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Sistema de Inteligência da Concorrência: Guatemala, Costa rica e El Salvador

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 21/01/2009

20 MIN DE LEITURA

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Contexto

Dentre os países produtores de café da América Central, Guatemala, Costa Rica e El Salvador são os que apresentam o foco de sua cafeicultura mais direcionado para a produção de cafés especiais. Apesar de juntos produzirem mais de 7 milhões de sacas (de 60 kgs), os três países optaram por enfrentar os efeitos da crise de preço do início desta década por meio da agregação de valor e têm focado principalmente nos nichos de mercado de cafés diferenciados, especiais, certificados, fairtrade e orgânicos.

Mesmo não tendo mais o mesmo peso de outrora, o café continua sendo um dos principais produtos agrícolas para Guatemala, Costa Rica e El Salvador. O café guatemalteco contribui com cerca de 1,8% do PIB, sendo o segundo produto de exportação do país, com 8,5% de participação e mais de 500 milhões de dólares de receita, em 2007. Na Costa Rica, cuja economia se diversificou mais, o setor de serviços, liderado pelo turismo, e a indústria, principalmente de componentes eletrônicos, respondem pela maior parcela do PIB. O café teve participação de apenas 0,93%, em 2007, apesar de responder por 2,73% das exportações, nas quais, dentre os produtos agrícolas, é superado apenas pela banana. Já em El Salvador, a produção de café (não se considerando a agroindústria) é responsável por 1,5% do PIB e por 4,1% das exportações, que são lideradas pelos produtos têxteis.

Dos três países, a Costa Rica com renda per capita 5.500 dólares, é o que tem indicadores sócio-econômicos mais positivos, também por contar com continuidade democrática há mais tempo. Nos últimos três anos, o país apresentou taxas de crescimento do PIB de mais de 6,5% em média, com pico de 8,2% em 2006. No entanto, o país conviveu com taxas de inflação anual de mais de 10% em 2005 e 2006, conseguindo reduzi-la para 7,9%, em 2007.

Mesmo El Salvador e Guatemala, com renda per capita na casa dos 2.500 dólares e que sofreram com a ocorrência de guerras civis e guerrilhas na segunda metade do século XX, passam por um período de re-estruturação, liberalização e diversificação da economia, apresentando taxas de crescimento acima de 4 e de 5,5%, respectivamente, nos dois últimos anos. Nestes países a inflação anual está mais controlada, ficando, em 2007, em 4,2% em El Salvador e 5,7% na Guatemala.

As guerras civis e guerrilhas, juntamente com os problemas econômicos que as acompanharam, levaram à migração de muitos salvadorenhos e guatemaltecos especialmente para os Estados Unidos, sendo que as remessas de dólares feitas pelos imigrantes representam importantes fontes de divisas para ambos os países. Ao contrário de El Salvador e Guatemala, a Costa Rica é receptora de imigrantes, principalmente da Nicarágua, com muitos destes trabalhando na cafeicultura, mas, por outro lado, sobrecarregando o sistema de assistência social do país.

Os três países fazem parte do CAFTA (sigla, em inglês, para acordo de livre comércio entre América Central e EUA). O acordo tem propiciado o aumento dos investimentos estrangeiros, inclusive nas chamadas "maquilas", que manufaturam produtos sob encomenda de empresas internacionais. Mas a contrapartida, que é o acesso maior ao mercado dos EUA, não tem sido tão significativa, já que, mesmo antes do acordo, a maior parte dos produtos agrícolas já tinha acesso livre e sem taxas.

A cafeicultura em cada país

Na cafeicultura de Guatemala, Costa Rica e El Salvador predominam o cultivo em áreas de solos vulcânicos, boa fertilidade, em topografia acidentada, e a colheita é seletiva manual, com utilização de cestas, implicando em alta demanda de mão-de-obra. É produzido basicamente café arábica; e um pequeno volume de robusta, nas regiões mais baixas da Guatemala.



Guatemala

Na Guatemala 98% do café é cultivado sob sombra, havendo forte utilização de tal condição como argumento de marketing ambiental. Predomina secagem em terreiros, mas há muitos secadores no país e grandes plantas de benefício úmido. O café é mais comumente comercializado em pergaminho seco. As variedades mais cultivadas são bourbon vermelho, typica e maragogipe.

