Por Thais Fernandes
O Brasil lidera o ranking mundial de exportações de café verde. O fato faz com que o setor mundial acompanhe minuto a minuto as informações sobre a safra brasileira dos grãos. Para analisar como, de fato, a seca de 2014 afetou o cenário do mercado cafeeiro mundial e nacional, o CaféPoint entrevistou Eduardo Carvalhaes, sócio da exportadora e corretora Escritório Carvalhaes. A empresa, renomada no setor, tem oitenta anos de tradição e emite semanalmente boletins sobre o setor cafeeiro. Confira, abaixo a entrevista, completa com o especialista:
CaféPoint - No Boletim do dia 28 de novembro, o Escritório Carvalhaes citou recorde nacional histórico nas exportações cafeeiras. Qual a estimativa para o fechamento das exportações em 2014?
Eduardo Carvalhaes - As exportações brasileiras de café em 2014 deverão ficar ao redor de 36 milhões de sacas. Será o maior volume exportado pelo Brasil em sua longa história de exportador de café. Nosso consumo interno também será recorde, ficará ao redor de 21 milhões de sacas. Em 2014, nossas necessidades de café verde totalizarão incríveis 57 milhões de sacas!
CaféPoint - Quais os traços deixados pela quebra de produção brasileira na safra 2014/2015 no mercado cafeeiro internacional? E interno?
Eduardo - A quebra da safra brasileira de café em 2014, resultado de uma seca no Sudeste brasileiro que a geração atual de agrônomos diz que não enfrentou outra igual, derrubou a produção de café arábica no Brasil e trouxe grande insegurança ao mercado de café brasileiro e internacional. Essa insegurança vai continuar apesar das chuvas desta primavera. Estas chuvas apenas impedem que a quebra da safra 2015 seja ainda mais acentuada. Além disso, com a aceleração das mudanças climáticas devido ao aquecimento global, existe a possibilidade de secas mais frequentes e temperaturas médias mais altas sobre os cafezais do Sudeste brasileiro. Como o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, em nossa opinião esta seca marca o início de um longo período de baixos estoques mundiais, em um cenário de crescimento do consumo global.
CaféPoint - O que você espera da demanda internacional por café especial para o próximo ano?
Eduardo - Vai crescer. As grandes redes de cafeterias estão fazendo expressivos investimentos na ampliação do número de lojas. O consumo doméstico de cápsulas cresce a dois dígitos. Os consumidores no hemisfério norte estão sofisticando seu gosto e procuram cada vez mais cafés diferenciados e exóticos.
CaféPoint - Visto que a seca deste ano já afetou parte da produção da safra brasileira, qual a previsão para a oferta do produto no ano de 2015? Haverá déficit? Se sim, qual a previsão?
Eduardo - Provavelmente haverá déficit, mas temos de aguardar a primeira estimativa de nossa safra 2015, que será divulgada pela Conab em janeiro próximo. Haverá muita disputa pelos lotes de café arábica de boa qualidade a finos.
CaféPoint - Qual a sua expectativa para os preços pagos ao produtor no próximo ano?
Eduardo - É difícil fazer uma previsão, ainda mais no atual momento econômico e político. Como se comportará a inflação? E o dólar? Não temos ideia da política econômica brasileira para 2015!
Acredito que os preços se sustentarão e dependendo do ambiente econômico e do tamanho de nossa safra 2015, tenderão a subir.
CaféPoint - Para finalizar, de que forma você acredita que o produtor pode se integrar mais ao lucro da cadeia cafeeira?
Eduardo - A orientação é a de sempre. Investir em produtividade, controlar os custos e sempre procurar a melhor qualidade possível. Qualidade significa preços melhores e grande liquidez na hora de vender.