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Construindo as próprias curvas de resposta

POR ANDRÉ GUARÇONI M.

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 10/09/2007

5 MIN DE LEITURA

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Recentemente, fui informado por Rodrigo Cascalles, Coordenador do CaféPoint, de que, no VII Curso de atualização em café do IAC, o conceituado Professor Favarin, da Esalq, comentou sobre a importância do produtor construir suas próprias curvas de resposta (produção em função da adubação). Infelizmente, não pude assistir à palestra, mas concordo com o Prof. Favarin quanto à importância do tema.

A partir disso, surgiu o desafio: escrever um artigo em que fosse discutida a construção das curvas de resposta. Logo de início, a pergunta: seria possível transferir esse conhecimento aos produtores? Sim, em parte. E outra: os produtores seriam beneficiados ao construir suas próprias curvas de resposta? Sim, enormemente.

A construção de curvas de resposta (calibração) é um trabalho de pesquisa elaborado, que envolve tanto o conhecimento do solo e da planta, quanto o conhecimento da dinâmica dos fertilizantes no meio. Transferir esse conhecimento, numa linguagem e num formato que o produtor possa entender e utilizar, é o grande desafio que se faz presente.

Mas por que uma curva? Para respondermos a essa pergunta, temos que entender uma das Leis da Fertilidade do Solo: A Lei de Mitscherlich. Essa Lei, também conhecida como Lei dos Incrementos Decrescentes, postula que, "Quando se aplicam doses crescentes de um nutriente, o aumento na produção é elevado inicialmente, mas decresce sucessivamente". Mitscherlich observou que, elevando progressivamente as doses do nutriente deficiente no solo, a produção aumentava rapidamente no início. Entretanto, esses aumentos tornavam-se cada vez menores, tendendo a formar um "platô" de resposta, onde a produção não aumentava, mesmo com a elevação da dose do nutriente. A figura abaixo mostra graficamente esta lei:


Quando não aplicamos o nutriente (D0), conseguimos uma produção irrisória. Ao elevar a dose aplicada, a produção vai aumentando de forma linear, até atingir a dose D1 (Região A). A partir desse ponto, as respostas à adição do nutriente são cada vez menores, até que a produção não aumenta mais, mesmo com a aplicação de grande quantidade de nutriente (Região B). A partir da dose D2, as quantidades ficam tão elevadas que ocorre efeito negativo do nutriente e a produção começa a diminuir (Região C), formando a famosa "curva de resposta".

Essa Lei demonstra que, na prática, devemos trabalhar na Região A, também chamada de região de elevada probabilidade de resposta. A dose D1 é aquela de maior eficiência econômica. Essa é a dose a ser aplicada. Doses muito acima desta, certamente trarão prejuízo. Não adianta aplicar fertilizante indefinidamente. Esse é um erro comum e que, na maioria das vezes, é difícil de ser notado. Se aplicarmos uma dose intermediária entre D1 e D2, elevada produção será atingida, mas com um gasto muito maior do que o necessário.

Aparentemente parece simples, mas, obviamente, na pesquisa científica, até chegarmos às doses recomendáveis, temos que utilizar ferramentas refinadas da estatística, tentando uma maior aproximação da realidade. Entretanto, o produtor, com organização e capacidade de observação, pode construir uma boa curva de resposta, aproximando-se muito da dose mais adequada para sua lavoura.

Para o produtor, a construção da curva de resposta só será eficiente para o nitrogênio. Isso porque, além do nitrogênio não ser determinado em análises de solo de rotina, podemos considerar que este nutriente não se acumula nos solos, sendo a dose recomendável dependente, apenas, da produção esperada. Dessa forma, a dose selecionada poderá ser utilizada nos anos seguintes. No caso de fósforo e potássio, ocorre relativa acumulação desses nutrientes nos solos, não permitindo que a dose selecionada para um ano possa ser utilizada nos anos posteriores. Para esses últimos, a dose recomendável deve levar em consideração os teores desses nutrientes disponíveis no solo.