Mapa cafeeiro da Guatemala



A colheita na Guatemala se estende da segunda quinzena de agosto até março, principalmente devido à conjunção da grande variação nas altitudes das regiões de plantio, de 800 a mais de 1.400 metros de altitude, e do cultivo sob sombra. Há regiões cafeeiras aonde chega a chover até 5.000 milímetros por ano, com estações climáticas bem definidas, e a Guatemala conta com um suprimento de água doce muito abundante, pois seus rios são numerosos a ponto de formar uma imagem semelhante a uma teia em seu mapa hidrológico.

Os plantios são mais adensados que no Brasil, com média na casa das 3.800 plantas por hectare. A produtividade na Guatemala fica próxima de 17 sacas por hectare. Também há predominância de pequenos produtores, mas existem fazendas de porte maior, bem estruturadas, inclusive com plantas de beneficiamento de boa capacidade de processamento

A Guatemala ocupa uma posição de destaque no mercado mundial de cafés especiais, com os cafés conhecidos com HB e SHB (hard bean e strictly hard bean, respectivamente). Estes últimos são produzidos em terras mais altas, acima de 1370 metros de altitude e reputados dentre os melhores cafés do mundo, sendo que sua maturação lenta, também devida ao cultivo sob sombra, propicia o desenvolvimento mais intenso e completo das notas (aspectos) de sabor. Vale ressaltar que essas denominações nada têm a ver com a classificação de bebida dura, utilizada no Brasil.



O país tem um programa de marketing muito bem estruturado, no qual o país é divido em oito regiões produtoras caracterizadas por altitude, pluviosidade, temperatura, umidade relativa, período de colheita, variedades cultivadas, método de secagem e espécies de árvores de sombra predominantes. A importância dessa última característica vem do fato de que, juntamente com a qualidade da bebida, o argumento de preservação da natureza é uma das bases do marketing guatemalteco.

Há uma pequena produção de café robusta em regiões mais baixas, mas esta diminui na medida em que o país direciona sua cafeicultura para os nichos de cafés de qualidade diferenciada.

Costa Rica

Na Costa Rica, a produção de café robusta é proibida desde 1989 e mesmo o cultivo da variedade catimor, arábica, vem sendo abandonado em prol das variedades caturra e catuaí, de melhor bebida, ainda que menos produtivas. O cultivo de café a pleno sol predomina no país, principalmente entre os produtores maiores e mais tecnificados. O processamento é feito por via úmida, geralmente fora das fazendas e muitas vezes próximo a áreas urbanas, por prestadores de serviço, cooperativas e empresas compradoras de café. Inclusive, o país foi pioneiro no estabelecimento de limites para poluição de água no processo de lavagem do café. A secagem é feita principalmente em secadores, mas também em terreiros. Há comércio de café em cereja, sendo comuns tulhas às margens das estradas, nas quais os produtores depositam o café para posterior embarque nos caminhões.

Mapa cafeeiro da Costa Rica



Existem processos de rastreamento dos cafés melhor preparados, visando obtenção de prêmios de preço. A ênfase na qualidade, não na quantidade, é claramente afirmada pelo ICAFE, Instituto do Café da Costa Rica, órgão governamental responsável pela política cafeeira e pelo suporte técnico à cafeicultura (pesquisa e extensão). Segundo o ICAFÉ, 40% do café da Costa Rica é comercializado com sobrepreço no mercado de cafés de qualidade.

O café costarriquenho é cultivado em altitudes entre 600 e 1.900 metros, com temperaturas entre 17º e 28º C e precipitações anuais de 2.000 a 3.000 milímetros bem distribuídos. Também há a classificação dos cafés de acordo com a altitude e que se relaciona com as características de bebida. Os cafés mais valorizados são os SHB e GHB (strictly hard bean e good hard bean), produzidos acima de 1200 metros de altitude.



Os plantios são bastante adensados, havendo recomendação do ICAFE para 7.000 plantas por hectare. A colheita na Costa Rica é ainda mais longa que na Guatemala. Vai de julho, nas áreas mais baixas da região de Guanacaste, até meados de março, mas áreas acima de 1.600 metros de altitude das regiões do Valle Central e de Tarrazú. A produtividade média por hectare é de 18,6 sacas, relativamente próxima da brasileira.

