ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Um tema inesgotável

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 15/04/2008

5 MIN DE LEITURA

4
0
De fato, sustentabilidade é a palavra do momento. Nosso último artigo contou com uma repercussão bastante grande, talvez a maior desde que passamos a escrever para o CaféPoint. Para tamanha participação dos leitores, gostaríamos de expressar nosso agradecimento. Muitas vezes a academia é comparada a um castelo de marfim, intransponível àqueles não acostumados aos seus rituais e forma de trabalho, e esta imagem não combina em nada com aquilo que defendemos. Na verdade, acreditamos que é esta interação entre a "teoria e a realidade" o principal oxigênio para o desenvolvimento de ambas as facetas.

Tendo em vista as inúmeras opiniões levantadas aqui no CaféPoint e em outros canais de discussão, gostaríamos de falar um pouco mais sobre este que é o tema da hora. Sobretudo, é fundamental um aprofundamento do quadro pintado no texto da segunda quinzena de março, no qual buscamos chamar a atenção para um desdobramento de ordem econômica, e não biológica ou física.

Dizer que nossa exposição se baseou em critérios eminentemente econômicos equivale a dizer que em nenhum momento foi buscada uma valoração da relevância da busca de um ideal como a sustentabilidade na produção. Particularmente acreditamos que este deveria ser um objetivo em todos os setores da sociedade, mas neste campo não podemos fazer mais do que alertar para as tendências.

Em termos de objetivo, nosso último texto se aproxima daquele em que tratamos da questão do aquecimento global. Neste segundo exemplo, publicado em fevereiro de 2007, buscamos chamar a atenção de todos para um problema que cada vez mais fará parte dos noticiários.

Apesar deste alerta, nada mais poderia ser reinvidicado que um pedido de engajamento por parte dos cafeicultores brasileiros. Ou seja, leiam, se informem, se organizem, busquem pressionar o governo em busca de um resultado adequado para o setor, conforme cabe a qualquer grupo de interesse em uma democracia. Conhecer os desafios do tempo e jogar conforme as regras pode ser um remédio contra muitos dos problemas enfrentados por nós.

Tal postura se deve ao reconhecimento dos riscos envolvidos em um engajamento solitário a agendas ambiciosas, pelos custos que podem decorrer de tal opção. Em um mundo no qual apenas alguns agentes decidem pagar a conta, não apenas os problemas não são resolvidos, como a falência pode ser a consequência para aqueles que colaboraram em um mundo de intensa competição e busca por minimização de custos. Daí o apelo para a ações organizadas em grandes questões, como as abordadas em ambos os exemplos.

Para a sustentabilidade, o critério foi semelhante. Existe uma demanda crescente dos consumidores, refletida em gastos crescentes em bens cuja produção se preocupe com este atributo, de modo que, caso uma empresa decida adotar uma estratégia com foco na sustentabilidade, ela estará criando valor para os compradores. No entanto, este dinheiro não chega às mãos daqueles que, a princípio, são os agentes que devem dar o primeiro bom exemplo em qualquer iniciativa de respeito ao meio ambiente.

Em 2004, o então secretário-geral da Unctad, o brasileiro Rubens Ricupero, apresentou dados em São Paulo que demonstram a profundidade do problema. Na época, dos US$ 70 bilhões gerados pela cadeia mundialmente, apenas US$ 5,5 bilhões iam para os bolsos do produtor, ou seja, cerca de 7,8% do total. Quando comparados com os números de meados da década de 70, estes números ganham eco ainda maior: naquela época, a participação dos cafeicultores, equivalente a US$ 11 bilhões, correspondia a cerca de 36,7% do total gerado na cadeia, US$ 30 bilhões.

