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Consórcio irrigado aumenta em 60% a produtividade do café, diz estudo da Apta

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 27/01/2017

5 MIN DE LEITURA

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Da redação

O plantio consorciado de macadâmia HAES 816, desenvolvida no Hawaii, com café melhoram a produtividade das culturas. O estudo desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostra que condições irrigadas, o salto da produtividade do café foi de 60% e o de macadâmia de 251%, em relação aos cultivos solteiros não irrigados.

Os resultados do estudo foram publicados na edição de novembro de 2016 da revista americana Agronomy Journal, um dos principais periódicos científicos sobre agricultura do mundo.


O pesquisador da Apta, Marcos José Perdoná, explicou que a cultivar de macadâmia HAES 816 foi identificada como a mais apropriada para o cultivo consorciado por ter menor crescimento horizontal, por precisar de pouca poda e suas amêndoas e por ter maior rendimento industrial. “Esta já é uma cultivar utilizada no Brasil, mas no consórcio, o material se mostrou muito mais promissor. Geralmente, a noz é formada por 75% de casca e 25% de amêndoa. Esta cultivar tem de 35% a 40% de peso de amêndoa, o que é muito interessante para a indústria”, afirmou Perdoná.

A diminuição no número de podas da árvore de macadâmia é outro ponto avaliado pelos pesquisadores. Perdoná explicou que as outras cultivares precisam de mais podas, para não fazer tanta sombra no cafezal e atrapalhar a produção e a mecanização das operações. “Isso encarece os custos do sistema”, disse.

A pesquisa avaliou seis cultivares de macadâmia, sendo três delas desenvolvidas no Brasil, pelo Instituto Agronômico (IAC), e outras três pelo Hawaii Agricultural Experiment Station (HAES). “Os materiais do IAC são mais produtivos que os havaianos no cultivo solteiro, porém, no consórcio exigem muitas podas e a produtividade diminui”, avalia o pesquisador.

Em um novo projeto interinstitucional, envolvendo Apta e Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), iniciado em 2015 e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os pesquisadores da APTA, Marcos Perdoná, e da Unesp, Rogério Soratto, trabalham para avaliar a viabilidade da colheita totalmente mecânica no sistema. “Os resultados iniciais são muito promissores”, ponderou Perdoná.

A inovação desenvolvida pela Apta, tem sido usada em diversas regiões, principalmente, nas produtoras de café, como o Sul de Minas Gerais, Franca e Garça, em São Paulo.

O sistema, normalmente, é utilizado por cafeicultores que querem diversificar e aumentar sua renda, com a introdução de uma nova cultura. “A macadâmia é fácil de ser conduzida, diferentemente do café, que é uma cultura mais complexa. Sempre orientamos que o sistema seja usado por produtores que já plantam café. A chance de sucesso é maior desta forma”, destacou Perdoná.

Os estudos inéditos da Apta relacionados ao consórcio entre café e macadâmia vêm sendo conduzidos desde 2005, pelo Polo Regional de Bauru da Agência. Esta é a segunda vez que os resultados dos ensaios são publicados na Agronomy Journal. Em 2015, a pesquisa foi capa da revista.

Vantagens do consórcio
De acordo com Perdoná, a rentabilidade insatisfatória do café, ocasionada por produtividade insuficiente, produz uma situação de insustentabilidade em boa parte da cafeicultura paulista. “O estudo avaliou o crescimento e produtividade do café arábica em monocultivo e consorciado com macadâmia, com e sem irrigação, assim como avaliou a rentabilidade e o período de retorno desses cultivos para as condições paulistas. A pesquisa fornece importantes informações que podem colaborar na viabilidade da cafeicultura no Estado”, esclareceu o pesquisador.

A explicação para o aumento expressivo na produtividade do café está na arborização das plantas, proporcionado pelas árvores de macadâmia, que protegem das ações do calor e vento, que provocam abortamento de flores e ferimentos nas folhas. “O cafezal sofre muito com a ação dos ventos. O uso da macadâmia pode diminuir em 72% a velocidade dos ventos e em 2,2ºC a temperatura média do ar. Além disso, o uso da irrigação é decisivo na produtividade das lavouras de café no Estado”, disse Perdoná.

Outra justificativa para o ganho da produção do café está na ciclagem de nutrientes. As raízes da macadâmia, mais profundas que as do cafeeiro, resgatam nutrientes que já estavam perdidos. Com a queda e decomposição das folhas, há o aumento da matéria orgânica e de nutrientes disponíveis, melhorando ambiente para o cafeeiro. O pesquisador alertou que o ambiente mais úmido também pode causar alguns problemas na produção, como o aumento da ferrugem e broca do café.

Além das vantagens da árvore da macadâmia para a cultura do café, o consórcio também traz benefícios para o cultivo da nogueira, que aproveita as condições de fertilidade e sombreamento do solo, para um maior desenvolvimento radicular e consegue atingir maior crescimento e antecipação da produção.

A principal dificuldade enfrentada para a expansão da macadâmia no Brasil é o elevado período de retorno do investimento – a noz começa a produzir depois de cinco anos e apenas quando atinge 12 anos tem produção rentável, de 15 quilos de noz por planta. Quando consorciada com o café irrigado, a cultura começa a produzir dois anos mais cedo e aos três anos já tem produção comercial. “O uso de tecnologias, como o cultivo consorciado e a irrigação, são as melhores alternativas para solução deste problema”, afirma o pesquisador.

Os resultados de nove anos de pesquisas mostram que a produtividade da amêndoa, em relação ao sistema de cultivo de macadâmia solteira foi de 51%, 176% e 251% superior para os sistemas consórcio macadâmia-café, sequeiro, macadâmia solteira irrigada e consórcio macadâmia-café irrigado, respectivamente.

A produção mundial de macadâmia é em torno de 160 mil toneladas anuais. O Brasil produz seis mil toneladas por ano, sendo São Paulo o maior produtor, responsável por 35% do volume nacional, e maior processador da noz. Cerca de metade da produção nacional é consumida internamente e o restante é exportado.

A macadâmia é a segunda noz mais cara do mundo – perdendo apenas para a noz pinoli, usada para fazer molho pesto. Além disso, com a alta do dólar, o produto é ainda mais atrativo, já que possui ampla venda no mercado externo. Perdoná explica que o preço da safra da macadâmia vem crescendo ano a ano. Segundo ele, em 2013, o quilo da noz custava R$ 3,50, em 2014 passou para R$ 5,00, em 2015 para R$ 6,50 e em 2016 atingiu R$ 8,00.

Para o secretário de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, a pesquisa dá mais uma opção para o agricultor que podem complementar e antecipar sua renda. “Uma das orientações do governador Geraldo Alckmin é justamente melhorarmos, por meio da pesquisa científica, a condição de vida no campo”, ponderou.
 

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