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Fair trade: conquistas e dilemas

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 22/02/2007

5 MIN DE LEITURA

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Ao chegarmos a Poço Fundo, a paisagem observada não é muito diferente daquela existente em centenas de cidades brasileiras. Localizada no sul do estado de Minas Gerais, este pequeno município, de cerca de 15.000 habitantes, possui a tranqüilidade típica do interior de nosso país. É em meio a esse cenário que se desenvolve um projeto de enorme interesse, que tem chamado a atenção de pesquisadores e da imprensa do Brasil e do mundo.

A história dos produtores de Poço Fundo é bastante conhecida. Desde o início da década passada, um grupo de cafeicultores da cidade tem vivido algo que Luiz Adauto de Oliveira, o principal arquiteto dessa iniciativa, classifica como uma aventura. Ao fundarem a Coopfam, estes pioneiros estavam criando algo mais que um arranjo de produtores familiares com o objetivo de sobreviver à difícil conjuntura do início dos anos 90.

De certa forma, a vida comunitária já fazia parte da rotina desses produtores. Sendo propriedades familiares, a parceria entre os trabalhadores era comum, facilitando a colheita do café e garantindo a existência de importantes laços sociais entre os mesmos. Por isso, a idéia de constituir uma cooperativa surgiu no momento em que grande parte deles passavam por dificuldades, resultado da nova realidade pós-desregulamentação.

Concebida com o objetivo de fortalecer o conjunto de produtores, a Coopfam enfrentou diversas dificuldades em seus primeiros anos, principalmente no que se refere à comercialização da produção de café. Foi apenas com o passar dos anos que a Associação foi adquirindo a experiência necessária para dinamizar seus negócios e encontrar a melhor alternativa para o escoamento de sua produção.

A existência de uma instituição de pesquisa próxima aos produtores de Poço Fundo foi igualmente fundamental para o sucesso do projeto. Por meio da Escola Agrotécnica Federal (EAF), localizada em Machado, foi disponibilizado o auxílio técnico necessário para que a iniciativa se inserisse com maior sucesso nos mercados de café orgânico e comércio justo.

Com a ajuda da EAF, os produtores foram progressivamente informados da possibilidade de entrada no círculo de associados ao certificado Fairtrade, algo que ocorreu em 1997. Diversos contatos com certificadoras resultaram no atual status da Coopfam, que conta também com o selo da BCS.

Atualmente, mais de 200 pequenos agricultores fazem parte da iniciativa, com propriedades que chegam a ter apenas 0,5 ha. Em média, os associados possuem cerca de 3,5 ha. Desses, mais de 100 cafeicultores possuem também a certificação de café orgânico, estando os outros ligados apenas ao movimento fair trade. A Coopfam estimula a conversão das lavouras de seus associados de acordo com os preceitos da agricultura orgânica.

Periodicamente são realizadas reuniões entre grupos de cafeicultores, estando os líderes desses grupos comprometidos com outros encontros. Nas mesmas,são trocadas experiências, e os associados discutem os rumos do projeto e eventuais dificuldades surgidas. Os membros da Coopfam devem seguir uma série de recomendações básicas, relacionadas ao respeito ao meio ambiente local.

A maior parte da produção é exportada para o exterior, principalmente para o mercado norte-americano. O café de Poço Fundo pode ser encontrado, por exemplo, nas prateleiras do Wal-Mart, gigante norte-americana do ramo dos supermercados. Nos últimos anos, no entanto, o número de parceiros vem sendo aumentado, sendo as restrições de oferta o principal obstáculo para a expansão das vendas.

Essa experiência vem sendo acompanhada de perto por um sem número de pesquisadores e jornalistas, e atualmente é possível encontrarmos diversos textos tratando deste projeto tão bem sucedido. No entanto, ao pensarmos adiante e imaginarmos a expansão de projetos semelhantes, são diversas as indagações.

Foi com a crise da cafeicultura no começo da década que a Coopfam assistiu ao primeiro ciclo de expansão em suas atividades. De fato, aumentou muito nessa época o número de associados, atraídos pela possibilidade de venda em um mercado onde costuma haver estabilidade nas cotações.

Por outro lado, em períodos de melhor cotação aumenta também a tentação para a saída da Associação, e o conseqüente abandono das práticas sustentáveis. Como forma de prevenir isso, a Coopfam possui em seu regimento interno uma regra específica restringindo essa possibilidade. No entanto, ainda é difícil convencer um grande número de agricultores dos benefícios de manter um planejamento de longo prazo, tal qual se espera de um cafeicultor afinado com os princípios da agricultura orgânica ou do comércio justo.

