Foto: Guilherme Gomes/ Café Editora
A queda nas exportações do café brasileiro abre uma oportunidade para que os produtores da América Central, especificamente os de El Salvador, preparem-se para suprir as demandas do mercado, ante uma alta previsível dos preços do café na bolsa de Nova York.
Essa é uma das conclusões de um relatório de Judith Ganes, consultora especialista em café. Ela informa como as condições climáticas adversas que o Brasil tem enfrentado geram possibilidades para o crescimento de outros exportadores da região. “As condições da colheita são tão variáveis que dependem às vezes do lado do caminho em que você está”.
As estimativas mais otimistas estabelecem que o Brasil colherá 45 milhões de sacas, uma quantidade idêntica à da safra anterior. Apesar de o volume se manter, essa quantidade significa más notícias aos brasileiros. Ela disse que a matemática é simples: o Brasil precisa de 53 milhões de sacas por ano, 32 deles para exportação. De acordo com Ganes, o Brasil tinha cerca de 15 milhões de sacas em estoque, mas exportou de maneira “relativamente agressiva” antes da colheita de 2014/2015.
As contas de Ganes asseguram que o Brasil teria um déficit de 16 milhões de sacas entre esse ano e o seguinte. Essa lacuna do mercado se distribuirá entre Vietnã, Colômbia, Indonésia e América Central, segundo ela. Ainda assim, não se prevê que as produções desses países, em conjunto, cheguem a igualar a deficiência brasileira.
O desafio salvadorenho consiste em aumentar a eficiência de sua produtividade para aproveitar ao máximo as novas oportunidades de satisfazer uma demanda crescente em curto, médio e longo prazo.
De fato, segundo as estatísticas da Organização Internacional de Café (OIC), o mundo precisará de 30 milhões de sacas a mais em 2020, com a incógnita de quem serão os fornecedores dessa quantidade.
Os dados comparados da Associação Cafeeira salvadorenha e do Governo são de uma produção de 766,66 mil sacas durante a colheita atual. Isso representa um aumento com relação à colheita de 536,66 mil sacas na safra anterior, a mais baixa do século, em parte pela afetação dos cultivos pela ferrugem.
O Conselho Salvadorenho de Café (CSC) destacou em 7 de novembro as ações que já estão tomando outros países, como Honduras, que exportou 20% a menos de café em outubro, à espera de melhores preços do grão.
O Brasil enfrenta uma seca que recentemente se viu interrompida pelas chuvas isoladas nos setores produtores de café, durante a primeira semana de novembro, segundo uma nota do CSC. “As chuvas podem parar a seca, mas se desconhece o impacto que terão para propiciar uma floração adequada dos cafezais para a temporada de 2015/2016”.
Ganes disse que, apesar das chuvas, “em muitas áreas, todavia, observa-se um grande déficit de água e, em algumas áreas, o déficit segue expandindo-se, porque a chuva que caiu foi dispersa e menor que a quantidade normal para essa época do ano”.
O relatório é bastante pessimista com relação à possibilidades do Brasil. “Enquanto alguns insistem que as chuvas vieram a tempo para salvar a colheita, ainda não se sabe se isso acontecerá e a maioria dos agrônomos não acreditam nisso”. A especialista disse que não tinham condições similares desde 1985 e, inclusive, afirma que nesse período, as temperaturas não eram tão altas como agora.
O CSC descreve como, em algumas zonas produtoras do Brasil, iniciou-se a floração dos cafezais, mas Ganes disse que isso pode ser enganoso. “As plantas poderiam aparentar estar mais nutridas se as folhas ficarem menos murchas, mas na realidade, não há restauração para a saúde das plantas. Requerem-se chuvas repetidas para que possam penetrar o solo endurecido”.
Apesar de o Brasil contar com algumas reservas de café, Ganes questiona sua qualidade. Ao final de outubro passado, pesquisadores de Texas A&M recomendaram que os cafeicultores da América Central apostem precisamente em um café especial com valor agregado, para poder competir com os destinos do café brasileiro e colombiano, que focam mais na produtividade.
A reportagem é do https://www.laprensagrafica.com. / Tradução por Juliana Santin