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O aquecimento global e o futuro

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 06/02/2007

5 MIN DE LEITURA

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Anunciado em Paris, o documento "Mudança Climática 2007" traz uma série de informações importantes, e que deverão ser levadas em conta, de forma cada vez mais sistemática, por governos do mundo inteiro. Primeiramente, o relatório confirma algo que há muito tempo já vinha se especulando, apesar da resistência de políticos e empresários em diversas regiões: o homem é sim o principal responsável pelas aceleradas mudanças climáticas observadas na Terra.

Ainda que algumas vozes insistam em apontar outros fatores como preponderantes para o aquecimento observado nos últimos anos, é cada vez maior o número de estudos demonstrando a relação entre os fenômenos observados nos últimos anos e a atividade humana. O que durante algum tempo era chamado de lobby apocalíptico motivado por interesses de ambientalistas, hoje repousa em dados científicos bastante consistentes.

Um tema dessa envergadura ultrapassa as barreiras de determinada atividade econômica, afetando a todos os humanos em alguma medida. No entanto, a agricultura, por depender diretamente do clima para sua prosperidade, deverá ser especialmente afetada. Já no ano passado, estudos financiados por ONGs e centros de estudo buscavam traçar um novo mapa da agricultura brasileira, tendo as conclusões originadas de tal esforço sido bastante pessimistas.

Em muitos casos, como a soja, a perda de produtividade será enorme, e outras culturas progressivamente migrarão em direção a outras regiões. Chamou a atenção, por exemplo, notícia divulgada na mídia nos últimos dias mostrando a substituição de cafezais por seringais no estado de São Paulo. Estima-se que o agravamento do aquecimento global leve os cafezais brasileiros ao estado do Rio Grande do Sul, além de promover a ascensão do Uruguai e da Argentina como países produtores.

Até bem pouco tempo, notícias como essa ocuparam um espaço relativamente pequeno da mídia, e de maneira impressionante essas evidências são pouco utilizadas em análises. De certa forma, o objetivo de obter crescimento econômico a qualquer custo sempre pautou a ação dos governos em todo o mundo, e as políticas para tanto se basearam em pequena preocupação com o meio ambiente, como se este fosse apenas um estoque de recursos pronto para ser utilizado e convertido em riqueza.

Por isso, não é de estranhar o enfoque dado à questão do aquecimento climático ao longo da década passada e o início da atual. Em um exemplo interessante, citado por Al Gore em seu documentário sobre o efeito estufa, o ex-presidente George Bush se referia à necessidade de tomar medidas drásticas no campo ambiental de forma jocosa, ao dizer que de nada adiantaria vivermos de forma "sustentável", rodeado de corujas (palavras de Bush), se isso significasse desemprego.

Cerca de uma década depois, o relatório Stern nos mostra que um dilema como o citado acima na verdade não existe. Não combater o aquecimento global tem um custo muito maior para a economia mundial que a adoção de medidas sérias. Virar as costas para as evidências científicas custará no futuro cerca de 20% do PIB mundial, algo que não convém a ninguém.

Analisando este problema pelo lado brasileiro, é evidente que temos muito a perder com o aquecimento global. O aumento dos níveis dos oceanos ameaçará diversas cidades costeiras do país, e a importância da agricultura para a economia do Brasil faz com que qualquer mudança capaz de afetar a produtividade dessa atividade seja uma péssima notícia.

De fato, parte do problema já se encontra em nosso presente, e seguirá nos afetando no futuro, sem muito o que possa ser feito. No entanto, depende das ações tomadas nos próximos 10 anos o encaminhamento que a questão do aquecimento global tomará, podendo a mesma ser controlada ou não. No segundo caso, as conseqüências de tal negligência deverão atingir de forma duríssima as próximas gerações.

