O preço do cafezinho, que já estava em alta, deve continuar aumentando por tempo indeterminado. A tendência é explicada por uma conjunção de fatores, incluindo a estiagem registrada em 2011, que deve encarecer o custo da matéria prima - o grão do café - no próximo ano.

Além do atraso nas chuvas, que implicará na redução da produção, o aumento do consumo no mercado interno e externo e a valorização do dólar frente ao real devem fazer com que os produtores passem a cobrar mais pela commodity. Mas, se o valor da saca já dobrou em apenas um ano, o aumento para o consumidor não deverá ultrapassar os 20% em 2012, conforme projeções de especialistas. Isso porque a formação de preços é influenciada por outros custos como torrefação, embalagem, publicidade e especulação.

Conforme explica Maurício Lima Verde, vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) e representante dos produtores brasileiros do setor privado na Organização Internacional do Café (OIC), a escassez de café é uma ameaça permanente que, no próximo ano, deve começar a se confirmar. Na safra atual, a expectativa é de que o país produza 43 milhões de sacas, volume 10,3% menor do que o verificado no ciclo passado, quando foram colhidos 48 milhões de sacas.

"Agora, com esta seca que se prolonga até agora, não podemos prever o que vai ocorrer com a safra do ano que vem. Seria essencial que chovesse neste momento, quando ocorrem as floradas", pontua. Há ainda uma preocupação em relação ao desenvolvimento das lavouras que foram castigadas pelas geadas nos últimos dois meses e também quanto às previsões de chuvas acima da média nos próximos três meses, o que pode influenciar na qualidade do produto final.

A alta nos preços do café ao consumidor, que já é registrada há pelo menos dois anos, também deve se prolongar porque o dólar ficou mais caro. Apenas no último mês, a moeda americana sofreu uma valorização de 19% e chegou a R$ 1,90, a maior cotação desde setembro de 2009.

"Como o produtor vende em dólar para outros países, para onde é destinada a maior parte da nossa produção, esta alta acaba tendo impacto também no mercado interno. Mas o reflexo demora a ser sentido pelos consumidores, embora seja uma elevação inevitável num futuro não muito distante", aponta Lima Verde.

Status

Como a alta da moeda americana deve estimular os produtores a comercializar a commodity no mercado internacional, ele acredita que o governo federal deverá criar mecanismos para manter o produto em quantidade suficiente para garantir o abastecimento interno. "Por enquanto, não deve faltar café no Brasil, mesmo porque a tendência é que grandes consumidores que estão em crise financeira, como os Estados Unidos, comecem a reduzir suas compras", pondera.

O vice-presidente da Faesp reconhece que, anualmente, as previsões de escassez de café nunca chegam a ser confirmadas. Mas argumenta que, desta vez, as condições atípicas devem fazer com que os preços realmente sejam reajustados, também por conta do consumo mundial que cresce 5% ao ano.

"Os países compradores já não conseguem fazer mais estoques, porque o consumo, essencialmente entre jovens, aumentou muito. O café sempre fez parte da vida das pessoas mas, recentemente, ganhou um status novo. Começou a ser vendido com certificações de acordo com a região ou o modo como é produzido, o que vem ajudando a conquistar novas gerações e fortalecer ainda mais as vendas", revela.

Mas, como o fenômeno não vem sendo acompanhado pelo aumento no ritmo de produção, a previsão é de que, em 2015, realmente falte café no mundo. "Até lá, ninguém vai ficar sem tomar café, mas as altas de preços devem se tornar sucessivas", adianta.

As informações são do JCNET, adaptadas pela Equipe CaféPoint.