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Ameaças e oportunidades para os arábicas brasileiros

POR CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

ESPAÇO ABERTO

EM 18/03/2010

4 MIN DE LEITURA

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A Conferência Mundial do Café (WCC), patrocinada pela Organização Internacional do Café (OIC), ocorrida recentemente na Guatemala, com a participação de cerca de 1400 pessoas de 77 países e os principais líderes da cafeicultura mundial, enfatizou algumas tendências que podem criar novas oportunidades para os produtores de Arábica do Brasil. Os consultores da P&A Marketing Internacional estiveram presentes ao evento e puderam conferir alguns dos temas sendo discutidos pelos líderes da cafeicultura no mundo.



Minha apresentação versou sobre como as estratégias de colheita podem ser utilizadas para melhorar a vida dos colhedores de café nos países produtores. O tema foi considerado controvertido por muitos dos presentes, porém sua relevância fez com que fosse mencionado por outros palestrantes durante o evento. Um dos corolários de minha apresentação é que os colhedores de café têm uma qualidade de vida muito melhor no Brasil do que nos países concorrentes, inclusive naqueles países que dizem ter uma cafeicultura muito sustentável, um termo muito em voga hoje em dia.



Vejamos como as demais tendências abordadas na Conferencia Mundial do Café podem afetar a cafeicultura brasileira. Sabe-se que a valorização do Real em relação ao Dólar e outras moedas fortes está corroendo a rentabilidade dos produtores brasileiros de café, especialmente os de Arábica, cuja produção é majoritariamente exportada. Os produtores de Conilon, que vendem quase toda sua produção para os torradores domésticos e as indústrias de solúvel a valores acima dos preços internacionais, estão muito menos expostos aos efeitos adversos do Real valorizado. Também se sabe que o agronegócio Cafés do Brasil sempre demonstrou uma habilidade única de se reinventar em tempos de crise e de se recuperar de obstáculos considerados intransponíveis. Foi o caso das geadas, da ferrugem, do aumento dos custos de mão de obra, etc. A ameaça atual é a taxa de câmbio desfavorável. Mas ainda há oportunidades a explorar.

Embora algumas tendências discutidas na Conferência Mundial possam parecer mais ameaça que oportunidade para a cafeicultura brasileira, como, por exemplo, o aquecimento global, é interessante que reflitamos sobre o assunto. Além das mudanças climáticas, outras tendências que podem favorecer os produtores brasileiros de Arábica são: o crescimento consistente da demanda mundial por café; a estimativa de escassez de cafés lavados; e o mercado crescente de créditos de carbono.

Vamos primeiro focar nas mudanças climáticas. Se a maioria das áreas com café no Brasil forem realmente afetadas pelo aumento de temperatura e pelos padrões erráticos de chuva, as estratégias de adaptação ora em discussão podem gerar oportunidades interessantes. Sem pensar nas novas variedades de café sendo desenvolvidas para enfrentar as possíveis mudanças climáticas, o sombreamento de áreas existentes pode não somente ter impactos positivos na qualidade dos grãos que serão produzidos, mas, mais importante, gerar renda adicional a partir das árvores usadas para sombra, com produção de frutas, especiarias ou mesmo de madeira. É claro que o sombreamento trará redução de produtividade, mas a aplicação de fertilizantes − um dos principais componentes do custo de produção de Arábica no Brasil − também diminuirá. Três quartos do café produzido no Brasil é cultivado em solos de média a baixa fertilidade, que serão beneficiados pelo sombreamento.

Já que os 2,1 milhões de hectares com café existentes hoje no Brasil não são sombreados, exceto por testes de campo e alguns projetos recentes em andamento, a absorção de carbono pelo sombreamento será enorme, em verdade maior que em qualquer outro país produtor de café. A oportunidade de se gerar créditos de carbono será imensa e bem vinda para aliviar os custos de reconversão à cafeicultura sombreada.

