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Uma análise da análise do governo sobre a cafeicultura

POR CLÁUDIO JOSÉ DA FONSECA BORGES

ESPAÇO ABERTO

EM 23/09/2009

6 MIN DE LEITURA

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O relatório do governo sobre a cafeicultura, a "Análise Estrutural da Cafeicultura Brasileira", (que não trás nada de novo para análise) aponta algumas verdades inquestionáveis (que preferimos ignorar, como se isso fosse o remédio), e que precisam ser analisadas à luz da razão, e não da emoção. A partir daí, o produtor poderá buscar os melhores caminhos que lhe convêm, mesmo que isso o leve a mudar de ramo.

A palavra chave é competitividade. Se nós, produtores rurais brasileiros, não somos subsidiados, então, para nos mantermos no mercado, temos que ser competitivos. Sendo produtor de café de montanha (cujos custos segundo o relatório podem chegar até a R$ 340,00 a saca), como competir com um produtor de regiões planas (onde o manejo é feito por máquinas e o estresse hídrico é resolvido pela irrigação), cujos custos chegam até R$ 240,00?A diferença é astronômica!

Então, se o governo artificialmente colocar os preços em patamares em torno de R$ 300,00, quem produz a R$ 240,00 a saca vai plantar mais e ganhar muito mais que aquele produtor que tem seus custos em torno de R$300,00/sc, que estará praticamente trocando seis por meia dúzia.

Esse preço de R$ 300,00 vai gerar excesso de produção por parte de quem produz com custos menores e cada vez ficará mais difícil segurar os preços artificiais nesses patamares... não podemos nem devemos nos esquecer da lei da oferta e da demanda, que regula os preços no mercado de commodities.

Vejamos algumas afirmações do referido relatório:

1. A multiplicidade de regiões produtoras, com diferentes características de clima, volume e distribuição de chuvas, tipo de solo e topografia, implica grande diversidade de modelos tecnológicos, com diferentes níveis de custos de produção; posto que, enquanto algumas regiões cafeeiras, absolutamente importantes do ponto de vista de geração de desenvolvimento regional, geração de emprego e renda, passam por indiscutível crise, outras regiões, com modelo tecnológico diverso, conseguem resistir e até mesmo proporcionar aumentos na produção cafeeira.

2. (...) nas regiões de cafeicultura mais antigas e tradicionais, onde o custo de produção é maior devido ao uso mais intensivo de mão-de-obra contratada em decorrência da declividade do terreno, além do sistema de produção utilizado (cafezais mais velhos);

3. A oferta de cafés de baixa qualidade e o aumento da produção dos cafés robustas pelos produtores contribuem para a depressão dos preços do café de melhor qualidade;

4. Muitos exportadores de café têm utilizado os créditos de PIS/COFINS para ganhar competitividade no mercado internacional, convertendo o crédito em renda, ao invés de repassá-lo aos produtores;

5. As informações disponíveis pelo governo e pelo próprio setor privado sobre a produção, consumo e estoques no Brasil são deficientes e constantemente questionadas;

6. É preciso diminuir a oferta de café no mercado no ano de 2010, período em que o Brasil estará em um ciclo de safra alta.

7. É preciso dosar bem a redução da oferta (por meio da ampliação dos estoques ou redução da produção), para evitar a perda de participação do Brasil no mercado internacional de café;

8. É conveniente evitar uma nova renegociação das dívidas do café, nos casos em que os produtores tem café dado como garantia a financiamentos, bem como daqueles que estão com a produção colhida ou em fase de colheita;

9. Devido ao uso intensivo de mão-de-obra na produção cafeeira, quanto menor o custo desse fator de produção, mais competitivo é o país ou a região produtora; A produção se dá, em sua grande maioria, em países em desenvolvimento, onde há excedente de mão-de-obra não qualificada, de baixo custo.