Com este quadro em mente, procuramos alertar para a necessidade de uma revisão no relacionamento entre produtores, indústria e consumidores. Em meio a uma enxurrada de discursos exortando o tripé ambiental - social - econômico, vemos ações tímidas nas duas primeiras dimensões, principalmente se comparadas com os lucros crescentes colhidos pelas gigantes do setor. Mais próximos dos consumidores, as empresas vêm sendo mais bem sucedidas na tarefa de converter anseios das pessoas em produtos, e o resultado dessa leitura competente do mercado vai ficando em apenas um elo. No entanto, o bom senso mostra que qualquer aprofundamento na busca por níveis de sustentabilidade na cafeicultura deverá se refletir na transferência de parte desses ganhos, ou senão só sobreviverão os muito grandes.

As eventuais limitações de nossa abordagem se devem justamente ao fato do ferramental teórico econômico ser restrito e incapaz de lidar com a complexidade das questões colocadas. O sonho de muitos pode ser a descoberta de uma meta-teoria, capaz de explicar distintas questões em áreas do conhecimento anteriormente isoladas; no entanto limitações cognitivas convidam à cautela.

Por sinal, nem mesmo aqueles que se dedicam integralmente a este tema poderiam vir a público com uma resposta unânime para a pergunta: o que é sustentabilidade? Infelizmente, ainda não existe qualquer consenso em torno dos caminhos para a resolução desta questão.

Uma referência para aqueles que desejarem compreender as diversas polêmicas envolvidas por trás deste tema é o livro do professor José Eli da Veiga, da FEA - USP, intitulado "Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI". Nele são elencados os distintos caminhos tomados por aqueles pesquisadores dedicados a encontrar um significado mais preciso para este termo, e conforme a obra bem mostra, ainda estamos longe de uma solução adequada.

Indo além, fato é que uma parte considerável dos economistas derrapa ao tratar deste tema, em detalhes dos mais diversos. Em especial, se esquecem dos limites naturais do planeta Terra e tentam responder com velhas ferramentas questões absolutamente desafiadoras. Entre outras coisas, acreditam piamente que os fenômenos são reversíveis, e que a agressão de hoje poderá ser corrigida incondicionalmente no futuro. Justamente por reconhecer as limitações inerentes à ciência econômica dos dias de hoje, queremos deixar claro que jamais diríamos que o discurso da sustentabilidade é uma besteira, ou algo do gênero. Há gente capacitada lidando com este tema no momento, e o refinamento das propostas deverá surgir justamente a medida que diversos pontos de vista, filiandos aos mais variados ramos da ciência, passem a buscar mais interação.

Por isso, é fundamental que seja feita uma diferenciação clara entre duas idéias. A tese de que os cafeicultores não devem se preocupar com novas demandas do consumidor ou novas imposições relacionadas aos limites de nosso planeta, se é que ainda é defendida por alguém, é equivocada. Em nossa opinião, a meta a a ser buscada é uma divisão mais equitativa deste bolo em franco crescimento representado pelo mercado mundial do café. E nesse sentido, o papel dos cafeicultores no processo depende em grande parte da atuação na esfera institucional.

Somente produzir não basta; sem organização adequada, os produtores continuarão a receber meras fatias de um bolo que não pára de crescer. E que não se diga que o poder de pressão dos cafeicultores é reduzido em um contexto como o brasileiro: uma olhada na história do nosso país mostra a multiplicidade de momentos nos quais nossos produtores foram capazes de fazer valer seus interesses.

Afinal, participação ativa não passa apenas por pedidos de perdão de dívida, e sim pelo engajamento a uma agenda mais benéfica ao futuro do setor como um todo, ou mesmo para a sociedade.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

4

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe CaféPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

CRISTIANO JOSE DE MELO

ARAGUARI - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/04/2008

Boa tarde,
O tema sustentabilidade sempre foi tema forte, mas os produtores agora que estão se adequando para que possa vender seus produtos com qualidade. Já trabalho com sistema de aplicabilidade e sustentabilidade nas fazendas, pois os consumidores querem qualidade, querem saber o que estao comendo de qual fazenda veio este lote, qual defensivo usou em cada talhão.

