Ao longo de 2011, inclusive durante o pico da entressafra, quando a oferta é escassa, os contratos futuros na bolsa brasileira operaram sistematicamente em níveis inferiores aos nova-iorquinos, que servem de referência para a formação dos preços em todo o mundo. O "desconto" em relação a Nova York é considerado o padrão nesse mercado - entre outras razões, devido às diferenças de especificação do produto.
Em meados de setembro, porém, houve o que os analistas chamam de "inversão". O mercado paulista passou a pagar um "prêmio" sobre as cotações internacionais, sob forte pressão devido à aposta dos fundos de investimento contra as commodities em meio aos sinais de agravamento da crise global. O diferencial se manteve neste mês, mesmo com a recuperação das cotações em Nova York.
O fenômeno é mais acentuado nos contratos de curto prazo - os lotes para entrega em dezembro chegaram a apresentar um ágio superior a US$ 20 por saca nos últimos dias -, mas também pode ser observado nos vencimentos mais longos.
Para Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercados, a BM&FBovespa reflete um cenário atípico de aperto na oferta, apesar da colheita brasileira recém-encerrada. Gozando de uma situação financeira privilegiada, após a escalada dos preços internacionais ao longo do último ano, os produtores adotaram uma postura defensiva e restringiram a disponibilidade do café no mercado. "O produtor está dosando as vendas, trabalhando com volumes pequenos e sempre abaixo da linha de consumo, o que obriga o comprador a ser muito mais agressivo", explica Barabach.
A principal barreira é o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), em vigor desde 2009, que sobretaxa os investidores estrangeiros em 2% nas operações com derivativos financeiros e agropecuários na bolsa de São Paulo. Estima-se que o custo total para os não residentes pode chegar a 8%, uma vez que o tributo incide também sobre os ajustes diários. O resultado é o crescente desinteresse pela bolsa paulista. Apenas no último ano, o número de contratos de café abertos na BM&FBovespa cedeu de quase 16 mil para 6,5 mil.
Tabela 1 - Comparativos das principais Bolsas de café
Gráfico 1 - Contrato café, ICE Futures U.S
Tabela 2 - Principais indicadores e cotação do dólar
Gráfico 2 - Indicador arábica x indicador conilon/Cepea-Esalq
CaféPoint e informações do jornal Valor Econômico.