Construção da Curva de Resposta

Em uma lavoura homogênea (plantas da mesma variedade e da mesma idade, no mesmo espaçamento, em solo com as mesmas características perceptíveis: cor e textura; barrento ou arenoso), iremos demarcar seis pequenos talhões, contendo, cada um, 60 plantas. Em cada um desses talhões, será aplicada uma dose diferente de nitrogênio. Para facilitar a transposição para cada situação real, as doses serão apresentadas em gramas de nitrogênio, por planta, por ano (g/planta/ano de N).

A sugestão que faço, para café arábica, é a seguinte: 18, 36, 54, 72, 90 e 108 g/planta/ano de N. Essas doses serão parceladas em três ou quatro aplicações durante o período chuvoso, ou seja, serão divididas por três ou quatro, de acordo com o número de parcelamentos. Cada um dos seis talhões receberá uma dessas doses na forma de uréia (40; 80; 120; 160; 200 e 240 g/planta/ano de uréia), que não apresenta outro nutriente além do nitrogênio. Os demais tratos culturais e as aplicações dos outros nutrientes devem ser, rigorosamente, as mesmas nos seis talhões.

Seguindo esse roteiro, é de se esperar que a produção nos talhões seja diferenciada, apresentando, aproximadamente, a mesma forma de resposta proposta por Mitscherlich. Já no primeiro ano podemos ter uma idéia da forma de resposta, mas apenas com a média de três ou quatro produções podemos estabelecer as reais diferenças entre as doses testadas.

Exemplificaremos da seguinte forma: as três primeiras doses testadas (18, 36 e 54 g/planta/ano de N) proporcionam produções crescentes, mas menores do que as doses de 72 e 90 g/planta/ano de N. Essas doses, por sua vez, proporcionam produções equivalentes entre si, mas maiores do que a produção proporcionada pela dose de 108 g/planta/ano de N, o que forma uma curva de resposta característica. Assim, é fácil decidir pela dose de 72 g/planta/ano de N, que gera uma produção tão elevada quanto a dose de 90 g/planta/ano de N, mas com economia de recursos. Para nos aproximarmos, ainda mais, da dose mais econômica, devemos aplicar um fator de redução de 10% à dose selecionada. Assim, a dose "ideal" seria: 72 x 0,9 = 65 g/planta/ano de nitrogênio. Tendo selecionado a dose "ideal" de nitrogênio, esta poderá ser aplicada ano após ano, em toda a lavoura, visando à obtenção da produção máxima em função do nitrogênio aplicado.

É importante ressaltar que, a curva de resposta gerada para nitrogênio será específica para determinadas doses dos outros nutrientes, especialmente fósforo e potássio. Assim, se as doses de fósforo e potássio mudarem de um ano para outro, a curva de resposta para nitrogênio será diferente. O que podemos fazer é definir doses adequadas de fósforo e potássio para que sejam atingidas elevadas produções e, fixando essas doses, proceder à construção da curva de resposta para nitrogênio. Com o passar do tempo, as doses de fósforo e potássio tendem a mudar, de acordo com os teores no solo. Mas isso não importa muito, desde que as futuras doses sejam adequadas para se atingir a produção anteriormente estabelecida.

Em curto espaço de tempo, podemos repetir o pequeno experimento novamente, visando confirmar seus resultados ou aprimorá-los, variando as doses testadas.

Serão naturais críticas resultantes da forma simplificada como foi apresentado o método de calibração, ressaltando, inclusive, alguns pequenos equívocos que fomos forçados a cometer, visando, unicamente, facilitar a adoção da tecnologia. Mas, mesmo assim, nos parece inequívoca a economia de recursos que pode ser gerada por essa tentativa de aproximar os produtores das tecnologias de ponta.

ANDRÉ GUARÇONI M.

D.Sc. em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa-MG. Pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper)

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SILVESTRE ARCANJO DA SILVA NETO

VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/07/2009

Caro André, boa noite!
O que você acha da utilização de um fertilizante que junte FNR+MAP (fonte gradual + acidulada), ou fosfato bimagnesiano, ou até mesmo o ARAD (FNR) na adubação fosfatada de café?

No caso do uso de testes com SSP, pode-se comparar usando o fosfato bimagnesiano que também possui S?

