parte das que surgiram nos últimos anos, focam nos mercados de cafés diferenciados.

Em 2007 a Nicarágua ficou entre os quatro maiores fornecedores de café fairtrade para as torrefações dos EUA, com 220 mil sacas. Em 2008, a Nicarágua exportou 275 mil sacas de café orgânico, cerca de 5% do mercado mundial de café com tal certificação. Vale lembrar que parte do produto é ao mesmo tempo fairtrade e orgânico. As cooperativas de pequenos produtores também tem tido destaque nos concursos de café especiais da Nicarágua. Mais um caso no qual a cafeicultura de baixo aporte de insumos, sombreada, com baixa produtividade e pequena escala por produtor encontra na agregação de valor o caminho para a melhoria da renda dos produtores. No entanto, diferente do que ocorre em outro países, o grosso do café produzido no país não vem exatamente deste modelo de produção nem tem sua comercialização focada na agregação de valor por meio da diferenciação do produto.

Na safra 2007/08, foram registradas exportações de café nicaragüense feitas por 50 empresas, mas 66% das vendas foram concentradas pelas 5 maiores exportadoras.

Assim como nos demais países centro-americanos, na Nicarágua há classificação do café de acordo com a altitude: em SHG (Strictly High Grown), acima de 1500 metros; HG (High Grown), entre 1300 e 1500m; GW (Good Washed), de 1000 a 1300m; e LG (Low Grown), abaixo de 1000 metros. As provas de xícara também estão ganhando ênfase. Desde que não comprometam as provas de xícara, boa parte dos HG e WG são ligados a cafés SHG e exportados como estes últimos.

Há casos específicos de destaque, como o do citado produto da Nespresso e dos bons resultados, desde 2002, do programa Cup of Excellence. Mas, em geral, o café nicaragüense ainda não desfruta de um conceito de qualidade e se posiciona no mercado mundial como um substituto mais barato para os suaves colombianos.

Estimativas de produção

Honduras

As estimativas para a safra de café hondurenha 2008/09, cuja colheita termina agora em março, situam-se entre 3,6 e 4 milhões de sacas. O USDA publicou, em dezembro, uma estimativa de 4,1 milhões de sacas, cuja diferença a maior se deveria à intensificação no uso de adubos, por conta do fornecimento feito pelo IHCAFE. Por outro lado, há notícias que, devido ao excesso de chuvas, teria havido atraso na colheita, queda de frutos e possível frustração das expectativas de produção. Fala-se em perda de mais de 350 mil sacas, mas ainda não há dados conclusivos nem mesmo estimativas oficiais.

A produção hondurenha vem apresentando crescimento sustentado, principalmente desde 2005, quando aumentou mais de 27%, com os incrementos anuais suplantando as oscilações que seriam esperadas por conta da bienalidade do café arábica.

Gráfico 1. Produção de café em Honduras desde 1999


Fontes: OIC e USDA (* estimativa USDA)

Nicarágua

No final da década de 1970, a produção de café da Nicarágua estava na casa de 1 milhão de sacas, apresentando um pico de 1,4 milhões em 1982. À época, eram cultivados 100 mil hectares de café no país. Porém, com a implantação de duas reformas agrárias e a estatização da comercialização do café, feitas pelos sandinistas, além das dificuldades de aquisição de insumos, por conta do embargo norte-americano, houve forte desestímulo à atividade. Muitos produtores tradicionais emigraram para os Estados Unidos. O nível de adoção de tecnologia e os investimentos nas lavouras recuaram fortemente, havendo até o abandono de cerca de 30 mil hectares. Tal contexto levou à drástica queda na produção chegando-se às apenas 460 mil sacas produzidas em 1990.

Com a saída dos sandinistas do poder em 1991, iniciou-se o processo de recuperação da produção, chegando-se novamente a 1 milhão de sacas em 1997. Atualmente, a média de duas safras situa-se entre 1,3 e 1,55 milhões de sacas, número que mantém certa estabilidade desde o ano 2000, com exceção de 2001/02 quando houve uma quebra mais expressiva de safra.

