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Café conilon: verdades e mitos

ESPAÇO ABERTO

EM 05/12/2008

5 MIN DE LEITURA

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Ao final da década de 60 e início da década de 70 o Estado do Espírito Santo viu-se envolto em grande turbulência sócio-econômica. Por medida unilateral do Governo Federal, 53% do parque cafeeiro do Estado foi erradicado sob o pretenso objetivo de que era preciso salvar a cafeicultura nacional da superprodução, além da falácia de que os capixabas eram produtores de um café de baixa qualidade, depreciando o produto nacional.

Ao mesmo tempo, sob o manto de compensação econômica, recursos foram carreados para uma diversificação agrícola que, sem base experimental, fracassava de maneira espetacular. O interior do Estado viu-se, então, sem alternativas e o êxodo rural em massa foi a conseqüência natural.

Milhares de cafeicultores e suas famílias foram alijados de suas propriedades, sem nenhuma alternativa que pudesse minimizar a grave situação. Como decorrência, houve a migração para outros estados (Rondônia, Mato Grosso e Pará), o inchaço dos grandes centros, como Vitória, Colatina, Cachoeiro de Itapemirim, São Mateus e Linhares. Vivenciamos uma grave deteriorização das condições sociais da população capixaba em geral.

Momentos difíceis, aqueles vividos pelo Estado do Espírito Santo que acabou se deparando com seu "hinterland" despovoado e sem horizontes confiáveis. É aí que começa a grande saga do café Conilon, que como tábua de salvação, foi introduzido em escala comercial, a partir de São Gabriel da Palha. Ressalte-se que esse pioneirismo foi marcado por uma feroz resistência do Governo Federal da época, que não desejava o retorno da cafeicultura ao solo capixaba.

Alegava-se que o Brasil não poderia ou não deveria produzir o café robusta, pois competiria com os pobres países africanos com quem tínhamos, e temos, laços de cooperação e resgate. O cerco contra o Conilon se efetivou. Independentemente das resistências, proibições e distorções de informações, o Conilon, gradativamente se impôs, rasgando horizontes, criando esperanças e sinalizando para os remanescentes rurais que novamente havia perspectivas.

Rapidamente a produção cresceu e, como conseqüência, surgiu a Realcafé Solúvel, oportunizando mercado. Criou-se, então, o estigma de que Conilon era um café que só poderia ser utilizado na indústria do solúvel. Paulatinamente, esse cenário mudou com a entrada da indústria do café torrado e moído, experimentando os diversos "blends" com o café arábica. Inicialmente, as misturas eram de apenas 5% de café Conilon. Hoje, sem nenhuma interferência na qualidade, os cafés tradicionais, torrados e moídos, já utilizam 50% de Conilon, sem se falar em marcas nacionais, com grande aceitação popular, que utilizam 100% de Conilon.

Em menos de 40 anos, a produção de Conilon do Espírito Santo saltou de 100 mil para 8 milhões de sacas beneficiadas ano, restaurando o equilíbrio sócio-econômico do interior capixaba, fixando novamente o homem ao campo e democratizando a renda para todos os segmentos sociais da cadeia produtiva. Foi, sem dúvida, uma grande vitória!

Hoje, ante a esse vertiginoso sucesso do Conilon, as nuvens voltam a escurecer no horizonte, prenunciando tempestades que, ao invés de irrigar as lavouras, tentam inviabilizá-las, com argumentos dessa vez mais sutis e, nem por isto, desprovidos do desejo de minimizar as conquistas dos valorosos cafeicultores capixabas.

Espalha-se a notícia de que os produtores de café Conilon estão ganhando muito dinheiro, com rentabilidades altíssimas. Enfim, que o Conilon é novo eldorado da cafeicultura nacional. Em verdade, mais uma vez é preciso que se analisem os fatos com lucidez, discernimento, cautela e, sobretudo, justiça.

Graças aos esforços do Governo do Estado do Espírito Santo e da iniciativa privada, materiais genéticos foram lançados, além de novas tecnologias de manejo da cultura. As novas variedades de maturação diferenciada e com produtividade elevada permitiram, em terras capixabas, um avanço tecnológico sem precedentes, dentre todas as regiões mundiais produtoras de café robusta, haja vista que nossos avanços ocorreram com pouca expansão de área cultivada.

Contudo, na mesma velocidade da evolução tecnológica subiram os custos de produção. Hoje, quem não dispõe de recursos para renovar suas lavouras em novas bases tecnológicas incorre em redução substancial na margem de retorno, quando não introduzindo o espantalho do prejuízo.

A média de produtividade do Conilon capixaba ronda a casa dos 26 sacos por hectare, a despeito de lavouras com 80 - 100 - 120 sacas beneficiadas por hectare. É consenso que produtividades abaixo de 40 sacas causam prejuízos ou má remuneração para os cafeicultores. Portanto, se faz necessário atentar para esses detalhes, evitando-se criar uma aura de que café Conilon é ouro.

