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A Mecanização no Agronegócio Brasileiro

ESPAÇO ABERTO

EM 26/11/2012

7 MIN DE LEITURA

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* Por Antonio Carlos Lima Nogueira

A mecanização agrícola está relacionada ao uso de veículos automotores, como tratores e colheitadeiras, para realizar as atividades de preparo de solo, adubação, plantio, aplicação de defensivos e colheita da produção. Trata-se de um conjunto de tecnologias essencial para favorecer a eficiência e a qualidade nessas atividades, por permitir a redução no uso de recursos humanos e a padronização das tarefas e resultados. Além disso, a mecanização é uma plataforma necessária para a adoção da chamada agricultura de precisão, que envolve sistemas de geolocalização por satélite, direção de tratores por piloto automático e adubação adaptada para cada tipo de solo da propriedade.

Para avaliar a situação atual, vejamos primeiro a evolução do mercado de máquinas agrícolas no Brasil. Em novembro foi divulgada a Carta da ANFAVEA (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos), na qual se informa que as vendas de máquinas agrícolas atingiram 7,5 mil unidades em outubro, com um aumento de 18,9% sobre o mês anterior e de 17,6% sobre mesmo mês do ano passado. O volume mensal é o maior desde 2010, quando ocorreram vendas totais de 68,5 mil unidades, seguindo-se uma redução para 65,3 mil unidades em 2011. De janeiro a outubro deste ano as vendas atingiram 57,8 mil unidades.

Nos últimos três anos, a venda mensal de máquinas agrícolas apresentou um valor mínimo de 3,9 mil unidades em dezembro de 2010, mas não se observa uma expansão consistente até o presente.

O histórico parece revelar mais um padrão de reposição de frota, tendo em vista a pequena oscilação entre as vendas mensais. Considerando--se que a agricultura brasileira tem apresentado ganhos de produtividade a cada ano, aparentemente a contribuição da mecanização tem sido relativamente menor do que os demais insumos tecnológicos.

Enquanto para a maioria dos grãos a mecanização já se tornou um padrão tecnológico mínimo para que o produtor possa sobreviver no mercado, em outras culturas essa tecnologia ainda pode ampliar sua participação percentual, como nos casos da cana-de-açúcar e do café. 4 análise de conjuntura novembro de 2012

Para a cana-de-açúcar, a última estimativa é de 65% de mecanização da área plantada utilizada para o suprimento das usinas do Estado de São Paulo associadas à ÚNICA (União da Indústria de Cana-de--Açúcar). Este resultado foi obtido a partir do Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro estabelecido com o Governo Estadual em 2007, para a redução gradativa das queimadas nos canaviais, uma técnica tradicional associada ao corte manual e que provoca grandes danos ambientais nas regiões de cultivo. A mecanização nos canaviais encontra-se em situação mais avançada no Mato Grosso do Sul, onde a colheita por máquinas atingiu 93% da área na última safra. Segundo a BIOSUL (Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul), o índice é maior do que no País, puxado principalmente pela abertura da fronteira de cana que trouxe empresas novas totalmente mecanizadas.

No caso do café, a mecanização também encontra um grande potencial de crescimento. Segundo estudos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), cerca de 75% da produção de café no Brasil ocorre em propriedades de até 10 hectares, onde os gastos com a colheita manual giram em torno de 30% do custo total de produção. Atualmente, os produtores encontram grande dificuldade de contratação de mão de obra na época da colheita, o que representa um incentivo para aumentar a mecanização. Estima-se que essa alternativa pode promover uma redução de 50% nos custos da colheita. Para a variedade arábica, que produz bebidas de maior qualidade, já existem colheitadeiras que retiram os frutos por vibração, mas só podem ser utilizadas em terrenos com baixa declividade. No caso dos cafés conilon, de qualidade inferior e características distintas da planta, ainda são necessárias pesquisas para a adaptação dos equipamentos de colheita.

As condições necessárias para a expansão da mecanização podem ser classificadas em dois aspectos: tecnológicos e econômicos. Com relação à tecnologia, o potencial de aplicação refere-se às condições de topografia, sendo uma regra geral a dificuldade de operar em terrenos muito acidentados.

Por outro lado, as características da planta e do produto a ser colhido também
influenciam o desenvolvimento de veículos e dos implementos a serem utilizados no processo. O Brasil já apresentou grandes avanços na criação e adaptação de máquinas e implementos agrícolas, considerando-se as características distintas da agricultura tropical em relação àquela praticada nos países de clima temperado, onde foram desenvolvidos os equipamentos das corporações internacionais do setor.

Com relação aos aspectos econômicos da mecanização, uma das principais questões a serem resolvidas é a propriedade das máquinas. A aquisição por parte dos produtores representa uma imobilização de capital e a contratação de dívidas de longo prazo que reduzem o desempenho dos empreendimentos.