Longe de levar o assunto para uma perspectiva apocalíptica, é necessária maior mobilização dos diversos grupos de interesse baseados no Brasil no sentido de convencer o governo brasileiro da necessidade de tomar medidas firmes para combater o agravamento do aquecimento global. O momento é de trabalhar para que este problema seja colocado no centro das discussões em âmbito nacional e internacional.

Crescimento econômico, distribuição de renda, combate à pobreza, todos esses temas se relacionam de certa forma com o aquecimento global. Basta nos lembrarmos de alguns dos efeitos do aumento nas temperaturas, como a diminuição dos suprimentos de água ou a desertificação em algumas regiões. Igualmente, olhando em perspectiva, vemos que tantas décadas de crescimento descolado de preocupações ambientais não trouxeram qualquer benefício para extensas parcelas da população mundial, sendo a pobreza atualmente ainda enorme.

Um país em desenvolvimento como o Brasil certamente não possui os recursos suficientes para lidar com um problema dessa magnitude de forma definitiva; no entanto, ao menos uma postura mais aberta nas discussões internacionais deveria ser cobrada, uma vez que na maioria dos casos a diplomacia brasileira se posiciona em questões ambientais de uma forma estranhamente defensiva.

A retórica atual do presidente Lula, caracterizada pelas críticas à postura dos países desenvolvidos, é insuficiente, já que empurra para debaixo do tapete nossa responsabilidade em uma questão tão delicada. Não nos esqueçamos das queimadas em nosso vasto território, responsáveis por emissões consideráveis de gás carbônico.

Da mesma forma, outros países em desenvolvimento, como a Índia e a China, são centrais para a obtenção de um acordo efetivo na esfera internacional. Nós, que fomos tão competentes para forjar uma aliança estratégica no âmbito da OMC, poderíamos utilizar esse know-how de forma construtiva também nesse caso.

Muito tempo foi perdido, e os humanos terão que conviver ainda por diversos séculos com as conseqüências de décadas de crescimento descontrolado. Para as próximas décadas, é fundamental a atuação em duas frentes, quais sejam: primeiramente, teremos que aprender a conviver com este novo quadro, caracterizado por um planeta mais quente e hostil, criando formas de se adaptar ao mesmo. Esse caminho será bastante sinuoso, e em determinados momentos é possível que nos deparemos com evidências desalentadoras.

Além disso, um passo importante deve ser dado no sentido de conter a emissão de gases poluentes na atmosfera. Cabe aqui lembrarmos que mesmo os esforços iniciados com as negociações referentes ao Protocolo de Kyoto são insuficientes, já que prevêem uma contenção nas emissões de poluentes bastante inferior ao necessário para amenizar o problema do aquecimento global.

Medidas como essa dependem em grande parte de um esforço empreendido em âmbito governamental, e por meio de negociações intensas na arena internacional. Apesar disso, a pressão exercida de modo organizado pelos cidadãos das nações pode ser um empurrão importante para a adoção de medidas corajosas que combatam o problema. Na verdade, sem mobilização da sociedade civil e dos grupos de interesse mais relevantes, é difícil que algum governo tome medidas em qualquer direção.

As lideranças do café, que ao longo das décadas souberam lutar pelos interesses do setor de forma tão eficiente, certamente terão que participar também dessa questão. Disso depende o futuro da atividade em diversas regiões no Brasil, e com isso milhões de empregos. Acima de tudo somos cidadãos, e um setor com um peso tão grande para a economia nacional deve assumir sua responsabilidade perante a sociedade.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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JOSÉ LUÍS RODRIGUES DA COSTA

MARINGÁ - PARANÁ - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 23/03/2007

Caros Sylvia e Bruno.

Adorei o Vosso artigo, e concordo com tudo.

Aprendi na minha trajetória profissional e pessoal, que mais importante do que acharmos os culpados para os problemas devemos nos preocupar muito mais em achar as soluções.

Na verdade, não sabemos ao certo em que proporções o Aquecimento Global vai avançar daqui pra frente.