Os padrões erráticos de chuvas, que já foram realidade durante as florações de 2008 e 2009, se tornarão mais gerenciáveis conforme o Brasil caminhe progressivamente para a colheita mecânica. Se, devido aos altos custos de mão de obra, é impossível ter mais de uma rodada de derriça manual, a colheita mecânica torna viável 2 ou 3 rodadas, com impactos positivos na qualidade. Esta prática também facilita a colheita de maiores porcentagens de cerejas maduras e favorece a produção de mais café lavado.

Um fato desconhecido para a maioria das pessoas, pois não é divulgado nas estatísticas cafeeiras, é que o Brasil consolidará, em 2010, sua posição como segundo maior produtor de cafés lavados do mundo, atrás apenas da Colômbia. Se o aquecimento global pode, a médio prazo, acelerar a tendência de se despolpar mais café e fazer mais cereja descascado (CD) no país, a atual escassez de lavados já acelerou esta tendência no curto prazo. Os prêmios de preço para o cereja descascado brasileiro e para os lavados aumentaram substancialmente nos últimos 6 a 8 meses e criaram uma grande demanda por novos equipamentos de via úmida. O Brasil está progressivamente cavando um espaço no "blend mundial" para seus cafés cereja descascado e lavado, com atenção especial para os blends de espresso.

Uma das mensagens mais fortes da Conferência Mundial do Café foi que, no curto prazo, a demanda não é um problema, mas a oferta pode vir a ser, especialmente para alguns Arábicas. Se o maior produtor do mundo tem sua competitividade em cheque, de onde virão as soluções? Será que os preços reagirão a fim de abrir o apetite dos produtores de Arábica no Brasil e em outros países para que aumentem sua produção? Se os preços não reagirem, a questão será se e como o Brasil tirará novamente o coelho da cartola!

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA; sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de café

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FREDERICO DE ALMEIDA DAHER

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/03/2010

Estimado Carlos Brando ;

Como sempre suas intervençoes ,análises e sugestoes acerca do café são sempre abalizadas e motivo de reflexoes para quem deseja de forma harmônica equacionar as dificuldades vivenciadas pelo setor.

A informação de que já somos o segundo maior produtor de cafés lavados do mundo evidencia com clareza como estamos antenados com as inovaçoes . Brevemente incluiremos o conilon nessa estatistica .Acredito ser um caminho sem volta.

Outro tema que começa a tomar corpo no setor produtivo é a questão do sombreamento como alternativa ao real aumento das temperaturas médias constatado nas diversas regioes produtoras . Alguns cafeicultores no ES já começam a trabalhar sob essa premissa e os resultados vêm encorajando seus esforços .

Uma questão que tem impedido melhores resultados na cafeicultura brasileira, a meu ver, é a elevada carga tributária incidente em todos os níveis da cadeia café reduzindo nossa competitividade no mercado externo além da falta de isonomia internacional no trato dos custos para se produzir com sustentabilidade .Aliás esse termo intrinsicamemte tão importante, vem perdendo credibilidade na medida em que a uniteralidade de sua aplicação no Brasil sem as mesmas práticas sendo aplicadas por nossos concorrentes internacionais têm fragilizado nossa capacidade de competição e desestimulado a persistência nelas.

Como o amigo bem diz a capacidade de superação do cafeicultor brasileiro tem exorcizado, ao longo da história , imensos e aparentemente intransponíveis obstáculos. Acreditemos que assim será ,sem nunca esmorecermos no trabalho.

Grande Abraço ,

Frederico de Almeida Daher
Superintentente do Cetcaf

CESAR GALLI

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 18/03/2010

Abordagem muito didática do dr. Carlos! Continuamos com o binômio melhoria de qualidade e redução de custos!
As sugestões envolvem longo prazo e também, no caso dos créditos de carbono, força política.
Vamos em frente. Se formos em frente unidos, teremos chance. Se formos individualmente, poucos restarão!

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