10. Há uma grande tendência à geração de excedentes, cuja administra��ão nos anos anteriores a 1989 cabia aos países produtores, mas que agora estão a cargo do mercado de forma geral. O controle sobre esses excedentes acaba sendo fundamental para os preços internacionais;

11. Anote-se ainda que, devido à sua importância estratégica para a economia dos países produtores, a atividade é, em muitos casos, estreitamente monitorada pelos governos desses países, que formulam políticas de apoio que acabam por garantir as atividades em períodos de crise, alongando ainda mais, os eventuais períodos de ajuste da produção aos níveis de consumo;

12. Na cafeicultura dos cerrados os pontos favoráveis são a mecanização, a boa qualidade dos cafés e a estrutura empresarial, que permite produção em grande escala. O grande fator para redução de custos é a mecanização, que é usada em todo o processo produtivo, especialmente na colheita, que representa mais de 30% de custo total da produção de café. As dificuldades são as condições climáticas, com predominância de áreas com stress hídrico, que condicionam a necessidade crescente de irrigação. Justamente essa necessidade de irrigação proporciona-lhe também, concomitantemente, um aumento dos custos, assim como um aumento de produtividade média por hectare, podendo resultar, caso a produção seja normal, em menor custo por saca e maior competitividade. Outro fator que caracteriza as regiões de cerrado, ao menos por enquanto, é a ausência de chuva na colheita, o que eleva a qualidade média produzida, impactando positivamente a renda do produtor.

13. A cafeicultura de montanha é concentrada em pequenos produtores, muitos de base familiar, explorando áreas menores. O ponto favorável é a predominância de boas condições de chuva e de solos mais ricos em matéria orgânica, com a adequada infra-estrutura para a produção e comercialização dos cafés, com proximidade dos centros consumidores e da rede portuária. As dificuldades residem na necessidade de maior uso de mão-de-obra, que tem sido escassa e eleva os custos de produção. A cafeicultura de montanha proporciona também a possibilidade de produção de cafés de excelente qualidade, principalmente no sul de Minas Gerais. A cafeicultura de montanha da Zona da Mata de Minas Gerais, assim como a cafeicultura do arábica do Espírito Santo, que se caracterizavam no passado por apresentar qualidade específica (rio zona), hoje apresentam considerável evolução, destacando-se por produzir cafés de qualidade especial. São áreas que produzem cafés com excelente possibilidade de substituir cafés lavados (colombianos) mediante utilização de adequados procedimentos de colheita e processamento do café colhido ("cereja descascado" ou café despolpado e desmucilado). No estado do Espírito Santo, está se implementando, neste momento em que a crise se faz presente, o programa "Renovar Arábica", um esforço de renovação buscando implantar novas variedades em densidade adequada, buscando melhoria de produtividade média e de qualidade. No entanto, para garantir que essa produção encontre o mercado adequado é necessário nível especial de organização dos produtores, de modo a que lhes seja devidamente repassado o preço compatível com a qualidade ofertada. O sul de Minas Gerais, onde essa cafeicultura predomina, é a região brasileira melhor organizada em cooperativas de produtores, assim como por uma estrutura comercial bastante forte e competitiva, de modo que não se trata de desafio impossível.

Resumo da ópera

• Hoje se produz café em várias partes do mundo, a custos muito mais baixos que os cafés de montanha brasileiros. Isso, além de matar a competitividade do café de montanha, aumenta a oferta de forma indesejada.

• Em várias regiões do Brasil se produz café mais barato que os cafés de montanha... Com o aumento da educação do povo, a mão-de-obra para o café vai ficar a cada dia pior e mais cara.

• Café de montanha só é e continuará sendo viável para a chamada agricultura familiar, onde os custos de mão-de-obra são menores, pois a família trabalha na lavoura.

• Então, para aqueles produtores que ainda estão em dúvida com relação a que cafeicultores o ministro da agricultura se referia quando disse que devem sair da atividade, a dúvida acabou...

• Quem tem lavoura na montanha (e não faz parte da agricultura familiar) está fora do mercado. Assim, como a indústria têxtil quebrou na Europa e migrou para a Ásia em função de baixos custos de mão-de-obra, o café de montanha vai ter que migrar para o plano... e ponto final.

