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O fracasso de uma educação, rural e urbana, que oferece "o circo antes do pão"

POR POLAN LACKI

ESPAÇO ABERTO

EM 06/11/2007

6 MIN DE LEITURA

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Nos países latino-americanos, uma crescente porcentagem de jovens, rurais e urbanos, já está conseguindo concluir a escola fundamental e até a média ou secundária. Lamentavelmente, este êxito é mais aparente que real, pois em termos práticos está produzindo resultados decepcionantes. Os jovens, agora mais escolarizados e com um horizonte de aspirações e ambições ampliado, sentem-se frustrados, para não dizer enganados. Depois de estudar longos 11 anos, durante os quais alimentaram a ilusão de que este esforço lhes ofereceria um futuro de oportunidades e de prosperidade, descobrem que não estão aptos sequer a obter um modestíssimo emprego; pois egressam do sistema escolar sem possuir as "qualidades" que os empregadores esperam e necessitam encontrar em um bom funcionário.

Isto acontece porque o sistema de educação, rural e urbano, não lhes proporciona os conhecimentos úteis, as aptidões necessárias e nem sequer as atitudes e os valores que necessitam para ser bons empregados; tampouco os prepara para que sejam bons cidadãos e pais de família que saibam educar, orientar, alimentar e cuidar da saúde dos seus filhos, etc. Falemos sem eufemismos, com exceção do que lhes foi ensinado nos três primeiros anos (ler, escrever, efetuar as 4 operações aritméticas, aplicar a regra de três e conhecer o sistema métrico), praticamente todos os demais conhecimentos são irrelevantes para que eles possam ter um melhor desempenho no trabalho e na vida pessoal, familiar e comunitária. Nesses oito anos subseqüentes, os poucos conteúdos que poderiam ser úteis geralmente são ensinados de maneira excessivamente teórica, abstrata, fragmentada e desvinculada da vida e do trabalho, com o que se transformam em virtualmente inúteis. Então, se impõe a seguinte pergunta: para que estudaram esses oito anos adicionais?

Sejamos objetivos e realistas: qual é a utilidade ou aplicabilidade na vida cotidiana que tem o ensino teórico sobre os logaritmos, os determinantes, a geometria analítica, a raiz quadrada e cúbica? Ou o ensino "memorístico" sobre a história da Cleópatra ou da Imperatriz de Bizâncio, os faraós e as pirâmides do Egito, a história da Mesopotâmia e as altitudes das Montanhas Rochosas? Alguns defensores deste conservadorismo educativo afirmam que tais conteúdos são necessários para desenvolver a criatividade, a engenhosidade, o senso crítico e problematizador, o espírito de iniciativa dos educandos e para oferecer-lhes uma suposta "formação integral". Pessoalmente, opino que existem formas mais inteligentes e produtivas para atingir tais objetivos.

Conteúdos mais próximos - no tempo e no espaço - às realidades cotidianas dos educandos seriam muito mais eficazes para desenvolver as suas potencialidades latentes, para estabelecer relações entre causas e efeitos, para evitar que repitam os erros que foram cometidos no passado, etc. Outros teóricos afirmam que é necessário manter esses conteúdos para "democratizar" as oportunidades de acesso à universidade, ignorando que, na maioria dos países da América Latina, apenas 5 ou 10% dos jovens têm esse privilégio. Em tais condições, não é lógico nem justo castigar e entediar os outros 95 ou 90% que não chegarão à universidade, fazendo-os estudar durante oito anos temas excessivamente teóricos, abstratos, longinquos, não utilizáveis e prescindíveis, para não dizer inúteis.

Na dinâmica do mundo contemporâneo, os educandos têm motivações e interesses muito mais imediatos e concretos. A sua principal aspiração é conseguir um trabalho bem remunerado para adquirir os bens e serviços da vida moderna e para poder constituir uma família próspera e feliz. Portanto, uma educação realista deverá ser orientada ao atingimento desses anseios e necessidades concretas e prioritárias da maioria da população; e não a proporcionar-lhe uma crescente quantidade de informações descontextualizadas e desconexas, que são irrelevantes e não utilizáveis na solução dos seus problemas cotidianos.

