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México: problemas de coordenação

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 26/12/2006

6 MIN DE LEITURA

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Quando pensamos no café arábica, rapidamente associamos a produção do mesmo ao Brasil e Colômbia. No entanto, um outro país da América Latina, famoso por sua rica história, também ocupa uma posição relevante na produção dessa espécie de café. Estamos falando do México, país com profundos contrastes sociais e culturais.


Fonte: USDA

O México é também um importante importador de café, ao menos se comparamos os dados com outros países produtores do produto. O país tem o Brasil e Vietnã como principais parceiros nessas operações, sendo o café da espécie robusta o mais comprado nos últimos anos, sobretudo para a produção de café solúvel. No entanto, nos últimos anos vem crescendo também a compra de café arábica por parte do México, sendo o Brasil nesse caso o principal fornecedor.

O café é cultivado no México em 12 estados: Chiapas, Veracruz, Puebla, Oaxaca, Guerrero, Hidalgo, San Luis Potosí, Nayarit, Colima, Jalisco, Querétaro, Tabasco. A colheita de café se inicia no mês de setembro, sendo concluída em março do ano seguinte.

De acordo com historiadores, o cultivo de café no México tem início no século XVIII, quando se registram as primeiras exportações do produto, provenientes de Córdoba, no centro do país. Em seguida, tem início um conturbado período na história mexicana, em que se destaca a luta pela independência nacional. Desse modo, a cafeicultura mexicana se desorganiza, retomando suas atividades nas primeiras décadas do século XIX, quando inicia sua expansão para outras regiões de país.

Desde então, o cultivo de café vem migrando da região central do país, principalmente do estado de Veracruz, berço da cafeicultura mexicana, para o sul, porção mais pobre do México. Atualmente, é o estado de Chiapas o mais importante produtor de café no país. Chiapas é também o centro de importantes movimentos de contestação, como o Movimento Zapatista, cujo auge de popularidade se deu em meados da década passada.


Fonte: FAO

No México, são os pequenos produtores os responsáveis pela produção de café. Há cerca de 300 mil produtores de café contra um pouco mais da metade deste número nos anos 1980. Do total, 72% não têm mais que 2 hectares, 22% possuem de 2 a 5 hectares, 5% de 5 a 10 hectares e apenas 1% tem mais de 10 hectares. Segundo algumas estatísticas, mais de 3 milhões de mexicanos dependem do café de alguma forma para seu sustento, o que comprova a importância do produto para a economia nacional.

Os produtores indígenas representam 67 do total de cafeicultores e possuem até 5 hectares. Os mesmos realizam poucos tratos culturais e beneficiam o café (de cereja para pergaminho) de forma artesanal. A renda das famílias é baixa e nas pequenas comunidades cafeeiras observa-se alto nível de pobreza, com recursos precários de serviços de saúde, educação e água potável, etc.

Talvez por isso, são constantes os levantes populares no sul do México. Há cerca de uma década, guerrilheiros baseados na região de Chiapas iniciaram uma revolta contrária à assinatura da Alca. Nos últimos meses, ganhou espaço na mídia a cobertura dos distúrbios na região de Oaxaca, que causaram enorme embaraço para os políticos mexicanos.

O restante dos produtores do país se encontra em sua grande maioria na zona central, sobretudo no estado de Veracruz. A produtividade média das lavouras chega a ser 2,5 vezes maior que a dos indígenas, afinal estes cafeicultores realizam mais tratos culturais e se valem de outros trabalhadores no período da colheita, em geral da comunidade. Estes produtores possuem também maior renda e vivem em povoados maiores e com melhor infra-estrutura.

No México não há um organismo centralizador da política cafeeira nos moldes da Federação da Colômbia. No entanto, assim como em todo o Terceiro Mundo, há bons exemplos de intervenção estatal nessa atividade. Dominada inicialmente pelo capital alemão, a produção de café em Chiapas sofreu intervenção governamental no período da Segunda Guerra Mundial, quando grande parte dos cafezais dessa região passou para mãos estatais.

Da mesma maneira, o processo de reforma agrária, levado a cabo no México, aprofundou ainda mais a divisão na cafeicultura local, sendo a divisão das terras responsável, de certa forma, pelas características supracitadas na posse dos terrenos empregados no cultivo dos cafezais.

No final da década de 50, o Estado criou o Instituto Mexicano del Café (Inmecafé), seguindo uma tendência internacional, de forte enfoque no controle da oferta e planificação das atividades relacionadas à cafeicultura. As atividades do Instituto atingiram seu auge na década de 1970. Nesse período, uma grave crise agrícola levou o governo mexicano a tomar as rédeas em diversos setores, sendo o Inmecafé responsável nessa época por mais de 40% da comercialização nacional.