Apesar de representar uma alternativa viável para a manutenção de agricultores familiares no campo, ainda falta tempo para que tenhamos plena certeza da capacidade de expansão dessas iniciativas e do impacto real que estes possuem sobre a sustentabilidade das regiões onde se localizam. Tal ponto é defendido inclusive pela própria Coopfam, conforme pudemos observar em conversa com seu presidente.

Enormes desafios ainda devem ser superados pelos fomentadores de iniciativas como a de Poço Fundo. Em primeiro lugar, o mercado brasileiro, apesar de seu tamanho considerável, ainda se encontra pouco preparado para identificar atributos como a certificação fair trade, conforme pesquisas recentes demonstraram. Da mesma forma, a expansão desse mercado e da certificação enfrenta dilemas importantes, como o limite de aceitação desses cafés.

Qualidade, sem dúvida alguma, deverá ser o principal motor da expansão de iniciativas como a de Poço Fundo. De fato, pesquisas já mostram que o principal interesse dos torrefadores de países desenvolvidos é o de obter qualidade por meio de cafés certificados. A expansão do comércio justo depende da conscientização generalizada de que essa prática não constitui uma esmola a agricultores pobres do Terceiro Mundo, e sim um incentivo para que estes adotem práticas que beneficiem a todos.

Uma vez que o mercado dos países desenvolvidos cada vez mais identifica a relevância de selos nos moldes do fair trade, já há um número considerável de empresas interessadas em aproveitar tal tendência. O exemplo do Wal-Mart, citado acima, é apenas um entre muitos. Por exemplo, a Starbucks já é responsável pela compra de cerca de 10% do café fair trade produzido no mundo, e outras gigantes, como a Nestlé, também vêm buscando a inserção nesse filão.

Toda essa expansão, que a princípio poderia ser vista como positiva, refletindo a conscientização corporativa, carrega uma série de armadilhas consigo. A principal delas, sem dúvida, é a negativa recorrente dessas grandes empresas em abrir suas contas, um princípio basilar no comércio justo. Ao omitirem o lucro obtido com a venda de produtos fair trade, as grandes corporações vão contra um dos principais objetivos da iniciativa, qual seja, a transparência nas relações entre todos os elos da cadeia.

Por outro lado, a entrada de gigantes nesse segmento trouxe fôlego extra para dezenas de produtores, que, em outras épocas, teriam tido grandes dificuldade de comercialização de seu produto. Apesar do crescimento do movimento comércio justo em todo o Primeiro Mundo, seu alcance é ainda muito restrito se comparado com o mainstream. Não deixa de ser interessante observar o embate entre os defensores da expansão da iniciativa e aqueles com uma visão mais romântica do movimento, e, portanto, mais restritiva.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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PAULO ROBERTO VIEIRA CORRÊA

MANHUMIRIM - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/03/2007

Prezados Sylvia e Bruno,

Li com muito interesse e admiração esta matéria e vocês. Foram fiéis em descrever o trabalho realizado pelos agricultores familiares de Poço Fundo. Conheço pessoalmente. A experiência associativista deles serve de exemplo, mesmo para quem não esta no mercado <i>fairtrade</i>, aos demais produtores, como fórum de discussão de problemas, inovações tecnologicas e aumento de rentabilidade.

Associativismo é a solução para enfrentamento de crises.

Atenciosamente,

Paulo Roberto Vieira Corrêa
BERNARDINO C.GUIMARÃES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 02/03/2007

Materia interessante sobre Fair Trade.
RAFAEL ALTOE FALQUETO

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/02/2007

Como podemos evitar ou mesmo reverter que este quadro, para que o mercado passe de justo somente para quem importa para justo em todos os processos da certificação e justo para o cafeicultor?

As exigências são muitas, mas o preço da saca de café continua injusto!

Temos que iniciar um movimento para que as empresas divulguem quanto ganham por saca de café que nos compram! E exigir que seja repassado o valor justo!

Como fazer isso?

<i>Rafael</i>,

É justamente o que o movimento Fair Trade tenta fazer.

Entretanto, vemos que até esse movimento está encontrando dificuldade. Também tenho dúvidas se é uma solução para todos.

De qualquer modo, vale a pena continuar a discutir e pensar sobre o assunto.Acho que a solução vai estar com os consumidores. Torná-los conscientes não só depende de vontade, mas de renda.

Saudações,

Sylvia
ARNALDO REIS CALDEIRA JÚNIOR

CARMO DA CACHOEIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 22/02/2007

O que é o Fair Trede, hoje?

Fair trade = Mouse trapp .

Estamos sendo "forçados" ao empenho de uma qualidade, para podermos enriquecer mais ainda os bolsos dos exportadores/traders e torradores internacionais.

Vou começar a bolar um livro, mostrando aos fazendeiros como sair da corrida dos ratos.

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