Os pequenos produtores, com propriedades menores que 10 hectares, e entre 3 e 5 hectares de café, são maioria na Costa Rica. No entanto, há fazendas com mais de 100 ha, as quais respondem por cerca de 30% da produção do país, apesar de serem apenas 3% em número. O cooperativismo é muito difundido e cerca de 70% dos cafeicultores são associados às 30 cooperativas existentes.

El Salvador

Em El Salvador, predomina o cultivo sob sombra, os plantios também são mais adensados que no Brasil, com média de 3.300 plantas por hectare, porém a produtividade situa-se próxima a 8,7 sacas. A colheita se inicia em outubro nas regiões mais baixas, se estendendo até março nas áreas mais altas.

Mapa cafeeiro de El Salvador



O processamento de café também é feito por via úmida. Em geral o beneficiamento do café é feito fora das fazendas, por empresas prestadoras de serviço, cooperativas e empresas compradoras, havendo também comércio de café em cereja.

De acordo com o Conselho Salvadorenho do Café, CSC, existem cerca de 23.400 produtores no país, nos quais os pequenos, com área até 17,5 hectares, predominam em número. São 87%, mas contribuem com apenas 21% da produção, enquanto que, os que possuem áreas acima de 35 hectares, considerados grandes, aportam 65% da produção nacional.



A cafeicultura de El Salvador foi, dentre as três, a que mais sofreu com a crise cafeeira da primeira metade desta década e ainda busca se recuperar, principalmente por meio da diferenciação dos produtos. O processo de recuperação também foi prejudicado por repetidos desastres climáticos. Ainda há débitos sendo rolados, mas o governo tem garantido novos financiamentos para os produtores. Por outro lado, a cafeicultura salvadorenha tem sofrido a concorrência de outras culturas agrícolas e do loteamento das fazendas para construção de casas para temporada, especialmente para emigrantes salvadorenhos. Esta pressão imobiliária ocorre também na Costa Rica e na Guatemala.

A variedade mais cultivada em El Salvador é o bourbon vermelho, com 68% da área total. Há também a pacas (originada de uma mutação natural do bourbon), com 29% da área e os 3% restantes se distribuem entre pacamara (híbrido salvadorenho de pacas e maragogipe com propriedades excelentes de bebida), além de outras variedades como caturra, catuaí e catisic.

O CSC certifica cafés como gourmet com base numa série de doze requisitos que vão desde a variedade (no mínimo 90% de bourbon, pacamara e maragogipe) e ausência total de verdes até a exigência de fermentação natural. El Salvador também classifica seu café de acordo com a altitude. As classificações principais são central standard, CS, produzido entre 600 e 800 metros; high grown, produzido entre 800 e 1.200 metros e strictly high grown, SHG, produzido acima de 1.200 metros.

Economia cafeeira

A escassez de mão-de-obra, principalmente devido à migração para as zonas urbanas ou mesmo para os Estados Unidos tem, assim como o aumento nos preços dos fertilizantes, pressionado os custos de produção do café nos três países. No entanto, este efeito vinha sendo amenizado pelo fato das taxas de câmbio de suas moedas terem apresentado um comportamento frente ao dólar bastante diverso da forte valorização do real ou mesmo do peso colombiano. A economia salvadorenha está dolarizada desde 2001, o quetzal, guatemalteco, se valorizou apenas 2,7% entre janeiro de 2003 e julho de 2008, enquanto o colon costa-riquenho se desvalorizou 30,85% frente ao dólar no mesmo período.

A crise mundial que se desenrola, mais dramaticamente desde o início de setembro, certamente trará mudanças substanciais para as cadeias produtivas do café nos três países. Nestes primeiros momentos, os preços internos do café estão sendo deprimidos junto com as cotações da NYBOT, que caíram cerca de 25% desde o início de agosto. Como as moedas dos três países não tinham acumulado valorização, não houve espaço para desvalorizações expressivas. O colon costa-riquenho se desvalorizou apenas 0,65%, desde o final de julho, o quetzal guatemalteco caiu 4,5% e a economia salvadorenha continua dolarizada.

Tem sido apontada por muitos analistas uma possível tendência de diminuição do consumo nas cafeterias dos Estados Unidos, o que pode trazer problemas para os países, como Guatemala, Costa Rica e El Salvador, focados preferencialmente na produção de cafés especiais. Mas há quem aponte uma transferência deste consumo para máquinas de espresso dentro dos lares, o que amenizaria a situação, principalmente porque, nesse caso, uma maior parcela do café consumido seria de specialty, o que nem sempre ocorre na preparação dos shakes e outras bebidas a base de café vendidas nas cafeterias.