A realidade concreta nos indica que, depois de concluir ou abandonar a escola fundamental e média, a grande maioria dos educandos rurais:

• em uma primeira etapa, vão dedicar-se a atividades agropecuárias, como produtores ou como empregados rurais, nas quais fracassam, principalmente, porque a escola rural preferiu ensinar-lhes a história do Império Romano ou o Renascimento Francês, em vez de ensinar-lhes a produzir, administrar as propriedades rurais e comercializar as suas colheitas com maior eficiência; ignorando que este é o primeiro requisito para que possam incrementar a sua renda e, graças a ela, sobreviver com dignidade no meio rural.

• em uma segunda etapa, depois de fracassar nas atividades rurais, esses ex-agricultores e os seus filhos migram para as cidades onde serão serventes da construção civil, pedreiros, pintores ou marceneiros, motoristas, manobristas e guardadores de automóveis, policiais e vigilantes, cozinheiros e garçons, balconistas e vendedores ambulantes, empregadas domésticas ou faxineiras de escritórios e de edifícios residenciais, garis, burocratas e operários das empresas públicas e privadas, etc, pois, no mundo moderno, são essas atividades urbanas, as grandes ocupadoras de mão-de-obra.

Isto significa que os conteúdos curriculares das escolas rurais não responderam às necessidades dos pais e agora os conteúdos das escolas urbanas não respondem às necessidades concretas dos seus filhos. Para que essas maiorias possam realizar-se como pessoas e sejam mais eficientes e produtivas, necessitam de conhecimentos que sejam úteis e aplicáveis para melhorar o desempenho nas ocupações majoritárias recém-mencionadas e, especialmente para que possam desempenhar, com eficiência, outras atividades que são mais valorizadas pela sociedade e pelo mercado de trabalho. O verniz pseudo-cultural e intelectual, tão freqüente nos nossos obsoletos currículos, não contribui ao atingimento de nenhum desses dois objetivos; pois os potenciais empregadores não estão muito interessados em saber se os jovens candidatos a um emprego conhecem a biografia de Montesquieu, Robespierre ou Richelieu.

O abismo existente entre aquilo que o sistema de educação ensina e o que os educandos realmente necessitam aprender é simplesmente inaceitável. Ele é tão prejudicial à nossa juventude, ao setor produtivo e ao futuro das nossas nações, que não podemos continuar aceitando inconsistentes teorizações, justificativas e elucubrações dos "especialistas" que insistem em manter nos currículos o supérfluo, em vez de substituí-lo pelo essencial. A sociedade como um todo, deverá exigir que o sistema de educação adote transformações radicais, corajosas e imediatas; porque as medidas cosméticas adotadas pelo referido sistema nas últimas décadas demonstraram ser mal priorizadas/direcionadas, insuficientes e ineficazes. Os cidadãos, que através dos seus impostos estão financiando esse anacrônico sistema de educação e pagando as conseqüências dessa má qualidade educativa, têm todo o direito de exigi-lo; e o sistema de educação tem o dever de acatar essa justíssima reivindicação.

Os conteúdos que a maioria dos educandos, provavelmente, nunca utilizará deverão ser sumariamente extirpados dos currículos e substituídos por outros que tenham uma maior probabilidade de ser utilizados pela maioria dos educandos, durante o resto das suas vidas. É necessário oferecer-lhes uma educação que os ajude a que, eles mesmos, possam transformar as suas realidades adversas, corrigir as suas ineficiências e solucionar os seus problemas cotidianos.

As crescentes multidões de desempregados/subempregados, pobres e miseráveis que não têm dinheiro para pagar um teto digno, comprar os alimentos e os remédios ou mandar os seus filhos para a escola, para o médico e para o dentista, necessitam, em primeiríssimo lugar, de uma educação útil, no sentido de que as habilite a conseguir um trabalho/emprego gerador de um salário razoável, com o qual possam satisfazer as necessidades primárias de sobrevivência das suas famílias. Estas multidões de "mal-educados" pelas nossas escolas não estão muito interessadas em saber qual é a altitude do Everest ou a extensão do Rio Nilo; tampouco em conhecer a história das competições e batalhas que ocorreram no Circo Máximo ou no Coliseu de Roma.

Depois que adquiram os conhecimentos necessários para serem empregados mais produtivos, melhores cidadãos e bons pais de famílias eles poderão buscar as oportunidades e as fontes para adquirir os outros conhecimentos que satisfaçam as suas curiosidades e os seus interesses intelectuais e culturais. Estas oportunidades e fontes não necessariamente deverão ser proporcionadas através do sistema de educação formal (escolarizado). É compreensível que os privilegiados da sociedade que já têm acesso ao pão desejem ir ao circo. Entretanto, a prioridade da grande maioria constituída pelos não privilegiados, pelos pobres, pelos sofridos e pelos abandonados é diferente, eles querem primeiro o pão, depois o circo.

