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Colheita seletiva e pobreza em países produtores de café despolpado

POR CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

ESPAÇO ABERTO

EM 01/07/2009

4 MIN DE LEITURA

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Temo que serei incisivo e polêmico nesta análise fria de como a colheita seletiva de café ― hoje prática padrão nos países que produzem café arábica despolpado ― age contra a sustentabilidade econômica e perpetua a pobreza nas áreas produtoras destes países. A equação é simples. Uma pessoa só pode colher seletivamente uma dada quantidade de café por dia. Como resultado, o salário real do trabalhador, depois de descontada a inflação, permanecerá basicamente o mesmo indefinidamente. Mas o desenvolvimento econômico aumenta o custo de vida e as aspirações a todo momento.

A implicação disto é que colhedores de café serão progressivamente menos capazes de pagar por suas necessidades básicas, muito menos satisfazer suas aspirações, que crescem a cada dia. Em resumo, a pobreza irá inevitavelmente aumentar entre os colhedores de café ao mesmo tempo em que tanto é dito e escrito sobre sustentabilidade, incluindo sustentabilidade econômica.

Existe uma saída? Felizmente sim, com tecnologia e técnicas já disponíveis. Entretanto sua implementação é geralmente adiada, se não totalmente impedida pela tradição, mitos sobre perda de qualidade, e vários outros argumentos que não resistiriam a uma análise técnica e econômica confiável. Vamos discutir alguns conceitos que desafiam o paradigma da colheita seletiva manual e permitem aumentar a renda dos trabalhadores que colhem café.

Primeiramente, a colheita seletiva não é a única maneira de se obter cafés de alta qualidade. A realidade é que os cafés de melhor qualidade originam-se somente de cerejas totalmente maduras, independentemente da maneira como as cerejas são colhidas: de forma seletiva manualmente ou misturadas com cerejas imaturas e secas, manualmente ou mecanicamente, que são depois separadas. De fato, muito do que hoje é tido como colheita manual "seletiva" em outros países não deveria ser chamado assim pois o produto misturado geralmente colhido precisa de separação, se a intenção for despolpar apenas cerejas 100% maduras.

Segundo, os volumes de café colhidos manualmente podem ser aumentados 2, 3 e até 5 vezes se forem usadas técnicas de derriça manual, comuns no Brasil e hoje aplicáveis a qualquer terreno, qualquer variedade de café, sombreado ou não, ou seja, na maioria senão em todas as condições. Com determinados critérios e cuidados, o grau de seletividade não será muito pior do que o da colheita "seletiva" praticada atualmente na maioria dos países que produzem café lavado.

Terceiro, a colheita e o manejo mecânico do café evoluíram muito em anos recentes. Agora eles podem lidar com desníveis de terreno cada vez maiores, menor espaço entre as plantas, todas as variedades de arábica, e café sombreado. A seletividade do equipamento está aumentando e seu custo está caindo, a ponto que, no Brasil, colheitadeiras manuais portáteis podem agora ser compradas pelos próprios colhedores.

Quarto, máquinas modernas de processamento pós-colheita podem separar não somente cerejas imaturas, que podem ser identificadas visualmente, mas também cerejas não totalmente maduras, que não podem ser identificadas por meio de inspeção visual. A verdade é que mesmo com colheita manual seletiva perfeita, equipamentos modernos de processamento por via úmida podem assegurar uma melhor qualidade de café porque eles descartam cerejas parcialmente maduras que apenas parecem maduras e causam adstringência na xícara.

A maioria dos produtores de café despolpado fora do Brasil pensa que o que está escrito acima não é aplicável ao seu caso. Eles ficariam surpresos de saber que muitos testes, bem como aplicações comerciais dos conceitos acima, estão ocorrendo em países tão diversos como México, Índia e Colômbia, sem mencionar os casos do Havaí e da Austrália, onde estas práticas são hoje uma rotina.

Outra preocupação destes produtores de café despolpado é que se a seletividade cai, menos café de qualidade será produzido. Isto pode ser facilmente resolvido pela produção de mais café, seja pelo aumento da produtividade, o que é preferível, seja pelo plantio de mais café. A renda do produtor aumentará em ambos os casos.

Ainda outra dúvida diz respeito ao medo de que a separação mecânica de cerejas pode causar aumento indiscriminado da porcentagem de cerejas indesejáveis colhidas, já que poderão ser separadas facilmente depois. Isto pode ser evitado através do uso de incentivos para os colhedores, para que colham o máximo possível de cerejas maduras.

Finalmente, as lideranças nestes produtores de café despolpado poderiam afirmar que o proposto acima criará desemprego nas áreas de café. A falta de mão-de-obra para colher café já parece afetar muitos países produtores de café, senão a maioria, incluindo a Índia, onde a grande população indicaria o contrário. Além disso, com o proposto acima, o trabalhador que permanece no café terá mais renda e oferecerá melhores oportunidades para seus filhos.

Outros trabalhadores, que deixarem a atividade, buscarão melhores salários do que tinham antes, com ou sem ajuda do governo. Em suma, a probabilidade é de que todos se sairão melhor assim - produtores e trabalhadores - se condições adequadas forem criadas para facilitar a transição de um sistema de colheita arcaico para um moderno. Isto sim é sustentabilidade econômica e redução de pobreza!

E o que tem a ver tudo isso com o Brasil e o agronegócio Cafés do Brasil? Muito. Ao usarmos colheita por derriça manual ou mecânica, transferimos mais renda ao trabalhador e, portanto, criamos uma cafeicultura economicamente muito mais justa e socialmente responsável que a dos concorrentes que produzem café despolpado. Mais uma razão para nossos importadores comprarem mais Cafés do Brasil e pagarem mais por eles, principalmente depois dos recentes aumentos reais do salário mínimo brasileiro, que restringiram a rentabilidade de nossos produtores de arábica.

Talvez o mundo não saiba que, ao garantirmos a sustentabilidade da mão de obra, estamos comprometendo a sustentabilidade do cafeicultor porque não exportamos por preço suficiente para garanti-la. O que fazer?

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA; sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de café

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RODRIGO CASCALLES

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 02/07/2009

Prezada Mara Luiza,

Fiquei curioso!

Você poderia me enviar, por gentileza, essa leitura do Amarthia Sean. Trabalho com questões socio-ambientais na agricultura e esse contexto me interessa.

Muito obrigado,

Rodrigo Cascalles

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