Gráfico 2. Produção de café na Nicarágua desde 1999


Fontes: OIC e USDA (* estimativa USDA)



Para a safra 2008/09, cuja colheita terminou em dezembro passado, as estimativas iniciais giravam em torno de 1,5 milhões de sacas, numa diminuição de cerca de 15% em relação a 2007/08 devido à bienalidade. No entanto, a quebra foi mais significativa, havendo menção até de produção de apenas 1,3 milhões de sacas. O fato é que o suprimento de café por parte da Nicarágua está bem mais apertado do que se previa antes da colheita.

Disponibilidade de café

Honduras

Em termos de quilos per capita, Honduras tem um consumo interno de café bem significativo, com seus 2,4 quilos por habitante sendo superados apenas por Brasil e Costa Rica. No entanto, como a população do país é pouco maior que 7 milhões de habitantes, as cerca de 250 mil sacas consumidas internamente representam menos de 10% da produção, não sendo suficientes para ter papel estabilizador de mercado.

Predomina o consumo de café torrado e moído, que conta com mais de 95% do total, sendo os 5% restantes ocupados por café solúvel. No mercado de torrado e moído, há forte presença do café torrefacto (torrado com açúcar). Existem marcas tradicionais que inclusive exportam torrefacto para o mercado de El Salvador, no qual têm boa penetração. Por outro lado, há um número crescente de lojas de café de alto nível, dentro do modelo norte-americano.

Honduras exporta mais de 90% de sua produção tendo como principais clientes a Alemanha, com mais de 31% das vendas, os EUA, pouco mais de 20%, e a Bélgica, acima de 13%. A maior parte dos mais de 40 exportadores hondurenhos concentra-se em San Pedro Sula, cidade próxima ao Puerto Cortés, que fica na costa do Atlântico, próximo à divisa com a Guatemala, e por onde praticamente são feitos todos os embarques de café para exportação. Os estoques de passagem são geralmente apenas residuais, ficando abaixo de 150 mil sacas.

Existe contrabando de café para Guatemala, onde o produto é vendido como local, beneficiando-se da imagem de qualidade e dos bons preços decorrentes do forte programa de marketing guatemalteco. Nesta safra os compradores guatemaltecos chegaram a pagar até 19,5 dólares a mais por saca, levando o contrabando das 200 a 250 mil sacas que já eram usuais para mais de 750 mil, segundo estimativas de agentes do mercado. A própria existência da retenção de 17,22 dólares por saca também acaba sendo um elemento impulsionador do contrabando, pois vender no mercado negro pode gerar ganho de mais de 35 dólares por saca.

Nicarágua

Da mesma forma que Honduras, a Nicarágua tem um bom nível de consumo per capita de café, em torno de 2 quilos por ano, mas, devido à sua população de apenas 5,6 milhões de habitantes, o consumo interno de 190 mil sacas por ano ainda não é suficiente para ter um papel estabilizador no mercado, pois representa apenas cerca de 15% da produção.

Foi realizada uma pesquisa de consumo de café e há planos de se montar um programa de promoção de consumo. Caso este obtenha resultados positivos, há, sim, possibilidades de que o consumo interno passe a estabilizar o mercado, já que a desproporção entre o volume de café produzido e o tamanho da população não é tão grande como em Honduras. Entretanto, para que o consumo interno represente 20% da produção o consumo per capita deve ir para 2,8 quilos por ano, num acréscimo de 37% em relação ao nível atual.

Predomina o hábito de consumo de café solúvel na Nicarágua. Indústrias de solúvel do país exportam para El Salvador, onde uma marca nicaragüense está entre as líderes de mercado.

No ano safra 2007/08, os Estados Unidos, com 45,8% das vendas, mantiveram com folga a posição de principal destino das exportações de café nicaragüense, seguidos pela Bélgica, com 12,3% e pela Alemanha, com 8,9%. Em tal período, as receitas com as exportações somaram aproximadamente 282 milhões de dólares. Já o resultado apenas do ano de 2008 foi de 278 milhões, o que coloca o café na posição de principal produto de exportação do país, com 17,8% da receita, seguido pela carne bovina com 13,8%. É interessante ressaltar que os estoques de passagem de café na Nicarágua geralmente são de nível semelhante ao consumo interno, ou seja, 15% da produção.

