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Produtividade sustentável e rentável e a viabilidade do cultivo de café

POR CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

P&A MARKETING E EQUIPE

EM 18/06/2018

6 MIN DE LEITURA

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É desnecessário dizer que quando alguém recomenda aumentar a produtividade, a fim de aumentar a rentabilidade e ajudar a garantir a viabilidade do cultivo de café, ele quer dizer que se deve aumentar a produtividade atentando para os respectivos custos e impactos sociais e ambientais. Óbvio como parece, isso é ignorado por aqueles que alegam que aumentar a produtividade pode ser prejudicial aos produtores!

Dois exemplos de grande escala, a nível de país – Brasil e Vietnã –, mostram que incrementar a produtividade é benéfico para os produtores. Hoje, estes dois países são responsáveis por aproximadamente 50% da produção mundial de café em 25% da área mundial total cultivada, com produtividade média entre 25 e 30 sacas por hectare (1,5 a 1,8 ton/ha), dependendo do ano. Os dois países têm a maior produtividade média do mundo para Arábica e Robusta. Isso é resultado de um ciclo virtuoso, onde mais produtividade trouxe mais renda para os produtores que, por sua vez, investiram mais na produção de café. Não coincidentemente, o Brasil também é a maior origem de cafés sustentáveis, o que indica que o país satisfaz a proposta acima de que aumentos de produtividade devem ser econômica, ambiental e socialmente sustentáveis.

Outros exemplos existem. A produção colombiana cresceu expressivamente sem aumento substancial da área plantada. Este processo foi de renovação de áreas existentes, de forma a aumentar a produtividade. Estes exemplos não estão limitados a países, mas abundam em regiões, municípios, fazendas e grupos de pequenos produtores.

O limite sustentável do aumento de produtividade em uma determinada área de café é aquele que traz o máximo de retorno aos produtores, não impacta negativamente o ambiente e é socialmente responsável. Tirando o Brasil e o Vietnã, todos os demais países produzem os outros 50% do café do mundo em 75% da área mundial cultivada com café, com produtividade média abaixo de 10 sacas por hectare, e uma grande parte dos países ainda tem produtividade média próxima de 5 sacas por hectare. Há assim um enorme espaço para aumentar a produtividade no mundo.

Se isto não é economicamente viável a nível de fazenda, é porque o problema reside além “da porteira”, devido a, por exemplo, serviços de extensão deficientes, mercados de insumos e equipamentos ineficientes, gargalos logísticos, falta de financiamento, para não dizer uma cadeia de fornecimento ineficiente. Se este for o caso, a produtividade só vai crescer se estas imperfeições além da porteira forem abordadas, se o ambiente propício for criado para que o limite de produtividade sustentável seja aumentado!

Este ambiente propício além da porteira afeta o desempenho dentro da porteira e inclui, por exemplo, se os produtores de café tem acesso a material genético, treinamento em boas práticas agrícolas, insumos, equipamentos e financiamento, além de uma cadeia de fornecimento eficiente, como mencionado anteriormente. Países com alta produtividade, que aumenta a viabilidade da produção de café, possuem sua própria infraestrutura de pesquisa cafeeira ou acesso a resultados de pesquisas feitas em outros lugares, incluindo variedades adaptadas às condições do país; serviços de extensão eficientes, geralmente públicos, oferecidos pelo governo, mas também por cooperativas ou outros; mercados eficientes de insumos (por exemplo: fertilizantes e agroquímicos) e equipamentos (por exemplo: pulverizadores); disponibilidade de financiamento para produtores comprarem insumos e equipamentos e para comercializar o café no momento apropriado; legislação e impostos inteligentes; acesso a mercados competitivos de café; etc.

O papel do governo na criação deste complexo ambiente propício, que idealmente deveria transferir uma parcela maior do preço FOB para os produtores e facilitar uma produção mais eficiente, é crítico tanto como ator e parte interessada quanto como catalisador de mudanças.