Os produtores que quiserem sobreviver no mercado têm que mudar o sistema, para que possam ter qualidade e sustentabilidade.
PEDRO ANTÔNIO DA ROCHA MELLO

GANDU - BAHIA

EM 17/04/2008

Meus parabéns.
Como tenho ouvido ao longo do tempo a necessidade de agregação dos produtores! Mas infelizmente não tem passado de mera conversa, sem nenhuma ação. Idéais... e por aí fica! E na outra ponta, a formação do oligopólio cada vez mais e mais ganancioso. Resta esperar que o fundo do poço não esteja tão longe e que muitos consigam chegar e sair de lá.
Parabéns argentinos, sempre a nos dar lição.
Em tempo a agricultura já passa a ser vilã da inflação e sem que o preço chegue ao produtor. O governo dificulta historicamente e nós vamos pagar o pato.
Atenciosamente,
Pedro Antonio.

JULIANO TARABAL

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS

EM 15/04/2008

Caros autores,

Admiro muito o trabalho de vocês pelo espírito crítico, sempre embutido em meios às palavras.

Sem dúvida o universo acadêmico, pra quem nunca esteve nele, soa como algo meio que utópico, mas como colocado por vocês, é este universo que permeia e interage com a realidade, para que avanços em todos os campos das ciências sejam alcançados.

E Sustentabilidade sem dúvida é um assunto inesgotável na atual conjuntura, mas como neste artigo, vários "ponta pés" iniciais vêm sendo dados.

Aconteceu neste sábado último (dia 12 de abril) aqui em Patrocinio-MG o primeiro dia de campo da Cafeicultura Sustentável na Chacará Modelo2, uma propriedade de 65 hectares que tem seu manejo todo com fertilizantes organominerais e não utiliza, segundo seus proprietários e a empresa que lhes presta consultoria, NADA de agrotóxicos.

O evento foi muito bem prestigiado pelos cafeicultores do Cerrado Mineiro, e no almoço de confraternização não se ouvia outra pergunta a não ser: Qual será a "receita" deste manejo aliado à tão boa produtividade?

Ou seja, sem dúvida alguma, a intenção dos promotores do evento foi alcançada, pois todos os presentes ficaram com uma "pulga" atrás da orelha querendo saber como se conduzir o manejo daquela lavoura.

Bom para a empresa que presta consultoria àquela propriedade, bom para os proprietários que se mostram satisfeitos com os resultados e melhor ainda para a cafeicultura que mostra novos caminhos a serem seguidos.

Att
JERÔNIMO GIACCHETTA

CABO VERDE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 15/04/2008

Caro (a) Sylvia e Bruno,

O tema é instigante e desafiador, assim como é a cafeicultura. A discussão da sustentabilidade é interessante porque suscita tantas outras discussões, o que exercita a musculatura representativa do setor. Para alcançar a sustentabilidade verdadeira, o alinhamento deve ser amplo, geral e irrestrito. A coordenação da cadeia produtiva do café nunca precisou ser tão analisada, discutida e debatida, sobretudo pelos agentes que atuam dentro da porteira. Os mais diversos assuntos que levam à sustentabilidade merecem atenção muito maior do que endividamento, ajuda governamental e outros temas já não tão interessantes no novo contexto de sustentabilidade.

Há algum tempo tenho discursado neste sentido. Maior engajamento de lideranças do café nos novos temas e maior mobilização dos produtores rurais parece ser caminho sem volta, só restando saber quando irá acontecer. O palco está dado, resta saber quanto de espaço os produtores de café estarão ocupando se estiverem organizados e em coordenação com os outros elos da cadeia produtiva.

Parabéns novamente pelo artigo.

Jerônimo Giacchetta
Presidente do Sindicato dos produtores rurais de Cabo Verde

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do CaféPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

CaféPoint Logo MilkPoint Ventures