Outro aspecto capaz de amenizar as perspectivas para a cafeicultura dos três países é a possível queda dos custos de produção. A disponibilidade de mão-de-obra pode aumentar caso haja retorno expressivo de imigrantes dos Estados Unidos, além de que a oferta de trabalhadores pode crescer se as economias locais diminuírem seu ritmo de crescimento e houver redução nas oportunidades de trabalho no meio urbano. A queda das cotações do petróleo, junto com a redução da demanda, também teve impacto positivo nos preços dos fertilizantes que têm recuado nos últimos meses.

Estimativas de Produção

Estima-se que no ano safra 2007/08, encerrado em setembro passado, a produção somada dos três países tenha ficado na casa dos 7,3 milhões de sacas. Sendo 4 milhões da Guatemala, 1,85 da Costa Rica e 1,45 milhões de El Salvador. Todos os três países apresentaram incrementos em relação a 2006/07, devido principalmente às oscilações de produção características do café arábica, boas condições climáticas e também à recuperação dos preços das cotações da commodity que propiciou a realização de melhores tratos nas lavouras. Destaca-se o caso da Costa Rica para a qual se estima um crescimento de mais de 15%, em 2007/08.

Foram verificados bons preços internacionais no primeiro semestre deste ano e, graças às taxas de câmbio favoráveis, estes se refletiram em valores nos mercados internos que possibilitaram manter os tratos culturais num nível bom, apesar dos aumentos de custos. Além disso, as condições climáticas nos três países foram boas, em termos gerais, apenas com algum excesso de chuvas em regiões produtoras dos três países. Tal quadro aponta para quedas amenas na produção, havendo até previsões de estabilidade.

Há rumores, no entanto, de que pode haver queda um pouco mais significativa na produção da Guatemala, os quais se reforçaram, desde setembro, com o agravamento da crise mundial. E os beneficiadores de café da Costa Rica estão recebendo menos café do que o previsto para a colheita em curso.

No passado, os três países já obtiveram safras bem maiores que as atuais, de quase 3 milhões de sacas na Costa Rica; mais de 3,3 milhões de sacas em El Salvador e mais de 5 milhões na Guatemala. As sucessivas crises de preço, além das guerras civis em El Salvador e na Guatemala, levaram a produção a níveis até menores que os atuais - os três países produziram apenas 6,8 milhões de sacas em 2003/04. Mas, se a tendência de queda parece ter cessado, por outro lado, as limitações atuais, principalmente de mão-de-obra (concomitante com a diversificação das economias), além do foco na qualidade e não na quantidade, dificilmente permitirão que a recuperação em curso culmine nos maiores volumes produzidos outrora, apesar de já se reportar leve aumento na área cultivada na Guatemala.

Produção desde 1990 (soma dos 3 países)



Em verdade, estes três países optaram por enfrentar a ultima crise de preço do café principalmente através de agregação de valor a seu produto, sem necessariamente buscar aumentar a eficiência da produção, o que os expõe mais à crise global e um eventual enfraquecimento da demanda por cafés especiais. A Costa Rica em especial, mas também a Guatemala, está entre os países do mundo que direcionam porcentagens mais altas de sua produção ao mercado de cafés especiais.

O café cereja descascado, que passou a ser produzido mais intensamente no Brasil desde a segunda metade da década de 90, se revelou mais competitivo que os suaves de menor qualidade, inclusive para preparo de espressos. Este fato levou à diminuição da produção nas áreas mais baixas da Guatemala. Houve também redução na produção de robusta. Com a diminuição na produção desses cafés e o foco no aumento da qualidade foi observada no país uma grande evolução nesse sentido com o percentual dos cafés HB e SHB passando de 52% para 83% do total exportado pelo país entre 1995/96 e 2006/07.