Essa condição reduz o acesso a essa tecnologia para os produtores de menor porte. Apesar disso, quando os produtores apresentam capacidade financeira, tendem a preferir adquirir a máquina como forma de garantir a utilização nos períodos de preparo do solo, plantio e colheita, determinados principalmente pelas condições climáticas na região. Aparentemente existe um enorme potencial de expansão do mercado de prestadores de serviços de mecanização, que seriam os proprietários das máquinas agrícolas. Para que essa expansão ocorra, pode-se esperar o surgimento de novos arranjos contratuais mais detalhados e seguros, como forma de reduzir os riscos de que o produtor não seja atendido no momento em que precisar.

A expansão da mecanização pode trazer alguns benefícios ao agronegócio brasileiro. O primeiro seria a redução dos custos de mão de obra aos produtores, além de reduzir a contratação temporária de trabalhadores, muitas vezes contratados em outras regiões, o que envolve custos de deslocamento e hospedagem. Por outro lado, a utilização mais intensiva de máquinas agrícolas promove uma necessidade de qualificação dos trabalhadores, gerando empregos de melhor qualidade em termos de remuneração e segurança. Com relação ao impacto ambiental, apesar da predominância do uso de combustíveis fósseis, há também um enorme campo de melhoria com o uso do biodiesel ou gás metano produzido com resíduos da propriedade.

Outro aspecto relevante é a necessidade de desenvolver o segmento de implementos agrícolas, que são os equipamentos acoplados aos tratores para a realização das atividades. Atualmente esse mercado apresenta uma expressiva pulverização, com a existência de um grande número de pequenas empresas. Observa-se a necessidade de algumas iniciativas de política industrial que induzam a algum grau de consolidação entre essas empresas, como forma de melhorar o perfil financeiro e tecnológico em que elas operam, em vista da necessidade de se desenvolver novos equipamentos para as diversas culturas presentes no Brasil. O foco do eventual suporte financeiro deve ser na área de inovação, utilizando os programas já existentes no Ministério da Ciência e Tecnologia e operados pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). Ainda no campo da inovação tecnológica, existe um mercado a ser explorado na aplicação das tecnologias de informação e comunicação para a agricultura de precisão. A existência de diversas plataformas tecnológicas com base em georeferenciamento e internet móvel abrem um campo de inovação ainda não dimensionado. Seguindo a tendência dos mercados de smartphones e tablets para o usuário final, podem ser desenvolvidos muitos aplicativos úteis para o produtor rural, direcionados às atividades de preparo de solo ou colheita. Não se pode esquecer também de toda a área de computadores e softwares embarcados em tratores e colheitadeiras, já presente em diversos modelos. Abre-se nessa área uma oportunidade para pequenas empresas inovadoras lançarem novos produtos, possivelmente apoiadas por incubadoras com vocação para o agronegócio.

Cabe aos agentes públicos e privados ampliarem os canais de comunicação e parcerias no sentido de promoverem a expansão do setor de máquinas agrícolas, dos lados da oferta e da demanda. No caso da oferta, a parceria entre instituições de pesquisa e empresas pode contribuir para o aumento do ritmo de inovações incrementais a serem adotadas pelos produtores. Para empresas de grande porte, essa associação poderá liberar recursos nas áreas de pesquisa de materiais e novos processos, que seriam desenvolvidos por universidades e institutos de pesquisa em projetos de grande impacto no agronegócio brasileiro. Por outro lado, empresas inovadoras de pequeno porte também podem ser parceiras em contratos de licenciamento ou desenvolvimento conjunto, em um esquema similar ao existente na área de biotecnologia para saúde humana, onde grandes laboratórios farmacêuticos estabelecem parcerias com pequenas empresas detentoras de patentes de novas moléculas. A criação de redes de compartilhamento de conhecimento parece um caminho promissor para o setor de máquinas agrícolas, como forma de acelerar a oferta de novos produtos inovadores e adaptados à realidade da produção agropecuária no Brasil.

A expansão da demanda por mecanização depende também da articulação entre os setores público e privado, especificamente entre os ministérios ligados ao agronegócio e as associações de interesse privado dos produtores.

A realização de pesquisas em cada cadeia produtiva pode identificar os principais gargalos tecnológicos e econômicos para a expansão da mecanização. Os resultados dessas pesquisas podem orientar a criação de novos instrumentos financeiros para viabilizar o acesso a essa tecnologia, principalmente por parte dos produtores de menor porte.

* Doutor pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestre pela USP em Administração e professor na Faculdade de Tecnologia de São Paulo.

As informações são da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas - FIPE, da Universidade de São Paulo, adaptadas pela Equipe CaféPoint.

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