E para concluir, a seguinte reflexão que é adequada ao atual desafio da nossa educação: "É preciso navegar, deixando atrás as terras e os portos dos nossos pais e avós; nossos navios têm de buscar a terra dos nossos filhos e netos, ainda não vista, desconhecida"-Nietzsche.

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NAYANA MESQUITA MOTA

JANUÁRIA - MINAS GERAIS

EM 19/09/2011

Parabenizo o seu artigo, mas também concordo em partes. Em primeiro lugar, o que vemos hoje é uma verdadeira evasão das instituições de ensino público que estão mais preocupadas em distribuir diplomas do que formar cidadãos.

O aluno, principalmente aqueles que não tem nenhuma perspectiva, se sente descontextualizado do que é ensinado pelos professores e por isso não demonstram nenhum interesse.

Há a necessidade da reforma do ensino que hoje é elitista, preocupado em formar médicos, engenheiros e advogados, sendo que a maior parte daqueles que frequentam essa escola não terão oportunidade de seguir essa carreira. Essa é uma questão que precisa ser ainda muito discutida pois, nas escolas, os alunos não ligam qual é o tamanho do Monte Everest pois isso não mudará em nada as suas vidas.

Os poucos que se interessam pelo que é ensinado acabam sendo atrapalhados pelos outros que não vêm na escola algo transformador.
DIOGO DIAS TEIXEIRA DE MACEDO

SÃO SEBASTIÃO DA GRAMA - SÃO PAULO

EM 06/01/2008

Caro Polan,

Parabenizo pelo artigo, mas já existem escolas que "formam" verdadeiros profissionais, como a Escola Federal Agrícola de Muzambinho - MG. Tive a oportunidade de conhecer a escola e tenho em minha propriedade dois ex-alunos de lá, que trabalham como verdadeiros homens. Além disso, incentivo os pais, trabalhadores de minha propriedade a mandarem seus filhos estudar e trabalhar lá.

Na minha região, São Sebastião da Grama - SP, as escolas rurais eram péssimas, com uma professora para as quatro séries e tudo junto, mas agora, com a criação da Escola Pólo do Vale da Grama, as crianças têm uma maior oportunidade. Aprendem, além das quatro operações matemáticas, aulas de computação, agricultura e empreendedorismo.

Mas vale ressaltar também que os trabalhadores rurais, aqueles poucos que sobraram, são na verdade aqueles que a indústria e o comércio rejeitaram, que por algum motivo não se adaptaram a vida na cidade e voltam ao campo para trabalhar.

Mais uma vez gostaria de lhe parabenizar pelo excelente artigo, o governo deveria ver como a educação poderia mudar todo nosso futuro.
HENRIQUE A.L.GALLUCCI

ESPÍRITO SANTO DO PINHAL - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 15/12/2007

Parabenizo Polan Lacki pela absoluta pertinência de seus artigos. Como produtor rural, vejo diariamente estas deficiências em meus colaboradores. Como hoje, homem público, temos trabalhado firmemente em cursos técnicos voltados a especializações necessárias ao agronegócio em nossa Escola Agrícola.

Abraços
Henrique Gallucci


















DEUSDEDITH ALMEIDA DO CARMO

SALVADOR - BAHIA - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 15/12/2007

Caro Polan,

Concordo com você em parte. A educação brasileira é conservadora, antiquada, voltada para fora, sem nenhuma vinculação com a realidade brasileira. Nada se sabe sobre o Brasil, porque se estuda a Europa e os Estados Unidos. Como educador que também sou, embora fora das salas de aulas, senti a necessidade de reformulação do ensino, e, por esta razão mesmo, me vi obrigado a deixar o ensino.

Quando estudei na França, ouvia dos professores que o maior problema das nações em desenvolvimento era um ensino desvinculado da realidade do aluno. É por isto mesmo que não sabemos resolver nossos problemas. Não conhecemos nossa realidade e aqueles que a conhecem não têm poder de decisão para resolver os problemas. É só ver as obras que se fazem em todo o Brasil e observar que elas estão totalmente desvinculadas da realidade.