Não fosse o apoio efetivo de órgãos públicos estaduais, a cafeicultura de Conilon já estaria numa situação de grande desconforto. As políticas públicas federais voltadas para a cafeicultura, inclusive o FUNCAFÉ, têm privilegiado o arábica. E, quando o Conilon é lembrado, não se tem levado em conta as suas peculiaridades. É uma falácia dizer que se produz Conilon a custo baixo, pois o manejo de suas lavouras não permite uma colheita mecanizada. E ainda, as tecnologias de poda e desbrota, absolutamente indispensáveis, são também altamente demandantes de mão-de-obra.

Não há dúvidas de que a mão-de-obra é o principal item que onera os valores finais de custeio, com conseqüentes aumentos dos custos. Ressalta-se ainda que o Conilon é produzido nas regiões mais quentes e secas, o que confere elevados riscos climáticos à produção. É delicada a situação do Conilon, que vivencia um momento de novas investidas contra o seu futuro.

O nosso alerta é para que haja igualdade de condições de tratamento nas políticas públicas para o café, não se permitindo que o valoroso café Conilon se torne um excluído no processo de construção de uma cafeicultura nacional sustentável. Necessitamos de uma política nacional para nossa cafeicultura que envolva um maior volume de recursos federais, no momento certo e na hora adequada, com custos compatíveis com os riscos de uma atividade sujeita a toda sorte de interferências extraporteiras.

O café Conilon veio para ficar, mas alertamos aos incautos: ele não é uma panacéia, muito menos uma atividade que não envolva riscos, podendo ser, inclusive, gravosa para todos que se aventurarem a produzi-lo sem profissionalismo, na expectativa de elevadas remunerações ao capital investido.

Vitória, 05 de novembro de 2008.

ENIO BERGOLI DA COSTA
Membro do Conselho Deliberativo da Política do Café - CDPC

FREDERICO DE ALMEIDA DAHER
Superintendente do Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café -CETCAF

NATALINO CASSARO
Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do ES - FETAES

JULIO DA SILVA ROCHA JUNIOR
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do ES - FAES

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EVA CELIA DE OLIVEIRA

PRAIA GRANDE - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 17/12/2008

Gostei do artigo. Temos que valorizar o que é nosso e tratar com carinho a agricultura regional, complexa ou não.
ROBERTO FRAY DA SILVA

RIO CLARO - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 17/12/2008

Excelente artigo!

No caso da comparação entre arábica e conilon, vejo a mesma comparação que é feita entre milho e sorgo: o primeiro é nobre, o outro é fácil de produzir e cresce em qualquer lugar (o que só quem produz sabe que não é nada disso). Os dois são culturas, e, para serem rentáveis devem ser tecnificadas.

Abraços,
LUIZ RENATO FRAGAPAES

CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/12/2008

Parabéns , mas muito parabéns mesmo pela matéria. Sou técnico e pequeno cafeicultor de conilon - e muitas vezes usamos mais os aparatos tecnológicos para se ter uma boa produtividade que boa parte dos produtores de arábica.

Por que temos que discriminar o café conilon brasileiro e quando pensamos em concorrência do Vietnã não levamos em conta que o seu café é quase na totalidade conilon e de pior qualidade que o nosso?

Produzir conilon requer tecnologia , muito investimento e trabalho, principalmente em tratos culturais não mecanizados; aos que acham fácil é só entrar que irão confirmar.
DORIEDSON MAGIERO

SÃO MATEUS - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 11/12/2008

Excelente artigo, muito bom perceber que renomados técnicos da cafeicultura capixaba se juntam para explanarem sobre tão delicado assunto.

Parabéns pelas verdades aqui ditas.
LEOPOLDINO FIGUEIREDO JÚNIOR

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 09/12/2008

Colegas,

Brilhante colocação e bastante elucidativa para os desavisados e para os que insistem em denegrir a imagem do Conilon em todas as oportunidades, ora ridicularizando-o como "patinho feio" dos cafés, ora pintando-o como o pote de ouro do final do arco-íris.

Existe na verdade um certo ciúme de uma ala tradicional da cafeicultura, que se nega a enxergar a crescente demanda mundial por Conilon, e que tenderá a exigir também Conilon lavado e certificado.

As altas produtividades do Conilon são fruto de todo um trabalho conjunto, realizado por pessoas - pesquisadores, produtores rurais e técnicos - que se desapegaram do tradicionalismo e aceitaram e aceitam, de bom grado, as novidades tecnológicas de outras culturas.

Não se passa um ano sequer sem termos novidades no Conilon, e dentro de 4 a 5 anos teremos a colheita 100 % mecanizada. Porém, cultivar Conilon não é fácil.

Parabéns pela matéria!
MAURÍCIO JOSÉ FORNAZIER

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/12/2008

Caros amigos,

Gostaria de parabenizá-los pelo brilhante artigo que relata a veracidade da cultura do conilon no Espírito Santo e no Brasil. A febre de plantio do conilon começa a tomar corpo em diversos estados, sem a devida base tecnológica desenvolvida no ES. Penso eu que isso possa causar dissabores aos afoitos com lucros imediatos.

Penso, ainda, que no mercado internacional precisamos nos estabelecer com competência tecnologica e eficiência produtiva e que o Brasil precisa explorar mais o mercado internacional do conilon verde.
Necessitamos de outros artigos que relatem a experiência de sucesso e os caminhos trilhados para esse brilhantismo.

Grande abraço a todos.

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