CLÁUDIO JOSÉ DA FONSECA BORGES

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ARTUR QUEIROZ DE SOUSA

CAMBUQUIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 15/10/2009

Parabéns, Claudio, pelo seu artigo, e respeito o seu ponto de vista, o que não faz com eu concorde totalmente com ele.

A Cafeicultura de montanha, ou seja a do Sul de Minas, não traduz totalmente a área cuja utilização da mão de obra é de cem porcento, sobretudo na colheita. Aqui se utiliza bem colheitadeira automotriz, de arrasto, e as famosas mãozinhas mecanizadas.

Eu fico pensando até quando na sua região a cafeicultura plana vai conseguir sobreviver ao avanço da cana de açúcar, com resultados muito melhores do que do café de sua região. O mesmo acontece com a área do cerrado, e este com um agravante: solos de cerrados são muito bons em propriedades físicas, e não químicas, o que difere, fora a densidade pluviomética do Sul de Minas.

Se analisarmos as últimas décadas, verificamos que o governo há muito reduziu e retirou capital financeiro da agricultura, sobretudo da cafeicultura. Mas esta continuou crescendo, no que redunda o endividamento do setor. Mas somos bastante perseverantes, e estamos nos adequando ao mercado. Corrigindo falhas de gestão, fazendo manejo de podas, de adequação de áreas, abandonando aquelas que dependem exlusivamente de mão-de-obra, mas vamos chegar lá.
FRANCISCO SÉRGIO LANGE

DIVINOLÂNDIA - SÃO PAULO

EM 13/10/2009

Quando se toma financiamento em linhas como PRONAF ou FUNCAFÉ estamos sendo subsidiados, verdadade ou mentira caro Cláudio?

E quando renegociamos estas dívidas rurais? Desculpe-me caro companheiro da agricultura, enquanto estivermos voltados para a questão do endividamento não teremos olhos para o outro lado.
FRANCISCO SÉRGIO LANGE

DIVINOLÂNDIA - SÃO PAULO

EM 13/10/2009

Caros colegas,

Quando vocês se enjoarem do cafezinho de todos os dias, esses que vocês compram nos supermercados ou estes misturados (não confundir com blendados), vocês poderão vir até aqui às montanhas de Divinolândia que nós estaremos prontos para lhes servir um CAFÉ especial.

Essa de que a cafeicultura de montanha irá morrer não é verdade, há muito que pregam isto, e sabe por quê?
Porque nós não trabalhamos apenas com café e é esta então a resposta: diferenciar e diversificar.
CLÁUDIO JOSÉ DA FONSECA BORGES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 06/10/2009

Companheiro Décio,

Logo no início eu digo que "Se nós, produtores rurais brasileiros, não somos subsidiados, então, para nos mantermos no mercado, temos que ser competitivos".. temos que matar um leão todo dia.

Lá na Colombia tem o subsídio do governo, tem os dólares dos EUA que investem na cafeicultura colombiana como forma de inibir o cultivo da coca..., ou seja, tem muitas condicionantes que nós não temos.
DECIO BARB0SA FREIRE

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 05/10/2009

Interessantíssimo o artigo do sr Claudio. Tem a razão em quase todos os itens, mas fica no ar uma pergunta: deverá também o café colombiano buscar o plano?

Não será o caso dos cafés de montanha mineiro se mirarem no exemplo do café colombiano, também nas montanhas, cujos valores alcançados no mercado internacional são muito maiores que os nossos?

Atenciosamente,
ARNALDO REIS CALDEIRA JÚNIOR

CARMO DA CACHOEIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/10/2009

Parabéns Claudio pela análise.

Fico muito feliz que mais pessoas escrevam e exponham suas análises e conjunturas. A verdade está aí, nua e crua, porém muitas vezes não queremos enxergar. O café da montanha se desdenha pela sua análise.

Acredito que em uma boa negociação temos mais a escutar para depois falar; porém não estamos dando chance pra entender até onde o governo poderá chegar. Sendo assim, a negociação fica ruim, nós só falamos e o governo só escuta. Que tal tentarmos mudar o processo?

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