Obrigado.
FREDERICO GIANASI MELO

CANDEIAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 30/04/2008

Caro André,

Achei muito interessante o questionamento sobre o fósforo do nosso companheiro Sérgio e tenho algumas dúvidas sobre esse assunto. Muitos dizem que o cafeeiro responde ao P2O5 somente nas fases iniciais. No caso do plantio, qual a sua opinião sobre isso ? Eu sou estudante e faço estágio em uma propriedade de café no qual o produtor fez fosfatagem em área total incorporando fosfato de araxá no pré plantio. O solo deste produtor tem textura argilosa e ele fez uma única adubação após o plantio com superfosfato triplo, a lavoura já está em produção a 6 anos e não foi colocado mais P2O5 . Ele aduba a lavoura com casca de café , cinzas e nitrato de amônia , e tem uma boa produtividade. Temos até a idéia de fazer um trabalho com essas altas doses de fósforo para conseguir diminuir a bienalidade. Como o senhor avalia essas condições ?

Obrigado
RUBALDO PATRESI JUNIOR

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 12/10/2007

Caro Andre,

Mais uma vez volto a solicitar sua opiniao sobre nutricao de cafeeiro, e o assunto que me reporto e sobre como construir uma curva de resposta em uma gleba de cafe esqueletada, ou seja : Qual seria a adubacao correta ou nessecidade de nutriente para uma lavoura recem esqueletada ou recepada ?
Como sempre, conto com sua valoroza contribuicao !!

Por enquanto, muito obrigado, caro amigo !
RUBALDO PATRESI JUNIOR

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 29/09/2007

Caro André,

Muito tenho lido e ouvido sobre a adubação ideal para a melhor obtenção de resultados e junto à melhor relação custo-benefício. Gostaria pois, de uma colocação sua a respeito da substituição de parte da adubação via solo pela adubação via folha do cafeeiro. E quais seriam as vantagens e desvantagens desta prática, já usada por alguns colegas, com resultado positivo na relação custo x beneficio.

Muito Obrigado.

<b>Prezado Rubaldo,</b>

Quando você fala na substituição de parte da adubação via solo, pela adubação foliar, espero que esteja se referindo à adubação com micronutrientes (Zn, B, etc.). Se você estiver se referindo à adubação com macronutrientes (N, P, K), só posso sentir muito por seus colegas, os quais, segundo você, a utilizam. Mostrarei um pequeno cálculo, para que não haja dúvidas quanto à ineficácia da aplicação de macronutrientes via foliar. Devemos lembrar que, se a calda escorrer para o solo, estaremos realizando uma fertirrigação, não uma adubação foliar. Assim, para um cafeeiro adulto, devem ser aplicados em torno de 200 ml de calda para que se faça uma boa adubação foliar.

<i>Cálculo para Nitrogênio</i>

200 ml/planta de calda;
Eficiência de aproveitamento = 60 %;
Calda = Uréia 2 % (mais concentrada poderá queimar as folhas);
Uréia = 45 % de N.

4 g/planta de uréia (x 0,45) = 1,8 g/planta de N.
1,8 g N x 0,6 = 1,08 g/planta de N por aplicação.

Cafeeiro de 5 anos ~ 4000 g de MS de folhas.

(1,08/4000) x 100 = 0,027 dag/kg de N nas folhas por aplicação da calda.

Teor foliar adequado = 3,0 dag/kg de N;
Considerando que o cafezal apresenta 2,5 dag/kg de N nas folhas;
Diferença a ser suprida (3,0 - 2,5 = 0,5 dag/kg de N nas folhas).

0,5/0,027 = 18,5 aplicações de uréia 2 %.

Portanto Rubaldo, para que eu forneça nitrogênio para uma lavoura de café, que não apresenta acentuada deficiência nesse elemento, devo fazer 18 aplicações foliares de uréia 2 %. Nesse caso, será que pode haver qualquer perspectiva de melhora na relação custo x benefício? Os cálculos podem ser repetidos para os demais macronutrientes, inclusive o fósforo. O número de aplicações será sempre elevado.