Então, o mínimo que cada cidadão global deve fazer, é não ficar esperando que Governantes ou entidades de classe arrumem uma solução para o Aquecimento, porque o problema não é só deles, na verdade é de todos Nós.

O mais importante é a concientização de todos, sabemos que isso é muito difícil, e por isso devemos começar já. O tempo está correndo. Já estou fazendo a minha parte, economizando água, cuidando do meu lixo, deixando o carro em casa e indo trabalhar de Bike, e por ai a fora.

Quando vejo uma dona de casa ou empregada doméstica varrendo a calçada com jatos d´agua, paro e converso com a pessoa. Se todos fizermos isso, a nossa parte estará sendo feita, e cabe a nós também cobrar das forças políticas.

Abraço.
KLEBER PAIVA CABRAL

VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/02/2007

Caros articulistas,

Observo que, no meu entendimento, o professor Alemar manifestou sua concordância quanto ao exposto, ao tempo que aguardava, além da exposição do registrado no documento do IPCC, qualquer movimento na linha "Busca de soluções".

Acredito que, sem desmerecer o conteúdo do artigo, a leitura daquele documento levaria o leitor ao seu entendimento, sendo normal a espectativa de indicações de possíveis soluções, notadamente para a cafeicultura.

Abraços,

Kleber
ALEMAR BRAGA RENA

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 08/02/2007

Estmados Maria Sylvia e Bruno:

Acompanho o que escrevem com atenção, pois o conteúdo dos seus artigos é sempre bem embasado e consciente. Mais uma vez, parabéns!

Ontem, comentei outro artigo deste site, sem saber do que vocês haviam dito sobre o aquescimento global/falta d´água. Foram diretamente ao ponto de vista da maioria absoluta dos cientistas: o aquecimento global é obra humana.

Mas há também os bem informados, e formados, em clima, geologia, arqueologia, biologia etc. que não acreditam nesta hipótese como única ou preponderante, e há mesmo aqueles que não acreditam nela totalmente.

Toda pessoa bem informada, hoje, conhece os desatinos humanos, principalmente daqueles que querem crescer a qualquer custo. Ajudam o processo, sem dúvida. Mas vocês já pararam pra pensar sobre o aquecimento das águas do Pacífico (El Niño) e mesmo as do Atlântico? Ele é apenas um sintoma, dentre outros, do aquecimento. Será que o ser humano é tão poderoso assim? Mesmo não querendo ser fatalista, há dados que mostram que não, infelizmente.

Por favor, desculpem o meu atrevimento em discordar de pesquisadores tão doutos, como vocês, aparentemente sugerindo o apocalipse, agora. Apenas gostaria que pensassem em alternativas para o assunto.

Obrigado,

Rena

<i>Caro Alemar</i>,

Primeiramente agradeço a sua forma muito gentil de contestar nossas reflexões e por isso tomo a liberdade de observar que as informações colocadas a respeito do aquecimento global não são nossas, mas fruto da pesquisa realizada pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática), um órgão internacional com centenas de cientistas e técnicos do mundo inteiro.

Vale observar também que, como economistas, não teríamos conhecimento para tanto. Contudo, vemos que os relatórios científicos mostram que sem dúvida a
temperatura global esta gradativamente aumentando: a última década foi a mais quente dos últimos 150 anos. A questão que ainda perdurava era quem era responsável: fatores naturais ou a ação do homem. O resultado da pesquisa do IPCC diz com margem de confiança de 90% que o aquecimento é causado pela ação humana. Como coloca o Marcelo Gleiser (professor de física teórica em Hanover nos EUA): "o debate sobre as causas do aquecimento global está encerrado. A culpa é nossa mesmo" (Folha de São Paulo, caderno MAIS, domingo dia 11 de fevereiro de 2007, p.9).

Gostaria que a comunidade científica estivesse errada. Porém, de qualquer forma a discussão é importante, já que nossas ações hoje poderão afetar as gerações futuras.

Abraços,

Sylvia e Bruno

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