A maior parte do café nicaragüense é exportada pelo Puerto Cortés, em Honduras, mais estruturado que os portos locais e localizado na costa do Atlântico. O porto hondurenho é ligado à Nicarágua pela rodovia Pan American Highway. Recentemente, se busca manter os negócios de café dentro do país por meio da utilização do Puerto Corinto, localizado na costa do oceano Pacífico. Tal porto é administrado pela iniciativa privada, ligado por via férrea às maiores cidades do país e dista apenas 160 quilômetros da capital Manágua.

O descompasso entre oferta e demanda por suaves lavados

Os produtores de suaves lavados de outras origens, dentre as quais Honduras e Nicarágua, têm sido favorecidos pela restrição na oferta de café da Colômbia. Antes do início da colheita da safra colombiana 2008/09, havia previsão de ligeira queda na produção e muitos agentes de mercado trabalhavam, e venderam contratos, baseados em até algum nível de aumento na quantidade colhida.

Acontece que as perdas na colheita principal, realizada de outubro a janeiro passados, foram bem maiores que o esperado e quem estava vendido se viu em forte dificuldade para adquirir o produto no mercado físico em quantidade suficiente para cumprir os contratos. Com isso, os ágios para os suaves colombianos sobre o contrato C da Bolsa de Nova Iorque têm atingido picos históricos, até acima de 70 centavos de dólar por libra peso (US$ 92,59 / sc).

Os suaves nicaragüenses e hondurenhos, substitutos mais baratos do café colombiano, também experimentam aumentos significativos nos seus respectivos diferenciais positivos. Mesmo porque, também houve perdas nas safras de ambos os países e, da mesma forma que os colombianos, os exportadores nicaragüenses estão vendidos e com dificuldade de cumprir os contratos.

Mas, o que é chamado de safra principal pelos colombianos é na realidade uma intensificação um pouco maior da produção entre outubro e janeiro. Esta não é suficiente para que o volume de café produzido nesta "safra principal" suplante a produção dos outros 8 meses do ano, a chamada mitaca, que na média dos últimos nove anos correspondeu a 60% da safra total. E os resultados de fevereiro e março, dois primeiros meses da mitaca, não mostraram uma queda tão forte como a ocorrida na safra principal, o que pode indicar uma tendência de redução nos prêmios dos cafés lavados nos próximos meses.

OPORTUNIDADES PARA A CADEIA PRODUTIVA BRASILEIRA

Produção de café lavados (fully-washed)

O quadro de restrição de oferta e elevação dos preços pagos pelos suaves lavados abre a oportunidade de substituição desses cafés por produto brasileiro. Está havendo, em certa medida, substituição dos suaves por CDs brasileiros que apresentam certa acidez e características de bebida mais próxima daqueles. Tais cafés estão chegando a ser vendidos com prêmios de 10 a 15 centavos de dólar por libra peso (13 a 20 dólares por saca) sobre o contrato C de Nova Iorque.

Poderia haver um processo mais intenso de busca de substituição dos suaves por café brasileiro, cujo preço hoje chega a ser menor em até 50 centavos de dólar por libra peso (US$ 66,14 / sc). Mas, além do típico café natural brasileiro não ter a bebida tão semelhante à dos suaves, a restrição de crédito internacional por conta da crise financeira internacional tem dificultado o acesso aos adiantamentos de crédito e pressionado fortemente os custos destes que são uma ferramenta básica dos exportadores brasileiros. Tal fato tem alargado a diferença entre os preços FOB e o preço ao produtor, conturbando o mercado brasileiro e o fluxo das exportações neste início de 2009, apesar das vendas ainda suplantarem os resultados dos períodos semelhantes, tanto de 2008 como de 2007.