O aluno de qualquer cidadezinha do interior do Brasil tem, como disse você, de saber nomes de faraós e a altitude do Everest, mas não sabem, por exemplo, como plantar uma árvore. Não chego ao radicalismo expressado em seu artigo. Acho importante todo o conhecimento humano, desde que ele seja ensinado de maneira a ser aplicado à realidade daquele que está aprendendo.

Há uma urgente necessidade de se mudar a metodologia e os conteúdos do ensino brasileiro. Não se compreende que um aluno de origem rural não saiba como se reaproveitar os resíduos naturais diários e os desperdicem tal como fazem seus pais, que não tiveram estudos. Não se compreende como alunos de pequenas cidades e da zona rural continuem em atividades predatórias, tais como caça, pesca, queimadas, etc., tal como faziam seus país. Tudo isto é o resultado de um ensino desvinculado da realidade.

Técnicas milenares, e aí vale o estudo da história, ainda aplicadas hoje com sucesso, são totalmente desconhecidas, como o sistema de reprodução por alporquia, enxertia e estaquia. Perde-se madeira no campo por não se saber dar-lhe uma aplicação. Cercas poderiam ser feitas sempre pelo sistema de estaquia, permitindo o reflorestamento, o sombreamento, o aumento de alimentos para o homem e animais, e até o paisagismo. Os resíduos poderiam ser reaproveitados na alimentação dos animais e na adubação da terra e até na fabricação de sabão.

Mas quem vai ensiná-los a fazer isto se a escola se preocupa apenas em ensinar ao aluno a dizer "How are you?". É preciso acabar com esta mania de se achar diminuído e só se ensinar o que o "gringo" quer. É preciso se conscientizar de que esta nação só será realmente grande se nos voltarmos para nossos problemas, estudá-los pormenorizadamente e encontrarmos uma solução nossa, não uma solução imposta de fora, porque como vemos, nenhuma solução imposta de fora deu resultado. Cada um de nós é responsável. Não pensemos que a responsabilidade é só dos políticos e governantes. Todos nós somos responsáveis pelo que acontece no Brasil. logo, mudemos agora. Todos à luta. denunciemos. El Carmo. Peço uma visita a meu blog. http;//el.carmo.blog.uol.com.br
CELSO VIEIRA JUNIOR

MINAS GERAIS

EM 22/11/2007

Prezado Polan

Você já se imaginou sabendo somente fazer as quatro operações e a ler uma frase? Desculpe-me, mais reduzir a educação a isto que você diz é simplismo. Ainda prefiro que os homens tenham conhecimento geral.

Sou produtor de café no sul de Minas e não gostaria que a educação de meus filhos ficasse reduzida a pó, como você propõe. Desculpe-me, mas sua visão é puramente formar empregados para os donos dos meios de produção.

Acho que antes de divulgar este artigo "aos quatro ventos", melhor seria debatê-lo, não acha?

<b>Prezado Sr Vieira</b>

Sugiro que o senhor leia os artigos anexos e visite o site https://www.polanlacki.com.br inclusive a seção "Quem é Polan Lacki"

Lá encontrará a fundamentação técnica e político-estratégica desta proposta educativo-emancipadora.

A nossa grande maioria constituida pelos pobres, famintos, miseráveis, desempregados e improdutivos que, morrem nas filas do INSS e nos corredores dos hospitais públicos (por causa principalmente da péssima qualidade da nossa educação) não está muito procupada em filosofar sobre a educação; ela necessita de uma educação útil, utillitária, funcional e instruimental. Por favor Sr Vieira, não defenda o indefensável e o inaceitável que o nosso arcaico sistema de educação.

Saudações

Polan Lacki



JOSÉ ANTONIO PADIAL POSSO

MONTE CARMELO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 07/11/2007

Bravo!

Caro Polan Lacki, queria parabenizá-lo pelo artigo, e dizer que concordo totalmente com a sua opinião. Me parece tão óbvio que o conteúdo curricular escolar está inchado, etc. (não vou repetir os adjetivos implícitos) que chega até ser estranho que os responsáveis não tenham ainda tomado providências.

Acho que seu texto deve ser espalhado aos quatro ventos, nos principais meios de comunicação, e cada um de nós que concordamos com as idéias, sermos responsáveis pela divulgação. O interesse deve ser de todos.

Um abraço.

José Antonio
anap@netvip.com.br

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