Disponibilidade de café

Apenas 11% do café produzido pelos três países é consumido internamente. O principal destino das vendas da Guatemala são os Estados Unidos, com participação de 50%. Em seguida, se posicionam o Japão, com 10%, e a Alemanha, com 8% de participação nas vendas. Se busca fortemente aumentar a participação dos cafés de maior valor agregado, principalmente SHB. Foram registradas oito marcas, Acatenango Valley, Antigua Coffee, Traditional Atitlán, Rainforest Cobán, Fraijanes Plateau, Highland Huehue, New Oriente e Volcanic San Marcos, correspondentes a regiões produtoras deste tipo de café. Há um processo de caracterização das marcas muito bem feito, abordando os perfis de bebida dos cafés, as condições edafo-climáticas, épocas de colheita, variedades produzidas, espécies de árvores de sombra predominantes, além dos métodos de processamento e secagem. O sistema inclui ainda o georreferenciamento das fazendas produtoras, o que parece ser a base para a busca de reconhecimento como origens controladas.

Distribuição das exportações da Guatemala - safra 2006/07



Além das características de cada marca, o marketing do café guatemalteco é fortemente embasado na preservação ambiental, que, segundo seu argumento, deriva da produção sob sombra e da manutenção da cobertura florestal.



A Costa Rica exportou na safra 2007/08 cerca de 1,6 milhões de sacas com preço CIF médio de 183,57 dólares por saca de 60 quilos. O principal destino das vendas também foram os Estados Unidos, com participação de 52%, seguidos por Alemanha e Japão, com 11 e 8%, respectivamente. Há um programa de marketing internacional estruturado, com ênfase nas especificidades dos cafés das oito regiões produtoras: Brunca, Turrialba, Tres Ríos, Orosi, Tarrazú, Valles Central e Occidental e Guanacaste. O café de Tarrazú é a ponta de lança do programa, sendo, dentre os oito, o mais renomado internacionalmente.

Distribuição das exportações da Costa Rica - safra 2006/07



No caso de El Salvador, o principal destino das exportações também são os Estados Unidos, mas sua participação, na casa de 32%, é menos de 1% maior que a da Alemanha, segundo maior comprador. Em seguida vêm o Japão, com 9%, e a Bélgica com 7%.

Distribuição das exportações de El Salvador - safra 2005/06



Os três países têm buscado fortemente a agregação de valor ao café e o reconhecimento da qualidade de seus produtos e marcas, no que a Costa Rica e a Guatemala, principalmente com o café Antígua, estão num estágio bem mais avançado que El Salvador. Nos três países os leilões do Cup of Excellence têm tido bons resultados e sido divulgados como indicadores de sucesso na busca pela qualidade.

Essa busca por reconhecimento motiva o posicionamento contrário dos cafeicultores da região ao tratado de livre comércio em negociação com a União Européia caso este não explicite claramente a origem do café como seu local de cultivo, ao invés do local de industrialização como sugerido pelos europeus.

Apenas El Salvador tem apresentado tendência de crescimento do consumo nos últimos anos, apesar de já verificado taxas anuais de mais de 10% que declinaram para pouco menos de 5%, entre 2006 e 2007. Ainda assim, há possibilidade de aumento, pois tem aumentado a disponibilidade de marcas de café no varejo, há uma crescente abertura de cafeterias, principalmente em shoppings, e existe um programa de promoção de consumo.

A maior parte das 212 mil sacas consumidas anualmente é de café solúvel, importado principalmente da Nicarágua, do México e do Brasil. O consumo de solúvel em 2007/08 é estimado em equivalente a 180 mil sacas de café verde, com as 32 mil restantes sendo de torrado e moído, em cujo mercado há atuação de marcas de Honduras e também da Guatemala e da Costa Rica.

Mantida a produção atual de 1,75 milhões de sacas, se o consumo per capita atingir o nível de 5,6 kg/ano (equivalente café verde), apresentado hoje pelo Brasil, o volume consumido internamente também estará acima de 40% da produção. Em tal nível, o consumo interno certamente terá o papel estabilizador de mercado ora verificado no Brasil, onde, no início dos programas de consumo, em 1985, partiu-se de um nível de 2,83 kg per capita/ano, contra o patamar de 1,85 kg per capita/ano apresentado atualmente por El Salvador.

