Contudo, independentemente do café produzido é importante que o produtor saiba os detalhes do seu café, para que assim possa segregar sua produção em lotes, entre cafés de maior qualidade, menor qualidade, certificados, etc., obtendo melhor remuneração para cada um dos lotes.
O vendedor (produtor) comercializa seu café a um preço determinado pelo mercado (oferta X demanda), o qual varia dia-a-dia e dentre os diferentes tipos de bebida. Mas como você sabe qual a qualidade do seu café? O que pode fazer para agregar valor e conseguir bons preços?
Classifique você mesmo o seu café, afinal, a qualidade faz o preço. O preço de um café bebida mole supera em 30% um de bebida rio. Ter uma sala de classificação, mesmo simples, faz com que o cafeicultor saiba o produto que tem.
A classificação se baseia na separação por tipos (número de defeitos), pelo tamanho (peneiras), e por bebida.
Todos os valores obtidos devem ser anotados em uma planilha para controle de cada lote de café.
Tipos
A classificação por tipos classifica o café beneficiado segundo o número de defeitos da amostra, geralmente de 300 gramas. Os defeitos ajudam também na determinação de tomadas de decisão, pois cada um tem uma origem, como adubação mal feita, pouca irrigação, ataque de pragas, fatores fisiológicos, colheita atrasada, fermentações, colheita prematura, seca inadequada, descascador mal regulado, entre outros.
Os defeitos prejudicam aspectos de cor, torra, e principalmente a qualidade final da bebida.
Depois de separados os defeitos, eles são somados para que se possa classificar em tipo a amostra de café de acordo com a tabela oficial.
Os cafés tipo 2 são caracterizados por ter 4 defeitos em uma amostra de 300 g, segundo a tabela oficial de classificação. Esse tipo praticamente inexiste. Cafés do tipo2/3 aceitam até 15 defeitos e geralmente são provenientes de grãos mais graúdos. O valor conseguido por esse café é muito superior, sendo vantajoso separar esse tipo na fazenda.
Os tipos 3 e ¾ são considerados de boa origem. Cafés que se enquadram no tipo 4 são considerados de bebida boa para melhor e cafés do tipo 5, bebida boa. O café tipo 6 caracteriza o meio do caminho entre um café bom e um café ruim, aceitando 86 defeitos no máximo. Abaixo do tipo 6 já são considerados cafés de segunda linha.
Peneiras
O café já sem defeitos será passado no jogo de peneiras. As duas peneiras existentes separam os grãos chatos e mocas (grãos arredondados provenientes da não fecundação de um dos óvulos e ocupação das duas lojas do ovário), por tamanhos. As peneiras de chatos e mocas são empilhadas intercaladamente, sendo as de chatos colocadas antes das de mocas.
A quantidade obtida em cada peneira é pesada separadamente, calculando-se a porcentagem do total da amostra. O que sobra na peneira de fundo é chamada 'cata'.
Supondo que foi obtido:
- 22% de peneira 17 acima, com 40 defeitos em 300g. Esse café será tipo 4-35, segundo a tabela oficial;
- 52% de peneira 14, 15 e 16, com 75 defeitos em 300g. Esse café será tipo 5-40;
- 14% de moca, com 5 defeitos em 300g. Esse café será tipo 6-25;
- 12% de cata.
Dessa forma, se tem quatro tipos, ou seja, quatro qualidades diferentes de café, umas valendo mais e outras menos. Com os dados em mãos, você pode verificar qual o preço que o mercado está pagando por cada tipo de café e calcular por quanto terá que vender para garantir lucro.
Com isso, poderá também utilizar mecanismos de mercado futuro para se proteger contra oscilação de preços.
Bebida
Essa classificação é feita através de prova sensorial da xícara por profissionais qualificados. O provador avalia as características de sabor e aroma do café. A classificação da bebida tem dois objetivos fundamentais: conhecer a qualidade do café a ser comercializado e definir as ligas ou blends que valorizem determinados lotes de café.
Pode-se dizer que essa é a etapa de maior importância na identificação da qualidade do café. As bebidas obedecem classificações distintas de acordo com as características intrínsecas (região, grão preto, verde, ardido, brocado, etc.) de cada uma. Para determinar a bebida são considerados, aromas, corpo, acidez e amargor.
Após a classificação e prova, o café recebe uma nota que varia em uma escala de 0 a 10.
Isso dá liberdade para que o produtor faça seus próprios blends em sua fazenda, obtendo um café de bebida boa e com as características que o comprador deseja ou paga mais.
As técnicas para classificação não são complexas, porém o profissional deve ser capacitado. Hoje há diversos cursos que preparam profissionais para isso. Não esquecendo que o mais importante é praticar e praticar.
Dessa forma o produtor terá controle total sobre seu negócio, não ficando somente nas mãos daqueles que compram seus cafés.
Natália Fernandes, Equipe CaféPoint