Incontestavelmente, foi ele o líder que colocou o Brasil em situação de destaque, com o desenvolvimento de cultivares mais competitivas e resistentes e com a formação de um dos bancos de germoplasma mais completos do mundo.
Recém formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em 1934, Alcides Carvalho foi convidado a integrar a equipe de Carlos Arnaldo Krug, na antiga Seção de Genética do IAC. Os estudos sobre os mecanismos de reprodução, análises genéticas e citológicas, bem como pesquisas relacionadas à fisiologia e à química do café, o fizeram merecedor de cada prêmio recebido. Entre os títulos e homenagens, foi agraciado com o título de doutor honoris causa pela Esalq e o Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia (1982).
Também foi pelo reconhecimento à sua paixão pela pesquisa cafeeira que foi considerado, por ocasião de sua aposentadoria compulsória em 1983, servidor emérito do Estado, o que permitiu que continuasse por mais 10 anos os estudos e a formação de novos pesquisadores.
Visionário de uma nova época de bonança para a cafeicultura, Alcides Carvalho trabalhava na busca de cultivares com maior potencial de produção contrapondo-se ao contexto onde a problemática era o grande volume de café armazenado. No início da década de 30, milhares de sacas de café eram queimadas ou jogadas ao mar, enquanto o sábio pesquisador desenvolvia um árduo trabalho de melhoramento do cafeeiro. O resultado chegou na década de 50 com o Mundo Novo, na década de 60 o Acaiá, e na década de 70 o Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, cultivares de porte baixo, rusticidade e alta produtividade, que conquistaram os cafeicultores.
Quando a ferrugem do cafeeiro chegou ao Brasil em 1970, a equipe de Alcides Carvalho estava preparada para o desafio, já que desde 1953 os estudos focalizavam o desenvolvimento de material com resistência ao fungo. O programa de combate à ferrugem contou com material selecionado para diversas regiões produtoras. Os estudos continuaram e, em 1992, um ano antes de sua morte, participou do lançamento de cultivares de porte alto resistentes à ferrugem (Icatu vermelho, Icatu Amarelo e Icatu Precoce).
Se Alcides Carvalho desenvolveu tanto conhecimento numa época em que a tecnologia dava seus primeiros passos, imagina o que o notável pesquisador faria com o genoma do cafeeiro e as modernidades da biotecnologia em suas mãos.
Chão Fecundo
Uma passagem do livro "Chão Fecundo: 100 anos de História do Instituto Agronômico de Campinas" (Carmo e Alvim, 1987), ilustra com mestria o reconhecimento ao mestre maior da cafeicultura brasileira, por ocasião da solenidade de comemoração do centenário do Instituto.
Segue a passagem:
"O velho pesquisador ponderou que preferia ficar na platéia, assistindo à sessão ao lado da mulher...Carvalho foi um dos últimos a ser chamados. Quando Antônio Roque Dechen pronunciou seu nome, ele o fez acompanhar de um qualificativo - "Alcides Carvalho, símbolo do trabalho científico em prol da agricultura". Os aplausos começaram neste instante, mas podiam ser apenas uma manifestação semelhante à que acolhia com gentileza formal todos os integrantes da mesa. Então o mestre de cerimônias acrescentou: Na pessoa de dr. Alcides Carvalho homenageamos toda a comunidade científica do Instituto Agronômico. Foi como uma senha que tivesse o efeito de abrir uma surpresa. Alguém que aplaudia na platéia colocou-se de pé, e logo foi imitado pelos mais próximos. Enquanto o ruído das palmas continuava, novos grupos de pessoas foram-se levantando. Alas e alas repetiram o gesto, até que toda a platéia constituía uma única coreografia de homens e mulheres em pé, aplaudindo com emoção. Alcides Carvalho, no palco, inclinava repetidamente a cabeça, em agradecimento..."
Saudades eternas da comunidade cafeeira.
Assina Cibele Aguiar, da Embrapa Café
Foto: Arquivo IAC