A Costa Rica tem, após o Brasil, o segundo maior consumo per capita dos países produtores de café, pouco acima de 4 kg, em equivalente café verde, oscilando em torno de 300 mil sacas/ano. O café torrado e moído é produzido em duas formas, puro ou na forma de um produto chamado "torrefacto", que contém até 10% de açúcar, acrescentando ao final do processo de torra. O consumo se mantém relativamente estável, oscilando para baixo em razão do crescimento do consumo do "torrefacto", impulsionado pelo seu baixo preço. Hoje o "torrefacto" ocupa 60% do mercado, com cerca de 40% para o torrado e moído puro e menos que 1% de café solúvel, importado do México e da Nicarágua. No sentido oposto, o consumo interno tem sido favorecido pelo influxo de turistas, que foram mais de 2 milhões, em 2007, com alto poder aquisitivo e muitos dos quais acabam levando café como presentes de viagem. Há um programa de promoção de consumo de café em fase de organização pré-lançamento.

O consumo na Guatemala está na casa de 1,5 quilo per capita/ano, correspondendo a 340 mil sacas. Destas 300 mil são de torrado e moído, produzidas pela indústria local, e as 40 mil restantes café solúvel, importadas, cuja maior parte é de solúvel descafeinado proveniente dos Estados Unidos. A ANACAFÉ tem feito ações de educação do consumidor e o aumento de consumo também tem sido favorecido pelo crescimento de número de cafeterias em atividade no país.

Os cafés dos três países são aceitos para entrega física para o contrato C da Bolsa de Nova Iorque. Muitos produtores têm feito vendas futuras na bolsa e são comuns contratos de fornecimento, principalmente de cafés mais diferenciados, para redes internacionais de cafeterias. Os estoques de café verde nos três países ao final do ano safra 2007/08 eram residuais, com uma soma na casa das 200 mil sacas.

Oportunidades para a cadeia produtiva brasileira

Dado ao enfoque preferencial dos três países na ocupação de nichos de mercado de cafés diferenciados, uma oportunidade que pode se abrir para a cadeia produtiva dos cafés do Brasil é o abastecimento de parte dos seus mercados internos. Porém, para tal, é necessário que o ocorra forte incremento no consumo por conta dos programas de incentivo em desenvolvimento e/ou implantação. Vale lembrar que a soma da população dos três países fica abaixo de 25 milhões de habitantes e a Costa Rica já apresenta um nível alto de consumo per capita de café.

Para a Costa Rica, pode se abrir espaço para exportação, na forma de café verde, de arábicas mais baixos e de conilon para utilização no "torrefacto", já que o consumo de café solúvel é incipiente.

No caso de El Salvador, já há exportação de café solúvel que pode ser incrementada havendo aumento de consumo em resultado do programa de promoção.

Em relação à Guatemala, já houve estudos de empresas brasileiras no sentido de utilizar o país como plataforma de re-exportação de café brasileiro que seria utilizado em ligas com café local, o qual não pode ser importado para industrialização no Brasil.

Ameaças à cadeia produtiva brasileira

Como o foco dos três países está na agregação de valor e não na ampliação da produção, as principais ameaças oferecidas à cadeia produtiva dos cafés do Brasil estão nos nichos de mercado dos cafés diferenciados. Uma possibilidade é uma atuação mais forte no mercado de cafés especiais para espresso (ex. Starbucks e illycafé), caso, principalmente em El Salvador e na Costa Rica, o processamento do café passe a ser feito com desmucilagem parcial, mais semelhante ao cereja descascado (CD) brasileiro.

O CD brasileiro tomou espaço dos cafés dos três países num dado momento. Pode até haver substituição no sentido inverso. Mas, apesar dos produtores brasileiros de arábica ainda enfrentarem dificuldades, principalmente por terem custeado a safra 2008/09 numa conjuntura desfavorável, a balança parece pender de novo a favor do Brasil, com a mudança do quadro cambial.

Com a forte desvalorização do real, ocorrida nos últimos meses, o custo de produção de uma saca de café arábica no Brasil foi trazido, apenas pelo efeito cambial, para a faixa entre 80 e 90 centavos de dólar por libra peso, e mesmo 70 centavos para os produtores mais eficientes. A mão-de-obra, nosso principal componente de custo, é paga em reais. Como as moedas de Guatemala, Costa Rica e El Salvador não se desvalorizaram não houve tal efeito sobre o custo. Além disso, é bastante provável que, pela melhor estrutura de produção e logística, haja queda maior nos preços em dólar dos fertilizantes no Brasil, onde são inclusive muito mais usados no que nesses países. As informações são do Centro de Inteligência do Café - CIC.

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