No entanto, tal participação se baseava no crescente endividamento externo e nas receitas cambiais do petróleo, esquema que durou até 1982. Assim como observado no Brasil, em 1989 o governo decide extinguir o Inmecafé e transferir as funções realizadas pelo Estado para os produtores.

Esse período é caracterizado pela queda nas cotações internacionais, o que levou também a cafeicultura mexicana a uma crise. Com isso, vale salientar o esforço feito naquele país para a diversificação da produção dos cafeicultores mexicanos, sobretudo aqueles situados no estado de Veracruz. Ali, incentivou-se a criação de cabras e ovelhas como forma de prevenir garantir a renda dos produtores em períodos de baixas cotações do café.

Com o fim do Inmecafé, o Estado passa a organizar os produtores por meio do Instituto Nacional Indigenista (INI) e do programa Solidariedade. O apoio à cafeicultura ocorria principalmente por meio de subsídios e "créditos a la palavra" (crédito sem garantia), perdoados com a queda nos preços entre 1993 e 1994, medida que beneficiou 275 mil produtores. A crise também levou os produtores se organizarem e a colocarem em prática novas estratégias com a criação programas de comercialização e cultivo de café orgânico por exemplo.

Em 1993 foi criado Consejo Mexicano del Café e a partir de meados dos anos noventa, o Conselho passa a apoiar a produção via Consejos Estatales del Café. Os recursos em apoio à comercialização passam a ser manipulados pelo Fondo Nacional de Empresas en Solidaridad (FONAES) e negociados com cada organização regional nos estados.

Foi também depois nos anos 1990, que passou a haver o predomínio das empresas multinacionais na comercialização do produto, como AMSA, BECAFISA, Cafés Tulipán, Cafés California e a NESTLÉ, que se valiam das suas habilidades em manipular recursos financeiros escassos para as empresas nacionais e organizações de produtores.

Apesar do café mexicano ser produzido nas mesmas condições (clima, altitude, forma de beneficiar) que na Colômbia, os seus preços sofrem um deságio de 20 a 30% da bolsa de Nova Iorque. O deságio vem se acentuado ao longo do tempo, principalmente devido à queda da qualidade do café.


Fonte: OIC

A forma de comercialização precária em que os intermediários não transmitem sinais adequados de preço para os produtores tem sido apontada como o principal fator que leva a esaa deterioração. Isso se explica pela predominância de pequenos produtores, que por não terem condições de beneficiar o café e não disporem de canais alternativos, são obrigados a vender o total da sua produção (café em coco) por um preço médio para os intermediários.

O contato principal dos produtores de café com o mercado ocorre por meio dos compradores locais, que formam uma rede de intermediários que transportam o café até os principais centros regionais, onde os grandes compradores detém o monopólio das relações com os importadores. Como resultado não há incentivo para diferenciar a qualidade de seus cafés, entrando em um ciclo vicioso de baixa qualidade e de baixos preços.

O exemplo mexicano é interessante para entendermos como a falta de coordenação pode inviabilizar estratégias de diferenciação. O café mexicano está constantemente na mídia em função de ter um forte apelo social e ecológico. Constitui-se em uma alternativa econômica para a população indígena e permite a convivência harmônica de pássaros e plantas da região, já que a produção é sombreada e orgânica. Entretanto, pelo relatado, tal diferenciação não parece estar sendo transmitida adequadamente ao longo da cadeia.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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ROBERTO TICOULAT

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 26/12/2006

Prezados Sylvia e Bruno,

O artigo é muito oportuno, pois aborda a situação de um país de dimensões enormes como é o México e com uma produção não desprezível, praticado principalmente por pequenos produtores.

Se fosse possível, gostaria de receber maiores detalhes sobre o sistema de drawback realizado para viabilizar o parque industrial Mexicano, assim como parecer dos setores envolvidos, seja lavoura como também industrial e exportador, para podermos aferir os resultados alcançados. Seria muito interessante se pudessemos verificar o crescimento dos volumes exportados a apartir da autorização do drawback, como fator de geração de renda e atração de invetimentos.

É incrível que mesmo um país com produtores tão pequenos exista a possibilidade de realizar o drawback e um país como o Brasil ainda não possua este sistema. Como sabemos, nossos maiores concorrentes praticam o drawback como forma de desenvolver o crescimento sustentado da produção, entre eles: México, Colombia, Ecuador, Índia e porque não citar, até mesmo, nosso vizinho Paraguai.

Da mesma forma, vocês teriam dados de consumo de café no México?

Parabéns pela iniciativa de proporcionar artigos sobre a cafeicultura em outros países.

Um abraço,

Roberto Penteado de Camargo Ticoulat

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