Com relação à notícia das floradas tardias, publicada no último 13/3, escrevi um pequeno, expondo minha opinião:

Como os membros do CaféPoint já devem saber, em 14/11/06, também apresentei minhas hipóteses sobre a frustração da florada. Realmente, a coisa foi generalizada e feia. Não vou entrar novamente na polêmica, porque já tenho um osso duro de roer na próxima Fenicafé, a ser realizada em Araguari, no próximo dia 29/03.

Lá, deverei discutir o fenômeno, bem como as floradas tardias, aberração igualmente nacional. Informo que nas minhas lavouras da Zona da Mata Mineira (Viçosa) tudo foi do mesmo jeito. Ainda hoje tenho floradas, com grande número de flores anormais, em dois a três nós da corrente estação de crescimento vegetativo. Elas em nada vão contribuir para a colheita de 2007 e roubam produção de 2008, pois o nó que deu apenas um pequeno botão anormal, neste ano, dificilmente vai florir no próximo ano.

Um detalhe é que as plantas com boa carga energética floriram normal e abundantemente, sem qualquer florada tardia. O mesmo vale para apenas um ramo que "decidiu" florir bem, dentro de uma planta de floração tardia. Quem disser que sabe o que está acontecendo, está enganado. Ninguém sabe nada sobre a floração das plantas em geral (estou citando a literatura internacional), muito menos do cafeeiro, cultura de país subdesenvolvido. O resto é "chutismo". Aguardemos o dia 29/03/07, quando haverá ampla discussão desses temas, em Araguari.

Coincidentemente, ou não tão coincidentemente assim, recebi, através do CaféPoint, a consulta do produtor Bruno Favaro Beggiato, de Varginha/MG, que contava da falta de chuvas e da elevação nas temperaturas, desde o carnaval, se mostrando preocupado com a possibilidade de repetição do problema visto no ano passado e com as floradas tardias, que estão acontecendo lá também, além de estar receoso quanto aos efeitos da falta de chuva na granação da presente safra. "Parece que está tudo desregulado", dizia ele. Segue minha resposta:

Com esse veranico de 21 dias e com a temperatura na casa dos 30 graus, é bem possível que a frustração da florada se repita em 2007, especialmente, se tivermos um inverno seco, como prevê o meteorologista deste site. Mas, em biologia, nada é linear e muita coisa pode ainda acontecer até setembro. Infelizmente, nosso conhecimento sobre a floração do cafeeiro é muito pobre, para que possamos ter um modelo de previsão com base nos fatores do ambiente e das cultivares disponíveis. Teremos que aguardar.

Os frutos de agosto/setembro, e há muitos, provavelmente já alcançaram o tamanho e a granação normais, mas, seguramente, deverão amadurecer mais precocemente, de forma focada, como está acontecendo com os catucaís, e com grande ataque de cercosporiose, caso não sejam tomadas medidas apropriadas.

Com respeito aos frutos das floradas de outubro em diante, que devem ainda estar no estádio aquoso e em crescimento, muito provavelmente vão apresentar granação precária, peneira menor e baixa renda, em conseqüência da baixa disponibilidade de carboidratos e endurecimento precoce do pergaminho, que limita a expansão do fruto; tudo principalmente pelo déficit hídrico. Frutos iniciados em janeiro/fevereiro, caso a temperatura tivesse sido mais amena e sem déficit de água e o inverno fosse chuvoso, numa colheita seletiva, poderiam ter alguma importância na produção, sendo colhidos mais tarde, mas, do jeito que anda a carruagem, deverão apenas desaparecer.

Não há dúvidas, as lavouras seminais de primeira e segunda produções são as que mais sofrem, nesta situação, em decorrência da razão raízes/parte aérea ser muito pequena, principalmente se a carga é de 7 a 10L de café/planta e a adubação potássica não estiver dentro dos limites adequados.