As vantagens e desvantagens da adubação foliar com micronutrientes, em relação à adubação via solo, são apresentadas no artigo "Micronutrientes: fontes e formas de aplicação", já publicado no radar técnico solos e nutrição do CaféPoint.

Agradeço seu questionamento, Rubaldo.

Qualquer dúvida volte a escrever para o CaféPoint.

André Guarçoni M.
FELIPE DE CARLOS FERREIRA

PEDREGULHO - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 11/09/2007

Olá amigo André, como vc disse a uréia carrega apenas o nitrogênio, mas qual a melhor forma de aplicação da mesma? O fato dela ser volátil se aplicada na superfície e sem incorporação influenciará na produção?.O artigo é muito interessante,principalmente por se tratar da maxima produtividade econômica, ou seja, até q ponto a adubação é econômica.Um abraço!!
SERGIO MORAES GONÇALVES

CARATINGA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/09/2007

Caro André,

A cada ano que passa, percebo que "chutamos" muito com relação a adubação do cafeeiro. Ao observar o sistema de adubação empregado pelas reflorestadoras chego à conclusão que precisamos, ainda, de muita pesquisa e senso crítico na nossa cafeicultura. Isso que você propôs no artigo é o que considero como a verdadeira agricultura de precisão.

Dentro do que você comentou para nitrogênio, o que pensa a respeito de alguns trabalhos da Embrapa sobre a utilização de altas doses de fósforo, onde se chegou até a 400Kg de P2O5? Conversando com um consultor do sul de minas, foi comentado que excelentes resultados foram obtidos. Vou montar alguns trabalhos aqui na região de Caratinga - MG variando doses de P, trabalhando com superfosfato simples e termofosfato. Quais sugestões você daria?

Muito Obrigado.

<b>Prezado Sérgio Gonçalves,</b>

Tenho ouvido falar dos trabalhos de pesquisa que têm mostrado resposta para altas dosagens de fósforo. Ainda não li nenhum artigo completo, especificando o tipo de solo, a capacidade de adsorção desse solo e a forma de aplicação do adubo fosfatado.

Os pesquisadores que encontraram esses resultados são muito respeitáveis. Portanto, não há porque colocá-los em dúvida. Parece-me, inclusive, que os experimentos foram conduzidos em solo de cerrado, provavelmente com baixíssimo teor de P e elevadíssima capacidade de adsorção desse nutriente. Não sei como foram desenvolvidos os tratamentos, mas aplicação de adubo fosfatado solúvel, em área total ou em faixas largas, em cobertura, num solo como esse, poderia levar a respostas dessa magnitude. Pode ser, também, que estejamos utilizando doses insuficientes para alcançar produções realmente elevadas. Espero, como todos, o artigo publicado em revista científica para tomar posição.

Quanto aos trabalhos que você deseja montar, acho plausível que teste maiores doses de P2O5, visando confirmar os resultados relatados. Mas não se esqueça de definir bem as doses intermediárias, pois nessas doses deve ocorrer o ponto de máxima resposta.

Penso que não deva utilizar o superfosfato simples, que é também fonte de enxofre, e não há como separar o efeito dos dois nutrientes. Você pode até utilizá-lo, mas deve balancear as doses de enxofre nos tratamentos que o receberam em quantidades diferentes. É melhor utilizar o superfosfato triplo. A resposta encontrada para o superfosfato triplo (dose de P2O5) pode ser extrapolada para o superfosfato simples, pois esse dois fertilizantes têm, praticamente, a mesma dinâmica no solo.

O termofosfato contém elevado percentual de magnésio? Se sim, você deve balancear as quantidades de magnésio aplicadas, ou, no mínimo, aplicar uma dose elevada de magnésio para todos os tratamentos. Se você não fizer isso, e o solo apresentar baixos teores de magnésio, o termofosfato será imbatível, sendo que esta resposta não terá qualquer ligação com sua capacidade de fornecer fósforo às plantas, muito pelo contrário.

Agradeço o questionamento e felicito-o pela visão aprofundada da situação.

Qualquer dúvida volte a escrever para o CaféPoint.

André Guarçoni M.

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