No primeiro papel acima, os governos podem melhorar o sistema tributário, prover e melhorar a infraestrutura (logística), serviços de extensão, financiamento, etc. No segundo papel, os governos podem melhorar a legislação, não apenas do negócio café, mas dos mercados de insumos e equipamentos e da cadeia de fornecimento de café. É essa ausência de um ambiente propício adequado que muitas vezes torna ações para aumentar a produtividade dentro da porteira ineficientes ou não duráveis (não sustentáveis!) após o término do projeto. Em outras palavras, tentar melhorar a produtividade dentro do portão da fazenda sem um bom ambiente propício além da porteira, pode passar uma falsa impressão e não funcionar. O ambiente propício terá que ser aprimorado primeiro ou ao mesmo tempo.

A produtividade máxima econômica deve respeitar o ambiente e isso não significa reduzir sem critério o uso de água, fertilizantes e agroquímicos, mas sim otimizar seu uso para alcançar um resultado equilibrado. O controle da erosão, a preservação da fertilidade do solo e a disponibilidade de água e outros fatores também devem ser considerados. Um exemplo de quão complexo é alcançar esta produtividade ideal é mostrado pelo café arborizado. A remoção progressiva da sombra aumenta a produtividade, mas pode exigir um uso mais intensivo de fertilizantes. Menos sombra pode diminuir o risco de incidência de algumas pragas e doenças, mas aumenta o risco de outras. O nível de produtividade ideal dependerá, portanto, não apenas da intensidade da sombra, mas também do custo de fertilizantes, agroquímicos, etc., como ocorre em áreas sem sombra.

O manejo futuro das propriedades ou até mesmo da bacia será fundamental quanto aos fatores de produção que asseguram produtividade elevada. Se por um lado, no Brasil, alguns pequenos produtores estão atingindo 40 sacas por hectare nos plantios renovados com alta densidade, esta produtividade tem sido afetada pela variabilidade climática, com exemplos de alta radiação UV ou mesmo secas em períodos críticos para o cafeeiro. Outro exemplo na área do manejo integrado de pragas e doenças, é que nas bacias com mais proximidade de cobertura vegetal (matas e quebra ventos), verificou se maior presença de predadores naturais de algumas pragas do cafeeiro. Portanto, o manejo sustentável deve levar em conta os fatores acima no tocante a garantir maior armazenamento de água no solo, na APP , maior presença de predadores naturais para que o potencial genético das cultivares brasileiras seja expressado e os produtores alcancem médias móveis compatíveis com o alto custo das terra e seus esforços.

Os aspectos sociais entram em cena, por exemplo, quando novas tecnologias causam a redução da mão de obra em atividades como pulverização, práticas agrícolas e até mesmo na colheita, em um número crescente de países. Enquanto a mão de obra que permanece tem salários mais altos, existe o risco de desemprego dos que saem. No entanto, o que a evidência circunstancial mostra em muitos países é que há escassez de mão de obra nos níveis salariais atualmente predominantes e que os jovens não estão interessados em trabalhar com café, a menos que ocorra uma mudança tecnológica. Tecnologia à parte, a produtividade máxima econômica deve ser alcançada com o devido respeito à segurança e saúde do trabalhador, incluindo a disponibilidade de equipamentos de proteção individual e treinamento sobre seu uso adequado, condições satisfatórias de vida e moradia, etc., além de um salário decente.

Há espaço para aumentar a viabilidade econômica da cafeicultura com maior produtividade e atenção ao meio-ambiente, responsabilidade social e a criação de um ambiente propício além da porteira. Não é uma tarefa fácil, mas factível se os fatores acima forem devidamente considerados, inclusive no Brasil, onde 86% dos cafeicultores que cultivam menos de 20 hectares e respondem por 52% da produção tem em geral menor acesso à extensão rural e operam num ambiente técnico e comercial menos propício.

*Este artigo incorpora sugestões de Pedro Ronca e Eduardo Sampaio mas é de exclusiva responsabilidade do autor.

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA; sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de café

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