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Padrões socioambientais: confiança ou controle?

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 05/02/2018

4 MIN DE LEITURA

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Recentemente, pesquisadores vinculados ao Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) anunciaram que o desmatamento na Amazônia pode ser maior que o estimado. Utilizando dados coletados pela Agência Espacial Europeia, o Instituto foi capaz de superar uma importante limitação no estudo dos padrões de desmatamento em florestas: a considerável cobertura das nuvens. Utilizada para o monitoramento da atividade de vulcões, a tecnologia detida pela Agência Espacial Europeia produz imagens mais precisas da Amazônia.

Esta é apenas uma entre as novidades na área. Novas tecnologias também permitiram ao Imazon identificar o desmatamento em pequenas propriedades na Amazônia – algo muito difícil até um passado recente, dada a limitada definição das imagens disponíveis. Outro exemplo de avanço em nosso conhecimento sobre os padrões de desmatamento é encontrado em ferramentas como o Global Forest Watch, lançado pelo World Resources Institute. De forma interessante, não apenas conhecemos melhor o estado de nossas florestas, como também compartilhamos tais informações com um número crescente de indivíduos.

De fato, foi-se o tempo em que a posse de dados sobre questões complexas era restrita a um reduzido número de pessoas. Com um celular e uma conexão confiável de Internet, bilhões de pessoas podem comparar estatísticas sobre uma infinidade de variáveis. Que não o façam, é outra história. Até mesmo ferramentas destinadas a facilitar o exercício já existem – conforme ilustram casos como o da página do Banco Mundial. É provável, as facilidades para tal busca por informação apenas aumentem nos próximos anos. Logo, precisamos discutir as consequências desse processo. Por exemplo, pensemos sobre o futuro da organização das cadeias agroindustriais.

Muito se fala sobre a importância crescente dos indicadores socioambientais para o êxito em mercados cada vez mais exigentes. Entretanto, as boas intenções não raramente esbarram na ausência de métricas capazes de viabilizar o alinhamento de incentivos entre os diversos elos da cadeia. Preferências diversas chocam com a dificuldade de mensuração da aderência de empresas e produtores rurais aos padrões estabelecidos. Como consequência, parcela considerável dos avanços observados se deve à construção de laços de confiança entre os múltiplos integrantes de cada cadeia.

Mais especificamente, diversas iniciativas têm buscado reduzir o desmatamento causado pela expansão da produção de commodities desde a virada do século XXI. Da mesma forma, programas pioneiros procuram melhorar as condições de produtores em áreas do mundo em desenvolvimento, caracterizadas pelos limitados direitos trabalhistas. Trata-se de um período de fortalecimento do diálogo entre grupos de interesse pertencentes aos muitos setores ligados à questão – ambientalistas, agências de financiamento, consumidores, governos, produtores rurais e universidades.

Por trás de tais esforços, existe não apenas a busca por conhecer as preferências alheias. Fundamentalmente, há o reconhecimento de que a informação disponível é imperfeita. Incapazes de estimar com exatidão o grau de cumprimento das promessas de cada um, as partes envolvidas em um problema complexo precisam construir canais de comunicação e consolidar a confiança mútua. Caso contrário, iniciativas ambiciosas podem terminar em acusações de incumprimento de acordos. Quanto maior a dificuldade de mensurar um resultado, maior a importância da palavra daquele que o promete.

A literatura acadêmica é repleta de exemplos em que as dificuldades de mensuração abrem espaço para a construção de laços de confiança entre as partes em uma transação. Resta saber, porém, o que ocorre quando tais limitações desaparecem. Evidências mostram que uma maior capacidade de monitoramento do desempenho de provedores pode levar à redução da importância da confiança como um mecanismo facilitador da governança do relacionamento. Ora, o tempo e os recursos utilizados na construção de laços de confiança entre as partes em um negócio são valiosos. Por que investir em tais iniciativas se uma nova tecnologia verifica o cumprimento de uma promessa?

Por isso – e para ficar em apenas um exemplo –, é possível que os avanços tecnológicos no acompanhamento dos padrões de desmatamento em florestas contribuam para a emergência de um novo padrão de relacionamento em diversas cadeias agroindustriais. Em outras palavras,  uma melhor capacidade de monitoramento contribuiria para a diminuição da frequência do diálogo e da busca pela construção de laços de confiança. Cada vez mais, aumentaria a cobrança por meio de indicadores objetivos, com o possível oferecimento de incentivos financeiros mais precisos. Ao menos, tal tendência se materializará naqueles casos em que o diálogo seja motivado apenas por razões de curto prazo. 

Chegará o momento em que uma consulta ao celular bastará para verificar o cumprimento de um padrão socioambiental? Como responderão consumidores e empresas a esse cenário? Perderá força a necessidade de diálogo e construção da confiança, dando lugar a relacionamentos baseados no monitoramento constante e a eventual punição em caso de descumprimento das promessas realizadas? São questões que merecem discussão. O ideal seria a emergência de um cenário em que confiança e controle se complementassem. Afinal, a resolução efetiva de problemas complexos depende da construção de um marco mental comum entre as partes envolvidas.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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