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Uma oportunidade única para o Brasil

POR CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

ESPAÇO ABERTO

EM 21/12/2010

4 MIN DE LEITURA

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Escrevi no início de junho passado que os preços do café subiriam quando os números atuais e futuros da safra brasileira viessem à tona. Preços mais elevados seriam certamente a única forma de seduzir o maior produtor de Arábica do mundo a aumentar sua produção para suprir a lacuna que se tornava evidente dia após dia.

Os preços reagiram antes do previsto e passaram da marca de US$1,60/lb ainda em junho para quebrar a barreira dos US$2,00/lb pouco tempo depois. Não é de se admirar que os preços das mudas de Arábica no Brasil tenham subido 50% em relação ao mesmo período do ano passado e que haja pequena disponibilidade das mesmas no mercado atualmente.

Os atuais preços elevados do café criam uma oportunidade única para o Brasil realizar uma nova "revolução" em sua cafeicultura com o objetivo de garantir sua competitividade quando os preços recuarem. A valorização da moeda brasileira e os custos de produção crescentes, especialmente de mão de obra, levaram o antes baixo custo de produção brasileiro a níveis semelhantes aqueles da Colômbia e da América Central. O desafio agora é como se beneficiar desta "bonança" temporária de preços para aumentar a competitividade através da diminuição dos custos de produção e da agregação de valor ao café. Se isto não for feito, é pouco provável que o Brasil seja capaz de reter a grande fatia do mercado mundial conquistada em anos recentes.

Três áreas são críticas para que os produtores de café Arábica do Brasil possam manter sua liderança no cenário global: irrigação para aumentar a produtividade, mecanização para reduzir os custos, e melhora da qualidade para melhorar os diferencias de preço. A tecnologia para tornar realidade esta nova revolução já está disponível; ela precisa apenas ser melhor difundida e implementada, com o suporte de serviços mais eficientes de extensão rural.

A produtividade média brasileira cresceu de 10/12 sacos/ha para 18/20 sacos/ha devido principalmente ao uso de uma maior densidade de plantio. O próximo salto de produtividade, talvez para 30 sacos/ha, será provavelmente devido ao uso da irrigação. Atualmente, menos de 15% da área cultivada com café Arábica no país é irrigada, o que permite perdas de produção que podem atingir o tamanho de uma safra inteira desta variedade a cada 6 ou 7 anos, perdas estas que resultam de secas localizadas que afetam diferentes regiões produtoras. Hoje, não apenas existem diferentes opções de tecnologia de irrigação como também os custos caíram substancialmente nos últimos anos. A demanda por equipamentos de irrigação cresce rapidamente.

A colheita será o centro das atenções para mecanizar os tratos culturais. Hoje, apenas 15% da safra de Arábica é colhida mecanicamente. A colheita manual por derriça será gradativamente substituída pela derriça mecânica, usando colheitadeiras portáteis ("mãozinhas") que são compatíveis com áreas montanhosas, independentemente da sua inclinação. Esta mudança pode multiplicar a eficiência do colhedor de café em 4 a 5 vezes; não é portanto surpresa que os apanhadores de café estejam comprando suas próprias colheitadeiras portáteis por menos de R$ 1.000,00 a unidade! Colheitadeiras autopropelidas são preferidas para áreas planas ou com inclinação moderada; neste caso, cada máquina substitui até 100 colhedores de café.

A tabela abaixo, com os diferenciais para os diferentes cafés brasileiros, mostra como a competitividade pode crescer bastante ao se subir a "escada da qualidade". Apesar dos tratos culturais poderem aumentar a qualidade substancialmente (por exemplo, com a escolha de variedades ou o manejo da nutrição), os maiores ganhos estão no processamento pós-colheita, especialmente no uso do sistema cereja descascado. O CD tem preço superior porque possui a típica doçura e corpo dos cafés naturais de alta qualidade, porém, são livres da adstringência que pode ser encontrada nos naturais brasileiros quando as condições climáticas são adversas. A produção do CD excede em muitas vezes a de cafés especiais e já ultrapassou a marca de 5 milhões de sacos em anos recentes. A tendência é de crescimento contínuo, a julgar pela forte demanda por equipamentos. Melhores tratos culturais, colheita e processamento, usando tecnologias já disponíveis, podem também ajudar a diminuir a lacuna entre as qualidades "good cup" e "fine cup", com ganhos maiores oriundos tanto da diferença de preço como dos maiores volumes produzidos destes tipos de café.

Os desafios são enormes, as ferramentas estão disponíveis e os excelentes preços de café criam as condições para sua utilização. A questão é se os lucros presentes e futuros, até que os preços caiam novamente, serão suficientes para compensar a descapitalização (e mesmo as perdas) que afetaram a maioria dos produtores de café brasileiros nesta década e, também, se e como o setor cafeeiro e o governo irão em conjunto planejar e implementar políticas para apoiar os cafeicultores e possibilitar a próxima "virada". Do contrário, teremos apenas a sobrevivência dos mais fortes, que não são poucos, e o Brasil não verá o crescimento de sua participação mas, com certeza, perderá sua atual fatia do mercado de Arábica.



Artigo publicado na COFFIDENTIAL 41 - www.peamarketing.com.br

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA; sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de café

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FREDERICO DE ALMEIDA DAHER

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/01/2011


Prezado Carlos Brando;
Mais uma vez você foca as questoes da cafeicultura com maestria.Evidentemente os desafios são ainda enormes e os entraves de ordem fiscal e trabalhistas permeiam a capacidade do cafeicultor de conseguir mais esse salto na competitividade brasileira no mercado internacional.Sem dúvida estamos vivenciando um momento virtuoso na cafeicultura do arábica enquanto assistimos perplexos o distanciamento do conilon desse novo "boom" de preços.Aqui no Espirito Santo,como o amigo bem sabe,empreendemos avanços significativos na produtividade,no lançamento de novas variedades,na substituição de áreas impróprias à cultura do conilon,no lançamento de um padrão de bebida para o mesmo,no estímulo à produção do conilon cerereja descascado(CD),na substituição do secador de fogo direto pelas estufas de secagem em propriedades de produção familiar e não estamos percebendo o reconhecimento do mercado a todo ese esforço.Temos assistido pequenos avanços nas cotaçoes da Bolsa de Londres sem contudo entender
essa discrepância tão significativa de preços em relação aos arabicas.Que fazer?
JOÃO CARLOS REMEDIO

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 21/12/2010

Belo artigo! O que não pode acontecer é a "Negligência Governamental". O cafeicultor vêm fazendo a sua parte, é o grande responsável pelo sucesso da cafeicultura brasileira. Esse descaso, de anos, fará com que muitos não se beneficiarão dos melhores preços do café. Que a presidente Dilma possa enxergar a importância do setor para o Brasil! Sorte a todos!

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