Caso o descompasso entre demanda e oferta de cafés lavados venha a se configurar como uma tendência de necessidade pelo mercado mundial de uma maior quantidade de cafés lavados, pode se abrir a oportunidade para que produtores brasileiros produzam este tipo de café. O lavado ou washed ou fully washed se diferencia do CD (cereja descascado) por, após o descasque, ter a mucilagem totalmente removida, seja por meios mecânicos ou pelo processo conhecido como por fermentação. O pergaminho é seco sem mucilagem, o que altera as características organolépticas da bebida, além de dar uma cor característica aos grãos.

Há que se salientar que os lavados brasileiros provavelmente não terão a mesma acidez dos colombianos, devido às altitudes menos elevadas e menores amplitudes térmicas nas regiões produtoras durante o período de colheita. Além disso, a janela de oportunidade para a venda desses cafés ocorreria principalmente entra a colheita brasileira e o início da safra colombiana e centro-americana, em outubro-novembro. A venda nesse período evitaria a concorrência dos suaves colombianos e centrais e também seria indicada pelo fato dos cafés lavados não suportarem períodos longos de armazenagem sem perder sua cor característica, a menos que sejam armazenados em pergaminho, o que não é usual no Brasil.

AMEAÇAS À CADEIA PRODUTIVA BRASILEIRA

Ocupação de parcela do mercado internacional de café

Os suaves hondurenhos e nicaragüenses não são competidores diretos dos naturais que compõem a grande maioria da produção brasileira. No mercado de café commodity, o crescimento sustentado que a produção hondurenha vem apresentando pode se revelar uma ameaça à cadeia produtiva dos cafés do Brasil, no sentido de ocupação de parcela de mercado. O incremento da produção hondurenha por si só não afeta substancialmente a participação brasileira no mercado internacional, porém sua soma aos volumes adicionais de outros países como Peru, Etiópia, Colômbia e Vietnã pode trazer riscos, principalmente porque é notório o quadro de limitado crescimento da produção brasileira de arábica.

Num contexto em que a crise financeira internacional trás relativa incerteza quanto à manutenção do crescimento da demanda mundial de café, tal problema pode ter seus impactos ainda mais dramatizados. Felizmente, nestes primeiros momentos, a demanda mundial parece manter sua tendência de crescimento, mas é prudente aguardar pelos próximos desdobramentos da crise.

Quando o real sofreu forte desvalorização, no segundo semestre de 2008, a perspectiva de melhora da rentabilidade do café arábica brasileiro frente ao produto de países cujas moedas não se desvalorizaram tão fortemente, caso de Honduras e Nicarágua, parecia bastante nítida. No entanto, em abril de 2009, os preços pagos aos produtores de arábica são apenas de 6 a 9% mais altos que os praticados no final de julho de 2008, com exceção dos CDs do Sul de Minas, que subiram de 12 a 14%, refletindo a escassez de cafés suaves já mencionada.

Com o aumento do salário mínimo em vigor desde fevereiro de 2009, a mão-de-obra, principal componente do custo de produção do café brasileiro, subiu cerca de 12% (supondo-se que quem ganha mais que o mínimo não tenha tido o mesmo percentual de aumento). Houve, é certo, uma forte queda nos preços dos fertilizantes, mas a rentabilidade de boa parte da cafeicultura brasileira de arábica continua bastante pressionada.

No quadro atual (em final de abril de 2009), os produtores de Honduras e Nicarágua continuam obtendo melhor rentabilidade que os produtores brasileiros de arábica. Em outubro de 2008, estudo apresentado em evento na Nicarágua apontava que, com preços de 120 centavos de dólar por libra peso e com a estrutura de custos vigente à época (antes da queda nos preços dos fertilizantes), os produtores centro-americanos conseguiam custear suas lavouras, mas o potencial de crescimento de produção era limitado.

Com preços na casa de 140 a 150 centavos, que chegaram a ser atingidos agora por meio dos ágios, já se esperava crescimento da produção, sendo que os custos atuais devem ser menores que os de outubro. Resta acompanhar o desenrolar das questões da falta de cafés suaves e da evolução da demanda mundial por café.

As informações são de Centro de Inteligência do Café, CIC.

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